A semana seguiu sem que eu tivesse notícias das investigações. Thiago não respondeu nenhuma das mensagens que enviei e, por mais que eu soubesse a razão, tudo o que eu queria era um pouco de luz no fim do túnel. Ainda assim deixei que o tempo cuidasse de tudo. Talvez ele estivesse fazendo aquilo apenas para me torturar ou talvez realmente não tivesse nada.
— Sabia que conhecia você de algum lugar — indagou Melissa, assim que cruzei a porta de entrada da livraria.
— Achei que já tivéssemos passado por essa parte. — Era de se esperar que uma hora ela me veria por aí caso seu irmão não me reconhecesse. Por mais que eu tentasse fugir de vez em quando e não fosse mais tão requisitada como antes, ainda tinham pessoas que me reconheciam.
— Na verdade, não — confessou ela com uma pequena folha balançando no ar. Em seus dedos, estava uma fotografia que havia acabado de ser retirada do mural de visitantes.
Quando segurei a foto que foi direcionada a mim vi as duas figuras adolescentes sorrindo para quem batera a fotografia.
— Bem que Carter estranhou os olhares de vocês dois.
Fiquei surpresa com seu comentário, mas não havia como contrariá-la. Os dois jovens da foto estavam abraçados em uma das mesas do lugar com os sorrisos tão largos que poderia rasgar as bochechas de ambos. O rapaz robusto e ruivo estava tão vermelho quanto a camisa do capitão América que usava, e a garota loira magricela tinham um brilho apaixonado nos olhos claros.
— Foi você quem trocou ele por um desses metaleiros? — Melissa deu uma risadinha enquanto me olhava com curiosidade.
— Essa foi a desculpa dele?
— Tiveram tantas desculpas que paramos de perguntar — contou-me ela com sinceridade. — Mas ele gostava muito de você.
Não pude deixar de rir daquele comentário. Claramente só nós dois sabíamos que não era verdade.
— O clima entre vocês é por causa de Helena, ou vocês só tomaram um choque quando se viram depois de muitos anos?
— Digamos que seja por causa do meu pai — tentei fugir daquela conclusão. — Ele tinha um carinho muito grande por George e quando descobriu que o pai dele estava no meio de todo o meu problema, surtou um pouco.
Melissa me deu um olhar compreensivo, pareceu ler minha expressão e não entendeu o assunto. Mudamos rapidamente a conversa quando Carter veio com o costumeiro cappuccino e mais um de seus desenhos na espuma da bebida.
Conversamos para passar o tempo. Assuntos totalmente aleatórios como; os passeios entre os familiares dos gêmeos, como acabaram indo trabalhar para o irmão, por que Jonathan não participava das conversas e o que faziam para se divertir.
Com isso a tarde passou rapidamente enquanto a noite tentava cobrir todo o céu. Nós continuamos rindo durante o café. Carter ia e vinha de seu balcão sempre que entrava algum cliente. Melissa ficava na expectativa de alguém pedir conselhos sobre os livros ou até mesmo levá-los enquanto ela observava o ambiente atrás de algum furo para o seu jornal. Jonathan deixava ela cuidar dos livros, mas o trabalho da jovem estava voltado as notícias locais. Principalmente um furo sobre seu irmão cobiçado pela mídia.
Os gêmeos diziam que os jornais estavam curiosos para saber da vida amorosa do Morgan mais velho. Sendo o líder das empresas, as pessoas queriam saber quando ele apareceria com uma criança herdeira, já que seus irmãos não tinham à menor vontade de assumir à empresa.
Carter estava feliz com seus cafés e fundos de investimento. Enquanto Melissa queria ir para algum grande noticiário para seguir sua carreira.
Próximo ao fim do expediente, o senhor Morgan entrou no seu estabelecimento e, pela segunda vez, tinha algo em suas mãos para consertar no fundo do lugar, longe de tudo.
Era intrigante vê-lo distraído com seus eletrônicos. Ignorava tudo a sua volta enquanto trabalhava e mal falava com seus irmãos que ali o ajudavam.
No entanto, naquela vez ele parou no meio do caminho, como se me sentisse lhe observando. Seus olhos grandes e castanhos — encobertos pelos óculos com armação grossa e preta — me olharam curiosos. Eu acenei para o homem que franziu a sobrancelha de maneira confusa, mas retribuiu o gesto. Depois de me olhar por alguns instantes, ele se voltou ao seu aparelho para terminar os afazeres.
