Não conseguia imaginar para onde eu poderia estar indo.
No fundo daquelas águas, entradas que pareciam cavernas. Quando eu já não conseguia mais segurar a respiração, eu tentei puxar o ar e, mais uma surpresa, eu consegui respirar. Não me afoguei como antes. Mais algas foram se aproximando, se amontoando sobre mim e quando finalmente parei de ser sugada eu estava dentro de uma enorme gruta com milhões de algas brilhantes que pareciam fazer uma festa para minha chegada. A visão era como de um caçador de tesouros encontrando milhões de milhões de moedas de ouro em uma caverna gigante escondida.As algas foram me empurrando e me levaram perto de uma rocha, onde se juntaram e criaram um formato de trono. Outras também se juntaram e formaram uma imagem humana que resultaram num corpo brilhante. Duas vieram aos meus ouvidos e grudaram neles.- Agora você pode nos escutar, Salvadora! - Disse uma voz estridente. Eu me espantei, estava ouvindo as algas.- Eu acho que fiquei louca de vez. Se tivesse bebido algo, diria que estou bêbada. Meu dia foi muito longo, eu já tive novidades demais, então vou ser bem sincera, pode dizer, porque eu já estou acreditando em qualquer coisa. Nada mais me surpreende.Talvez fosse melhor eu não ter dito isso.A voz continuou:- Finalmente a profecia começou a se cumprir e a Salvadora desse mundo chegou até nós.O que eu estava entendendo é que além de ser imune às algas por algum motivo, elas estavam me considerando uma Salvadora. Se fosse mesmo verdade, por que a Rainha podia tocar e manipular as algas também, então?- Podemos ouvir seus pensamentos. Aquela que se proclamou Rainha nesse mundo é uma mulher muito poderosa que não faz parte daqui de forma natural, mas foi trazida para cá por um Deus para controlar esse planeta. Ela pode nos manipular por ser mais evoluída que o nível desse mundo. Ela não renasceu aqui e não está mais apenas em sua segunda vida.Mas você, sim, é a que nos foi prometida através das escrituras antigas, das profecias dos Deuses Primordiais do Gelo.Elas continuavam a explicar essa situação e eu ia sentindo como se fosse só um trote, uma piada de mal gosto. Que as guerreiras apareceriam a qualquer momento, rindo e eu pensava em como reagiria.Algumas das algas passaram a piscar luzes de seus corpos e se mover em minha direção, grudaram em mim e me levaram para um outro lugar.- A Salvadora precisa encontrar com sua simbiose, precisa entrar em sinergia com o complemento de sua parte espiritual.Bom, eu não fazia ideia do que isso poderia significar.- O que exatamente preciso fazer, então? – Perguntei, já me entregando mais àquela história toda.- No momento a única coisa que precisa é não morrer. – Responderam com uma tranquilidade quase sádica. Não imaginava que algas assassinas poderiam parecer tranquilas e até dóceis, muito menos que poderiam ser irônicas ou sádicas. Na verdade, é surpreendente até elas falarem comigo, não é mesmo?- Digamos que eu tente não ser eu mesma e não me assustando com essa ideia de morte. Afinal, eu morri e até bem pouco tempo estava condenada a não morrer de novo, nunca mais, passando a eternidade num inferno aquático. Mas algo me diz que esse novo “morrer” não seria algo muito positivo, caso aconteça.- Não seria, mesmo. – Responderam elas. – Existe uma pequena chance da Salvadora não conseguir combinar suas características com a sua simbiose e isso definiria uma vitória das trevas nessa nossa realidade das águas e pesaria negativamente em todo universo.Agora sim, eu estava mais tranquila.- E assim, por questão de curiosidade, o que aconteceria comigo se eu morresse nessa situação? – Eu tinha que perguntar, né?- Você ficaria presa e totalmente inconsciente pra sempre e o ser que vai se combinar a você usaria características genéticas suas de uma forma totalmente disforme e inesperada, tomando consciência. Essa é uma das possibilidades.Um silêncio se fez entre nós. Não sei dizer ao certo o que passou em minha cabeça. Uma das algas fez o contorno por volta do meu corpo e se posicionou atrás de mim, começando a me direcionar para mais um outro lugar, que parecia o fundo do buraco de onde eu me encontrava. Aos poucos as outras algas foram fazendo o mesmo e me levando, até chegar próxima de uma estrutura que parecia com um ovo gigante, transparente e dentro dele havia algo que parecia um animal, mas eu não saberia dizer qual, nenhum que se parecesse com algum que eu já tivesse visto, pela sombra que eu podia ver lá de dentro.