Lúcia estava na esquina do prédio onde morava com seus avós, encostada na parede esperando pela Jhanny.
Ela estava usando uma calça jeans preta, um tênis branco e uma blusa vermelha. Seus longos cabelos castanhos ondulados estavam soltos.
Lúcia morava com seus avós, num apartamento comprado pelos seus pais, que viviam viajando a trabalho.Viver com os avós não era ruim, eles eram ótimos com ela, viver longe dos pais e vê-los apenas uma ou, no máximo, 3 vezes ao mês é que não era legal. Ela sentia muita falta deles, por mais que eles não deixassem que nada faltasse para ela. Mas lá no fundo, ela sabia que trabalhavam tanto assim por ela, era o que sempre diziam, e ela acreditava nisso.
Os avós da Lúcia eram aposentados, então não trabalhavam, eles eram William e Judy Carrow, os pais do pai da Lúcia.
Ela olhou o relógio no seu pulso e olhou para a direção em que a Jhanny sempre vinha, avistando a garota se aproximar. Jhanny era a colega de todas as aulas de Lúcia. Ela a considerava uma amiga, apesar de se verem somente na escola e fora isso somente para fazer dever de casa juntas.
- Oi. - Falou Jhanny se aproximando. - E aí, vamos?
- Oi, vamos. - Ela respondeu. As duas trocaram um abraço e começaram a caminhar. - Que bom que essa é a ultima semana de aula!
- Penúltima. - Corrigiu Jhanny. - A ultima será semana que vem.
- Eu quis dizer aula mesmo, sem contar com as provas, que serão na semana que vem. - Lúcia falou.
- Você vai viajar com seus pais? - Jhanny perguntou.
- Bem... não. Eles me ligaram ontem, disseram que eu terei que passar as férias aqui, com meus avós.
- Sinto muito. - Falou Jhanny.
- Está tudo bem, pelo menos vamos poder nos ver nas férias, não é? Poderemos sair juntas. Fazer umas compras, sei lá.
- É, você tem razão. - Jhanny sorriu. - Mas está bem com isso?
- Não muito. - Elas viraram numa rua e continuaram caminhando em direção a escola.
Quinze minutos depois, as garotas estavam na frente da escola, esperando tocar o sinal. Elas ainda estavam conversando sobre as férias de verão quando viram ele chegar, John Canton, ele passou perto delas e lhes lançou um olhar, daquele jeito sério que elas gostavam. Ele estava usando uma calça jeans surrada, com um rasgo no joelho esquerdo e uma camiseta branca. Seus cabelos estavam, como sempre, meio bagunçados. Ele encostou na parede ao lado da porta da escola e ficou ali aguardando o sinal. Lúcia deu um suspiro.
- Ai meu deus!
- É, por que você não fala com ele? - Jhanny perguntou.
- Eu... não, ele nem olharia direito para mim. - Ela respondeu. Lúcia já havia pensado nisso, mas não tinha coragem e também sabia que, assim como ela, a Jhanny gostava dele, então ela achou melhor ficar na dela. Não queria estragar a amizade que tinha com ela, a sua única amiga.
O sinal tocou e elas entraram atrás de John, seguiram para a primeira aula. Uma das poucas que ele fazia com elas. Ele entrou e se sentou no fundo da sala, como em todas as aulas. Elas se sentaram um pouco mais a frente dele, uma ao lado da outra. E para desgosto de Lúcia, sentaram-se na sua frente e de Jhanny, as gêmeas Lee, as garotas que ela menos gostava no mundo, na verdade, ela as odiava. Elas eram duas garotas muito bonitas, com feições asiáticas, se vestiam sempre com roupas de grife combinando, mas o que elas tinham de beleza tinham também de burrice, além de serem irritantes e chatas. Uma delas, a que se sentou na frente de Jhanny, se virou.
- Olha só quem está sentada atrás de você, Hellen. - Ela falou com a irmã, apontando para a Lúcia.
- E você já viu quem está atrás de você, Hillary? - Ela respondeu apontando para Jhanny. - Não acredito que estamos sentadas perto dessa gente... - Ela olhou para as duas de cima a baixo. - ... Gente que não sabe se vestir.