— Charmoso e misterioso, não é? — disse Melissa se colocando ao meu lado. Seus olhos também estavam focados no homem grande e quando nos entreolhamos, caímos numa gostosa gargalhada.
— Mas que é bonito, é — comentei e ela assentiu sem questionar. — Bom, o dia foi ótimo… Mas tenho que ir — falei, pegando minha bolsa da cadeira.
A garota apenas sorriu para mim e seu irmão gêmeo me lançou um olhar triste do balcão. Guardei o livro — que antes havia deixado em cima da mesa — na bolsa e caminhei em direção a saída do Morgan's.
Para chegar à porta eu precisaria passar perto da assistência técnica. Tomei o rumo do corredor que dava para a saída enquanto sentia os olhos curiosos do Morgan mais velho em mim.
Olhei rapidamente para meus amigos, uma forma de fingir que iria me despedir dos irmãos para poder ter certeza que era vigiada. E estava certíssima. Quando Jonathan recebeu meu contato, desviou o olhar como se tivesse tomado um susto e voltou a trabalhar em seus aparelhos.
Eu revirei os olhos, sorridente para aquela cena. Empurrei a porta e deixei o estabelecimento.
Do lado de fora era possível sentir o ar frio e ver o céu escurecendo. Eu havia descoberto um caminho prático para minha casa, afinal a praça era exageradamente grande, e ao notar que a noite se aproximava depressa pensei em ir por ele para chegar o mais rápido possível.
— London — disse a voz vindo de dentro do estabelecimento. Me virei para ele encontrando os olhos azuis de Carter. — Não quer esperar um pouco? Vamos fechar daqui uma hora e podemos te levar para casa.
Ele disse rápido antes que eu abrisse a boca. Seu convite foi tentador, mas só de pensar em andar de carro com dois encrenqueiros me fez mudar de ideia.
— Eu preciso ir ao mercado comprar algumas coisas — dei um sorriso simpático ao rapaz que pareceu desapontado com minha resposta. — Mas muito obrigada pelo convite.
Lancei uma piscada para ele e lhe dei um aceno para seguir meu caminho.
Andei pelas ruas de pedra da pequena cidade em busca de um mercado. Tinha costume de ir e vir no carro de George até a cidade vizinha para fazer as compras, então não conhecia nada naquele lugar.
A luz da lua já estava quase no alto do céu e as estrelas brilhavam intensamente enquanto eu perambulava naquela bela noite.
Passei por uma pequena viela ainda em busca de meu objetivo. Voltei para trás quando à luz me chamou atenção. Observei melhor por dentro da rua estreita e vi que, no final dela, havia um grande mercado iluminado pelo símbolo em vermelho.
Respirei aliviada por não ter rodado tanto tempo. Entrei na rua com os olhos fixos em meu objetivo enquanto refazia mentalmente a lista do que precisava em casa. Durante o pequeno trajeto, ouvi os passos seguindo os meus em minhas costas. Não estavam longe e não eram de uma única pessoa.
Por instinto olhei por cima do ombro, notando as três figuras vindo em minha direção. Percebi que a rua era maior que o esperado, estreita demais e pouco iluminada também.
Apertei os passos, medindo a distância entre mim e o estabelecimento. Tive um momento de briga interna, por não prestar atenção nos locais onde caminhava. Senti uma vontade louca de correr em disparada até estar segura em minha casa. Eles aumentaram o caminhar junto ao meu até me alcançarem. As figuras se dividiram ao meu redor enquanto eu mantinha o ritmo ágil e a respiração descompassada.
Um dos garotos já estava colado ao meu lado quando dei por mim. Sem me dar tempo para reagir ele segurou meu pulso, me chocando contra seu peito e fazendo meus olhos se fixarem nos seus, escuros e opacos. A jaqueta de couro preta me machucou com a força que fez para me pressionar.
— Oi! Gata — disse ele dando um sorriso malicioso, fazendo meu corpo estremecer. — Você está perdida?
Eu, nada respondi, apenas tentei girar o pulso para me soltar e ele assim o fez. Com força, quase me lançando ao chão.
Seu amigo um pouco mais alto me puxou pela cintura, girando meu corpo para o seu. Vi seus olhos castanhos claros e os cabelos pretos na frente do rosto cobrindo algumas partes. Estava ficando frio, mas ele não usava camisa e, mesmo assim, seu peito estava extremamente quente.