- Salvadora, você deve tocar na incubadora desse animal e ele fará contato com você. – Após dizerem isso, as algas foram se afastando devagar.Mesmo com muito receio do que aconteceria, um medo agudo do desconhecido, encostei levemente meus dedos da minha mão esquerda no ovo e em seguida toda ela. O ser que estava lá dentro parecia ganhar vida, seus olhos abriram olhando diretamente para minha mão. Podia vê-lo um pouco melhor, como se a casca tivesse ficado translúcida. Ele tinha um bico curto, seis patas, duas como se fossem pés e duas como braços, mas com garras e penas e outras duas pareciam asas que lembravam um pouco as nadadeiras de um pinguim, mas repletas de plumas, seu rosto era oval e pontiagudo e assim como todo corpo era azul marinho, com detalhes em branco e vermelho. Seus olhos eram roxos e brilharam quando me olhou. Tinha o tamanho de um urso. De forma bem tranquila ele direcionou sua pata, como se fosse tocar minha mão. Quando encostou na estrutura do ovo uma aura, algo que parecia pura energia em forma de fumaça explodiu lá dentro e a casca do ovo se rompeu. O ser agora estava livre e num salto, veio sobre mim e eu temporariamente perdi minha consciência. Me senti como se fosse uma máquina e alguém estivesse fazendo um upgrade de dados e de acessórios. Podia fisicamente sentir meu corpo ficar mais forte, estruturas serem criadas em mim, minha pele ficava mais grossa e ao mesmo tempo mais sensível. Em minha cabeça, se acumulavam novos conhecimentos e informações. Aos poucos, fui entendendo mais sobre tudo. Todo conhecimento e experiências que Namos acumulou em suas centenas de anos, em suas vidas, agora também eram meus. Sim, esse era seu nome, Namos, e sua existência tinha apenas um sentido que ele demorou muito a descobrir: me esperar. Ele é uma parte de mim que me faltava e eu uma parte dele. Todos os animais ao morrer também tinham novas vidas, como outros animais, em novos planetas, o processo era muito parecido com o que ocorreu comigo. Ele fica encubado até que aquele a quem ele foi destinado apareça.Ao final daquele processo eu senti que nada podia me impedir de ser quem estava destinada a ser. Me sentia mesmo uma Salvadora, uma Rainha, uma Deusa. Eu flutuava e quando toquei meus pés ao chão as algas novamente se aproximaram.- O processo foi um sucesso, agora você se tornou aquela que pode libertar esse mundo do caos, que pode transformar a vida de todos aqui, que pode mudar a dinâmica do universo. Você pode também nos controlar, tem o poder de nos m****r fazer o que quiser, mesmo contra nossa vontade. Mas esperamos que perceba que isso além de um poder é uma responsabilidade. Todos têm destinos muito bem planejados no universo, mas todo destino tem inúmeras variáveis e isso permite que as ações e decisões criem uma liberdade de escolha. Você pode tanto ser o bem quanto o mal, como as duas coisas, dependendo de quem irá afetar e dependendo do momento. O destino são opções guiadas pelo livre arbítrio, repletas de talvez e poréns. Nunca esqueça que a força que está sentindo agora pode liberar em você sentimentos que nunca teve.A única coisa que eu conseguia imaginar era sair dali agora mesmo e destruir aquela Rainha, fazer as algas arrebentarem com ela, como ela fez com tantas que passaram por ali. Pagar pelas mentiras que criou.- Ainda conseguimos ler seus pensamentos – disseram as algas e eu fiz uma cara de quem foi pega fazendo o que não devia – Pense que aquela que você conheceu por Rainha, pode também controlar nossos poderes e não sabemos quem é mais poderosa. Lembre-se também, que ela é uma pessoa que já viveu outras vidas, que tem um passado, que fez escolhas que a levaram a definir quem ela é hoje, mas que pode também não ter tido opções, pode ser uma vítima do próprio destino. Ela pode ter por trás dela, pessoas ainda mais poderosas, talvez deuses, outros tantos seres. Aprenda a tomar decisões com base no conhecimento e não na falta dele e talvez você se torne mesmo a nossa esperada Salvadora.Cada palavra que elas diziam eram para mim como golpes que me traziam de volta para meu lugar. Parecia que eu tinha perdido o que eu sentia ser humildade. Sentia uma confiança que beirava um egocentrismo. Precisava me centrar novamente, ter consciência de que por mais conhecimento que me tivesse sido passado, eu ainda era ignorante a respeito de muita coisa daquilo tudo. Podia perceber mais claramente agora que Namos me tornou uma guerreira, uma lutadora com sede de justiça. Era a parte dele falando dentro de mim como agir.