Parte 21 - BiancaNão sei o que faço agora. Tem gente estranha por perto, Trajano aparecendo do nada, eu quase não dormi direito.— O que foi? - ele perguntou, um sorriso leve brincando nos lábios quando ele se aproximou mais, os olhos fixos nos meus.Eu estava apavorada. Não com ele, mas comigo mesma. Com o que eu sentia. Eu não sabia beijar, nunca tinha beijado ninguém, e agora, de repente, estava ali, tão perto de algo que parecia tão proibido e tão certo ao mesmo tempo.Que confusão eu ter saído do convento. Acho que fiz uma enorme besteira.— Eu... Eu não sei beijar - admiti, as palavras saindo em um sussurro nervoso. Eu o vi parar, a surpresa clara nos olhos dele.Por um momento, ele ficou em silêncio, apenas me observando, e depois sorriu, um sorriso que me aqueceu de dentro para fora.— Isso é algo que podemos consertar... — disse ele, a voz rouca e baixa.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ouvi passos. Os mesmos homens da venda. Eles estavam se aproximando, o som de
Parte 22 - AdrianoA estrada de terra que levava ao centro da cidade estava praticamente deserta, e ao chegarmos na venda local, avistei um pequeno grupo de homens suspeitos, os mesmos que eu tinha visto de manhã cedo.Estavam reunidos perto da entrada, conversando entre si de forma tensa. O líder deles, um sujeito robusto de cabelos grisalhos, parecia dar ordens com gestos apressados, como se algo estivesse prestes a acontecer.— Creio que sejam eles, senhor - Javier disse ao meu lado.Aproximei-me devagar, mantendo uma distância segura, escondido à vista deles. Meus homens estavam comigo, prontos para qualquer coisa. O que eu precisava agora era descobrir onde diabos Bianca estava se escondendo.O líder do grupo se virou, apontando para o horizonte, na direção das montanhas. A cabana. Eu mal tinha percebido a estrutura simples e escondida entre as árvores, uma construção modesta que passaria despercebida por qualquer um que não soubesse o que procurar.— Ela está lá! - o sujeito gr
Parte 23 - AdrianoEla abriu a boca para rebater, mas parou, talvez percebendo a verdade nas minhas palavras. O silêncio pairou entre nós por alguns segundos, interrompido apenas pelo som distante de tiros e gritos abafados do lado de fora. Eu sabia que meus homens estavam controlando a situação, mas o tempo estava contra nós. Tinha que sair dali.— Bianca, nós não temos tempo para isso agora. - voltei a falar, mais calmo, me abaixando para ficar na altura dela. — Eu vou te tirar daqui, quer você confie em mim ou não. Mas você precisa vir comigo, e precisa vir agora.Ela olhou diretamente nos meus olhos. Só a luz da lua entrando pela cortina entreaberta. Havia medo, sim, mas algo mais também. Algo que eu não conseguia identificar completamente, mas sabia que estava lá.Ela hesitou por um segundo, mas então assentiu com a cabeça, se levantando devagar, e eu estendi a mão para ajudá-la.— Agora, fica bem perto de mim.- ordenei. — Nós vamos sair pela parte de trás, onde meus homens já
Parte 24 - BiancaEu o olhei com os olhos semicerrados.— Você está rindo? - perguntei, incrédula.— Sim, porque, sinceramente, isso tudo é ridículo. - ele disse, ainda com um sorriso no rosto. — Você tenta fugir a pé no meio da noite, eu te pego em cinco segundos, e agora estamos aqui, no estacionamento de um posto de gasolina, discutindo como dois adolescentes.Eu tentei manter minha expressão de indignação, mas acabei mordendo o lábio para segurar uma risada. Ele tinha razão, claro. A cena era ridícula, e mesmo assim eu estava desesperada o suficiente para tentar.— Por que fugiu do convento, Bianca?Eu suspirei. Não sei como ele vai me entender.— Você não sabe o quanto eu quero fugir desse casamento. - falei, agora mais séria, tentando explicar — Não é sobre você, Adriano. Eu não quero ser forçada a fazer algo que eu não escolhi. Meu pai me jogou em um convento, pelo amor de Deus!O sorriso dele desapareceu, e ele me olhou por alguns segundos, como se estivesse tentando entender