— Ora ora! Erick. Ela tentou fugir como o pilantra do pai e achamos ela! — O rapaz falou fazendo seu hálito de vodca barata chegar até mim.
O terceiro cheirou meu cabelo com uma tragada longa. Minhas pernas já estavam moles enquanto eu sentia o grande medo dominar cada veia de meu corpo. Recordei do dia em que entraram na galeria quebrando todas as minhas peças.
— Será que ela é muda?
— É melhor — falou um deles atrás de mim. Eu poderia jurar que seus olhos estavam em meu corpo. — Vamos poder entregar um recado ao Rider sem gritos.
Suas palavras me assustaram, fizeram meu corpo se debater tentando me soltar e minhas unhas arranharem aquele que me segurava. Ele prendeu meus braços em minhas costas para me impedir e passou a língua em minha face, deixando o cheiro podre impregnado em minha bochecha.
— Não! — Exclamei, tentando chutar por entre suas pernas.
O rapaz caiu com as mãos em sua intimidade e, por ter me segurado quase fora do chão, acabei perdendo o equilíbrio com sua queda. Ouvir os risos de seus companheiros me arrepiou dos pés até a nuca. Aproveitei o momento de liberdade para tentar correr, mas um deles puxou a gola da minha blusa e fez meu corpo ir ao chão com o tranco.
Minha cabeça bateu, forte o suficiente para deixar minha visão falha. Tentei me erguer quando vi a sombra se aproximar. Ele me segurou como um objeto e prendeu os olhos negros, como os do amigo imóvel no chão, nos meus.
Felizmente não vi muito, pois ele me golpeou no estômago com sua mão fechada em punho, deixando-me cair com a falta de ar saindo da boca de meu estômago, percorrendo todo meu corpo.
— Hey! — O grito masculino ecoou pela viela, chamando atenção deles para a sombra alguns metros de nós. Eu não conseguia ver direito, mas ainda ouvia e clamava para que não fosse mais um da gangue.
— E aí cara! Quer brincar também? — disse a voz talvez do tal, Erick. A sombra caída se ergueu do chão e cambaleou na direção da figura.
Fiquei imóvel, jogada no concreto, vendo a cena que se seguiu entre aqueles quatro.
O primeiro foi para cima da figura, pronto para lhe desferir um soco, mas o homem desviou travando o braço do agressor e deixando sua mão beijar o queixo do rapaz. Isso o fez cair de maneira desnorteada no chão.
Já o segundo quis tentar a sorte de uma maneira diferente no meio de tudo aquilo. Um objeto surgiu em suas mãos e, embora eu não tivesse clareza, me parecia ser um instrumento pontudo. O rapaz correu em direção ao intruso com sua arma em punho e a figura segurou o braço armado firme para golpear algumas vezes a face em sua frente, até soltar outro homem, também desnorteado no chão.
— Fora daqui! — ele gritou ao terceiro, parado e sem reação, quando acabou com os amigos do rapaz.
— Você está ferrado! — ameaçou correndo para o lado oposto de mim. — Vamos te matar!
Por fim, depois que tudo acabou, a figura caminhou em minha direção me dando medo dessa aproximação. Eu estava tão petrificada que não conseguia correr. Senti o almoço voltar por minha garganta e contive a ânsia para não vomitar tudo. Ele se agachou para me ver, fazendo sua forma se tornar mais nítida.
— Você está bem? — perguntou a voz rouca, me erguendo do chão calmamente. — Machucaram você?
— Foi mais um susto. — O fôlego estava se recuperando, junto dos sentidos de meu corpo. Me senti segura ao perceber que aquele não iria me fazer mal.
Ele me ajudou a manter o equilíbrio.
— Estava indo para onde, sua maluca? — perguntou. Apontei para o mercado no fim da rua e ele bufou de maneira cansada.
— Sorte sua que passei por aqui. Da próxima vez vá pela avenida.
— Com toda a certeza!
Minha visão começou a melhorar enquanto ele me ajudava a caminhar e quando já estavamos em frente ao mercado, eu olhei para o meu salvador dando de cara com o herdeiro Morgan de sobrancelhas franzidas, parecendo a pessoa mais irritada do mundo.
— Você tem carro — falei, ainda tentando controlar a respiração por conta da dor no estômago.
— Tenho.
— E por que veio andando?