- Por que vocês não olham para a frente ou mudam de lugar? - Retrucou Lúcia. - Já que não gostam de se sentar perto de nós. - Ela as encarou feio. Jhanny não deu uma palavra, Lúcia lembrou que da última vez que essas duas mexeram com ela, levaram uma surra. Ela nunca entendeu como, mas sim, a Jhanny bateu nelas. Lúcia sabia também que elas se sentaram ali por causa de John, elas ficavam tentando conquistá-lo, mas nunca obtinham sucesso.
- Vocês estão em nossos lugares. - Falou a Hillary. - Nós devíamos sentar ai.
- Não vimos os nomes de vocês aqui. - Lúcia falou.
- Isso não importa! - Gritou Hellen, se levantando. - Ainda é o nosso lugar e vocês vão... - Nesse momento, elas foram caladas pela entrada repentina da Professora de história, a Sra. Lee, que por sinal, era tia das duas.
- O que está havendo aqui? - Ela perguntou.
- Essas... - Começou Hellen, mas foi interrompida por... John?!
- Não é nada demais, professora.
- Ótimo! Srta. Lee, sente-se, por favor! - Ela falou com a sobrinha que se sentou rapidamente.
- Mas, tia... - Começou Hillary.
- Aqui eu sou sua professora, Srta. Lee, e fique em silêncio, por favor, vamos começar a aula. Se não se importar! - A garota se calou, de cara feia. - Ótimo!
Lúcia ainda estava digerindo o fato de que John interferiu na discussão. Ela o estava encarando.
- Srta. Carrow? - Chamou a Professora Lee. - Poderia olhar para a frente, por favor?
- Ah... sim... claro, professora. - Ela se virou. O resto da turma deu risadinhas.
- Muito obrigada, Srta. Carrow. - Ela se virou para o resto da turma. - Muito bem! Silêncio, todos vocês! Vamos começar a aula de hoje continuando de onde paramos na aula passada, sobre o Império Egípcio! - Ela "gritou" para a turma. - Sr. Canton, pode nos dizer por onde paramos na aula passada? - Ela perguntou a John. Lúcia e toda a turma se virou para encará-lo.
- Ahn... Acho que sobre a religião deles, a senhora estava falando sobre a árvore genealógica dos deuses egípcios, e que os faraós acreditavam ser descendentes deles, não foi? - Ele disse.
- Sim, Sr. Canton. Muito bem... - E ela começou a aula.
***
Na hora do almoço, Lúcia e Jhanny foram para o refeitório ao ar livre da escola. Se sentaram em uma mesa longe das gêmeas idiotas. Apenas as duas, como sempre. Lúcia pôs a sua mochila ao seu lado no banco e Jhanny jogou a dela no chão, perto dos seus pés. Lúcia deu uma olhada para onde John estava sentado e viu as gêmeas na mesa ao lado da dele. Ela sentiu uma pontada de ciúmes e se virou para Jhanny.
- Idiotas!
- O que? - Perguntou Jhanny. Ela estava distraída no resumo que a professora havia pedido para fazer, afirmando que o assunto cairia na prova.
- Nada não. - Lúcia disse. - Você não devia deixar isso para fazer em casa?
- Acho melhor fazer agora. - Jhanny respondeu, largando a caneta e comendo seu sanduiche. - Vai cair na prova, então acho melhor estar preparada.
- Que dia é hoje? Quinta?
- Sim, por que?
- A prova será daqui a uma semana, na próxima quinta. Teremos muito tempo até lá, não acha?
- Talvez...
- Tá legal! Você que sabe. - Lúcia mordeu seu sanduiche e tomou um gole de suco. - O que você está fazendo?! - Ela perguntou olhando para Jhanny que estava entrando de baixo da mesa.
- A minha mochila... eu deixei aqui... - Respondeu Jhanny. - Onde ela está? Que droga! - Ela se levantou e arregalou os olhos. - Mas o que?!
- Mas o quê, o que? - Lúcia olhou na mesma direção que Jhanny estava olhando e viu a mochila de Jhanny flutuando sozinha. - Mas o quê?! - Jhanny se levantou rápido.
