Parte 20 - AdrianoA noite estava mais silenciosa do que o normal, com apenas o som das águas do lago se movendo suavemente. Caminhei devagar, deixando meus pensamentos vaguearem até Biatrice, aquela mulher... misteriosa e linda. Ela me fazia sentir algo diferente, algo que eu não conseguia explicar, mas que me puxava. Como se houvesse algo escondido debaixo da superfície, algo que eu precisava descobrir.O problema é que eu não devo me envolver com mais alguém agora que estou noivo. Não realmente. Ter amantes é outra coisa.O que me lembra que ainda não falei com Celeste sobre encerrar de vez nossa relação. Não é nada sério, ela tem outros, eu sei disso, mas sempre que a quero, ela vem até mim.O celular no meu bolso vibrou, interrompendo meu devaneio. Era Leo. Suspirei, já esperando más notícias.— Leo, o que é agora? Está tarde - perguntei, tentando não demonstrar o cansaço que começava a se acumular.Não era tão fácil e rápido encontrar Bianca, como eu achei que seria. E nem vo
Parte 21 - BiancaNão sei o que faço agora. Tem gente estranha por perto, Trajano aparecendo do nada, eu quase não dormi direito.— O que foi? - ele perguntou, um sorriso leve brincando nos lábios quando ele se aproximou mais, os olhos fixos nos meus.Eu estava apavorada. Não com ele, mas comigo mesma. Com o que eu sentia. Eu não sabia beijar, nunca tinha beijado ninguém, e agora, de repente, estava ali, tão perto de algo que parecia tão proibido e tão certo ao mesmo tempo.Que confusão eu ter saído do convento. Acho que fiz uma enorme besteira.— Eu... Eu não sei beijar - admiti, as palavras saindo em um sussurro nervoso. Eu o vi parar, a surpresa clara nos olhos dele.Por um momento, ele ficou em silêncio, apenas me observando, e depois sorriu, um sorriso que me aqueceu de dentro para fora.— Isso é algo que podemos consertar... — disse ele, a voz rouca e baixa.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ouvi passos. Os mesmos homens da venda. Eles estavam se aproximando, o som de
Parte 22 - AdrianoA estrada de terra que levava ao centro da cidade estava praticamente deserta, e ao chegarmos na venda local, avistei um pequeno grupo de homens suspeitos, os mesmos que eu tinha visto de manhã cedo.Estavam reunidos perto da entrada, conversando entre si de forma tensa. O líder deles, um sujeito robusto de cabelos grisalhos, parecia dar ordens com gestos apressados, como se algo estivesse prestes a acontecer.— Creio que sejam eles, senhor - Javier disse ao meu lado.Aproximei-me devagar, mantendo uma distância segura, escondido à vista deles. Meus homens estavam comigo, prontos para qualquer coisa. O que eu precisava agora era descobrir onde diabos Bianca estava se escondendo.O líder do grupo se virou, apontando para o horizonte, na direção das montanhas. A cabana. Eu mal tinha percebido a estrutura simples e escondida entre as árvores, uma construção modesta que passaria despercebida por qualquer um que não soubesse o que procurar.— Ela está lá! - o sujeito gr
Parte 23 - AdrianoEla abriu a boca para rebater, mas parou, talvez percebendo a verdade nas minhas palavras. O silêncio pairou entre nós por alguns segundos, interrompido apenas pelo som distante de tiros e gritos abafados do lado de fora. Eu sabia que meus homens estavam controlando a situação, mas o tempo estava contra nós. Tinha que sair dali.— Bianca, nós não temos tempo para isso agora. - voltei a falar, mais calmo, me abaixando para ficar na altura dela. — Eu vou te tirar daqui, quer você confie em mim ou não. Mas você precisa vir comigo, e precisa vir agora.Ela olhou diretamente nos meus olhos. Só a luz da lua entrando pela cortina entreaberta. Havia medo, sim, mas algo mais também. Algo que eu não conseguia identificar completamente, mas sabia que estava lá.Ela hesitou por um segundo, mas então assentiu com a cabeça, se levantando devagar, e eu estendi a mão para ajudá-la.— Agora, fica bem perto de mim.- ordenei. — Nós vamos sair pela parte de trás, onde meus homens já