Jonathan parou na porta do mercado para me encarar de uma forma assustadoramente sedutora. Depois ele deu de ombros e disse:
— Talvez o destino goste muito de você — comentou ele, mas revirou os olhos ao perceber a grosseria em sua própria voz. — Está no concerto.
— Obrigada — eu suspirei depois de agradecer. Ele apenas me lançou um olhar de canto.
Jonathan passou a mão na testa molhada pelo suor e vi o risco vermelho em seu braço. Só então notei que ele tinha a mão suja de sangue, pois alisava o braço na região onde o risco estava.
— Meu Deus! Machucaram você! — Eu exclamei puxando o braço que havia sido golpeado pela faca.
— Não foi nada — ele falou, se livrando de meu contato e sacudindo a mão suja. — Acho melhor levá-la ao médico para ter certeza que está bem.
— Não é necessário — o interrompi. Pensar em ir ao hospital, dizer o que houve e depois passar por uma série de interrogatórios que poderiam cair na mídia, me fizeram estremecer de desespero. — Estou bem.
Ele me deu passagem para entrar no mercado e notei em seus olhos castanhos a curiosidade.
— Certeza? — perguntou. Parecia que ele queria tirar as palavras de esclarecimento de mim. No entanto, seria uma história longa demais para um passeio no mercado. Eu apenas afirmei seu questionamento e entrei no local.
— Deveríamos ir para ver esse braço, isso sim.
Ele negou e passou mais uma vez a mão no corte para limpar o sangue. Revirei os olhos e andei pelo estabelecimento em busca de algo para ajudá-lo.
Peguei o pacote de algodão junto ao frasco de água boricada quando entrei no primeiro corredor. Encontrei uma caixa de band-aids mais para frente e tentei equilibrar os três em minhas mãos quando vi uma pilha de chocolates. O rapaz me olhava sempre com o cenho franzido, sem dizer uma única palavra ou esboçar outro tipo de reação.
— Sabe… Eu ainda não vi você sorrir.
— E por que deveria? — Jonathan procurava algo com os olhos, parecia impaciente comigo ao seu lado e eu estava me divertindo com aquilo enquanto tentava decifrá-lo. — Não existem muitas coisas que me façam rir hoje em dia.
— Isso é triste. — O rapaz parou novamente de andar em um dos corredores e pegou o pacote de macarrão espaguete para ler as palavras. No entanto, ao invés disso, me observou de maneira intrigada. — Mas seus irmãos são divertidos. Melissa parece uma desenho animado e Carter…
— Victor só sabe falar de café — ele me interrompeu. Depois de colocar o macarrão embaixo do braço, ele pegou os sachês de tempero mais adiante.
Eu concordei rindo comigo mesma ao lembrar das cantadas estranhas do rapaz da cafeteria e o Morgan me observou por breves instantes antes de dizer:
— Você é a primeira pessoa que me diz isso — estreitei os olhos e ele continuou andando. — Que sou triste.
— Me desculpa, mas você é bonito. Então um sorriso lhe cairia bem!
— Você sempre é direta com as pessoas assim?
Ele pareceu brincar com as palavras, mas ainda mantinha o rosto liso. Eu realmente queria vê-lo sorrir. Apenas dei de ombros para sua pergunta e entrei no corredor seguinte encontrando meu chá de camomila.
— Então, Henrietta. Disse que não tem muitas coisas que o façam sorrir hoje em dia. O que aconteceu com você? — perguntei quando nos aproximamos do caixa. Peguei o pacote de biscoitos que ficavam ali e o vi me olhar, totalmente confuso.
— Henrietta?
— Sim. A princesa que nunca sorri — falei, mas ele manteve o olhar de questionamento. — O filme?
Jonathan negou com a cabeça, seus olhos mantinham a confusão e a caixa se divertiu com o horror estampado em minha face. Vi o nome no crachá da morena e sorri para ela enquanto a mesma trabalhava em minha compra.
— Acho que alguém precisa assistir alguns filmes ou ler uns contos de fadas. Não acha, Ana? — Ela assentiu divertida, mas o Morgan não mudou a expressão.
Respirei fundo quando percebi que ele realmente não iria sorrir para mim.
— Plateia difícil…
— Doze e cinquenta — Ana me disse. Jonathan colocou seus produtos no caixa enquanto eu pagava pelos meus.
Tentei pensar em algo a mais que pudesse funcionar com o homem, mas eu não era uma comediante e, pelo que parecia, ele não iria rir nem se estivéssemos num circo.
