Jhanny
Era a terceira vez seguida nesta semana. O mesmo sonho/pesadelo/visão/lembrança ou seja lá o que fosse aquilo.
Sempre a mesma coisa. Uma mulher com longos cabelos lisos e loiros, olhos muito verdes e muito bonita. Usava um vestido medieval azul claro e uma capa de seda branca com capuz cobrindo parcialmente a cabeça. Ela estava correndo por uma floresta, desconhecida a Jhanny, parecia estar fugindo de algo ou alguém. Levava em seus braços, alguma "coisa", que parecia emitir sons, embrulhada em um manto de seda rosa que, por vezes, tambem se movia e colocava o que pareciam ser mãozinhas para fora. Um bebê. Jhanny tentava ver o seu rosto, mas a floresta estava meio escuricida, além do semblante desesperado da mulher, era impossível ver mais claramente outras coisas em volta.
Com seu perseguidor no encalço, a mulher começou acelarar a corrida, o vento da noite afastou por uns instantes o manto do rosto da criança, assim Jhanny conseguiu vê-la. Com certo espanto, a garota percebeu que o bebê era muito parecido com ela, e com a mulher também.Só que diferente da mulher que, para Jhanny, era a mãe da criança, o bebê tinha olhos azuis claros. Mas, o rosto feliz e sorridente da bebê, certamente sem entender nada do que estava acontecendo, assim como Jhanny, era como se fosse uma versão muito mais jovem do rosto desesperado, e agora com lágrimas, da mulher.
Ela continuava correndo e algumas vezes olhava para trás, na direção do perseguidor, que estava cada vez mais perto. Ao fundo, era possível ouvir sons distintos, poderiam ser gritos ou apenas pássaros noturnos, não tinha como saber.
Nas outras vezes em que sonhou, Jhanny nunca descobriu do que ou de quem a mulher estava fugindo. O sonho sempre terminava com alguém gritando e ela acordava. Então, mais uma vez a mulher olhou para trás e dessa vez, como nunca havia acontecido das outras vezes, Jhanny viu algo... ou melhor, alguém. Ela não conseguiu distinguir quem era. Não via seu rosto, apenas um vulto negro oculto pela escuridão da floresta. Estava montado em um cavalo. A mulher se escondeu atrás de uma árvore e prendeu um pouco a respiração para que não fosse ouvida. Não ousou olhar para trás. Jhanny podia sentir o seu medo... A mulher, segurando um pouco tremula o embrulho do bebê, a encarou.
- Logo tudo estará bem, querida. - O bebê sorrio ao ouvir a voz doce de sua mãe sussurrando. Uma voz que Jhanny achava familiar, mas não conseguia se lembrar de onde a ouviu, ou se conhecia a mulher. - Não vou deixar nada acontecer a você. - A voz da mulher era como... como se fosse uma música, a mais bela e suave música que Jhanny já ouvira. Uma voz que acalmava a tudo. Passava a sensação de que realmente ficaria tudo bem.
A mulher se concentrou para tentar ouvir os passos de seu perseguidor, mas ela não ouvia nada além dos gritos ou canto dos pássaros, e os demais sons da escuridão da noite. Talvez ele tivesse desistido. Então, com um suspiro de alívio, ela olhou mais uma vez para o bebê e sorrio docemente, o bebê retribuiu e Jhanny acordou.
Lúcia
Foi o pesadelo mais estranho e diferente que Lúcia já teve.
Ela acordou mais suada que o normal, mesmo estando nesta época do ano, ela achou que não era nada normal uma pessoa suar tanto assim.
Lúcia se sentou na cama, passou a mão na testa e sentiu algumas gotas de suor descer pelo lado do seu rosto. Ainda sentada, ela encarou as próprias mãos que também estavam suadas, mais que o normal, ela as limpou em sua camisola. Em seguida, respirando fundo, se jogou na cama outra vez, passou as mãos pelos seus longos cabelos castanhos ondulados. Respirou fundo outra vez e fechou os olhos. Ao fazer isso as lembranças do pesadelo vieram em sua mente como se ela estivesse o tendo novamente. Era muito real, como se ela realmente estivesse naquele lugar escuro. Muito escuro.
A escuridão, um breu horrível tomava conta de tudo. Para onde ela olhava não havia nada além da escuridão. Mas ela podia ouvir... Gritos de dor, de sofrimento, de agonia e de guerra. Parecia está havendo um verdadeiro massacre a sua volta. Ela não podia correr por que não sabia para onde. o medo a deixando paralisada. Sua voz não saia de sua garganta. Tudo que ela podia fazer era ouvir os gritos... Mas isso não era o mais estranho do pesadelo, pelo menos não para Lúcia, o que ela achou mais estranho foi a voz de uma mulher gritando por seu nome.