Parte 25 -Bianca— Não. Eu não quero forçar você a nada, Bianca. Mas talvez... - ele parou, como se ponderasse antes de dizer a próxima frase. — Talvez devêssemos tentar entender o que podemos construir juntos, em vez de lutar contra algo que já é certo.Apertei as unhas na mão com força. Isso tudo ainda é muito irritante pra mim. Quando decidi sair do convento não foi para cair nas mãos dele. Ainda que ele fosse Trajano, o cara que eu achei atraente na boate.— Bianca?— Ai, calma... - virei o rosto — Eu tenho que pensar... Não é assim fácil.— E nem tão difícil também - ele tocou meu joelho e puxei a perna — Você é teimosa.— Você não sabe disso - cruzei os braços — Não sabe nada sobre mim.— É verdade, mas posso aprender...Voltei a olhar para ele.— Segundo você, também fez sacrifícios, por que então aceita isso? Não é criança, não tem que acatar ordens de papai.Ele fez uma expressão mais fechada.— Sim, eu tenho que acatar ordens, ainda que não goste delas. Fui criado para isso
Parte 26 - BiancaE chegamos. Adriano estacionou o carro em frente à mansão da família, uma construção imponente, antiga e fria. As luzes das janelas recortavam a escuridão da noite, destacando as paredes de pedra e a entrada larga, com colunas de mármore. Eu desci do carro, relutante, meu olhar fixo nas sombras das árvores ao redor, desejando qualquer caminho que me levasse para longe daquele lugar. Ainda não me sinto segura.— Bem-vinda, Bianca - Adriano disse ao descer ao meu lado. Ele não esperou resposta, apenas guiou-me para dentro da casa.No grande salão, Leonardo e a mãe deles, Victoria, já nos aguardavam. Leonardo era alto, com o rosto rígido e a postura de alguém acostumado a comandar com poucas palavras. Ele observou cada movimento meu com olhar afiado, como se calculasse o peso da minha presença ali.— Esta é Bianca - Adriano disse, rompendo o silêncio pesado. — Bianca, meu irmão mais velho, Leonardo... E minha mãe, Victoria.A mãe dele deu um passo à frente, os olhos e
Parte 27 -Bianca A noite parecia ter sido feita para me lembrar que eu não tinha controle de mais nada. No convento, o silêncio era quase sagrado, e mesmo nas horas mais inquietas, eu podia ao menos ouvir a calmaria das orações ao longe. Aqui, o silêncio era diferente. Ele gritava em meus ouvidos, como se zombasse de mim. “Olha onde você veio parar, Bianca." Deitada na cama, eu me sentia sufocada. Os lençóis eram macios, mas estranhos. Não era o meu lugar. Eu não queria estar ali. Olhei para o teto, buscando respostas que nunca viriam. Tudo o que aconteceu nos últimos dias parecia um borrão. A fuga do convento, Luiza correndo ao meu lado, o sequestro que nunca imaginei que sofreria, e agora... Aqui. Na casa de Adriano.Levantei-me devagar, sem fazer barulho. O abajur ao lado da cama projetava uma luz fraca, suficiente para não tropeçar nos móveis. Caminhei até a janela, mas a paisagem lá fora era uma sombra densa. "Estou presa em uma mansão e mal sei onde ficam as saídas. Que m
Parte 28 -AdrianoO silêncio no quarto era apenas aparente. Na minha cabeça, uma tempestade rugia. Sentado na poltrona de couro, seguro um copo de uísque pela base, o líquido âmbar balançando a cada movimento da minha mão. É só uma distração. O casamento com Bianca era uma realidade que, por mais que eu tentasse evitar pensar, agora estava mais perto do que nunca. Não havia mais fugas, nem desculpas.Suspirei fundo, deixando o peso da situação cair sobre mim. Não era só sobre ela.Bianca, com seus olhos teimosos e jeito de querer bater de frente comigo a cada oportunidade, representava algo maior. O acordo feito por meu pai e o dela. A promessa que nossas famílias mantinham como uma espécie de contrato de ferro. Eu sempre soube que esse momento chegaria, mas... Não esperava que fosse assim.Minha mente me traiu e trouxe Celeste à superfície. Celeste, com seu sorriso afiado e seus olhos que sempre pareciam saber mais do que diziam. Ela era um furacão, alguém que conseguia virar meu