- Ok, parece que agora você já está assimilando sua simbiose e ele a você. Mas antes de pensar em fazer alguma coisa, em correr em direção dos seus instintos, do que o destino lhe escreveu, você precisa aprender a usar o que recebeu.Olhei para meus braços e pernas, foi a primeira vez que me dei conta de tentar olhar para mim mesma, “vestindo” o Namos. Não sentia como se estivesse usando uma roupa ou armadura, mas sim como se estivesse nua e Namos fosse minha pele. E essa pele agora tinha a cor dele, toda azul marinho, com detalhes brancos, parecia um couro, eu tinha garras por trás das minhas mãos, independente dos dedos, meus ombros tinham uma proteção que parecia metalizada, assim como meus seios, quadril e joelhos. Meus pés se tornaram algo uniforme, como se eu estivesse com uma sapatilha, não tinha dedos, apesar de sentir que podia mexer eles como se estivessem ali. Meus cabelos também mudaram levemente de cor, podia ver na parte mais comprida, mechas brancas, bem mais claras que meu tom natural. Mas ainda não tinha visto meu rosto, apesar de sentir que ele não tinha mudado nada. Minhas costas tinham algo a mais que ainda não tinha conseguido identificar.- Primeiro de tudo você deve mesmo se conhecer nessa nova forma. – Diziam as algas. Ainda não tinha me acostumado com essa leitura de pensamento. – Você consegue mexer normalmente seus braços e pernas, mas já percebeu que tem algo a mais que também faz parte de você, agora?Quando pensei naquilo e me concentrei tentando sentir, elas se abriram, como que saindo da minha pele. Eram mesmo asas ou nadadeiras, algo assim, sentia a habilidade de movimentá-las. Da forma mais natural do mundo eu simplesmente fui. Nadei com muita facilidade. Podia me locomover rapidamente dentro d'agua da forma que quisesse, para onde quisesse. Nunca senti liberdade igual. Comecei a ir e voltar por lugares que não conhecia ainda, a sensação de poder era muito grande. Quando voltei para as algas, pude reconhecer o jeito delas, sabia que já iriam me repreender.- Não precisam falar! Eu senti o que vocês imaginaram aí, mas já me coloquei no meu lugar. Sei que ainda tem muito o que acontecer pra mim ainda. – Eu já estava aprendendo a reconhecer pela forma que se movimentavam o que elas sentiam, como se aquilo fosse expressões no rosto.- Muito bem! Certo, agora precisamos fazer um teste que não gostamos muito, mas necessário. Nós algas jamais nos atacamos umas às outras, é nossa natureza. Para saber se seu poder de nos controlar existe, você deve ordenar isso. – Ao falarem, algumas delas recuaram.- É mesmo necessário? – Perguntei receosa.- Infelizmente sim! – Elas também não estavam à vontade com isso.Então, pedi que a maior delas, que estava sempre a frente, brigasse com a outra ao seu lado e que a outra revidasse. Imediatamente elas se viraram uma contra a outra e a cena que se sucedeu foi horrível. Aqueles pequenos seres eram muito rápidos e poderosos. Começaram, as duas, a soltar raios e se movimentarem atacando rapidamente de forma que os detalhes quase não me eram perceptíveis. Aos poucos notei que elas estavam se ferindo muito e muito rapidamente, o estrago estava sendo feito em suas peles. Imediatamente ordenei que parassem. Elas pararam e caíram. As outras foram em direção delas e começaram a se aglomerar, criando uma luz que, aos poucos, ficou muito forte e desapareceu. Em seguida, as duas estavam recuperadas e reagrupadas ao todo.