No entanto, enquanto eu guardava as compras tanto minhas quanto dele, Jonathan mantinha seus olhos em mim como se eu fosse familiar. Me causava inquietação com isso, mas queria tanto entender sua mente que deixava de lado.
Nós saímos do estabelecimento em silêncio. Morgan, sempre cavalheiro, me dava passagem para andar em sua frente. Do lado de fora, pedi que ele se sentasse na escadaria do mercado para que eu pudesse ver seu machucado. Não era nada grande, mas achei que poderia agradecê-lo daquela maneira.
Então limpei sua ferida com o algodão e a água, vendo-o dar um pulo com o contato do líquido em sua pele. Ele queria manter a firmeza, mas era óbvio que doía.
Não havíamos trocado mais palavras. Ele apenas me olhava fixamente como se lesse minhas expressões. Finalizei meu trabalho colocando os band-aids no corte e me levantei da escada. Observei a noite que já dominava toda a cidade, percebendo que estava muito longe de casa. O que me deu um tremendo medo.
— Não se preocupe, eu te acompanho — ele disse notando meu desespero.
— Obrigada. — Me senti grata por ele se dar ao trabalho de me levar até a rua de casa.
O caminho foi silencioso até lá, mas estar acompanhada depois daquele sufoco me deixou mais tranquila.
Ele me deu um breve aceno para se despedir quando lhe mostrei a casa no fim da rua, e eu agradeci novamente observando-o se afastar.
Jonathan realmente era alguém intrigante. Parecia ter um segredo que queria esquecer. Mas não conseguia se desvencilhar e, por me olhar sempre detalhadamente, acreditei que algo em mim o lembrava alguma coisa.
Acordei na manhã seguinte sentindo meu corpo doer e formigar em alguns locais. Me recordei da noite anterior, quando quase fui morta e apanhei feio de três rapazes nojentos. Pensei na sorte que tive por Jonathan ter me encontrado e no que poderia ter acontecido se ele não tivesse chegado a tempo.O herdeiro Morgan, um rapaz tão fechado e sempre sério, apareceu no momento que mais precisei de alguém.Meu celular — encima da mesa-de-cabeceira — vibrou durante meus devaneios e quando a luz acendeu, li as breves palavras “Precisamos conversar” de Thiago para mim.Do lado de fora, o dia havia amanhecido ensolarado e parecia que seria agitado. Depois de ler o recado do detetive senti toda a esperança percorrer meu interior com o banho delicioso de sol que invadia a janela sobre mim. Eu torcia para que as notícias fossem boas, pois não conseguia ver nenhum tipo de sentimento naquele recado.Deixei a casa o mais rápido que pude quando ele me mandou o endereço do local onde iria me esperar par
Entrei na livraria às pressas. O ar me faltava e eu tentava controlar toda minha raiva junto à respiração descompassada.Melissa me olhou com a expressão assustada e disse meu nome sem que o som saísse de sua boca. Ela deixou seu balcão o mais rápido que conseguiu para ir até mim.— O que aconteceu com você? — perguntou, mas eu não sabia como responder.Não queria chorar mais, nem me preocupar com meu pai. Mas era impossível. Eu era sua filha e, querendo ou não me preocupar fazia parte disso.— O que aconteceu é que tenho um pai estúpido e um amigo incompetente — soltei. A garota mudou sua expressão para dúvida, esperando que eu explicasse. — Eles decidiram não me contar nada.— London, já sabe o que penso disso tudo. Acredito que agora concorde comigo. — Eu afirmei. Depois de um longo suspiro, limpei a garganta observando o ambiente calmo e me sentei.— Estou criando coragem para fazer — sussurrei, fazendo com que a jovem se sentasse para me ouvir melhor. — Ele não vai me nos perdoar
Ainda não havia feito a denúncia, pois em todos os momentos que cheguei a sair de casa para ir, pensava na minha relação com George e desistia da ideia.Por mais que Melissa e Carter me encorajassem durante nossas conversas, eu desistia no meio do caminho e retornava à estaca zero.Enquanto isso, o detetive tentava fazer contato comigo de todas as formas. Até mesmo mandando o seu assistente ir em minha casa para saber se eu realmente o estava ignorando. Sua última tentativa foi aparecer pessoalmente no Morgan's, no horário que eu tinha costume de ir. Por sorte Jonathan o colocou para fora com poucas palavras ditas num canto reservado do lugar.Jonathan manteve seu comportamento indiferente todas as vezes que tentei fazê-lo rir. Eu havia decretado que aquela seria uma das minhas meta para o final do ano, mesmo que parecesse impossível.Já Carter se incomodou com minhas tentativas de aproximação para com seu irmão. Por isso resolvi mostrar a todos que meu interesse era apenas uma experi