Ela abriu os olhos novamente pensando que tipo de pesadelo era esse. De quem era aquela voz? Ela nunca a ouvira antes. De repente ela sentiu, mesmo estando anormalmente suada, um frio terrível, como se ela estivesse mergulhando em um lago congelado. Ela tateou a sua volta, procurando o cobertor, quando o encontrou, cobriu-se freneticamente, esperando que o frio passasse. Demorou mais do que ela gostaria, mas passou.
Lúcia fechou os olhos e pouco tempo depois adormeceu.
John
Era como se ele estivesse lá outra vez. Vendo tudo acontecendo de novo. Cada detalhe estava gravado como um filme em sua mente.
John acordou com lágrimas nos olhos. Ele tinha raiva por se lembrar de cada detalhe daquela noite terrível. Tinha apenas dois anos, como poderia conseguir se lembrar de tudo assim? E ainda ter pesadelos horríveis quase todas as noites? Ele se perguntava por que era atormentado com isso. Pedia aos deuses para que o livrassem dessa lembrança, mas não obtinha sucesso. Ao invés disso, elas pareciam clarear mais na sua mente e tornar os pesadelos mais horríveis.
Ele dormia todas as noites com medo de ter esses pesadelos, algumas noites acordava gritando, outras completamente suado e outras, como essa, com lágrimas nos olhos.
Ele continuou ali deitado em sua cama. Limpou os olhos e passou as mãos por todo o seu rosto. Ele estava gelado, mas não sentia frio nem calor, apenas ódio por ter essa lembrança ainda gravada em sua mente. Ele queria arrancá-la de lá, mas não conseguia. Tentava sempre se concentrar em outras coisas, mas a lembrança sempre invadia sua mente, muitas vezes era como se ele estivesse lá de novo.
Olhando para si mesmo, com dois anos de idade, escondido atrás daquela porta. Vendo tudo acontecer por uma fresta com os olhos arregalados, chorando em silêncio. Seus pais ajoelhados diante de um homem encapuzado, envolto numa névoa negra, apenas as chamas de uma lareira iluminava o local. Lá fora, podia-se ouvir o mundo desabando, pessoas correndo e gritando, o som de metal se chocando contra metal e outras coisas. Lá dentro, um silêncio mortal, a não ser pela voz do ser que parecia querer saber alguma coisa dos pais de John, mas eles não falavam, então, a mãe do garoto o viu pela fresta, e sorriu. E então aconteceu, John fechou os olhos com força e tentou afastar aquilo. Esse pesadelo. Estava com a respiração acelerada. Suplicando aos deuses para que não tivesse esse pesadelo outra vez, ele tentou dormir de novo. Dessa vez eles o ouviram e John adormeceu tranquilamente.
Jhanny se sentou na cama e ficou pensando nos eventos de sua lembrança, ou seja lá o que fosse aquilo. Quem era aquela mulher? Seu rosto e sua voz pareciam pouco familiar a Jhanny. E o bebê? Sempre o mesmo sonho, ela achou que seria melhor dizer que aquilo era um sonho, e agora cada vez mais frequente e real. Jhanny respirou fundo se levantou da cama e caminhou para o seu banheiro. Jhanny Stone tinha 16 anos, morava com a sua tia em um apartamento alugado, de frente para o Central Park, em Nova York. Sua tia, Dhora Stone, era a sua única familia, era uma mulher muito bonita, pele clara, longos cabelos lisos e escuros, e olhos azuis claros, iguais aos da Jhanny. Desde que seu pai se fora, quando ela era apenas um bebê, sua tia Dhora cuidava dela como se fosse sua filha, e ela a amava muito por isso.