- Certo, você realmente pode nos controlar, use sabiamente essa habilidade. Agora acho que podemos procurar as guerreiras. – Era incrível como, mesmo sendo independentes umas das outras, quando falavam todas juntas formavam uma única voz. Eu estava curiosa para saber qual era o plano delas, por que procurar as guerreiras e o que fazer ao encontrá-las?Dessa vez elas não me responderam, apesar de parecer que tinham entendido o que eu estava pensando, como antes. Começaram a se movimentar mas não me carregaram. Esperavam que eu as seguisse. Agora, equipada com meu novo parceiro, eu poderia fazer isso, sem maiores dificuldades.As algas seguiam contra a forte correnteza das cachoeiras invertidas e pela primeira vez eu sentia que não podia me mover livremente. As águas batalhavam contra mim. Me impediam de continuar.- Lute, não com seu corpo, mas com sua mente. Ninguém pode fluir contra esse fluxo na base da força, muito menos revertê-lo, por mais poderoso que seja. Mas se você se concentrar, poderá passar por entre suas moléculas, fazendo com que ele desvie de você. É o primeiro passo para você conseguir controlar esse elemento. – Conseguia ouvir as algas falando comigo mesmo distantes e foi a primeira vez que percebi que as escutava não com os ouvidos, mas telepaticamente.No momento em que parei de lutar contra o fluxo de água, fui levada por ele, como um tronco de árvore despencando de uma cachoeira, mas permaneci calma. Como as algas ensinaram, tentei me concentrar, sentir a força e ao mesmo tempo a leveza como tocavam em minha pele. Era como se aquela matéria inanimada fosse alguém com sentimen
Seguimos para o Castelo da Rainha. Realmente as paisagens modeladas por água nas mais diferentes situações eram estonteantes, uma natureza que parecia inexplicável para os meus padrões de entendimento. Sinceramente, não me parecia um inferno, na verdade era algo visualmente bem distante do que minha imaginação estava acostumada a respeito de um submundo como eu acreditava que seria isso, após a morte. Quando pudemos avistar o Castelo, no horizonte, foi a coisa mais impressionante que eu já tinha visto de uma construção, toda feita de água em movimento. Como isso era possível? Passamos por uma ponte sobre um rio, com mais quedas d’água ao redor e avistamos um outro grupo de mulheres que vinham em nossa direção.Ao se aproximarem, a que estava a frente se dirigiu a Leiva:- Leiva, o que faz indo em direção ao Castelo? - Natane, se sua Rainha não disse a você sobre os negócios que tenho com ela, não serei eu quem direi. Aliás, se as guardiãs estão indo na direção contrári
Com minha fúria, consegui explodir longe todo líquido que estava à minha volta como um epicentro de um maremoto. O impulso dessa explosão me atirou alto e eu caí em algum lugar que eu não reconhecia. Uma penumbra me indicava que eu estava em outro lugar, completamente diferente. Ainda não tinha percebido nenhum local com pouca luz naquele planeta. Os dois Sóis mal eram percebidos, pareciam quase alinhados ao horizonte em diferentes direções. Olhando melhor eu pude perceber enormes construções em ruínas. Grandes sombras surgindo, deixando o cenário ainda mais escuro e assustador e um barulho de passos como que de enormes dinossauros não me pareceram animadores. O pensamento do que havia acontecido com Leiva e a Rainha e de como eu estava naquele lugar conseguiam ser mais fortes do que a expectativa a respeito do que vinha em minha direção. Eu continuava com Namos e ele me fazia entender que havíamos morrido.Fui agarrada por uma mão que logo se revelou de uma gigante, que me ergue
Um planeta inteiro e apenas eu, ali. Comecei a repetir as cenas do que tinha acontecido, em minha cabeça e me perguntava se minhas decisões haviam sido as mais acertadas. Passei a caminhar, vagar, sem rumo. Em algum momento, depois de não saber mais quantos dias se passaram, sem sequer ter a noção de tempo, que o dia e a noite talvez pudessem me dar ali, apenas me joguei na margem de um lago. Eu tentava conversar com Namos, mas nem o sentia mais em mim, era como se ele tivesse se escondido completamente. Procurei por algas, mas aparentemente todas elas haviam desaparecido no processo.Adormeci e o que aconteceu não dava pra eu distinguir se era um sonho ou realidade. Um homem alado simplesmente se materializou ao meu lado. Eu vi seus pés, primeiro, e em seguida, me virando, pude ver a sua silhueta, contra o Sol.- Emma, você não está nada bem. Levante-se, não vai querer que suas amigas a vejam assim quando eu trouxe-lás para cá, não é? - Dizia, uma voz masculina. Quanto tempo