- O que são aquelas coisas levando minha mochila?! - Ela começou a correr. - Voltem aqui, droga! - Lúcia se levantou e, no momento em que ia correr atrás da amiga, John apareceu na sua frente e a segurou pelos ombros.
- Eu cuido disso, fique aqui e conte ao Thom... ao Professor Johnson que estou com ela. - Ele a encarou com aqueles olhos azuis. - Entendeu?
- Mas... o que? Ficar aqui... dizer ao professor que... - Ele a interrompeu.
- Faça isso, ele saberá o que está acontecendo, fique aqui e conte a ele que ela está comigo. Ele vai entender. - Ela o encarou.
- Bem... eu... tá bom, eu digo. - A garota respondeu, confusa.
- Ótimo, obrigado! - Ele largou ela e saiu correndo atrás de Jhanny.
Lúcia ficou o observando correr por uns instantes.
- Mas o que está acontecendo? - Ela perguntou a si mesma.
Depois se sentou para terminar o almoço. A próxima aula seria a de matemática, a do Prof. Johnson. O que o professor teria a ver com a mochila da Jhanny que saiu flutuando sozinha? E como a mochila saiu flutuando sozinha? Jhanny parecia ter visto algo levando a mochila. Que coisa... estranha, ela pensou. Perdeu até o apetite e não percebeu o tempo passar até que o sinal anunciou que estava na hora da aula com o Prof. Johnson. Ela se levantou e seguiu para a aula.
John torceu para que a garota, Lúcia, tivesse entendido e contasse ao seu tio, Thomas Johnson, o professor de matemática, o que tinha acontecido e que ele estaria com Jhanny.Eles não esperavam que isso fosse acontecer tão cedo, mas aconteceu. A garota viu uma das criaturas mágicas do mundo ao qual John, e ela também, pertenciam.Enquanto corria, ele pensou no que o seu tio disse quando eles chegaram em Nova York, para vigiar e proteger a garota de possíveis ameaças. Ele falou que por ser apenas uma descendente, de dois dos deuses mais poderosos de seu mundo, ela não despertaria tão cedo nenhum tipo de magia ou poderia ver algum ser mágico de seu mundo, a não ser que a levassem para lá, o mundo a que eles pertenciam. Mas parece que seu tio estava
Jhanny caminhou em silêncio, alguns passos atrás de John, ela estava confusa com tudo isso. Do que é que ele estava falando? Deuses da natureza? Filhos da natureza? E o que eram aqueles... gnomos? Gnomos que tinham roubado a sua mochila? Mas que coisa... estranha, ela pensou. Será que ainda estava dormindo? Sonhando? Não, isso era muito real. Ela não falou uma única palavra, continuou em silêncio. John também não dizia nada, mas, por vezes, lançava um olhar para ela que caminhava atrás dele. Ele falou que o Professor Johnson saberia explicar melhor tudo isso, ela esperava que sim. Ele era o melhor professor que ela e Lúcia já tiveram. John lhe lançou outro olhar. - Você está bem? - Ele perguntou. - Está muito quieta. - Eu estou confusa. - Ela respondeu. - Não sei se deveria estar ta
Lúcia estava extremamente confusa com tudo isso, ela percebeu que Jhanny também estava. Isso é loucura, pensou. Mas decidiu que tentaria acreditar. Após terem ouvido o que aconteceu com Jhanny, o Prof. Johnson deu uma breve explicação pra ela, disse algo sobre pertencerem a outro mundo, ela o perguntou se o que estava querendo dizer é que são E.T's, mas, depois de rir por uns 2 minutos, ele disse que não, o mundo do qual ele falava, não era outro planeta. Era meio que uma outra dimensão e que havia portais espelhados em vários lugares da terra que davam acesso a ele, mas só filhos da natureza e criaturas mágicas podem vê-los e atravessá-los. - Certo, então eu sou descendente de um desses tais deuses. Mas qual deles? - Lúcia quis saber. - Na verdade, de dois, Srta. Carrow. - Sério? E
