O tempo foi passando e eu comecei a ficar um pouco preocupada. Não que fosse ruim ter tranquilidade, ter recursos, poder acompanhar a recuperação de todas as que se feriram. Mas, o fato era que eu tinha ficado com uma promessa de algo que eu não sabia o que era. As meninas começaram a perguntar o que deveriam fazer, se podiam voltar a tentar ter uma rotina, formar um lar, tentar viver. E eu não fazia a menor ideia do que responder pois a qualquer momento uma nova guerra poderia cair em suas cabeças. Na verdade, era o mais provável de acontecer. Incentivar que elas pudessem sonhar, fazer planos, me parecia injusto. Dizer não parecia ainda mais injusto. Fui pedindo um pouco mais de paciência, que ainda precisávamos cuidar umas das outras, mas praticamente não tínhamos mais o que esperar. Mesmo as que ainda estavam em recuperação já se sentiam plenamente capazes e dispostas. Achei que deveria desenvolver um plano. Criar uma espécie de treinamento. Mantê-las ativas. Chamei aquelas que c
Depois do evento do tsunami, o caminho natural foi estruturar o planeta para uma nova realidade. E isso significava sedimentar, fincar raízes. Pois a estrutura fornecida por Athos era incrível, mas além de temporária, comportava metade da população que o planeta tinha. Enquanto trabalhavam para aumentar essa estrutura, para que o planeta fornecesse mais recursos para todos viverem bem, criavam laços. Amizades, compromissos, apego sentimental, tanto entre pessoas, quanto com criações e realizações. Quem construía uma casa, com cada detalhe planejado, obviamente se apegava aquele lugar. Com ajuda dos outros, uniam-se enquanto comunidade, também. Criavam novas identidades. Não eram mais as Gigantes ou as Mileniuns, ou Tsun, como os que morreram no tsunami ficaram conhecidos. Eram um povo só. No máximo, se identificavam pela região que se fixaram, como os de "Além das AM" (Árvores Molhadas, como eram chamadas as árvores que ficaram submersas e retornavam de acordo com uma espécie de mar
A felicidade parecia constante e duradoura, o que me assustava a todo momento. Minha experiência me dizia que o "felizes" nunca era para sempre e no meio de cada acontecimento que nos aproximava, que nos fortalecia, a cada nova demonstração de amor, não só entre nós, mas também entre todos no planeta, vinha em mim um pensamento de decepção pelo futuro. A impressão que eu tinha sempre era a de que, quando Athos reaparecesse, tudo iria se acabar. Guerra, mortes, caos. Nada mais seria a mesma coisa. Por isso, eu queria aproveitar cada minuto, cada momento, cada atitude. Mas, ao que tudo indica, não existe ordem sem o caos. - Majestade, existe algo que precisa de sua atenção de forma urgente! - Gritava, Ninfar, nossa chefe de guarda, entrando pela porta do salão principal do Castelo, onde estávamos arrumando as coisas para o nosso almoço coletivo tradicional. - O que aconteceu, Ninfar? Houve outra epidemia de gatos fofinhos nascendo no planeta? - Brincava, Natane lembrando de um
O tour acabou se tornando rapidamente algo muito maior. Krakor insistia que eu dissesse, a cada área visitada, melhorias que poderiam ser feitas baseadas nas necessidades e gostos do povo de Néon e depois que me soltei e comecei a falar, nos tornamos praticamente artistas. Tudo estava absolutamente incrível já e o cuidado e carinho nos detalhes de cada nova mudança eram impressionantes. Nem de longe aquilo era Néon. Era muito melhor. Se depois da intervenção de Athos, o planeta já tinha se tornado algo muito maior, aquele país que era criado ali era o ápice. Krakor controlava muito bem os elementos, incluindo a água e até os mecanismos de funcionamento das paredes do Castelo, das cascatas artificiais, tudo que funcionava antes com as algas, ele conseguiu reproduzir. Era mesmo uma pena não tê-las ali. Krakor disse que sentia muito minha perda. Explicou o quanto os animais significavam no Universo. A maioria deles não evoluía. Se mantinham em planetas de primeiras vidas, sua partícula