Aquilo era absolutamente incrível. Todas estavam reunidas novamente. E salvas! As guerreiras começaram a contar detalhes desconexos, de tudo que aconteceu com elas. Eu acreditava que muito tempo tinha se passado, mas para elas passou muito mais. Elas experimentaram coisas completamente diferentes, situações que nunca imaginaram. Seus corpos, apesar de um pouco diferentes, mais adaptados a uma outra realidade, principalmente com o detalhe de uma pele mais espessa, de uma realidade gélida, também tinham a necessidade da alimentação. Algumas estavam com problemas que desenvolveram por conta do ar, que possuía gases tóxicos naquele planeta e ainda estavam abaladas por uma guerra na qual foram forçadas a participar. Apesar de machucadas ou doentes, nenhuma delas havia morrido. Nenhuma. Mesmo diante de alguns momentos separadas, se mantiveram unidas o máximo que conseguiram. Disseram que meu sacrifício as inspiraram a unirem-se. Criaram até um lema, uma frase que identificava-as como
O tempo foi passando e eu comecei a ficar um pouco preocupada. Não que fosse ruim ter tranquilidade, ter recursos, poder acompanhar a recuperação de todas as que se feriram. Mas, o fato era que eu tinha ficado com uma promessa de algo que eu não sabia o que era. As meninas começaram a perguntar o que deveriam fazer, se podiam voltar a tentar ter uma rotina, formar um lar, tentar viver. E eu não fazia a menor ideia do que responder pois a qualquer momento uma nova guerra poderia cair em suas cabeças. Na verdade, era o mais provável de acontecer. Incentivar que elas pudessem sonhar, fazer planos, me parecia injusto. Dizer não parecia ainda mais injusto. Fui pedindo um pouco mais de paciência, que ainda precisávamos cuidar umas das outras, mas praticamente não tínhamos mais o que esperar. Mesmo as que ainda estavam em recuperação já se sentiam plenamente capazes e dispostas. Achei que deveria desenvolver um plano. Criar uma espécie de treinamento. Mantê-las ativas. Chamei aquelas que c
Depois do evento do tsunami, o caminho natural foi estruturar o planeta para uma nova realidade. E isso significava sedimentar, fincar raízes. Pois a estrutura fornecida por Athos era incrível, mas além de temporária, comportava metade da população que o planeta tinha. Enquanto trabalhavam para aumentar essa estrutura, para que o planeta fornecesse mais recursos para todos viverem bem, criavam laços. Amizades, compromissos, apego sentimental, tanto entre pessoas, quanto com criações e realizações. Quem construía uma casa, com cada detalhe planejado, obviamente se apegava aquele lugar. Com ajuda dos outros, uniam-se enquanto comunidade, também. Criavam novas identidades. Não eram mais as Gigantes ou as Mileniuns, ou Tsun, como os que morreram no tsunami ficaram conhecidos. Eram um povo só. No máximo, se identificavam pela região que se fixaram, como os de "Além das AM" (Árvores Molhadas, como eram chamadas as árvores que ficaram submersas e retornavam de acordo com uma espécie de mar
A felicidade parecia constante e duradoura, o que me assustava a todo momento. Minha experiência me dizia que o "felizes" nunca era para sempre e no meio de cada acontecimento que nos aproximava, que nos fortalecia, a cada nova demonstração de amor, não só entre nós, mas também entre todos no planeta, vinha em mim um pensamento de decepção pelo futuro. A impressão que eu tinha sempre era a de que, quando Athos reaparecesse, tudo iria se acabar. Guerra, mortes, caos. Nada mais seria a mesma coisa. Por isso, eu queria aproveitar cada minuto, cada momento, cada atitude. Mas, ao que tudo indica, não existe ordem sem o caos. - Majestade, existe algo que precisa de sua atenção de forma urgente! - Gritava, Ninfar, nossa chefe de guarda, entrando pela porta do salão principal do Castelo, onde estávamos arrumando as coisas para o nosso almoço coletivo tradicional. - O que aconteceu, Ninfar? Houve outra epidemia de gatos fofinhos nascendo no planeta? - Brincava, Natane lembrando de um