John ficou imaginando como Thomas consegiu convencer os avós de Lúcia da verdade, já que ele disse que foi muito mais fácil do que imaginou. Cerca de dez minutos após eles deixarem a casa de Lúcia, chegaram a casa de Jhanny. Falar com a tia dela sobre o que aconteceu foi ainda mais fácil, pois Dhora Stone já sabia da verdade sobre Jhanny. Sobre o lugar ao qual ela pertencia. Ela era irmã do pai da garota, e sabia que esse dia chegaria. O que os fez demorar mais na casa de Jhanny foi o fato de ela e a tia os convidarem a ficar para o jantar. Isso depois de Jhanny ter ficado ressentida com a tia por ela nunca ter dito a verdade. Convencê-la de que tudo isso tinha sido para sua própria segurança foi mais difícil de que convencer os avós de Lúcia, mas no fim Jhanny acabou aceitando tudo. Enquanto jantavam ela fez algumas perguntas sobre s
Jhanny despediu-se de Tia Dhora aquela manhã com um aperto no coração. Ela sabia que não estava indo embora para sempre, mas sentiria saudades da tia. Thomas a estava esperando parado do outro lado da rua, encostado numa mini van preta. Ele se aproximou dela e a ajudou com as suas coisas. Ela não estava levando muita coisa, apenas uma mochila com que ela achou que fosse ser essencial e uma mala pequena contendo algumas peças de roupa. Thomas tinha dito que não havia necessidade de levar aparelhos eletrônicos para Natureza, pois não precisaria usá-los lá. Ele colocou a mala dela no porta malas. - Está pronta? - Perguntou, com um sorriso simpático pra ela. - Acho que sim. - Ela respondeu. Ele abriu a porta de trás para ela entrar. E
Lúcia não estava nem um pouco afim de encontrar com os tais demônios sapos ou os darkulus. Sapos são nojentos, ela pensou. E esses que o Thomas descreveu pareciam ainda mais nojentos. E os tais darkulus? Filhos das trevas, ele dissera. Eu não quero morrer cedo, pensou novamente. A cabana abandonada no meio de uma área semi aberta da floresta, parecia abandonada há séculos. Tinha um carro prateado parado na frente dela. - Alguém deve ter esquecido aí. - Lúcia falou. - Ou foi abandonado. Isso tem muito cara daqueles filmes de terror, com canibais que vivem em florestas como essas. - Ela ouviu uma risadinha de John? - Ela não falou aquilo pra fazer uma piada, mas gostou de ter feito ele rir. - Deve ter sido alugado pela Sther. - Falo
A sensação de entrar no portal era como se estivesse mergulhando num lago gelado. Lúcia sentiu frio, mas não estava molhada, ou de baixo d'agua. Como ela atravessou de olhos fechados, não pode dizer o que viu ao entrar. Quando abriu os olhos ela estava numa floresta, segundos depois, Jhanny veio logo atrás dela. Ela olhou em volta e percebeu que estava na floresta mais linda que já vira. Belas árvores e plantas, as flores deixavam o ar completamente perfumado. O ar era maravilhosamente puro. Ela nunca respirou algo tão bom como aquilo. E então ela sentiu. - Uau! O que... o que isso?! - Falou Jhanny, maravilhada. Lúcia sentiu algo que ela jamais sentira em toda a sua vida. Ela não soube explicar o que era. Era bom. Uma energia incrível, como se ela jamais tivesse vivido antes, mas agora estava vivendo. Ela fechou os olhos e sentiu a en
John fechou a porta do quarto das garotas e foi para o seu quarto. Ao entrar em seu quarto ele fechou a porta. Seu quarto era maior que o quarto do apartamento no East Harlem. Tinha uma cama, que também era maior que a do East Harlem, encostada na parede perto da janela ao lado esquerdo. Um guarda roupa a direita e, ao lado do guarda roupa, um armário com uma mesa que John usava como escrivania. No armário havia uma fotografia dos pais de John segurando-o quando era bebê. Ele fitou os rostos dos seus pais. Sua mãe, uma mulher linda, de cabelos negros e olhos castanhos. Seu cabelo era curto, na altura do ombro, pele morena. Ela estava sorrindo enquanto segurava o sorridente bebê John. Seu pai, um homem ruivo e olhos azuis, também estava sorrindo. John era mais parecido com a mãe, seus cabelos eram pretos iguais a os dela só os olhos eram azuis, como os do pai, mas suas feições eram parec