Parte 26 - BiancaE chegamos. Adriano estacionou o carro em frente à mansão da família, uma construção imponente, antiga e fria. As luzes das janelas recortavam a escuridão da noite, destacando as paredes de pedra e a entrada larga, com colunas de mármore. Eu desci do carro, relutante, meu olhar fixo nas sombras das árvores ao redor, desejando qualquer caminho que me levasse para longe daquele lugar. Ainda não me sinto segura.— Bem-vinda, Bianca - Adriano disse ao descer ao meu lado. Ele não esperou resposta, apenas guiou-me para dentro da casa.No grande salão, Leonardo e a mãe deles, Victoria, já nos aguardavam. Leonardo era alto, com o rosto rígido e a postura de alguém acostumado a comandar com poucas palavras. Ele observou cada movimento meu com olhar afiado, como se calculasse o peso da minha presença ali.— Esta é Bianca - Adriano disse, rompendo o silêncio pesado. — Bianca, meu irmão mais velho, Leonardo... E minha mãe, Victoria.A mãe dele deu um passo à frente, os olhos e
Parte 27 -Bianca A noite parecia ter sido feita para me lembrar que eu não tinha controle de mais nada. No convento, o silêncio era quase sagrado, e mesmo nas horas mais inquietas, eu podia ao menos ouvir a calmaria das orações ao longe. Aqui, o silêncio era diferente. Ele gritava em meus ouvidos, como se zombasse de mim. “Olha onde você veio parar, Bianca." Deitada na cama, eu me sentia sufocada. Os lençóis eram macios, mas estranhos. Não era o meu lugar. Eu não queria estar ali. Olhei para o teto, buscando respostas que nunca viriam. Tudo o que aconteceu nos últimos dias parecia um borrão. A fuga do convento, Luiza correndo ao meu lado, o sequestro que nunca imaginei que sofreria, e agora... Aqui. Na casa de Adriano.Levantei-me devagar, sem fazer barulho. O abajur ao lado da cama projetava uma luz fraca, suficiente para não tropeçar nos móveis. Caminhei até a janela, mas a paisagem lá fora era uma sombra densa. "Estou presa em uma mansão e mal sei onde ficam as saídas. Que m
Parte 28 -AdrianoO silêncio no quarto era apenas aparente. Na minha cabeça, uma tempestade rugia. Sentado na poltrona de couro, seguro um copo de uísque pela base, o líquido âmbar balançando a cada movimento da minha mão. É só uma distração. O casamento com Bianca era uma realidade que, por mais que eu tentasse evitar pensar, agora estava mais perto do que nunca. Não havia mais fugas, nem desculpas.Suspirei fundo, deixando o peso da situação cair sobre mim. Não era só sobre ela.Bianca, com seus olhos teimosos e jeito de querer bater de frente comigo a cada oportunidade, representava algo maior. O acordo feito por meu pai e o dela. A promessa que nossas famílias mantinham como uma espécie de contrato de ferro. Eu sempre soube que esse momento chegaria, mas... Não esperava que fosse assim.Minha mente me traiu e trouxe Celeste à superfície. Celeste, com seu sorriso afiado e seus olhos que sempre pareciam saber mais do que diziam. Ela era um furacão, alguém que conseguia virar meu
Parte 29 - BiancaEstava começando a sentir que, de alguma forma, as paredes dessa casa estavam se fechando cada vez mais sobre mim. A janela parecia um pequeno refúgio, mas até ela estava sendo vigiada, e eu me vejo de novo à mercê de cada passo que eu desse. Mesmo tentando manter minha cabeça ocupada, minha mente não para. Agora a coisa ficou séria de verdade. Eu não tenho outro lugar para ir sabendo que tem gente querendo me pegar, acho bom ficar por aqui mesmo, por um tempo, ao menos. Não dá pra fingir que nada disso está acontecendo. A casa é grande demais para mim, depois de anos em um convento. E está escura, muito escura. Não sei ainda como, mas eu tenho que me adaptar a essa mudança. Eu só não queria que fosse assim. Só sei que, depois da conversa com talvez minha futura sogra, tudo parece pior.Ela me olhou com aquela expressão de quem tem um monte de coisas na cabeça e me soltou: “Sua mãe vai querer falar com você, Bianca. Você sabe que ela vai...”Ah, sério? Eu só est