A sensação era muito estranha. As garotas riam, se divertiam, brincavam nas construções de água que criamos. Ao mesmo tempo, aproximadamente metade do nosso povo ainda estava do outro lado. Estavam presas, paradas no tempo, diante do fim do mundo. Mesmo sabendo que iríamos buscá-las, algumas não conseguiam entrar na diversão. A maior parte do grupo das Gigantes tinha ficado para trás e as que vieram estavam muito preocupadas.- Eu vi uma grande explosão, Emma - dizia Condera, uma das gigantes. - Quero muito que todas cheguem aqui. Mal posso imaginar que dificuldades podem enfrentar se morrerem e forem para outro inferno.Percebi que Creteas era uma das que não conseguiu nos acompanhar. Por um instante fiquei preocupada. Mas era preciso que Athos estivesse melhor e o seu tempo de recuperação também permitia que as outras pessoas envolvidas no desenvolvimento do planeta continuassem seu processo de criação. Não tínhamos outra alternativa, senão, esperar e, porque não, aproveitar
Fomos pelo portal apenas Athos e eu. Do lado de lá, não houve tempo para nenhum desespero extra. Apesar de terem notado que o portal tinha se fechado, para aquelas que ficaram, ele imediatamente se abriu de novo.- Ufa, Emma, que susto, parecia que Athos não ia aguentar o portal, que não tinha mais poder, mas vejo o quanto ele é poderoso! Como ele se recuperou tão rápido? - A impressão da gigante Creteas, talvez a mais aguardada dentre as Neonzenses, era o espelho da percepção da maioria ali.- Creteas, na verdade ele não teve mesmo poder suficiente. Algum tempo já se passou do outro lado do portal, mas enquanto estávamos lá, o tempo não andou do lado de cá - expliquei, deixando-a espantada.- Quer dizer que vocês do lado de lá continuar vivendo enquanto o tempo estava parado aqui? - Tentou confirmar se tinha entendido direito.- Isso mesmo! - Reforcei.- Moças, não acho que seja bom passarmos mais tempo aqui! - Athos gritava em meio a formação de uma tempestade.-
Enquanto flutuava tive uma visão de Athos. Era como se ele estivesse olhando em meus olhos. De repente, um portal se abriu e foi como se eu passasse a sentir fisicamente milhares de sensações que até então eu não tinha sentido falta. Vieram à minha cabeça memórias de coisas que eu não tinha vivido. As meninas indo chamar Athos, eu não respondendo estímulo nenhum. Era como se eu tivesse abandonado meu corpo e agora ele tivesse voltado pra mim. Athos surgiu em seguida do portal gritando:- Emma! Emma!Olhei para ele, obviamente espantada.- Athos! Athos é você mesmo? - Gritei, de volta.Ele voou, vindo até mim e sentou na água. Agora percebi que definitivamente era impossível afundar. - Athos, sabia que viria, hora ou outra. Que não ia me deixar perdida depois de morrer - eu disse, deixando-o confuso.- Morrer? Como assim? - Ele perguntou. - Você não viu eu ser atingida por um raio incrível, foi fulminante. Mas eu não renasci imediatamente. Primeiro foi
- Athos, o que aconteceu? Emma foi tragada pelo portal, que bom que conseguiu trazê-la de volta, tão facilmente - disse Natane, num tom entre desespero e alívio. - Mas ainda precisamos descobrir o que aconteceu com ela - insistiu. - Facilmente não é uma palavra que define o que aconteceu. Você se esquece que o tempo para aqui, quando eu entro pelo portal? Passaram-se 1.250 anos! - Brincou Athos, para o desespero das moças. - O que? Não é possível! - Elas gritaram praticamente juntas e Natane se jogou no chão de forma dramática. Comecei a rir muito e expliquei:- Natane, você não existe. É brincadeira de Athos, ficamos no máximo algumas horas. - Emma! - Continuavam fazendo coro. Leiva, que estava praticamente sem reação a tudo aquilo, até agora, foi a primeira a pular no meu pescoço, seguida por Natane que saltou do seu momento de crise imediatamente com a constatação da minha recuperação. - O que aconteceu? - Perguntou Leiva, sempre mais direta. - Eu f
Os olhos se abriram, mas ela não conseguia perceber se estavam mesmo abertos. O breu a rodeava. Apesar de conseguir ficar em pé, preferiu engatinhar. Foi tateando com as mãos o chão, que parecia terra ou areia. Podia cavar com as mãos, mas não o fez. Seus pulmões inspiravam e expiravam, respirava, portanto sua estrutura era de genética básica. Apalpou a si própria, cada pedaço de seu corpo e tinha um corpo humanoide parecido com o anterior. Seus cabelos continuavam compridos. Estava vestida e acreditava que era com uma roupa muito parecida com a que tinha morrido, mas sem alguns detalhes, acessórios. Sua coroa, por exemplo, estava ausente. Ela ouvia somente o som do próprio movimento, nada mais, nem perto, nem distante.Seus olhos pareciam começar a se acostumar com a escuridão e perceber levemente algum contorno de alguma coisa. Ela sentia que estava em um ambiente aberto, sentia uma leve brisa, sentia o cheiro de natureza. Um pequeno ponto no céu surgiu. Uma estrela apareceu, c