Lúcia estava na esquina do prédio onde morava com seus avós, encostada na parede esperando pela Jhanny. Ela estava usando uma calça jeans preta, um tênis branco e uma blusa vermelha. Seus longos cabelos castanhos ondulados estavam soltos.Lúcia morava com seus avós, num apartamento comprado pelos seus pais, que viviam viajando a trabalho. Viver com os avós não era ruim, eles eram ótimos com ela, viver longe dos pais e vê-los apenas uma ou, no máximo, 3 vezes ao mês é que não era legal. Ela sentia muita falta deles, por mais que eles não deixassem que nada faltasse para ela. Mas lá no fundo, ela sabia que trabalhavam tanto assim por ela, era o que sempre diziam, e ela acreditava nisso. Os avós da Lúcia eram aposentados, então não trabalhavam, eles eram William e Judy Carrow, os pais do pai da Lúcia. Ela olhou o relógio no seu pulso e olhou para a direção em que a Jhanny sempre vinha, avistando a garota se aproximar. Jhanny era a colega de toda
John torceu para que a garota, Lúcia, tivesse entendido e contasse ao seu tio, Thomas Johnson, o professor de matemática, o que tinha acontecido e que ele estaria com Jhanny.Eles não esperavam que isso fosse acontecer tão cedo, mas aconteceu. A garota viu uma das criaturas mágicas do mundo ao qual John, e ela também, pertenciam.Enquanto corria, ele pensou no que o seu tio disse quando eles chegaram em Nova York, para vigiar e proteger a garota de possíveis ameaças. Ele falou que por ser apenas uma descendente, de dois dos deuses mais poderosos de seu mundo, ela não despertaria tão cedo nenhum tipo de magia ou poderia ver algum ser mágico de seu mundo, a não ser que a levassem para lá, o mundo a que eles pertenciam. Mas parece que seu tio estava
Jhanny caminhou em silêncio, alguns passos atrás de John, ela estava confusa com tudo isso. Do que é que ele estava falando? Deuses da natureza? Filhos da natureza? E o que eram aqueles... gnomos? Gnomos que tinham roubado a sua mochila? Mas que coisa... estranha, ela pensou. Será que ainda estava dormindo? Sonhando? Não, isso era muito real. Ela não falou uma única palavra, continuou em silêncio. John também não dizia nada, mas, por vezes, lançava um olhar para ela que caminhava atrás dele. Ele falou que o Professor Johnson saberia explicar melhor tudo isso, ela esperava que sim. Ele era o melhor professor que ela e Lúcia já tiveram. John lhe lançou outro olhar. - Você está bem? - Ele perguntou. - Está muito quieta. - Eu estou confusa. - Ela respondeu. - Não sei se deveria estar ta
Lúcia estava extremamente confusa com tudo isso, ela percebeu que Jhanny também estava. Isso é loucura, pensou. Mas decidiu que tentaria acreditar. Após terem ouvido o que aconteceu com Jhanny, o Prof. Johnson deu uma breve explicação pra ela, disse algo sobre pertencerem a outro mundo, ela o perguntou se o que estava querendo dizer é que são E.T's, mas, depois de rir por uns 2 minutos, ele disse que não, o mundo do qual ele falava, não era outro planeta. Era meio que uma outra dimensão e que havia portais espelhados em vários lugares da terra que davam acesso a ele, mas só filhos da natureza e criaturas mágicas podem vê-los e atravessá-los. - Certo, então eu sou descendente de um desses tais deuses. Mas qual deles? - Lúcia quis saber. - Na verdade, de dois, Srta. Carrow. - Sério? E
John ficou imaginando como Thomas consegiu convencer os avós de Lúcia da verdade, já que ele disse que foi muito mais fácil do que imaginou. Cerca de dez minutos após eles deixarem a casa de Lúcia, chegaram a casa de Jhanny. Falar com a tia dela sobre o que aconteceu foi ainda mais fácil, pois Dhora Stone já sabia da verdade sobre Jhanny. Sobre o lugar ao qual ela pertencia. Ela era irmã do pai da garota, e sabia que esse dia chegaria. O que os fez demorar mais na casa de Jhanny foi o fato de ela e a tia os convidarem a ficar para o jantar. Isso depois de Jhanny ter ficado ressentida com a tia por ela nunca ter dito a verdade. Convencê-la de que tudo isso tinha sido para sua própria segurança foi mais difícil de que convencer os avós de Lúcia, mas no fim Jhanny acabou aceitando tudo. Enquanto jantavam ela fez algumas perguntas sobre s
Jhanny despediu-se de Tia Dhora aquela manhã com um aperto no coração. Ela sabia que não estava indo embora para sempre, mas sentiria saudades da tia. Thomas a estava esperando parado do outro lado da rua, encostado numa mini van preta. Ele se aproximou dela e a ajudou com as suas coisas. Ela não estava levando muita coisa, apenas uma mochila com que ela achou que fosse ser essencial e uma mala pequena contendo algumas peças de roupa. Thomas tinha dito que não havia necessidade de levar aparelhos eletrônicos para Natureza, pois não precisaria usá-los lá. Ele colocou a mala dela no porta malas. - Está pronta? - Perguntou, com um sorriso simpático pra ela. - Acho que sim. - Ela respondeu. Ele abriu a porta de trás para ela entrar. E
Lúcia não estava nem um pouco afim de encontrar com os tais demônios sapos ou os darkulus. Sapos são nojentos, ela pensou. E esses que o Thomas descreveu pareciam ainda mais nojentos. E os tais darkulus? Filhos das trevas, ele dissera. Eu não quero morrer cedo, pensou novamente. A cabana abandonada no meio de uma área semi aberta da floresta, parecia abandonada há séculos. Tinha um carro prateado parado na frente dela. - Alguém deve ter esquecido aí. - Lúcia falou. - Ou foi abandonado. Isso tem muito cara daqueles filmes de terror, com canibais que vivem em florestas como essas. - Ela ouviu uma risadinha de John? - Ela não falou aquilo pra fazer uma piada, mas gostou de ter feito ele rir. - Deve ter sido alugado pela Sther. - Falo