Parte 30 -BiancaEra só o que me faltava, depois de ter feito o que fiz. Eu não podia ser forçada para algo que eu não queria, não depois de ter fugido, não depois de tudo que tinha acontecido.— Você não pode me forçar a isso - eu disse, tentando manter a voz firme, mas minha garganta parecia seca, as palavras saíam hesitantes. — Eu não quero esse casamento... Não concordei de fato... Não posso ser sua esposa, Adriano...— Ainda com isso, Bianca? - ele abriu os braços — Você sabe bem que é isso o que vai acontecer, ainda que não queira.— Será mesmo que vai? - ergui a sobrancelha.— Não comece, não tente me deixar com raiva, você não vai gostar de me ver assim.— Por acaso está me ameaçando de algo? - apertei os lábios.— Não... Estou só dizendo que você tem que cumprir sua parte, assim como eu vou cumprir a minha... Ainda que não queira.— Você... Você gosta dessa sua... — Gosto... Como amante - parou em minha frente — Era só isso que ela era pra mim, ainda que tivesse sido divert
Parte 31 -Bianca— Mas ainda assim... O casamento vai acontecer, Bianca. Não se esqueça disso. E quanto à questão de quem transou com quem... Bem, isso vai continuar sendo um detalhe para o contrato, não é?Eu rolei os olhos dramaticamente e me joguei na cama, deitada de costas.— Só espero que o contrato inclua uma cláusula de bom senso, porque se não, eu me recuso a assinar.Ele deu uma última olhada em mim, com aquele sorriso enigmático, antes de sair do quarto, mas não sem antes deixar uma última provocação.— Não se preocupe, Bianca. Você vai assinar. E vai gostar disso. Vai gostar de muita coisa. Eu posso te garantir.A porta se fechou, e eu fiquei ali, pensando... Como ele conseguia ser tão irritante e tão... Irresistível ao mesmo tempo?A porta tinha acabado de se fechar, mas era como se a presença dele ainda estivesse ali, me encarando com aquele sorriso enigmático que, para minha total infelicidade, começava a ser mais interessante do que deveria.Eu me sentei na cama, pass
Parte 32 -AdrianoRealmente a madrugada não demorou, mas eu acho até bom, porque estou ansioso por essa manhã. Bianca já deve estar acordada também.Esfreguei o rosto para espantar o sono e vi que meu celular está piscando. Mensagem. Com um bocejo estico a mão. Mas não são só mensagens de meu pessoal, tem uma de Celeste também.— E essa agora?Abri a mensagem sem muita vontade. Eu tinha encerrado meu casinho com Celeste há alguns dias e não tinha sido muito legal.“Adriano, eu sinto sua falta. Por que não vem até aqui? Estou esperando...”Revirei os olhos, soltando um riso seco. Claro, Celeste. Sempre na hora certa — ou melhor, errada. Eu sabia o que ela queria, mas, pela primeira vez, a ideia não me atraiu. Tudo nela parecia tão... Previsível. Sem desafio, sem faísca. Era fácil, cômodo, ela sempre esteve por ali, mas sabia que não tinha futuro real e talvez por isso agora parecesse tão sem graça.Agora Bianca já estava aqui comigo.— Merda! - puxei o ar, soltando devagar e lendo o
Parte 33 -BiancaEu não gostei da ideia de falar com meu pai agora, ainda não coloquei as ideias certas na cabeça para enfrentar sua raiva. Eu me recordo bem como ele tratava minha mãe.E tenho quase certeza de que esses anos em que eu estive fora, ele deve ter abusado do emocional dela. Minha mãe sofre de depressão e para ele isso é apenas uma frescura.— Parece preocupada - Leonardo disse.— E você não estaria, depois de tantos anos sem ver o homem que o prendeu em um lugar onde você nunca quis estar?— Ele fez isso por cuidado - ele comentou mexendo a colher na xícara e me olhando como se fosse dono da verdade.— Ah, claro... - dei um sorriso cínico.— Às vezes nós não entendemos como as coisas são feitas, Bianca, mas são para nosso bem - minha talvez futura sogra disse.— Isso é verdade... Mas não nesse caso.— Bianca, seria melhor você começar a se acostumar - agora foi Adriano quem se pronunciou — Se eu já estou aceitando esse casamento, você também pode aceitar.— Sim, é bem si