Parte 24 - BiancaEu o olhei com os olhos semicerrados.— Você está rindo? - perguntei, incrédula.— Sim, porque, sinceramente, isso tudo é ridículo. - ele disse, ainda com um sorriso no rosto. — Você tenta fugir a pé no meio da noite, eu te pego em cinco segundos, e agora estamos aqui, no estacionamento de um posto de gasolina, discutindo como dois adolescentes.Eu tentei manter minha expressão de indignação, mas acabei mordendo o lábio para segurar uma risada. Ele tinha razão, claro. A cena era ridícula, e mesmo assim eu estava desesperada o suficiente para tentar.— Por que fugiu do convento, Bianca?Eu suspirei. Não sei como ele vai me entender.— Você não sabe o quanto eu quero fugir desse casamento. - falei, agora mais séria, tentando explicar — Não é sobre você, Adriano. Eu não quero ser forçada a fazer algo que eu não escolhi. Meu pai me jogou em um convento, pelo amor de Deus!O sorriso dele desapareceu, e ele me olhou por alguns segundos, como se estivesse tentando entender
Parte 25 -Bianca— Não. Eu não quero forçar você a nada, Bianca. Mas talvez... - ele parou, como se ponderasse antes de dizer a próxima frase. — Talvez devêssemos tentar entender o que podemos construir juntos, em vez de lutar contra algo que já é certo.Apertei as unhas na mão com força. Isso tudo ainda é muito irritante pra mim. Quando decidi sair do convento não foi para cair nas mãos dele. Ainda que ele fosse Trajano, o cara que eu achei atraente na boate.— Bianca?— Ai, calma... - virei o rosto — Eu tenho que pensar... Não é assim fácil.— E nem tão difícil também - ele tocou meu joelho e puxei a perna — Você é teimosa.— Você não sabe disso - cruzei os braços — Não sabe nada sobre mim.— É verdade, mas posso aprender...Voltei a olhar para ele.— Segundo você, também fez sacrifícios, por que então aceita isso? Não é criança, não tem que acatar ordens de papai.Ele fez uma expressão mais fechada.— Sim, eu tenho que acatar ordens, ainda que não goste delas. Fui criado para isso
Parte 1 -BiancaEu mal conseguia respirar. O silêncio da noite era tão denso que cada passo meu parecia um trovão dentro de minha cabeça. Quando meus pés tocaram o chão do lado de fora da janela, o barulho abafado pela grama úmida ainda me pareceu alto demais. Por um instante, parei.— Será que alguém ouviu? - pensei, com o coração martelando dentro do peito. O medo de sermos descobertas me queimava por dentro, mas eu não podia voltar atrás.— Rápido, Bianca!A voz de Luísa, que já estava mais à frente, me puxou de volta à realidade. Ela me agarrou pelo braço, e seus olhos brilhavam com a mesma mistura de medo e excitação que os meus. Não era a primeira vez que fugíamos do convento juntas, mas essa noite era diferente. Nas outras vezes, tínhamos sido cuidadosas, nos limitando a passeios curtos e discretos pela cidade silenciosa. Desta vez, íamos mais longe — muito mais.Todos esses anos enclausurada aqui dentro já eram demais. Não pedi por isso e nem fui consultada. Apenas acatei u
Parte 2 -Bianca Tudo era tão diferente do convento que, por um momento, senti como se tivesse sido transportada para outro universo. As luzes vibrantes piscavam ritmicamente, refletindo nas paredes espelhadas da boate. O som era tão alto que quase abafava o tumulto de vozes e risadas ao nosso redor. Senti o cheiro forte de perfume misturado com álcool e suor, algo tão distante do aroma suave de incenso e velas que preenchiam os corredores do convento. Mas até que eu gostei.Estávamos dentro. Na boate. Eu e Luísa havíamos conseguido fugir mais uma vez e estávamos no meio de um mar de gente, num lugar onde nunca imaginei pisar. No carro, antes de chegar aqui, havíamos nos trocado às pressas. Luísa, com sua ousadia habitual, me emprestara um de seus antigos vestidos, algo que ela mantinha escondido como um relicário de sua antiga vida fora do convento. O vestido que agora grudava ao meu corpo era um tecido preto, fino e ligeiramente brilhoso, com alças delicadas que caíam sobre meu