Nas portas de entrada do Morgan's deixávamos uma pequena caixa de vidro temperado com uma abertura de 40 cm de comprimento por 20 cm de largura. Nessa caixa era possível colocar o equipamento danificado para que eu pudesse analisá-lo quando estivesse presente no local.Havia um pequeno recado colado na tampa daquele objeto. Dizia para que o dono do aparelho deixasse um bilhete junto ao equipamento, com os detalhes de seu problema e um telefone para contato, pois iríamos ligar para informá-lo sobre o valor e quanto tempo levaria o conserto.Caso o cliente aceitasse, eu continuaria o trabalho. Se não, ele poderia retirar seu aparelho das oito às dezesseis horas no balcão da Assistência Técnica.Resolvi criar a caixa do quebrado quando ficou difícil ir todos os dias a biblioteca, tendo que encarar as pessoas na rua. Aquilo foi útil, principalmente depois que fiquei meses, ausente.Primeiro de tudo; eu estava indo a tantas consultas médicas para acompanhar meu tio que era quase impossível
Senti a luz invadir minha escuridão, o que me levou a pressionar os olhos para afastá-la. Meu corpo doía ao ponto de me fazer choramingar. Era como se um carro de corrida tivesse me arrastado por toda a rodovia presa a uma corda pela cintura. O ar não conseguia chegar em meus pulmões como quando fui socada no estômago naquela rua estreita, tão forte que me deixou totalmente sem fôlego. O odor de baunilha e jasmim penetraram em mim, me motivaram a enfrentar a claridade incômoda para abrir os olhos lentamente e descobrir de onde vinha aquilo. No início achei que tudo não havia passado de um sonho. Um terrível sonho. Contudo, a cama tinha uma maciez diferente. Ela massageava minhas costas delicadamente enquanto os lençóis lisos pareciam querer fugir de meu corpo com qualquer movimento. Meus olhos foram de encontro à claraboia que iluminava o quarto com a luz forte do sol. Me sentei na cama, tentando entender onde estava. Mas ao erguer minha cabeça senti a forte dor na nuca e, automatic
John me deu um tempo para pensar sobre sua proposta, mas eu não tinha muitas opções. Ao menos se aceitasse, George estaria livre para voltar e eu não correria mais risco de vida. No entanto, estaria presa à alguém durante 365 longos dias e isso era o que mais me alarmava.Respirei fundo enquanto sentia minha cabeça entrar numa enorme bola de neve, se tornando uma bagunça ainda maior do que já era, durante meus pensamentos.O dia estava chegando ao fim. Pude ver a tarde alaranjada no céu através da claraboia, e meus olhos pesavam pelo longo tempo que pensei. No entanto, não queria dormir ainda. Queria ter uma saída melhor daquela situação. Mesmo que nada viesse à minha mente, eu não parava de pensar.A porta foi aberta durante meus devaneios, e o rapaz de cabelos vermelho fogo surgiu com uma bandeja em mãos. O mesmo deixou o objeto metálico na mesa próxima à porta e sorriu para mim. Seus olhos escuros fixaram-se aos meus e eu não soube se ele era amigo ou inimigo.Ele deveria saber sob
Acordei com a mesma dor terrível na cabeça e em todo meu corpo. O calor me acariciava enquanto a claridade me acordava gradualmente. Eu abri meus olhos, me deparando com a claraboia trincada e lacrada com algo cobrindo-a do lado de fora.Não havia a menor dúvida de onde eu estava.Meu joelho esquerdo havia sido colocado em cima de um travesseiro e estava totalmente envolvido em ataduras. Havia curativos em meus arranhões dos tornozelos, braços e pescoço. Alguns machucados pequenos em meu rosto pulsavam, como se ele estivesse em chamas. E a faixa grande ainda se enrolava em minha cabeça como uma fita de cabelo. Ela latejava ao ponto de me sentir em meio a uma fanfarra.Jonathan estava sentado na poltrona do espelho com aquele olhar de culpa direcionado ao chão, sem conseguir chegar até mim. Torci o nariz com sua presença e o fuzilei com toda minha raiva. Já que era tudo o que eu poderia fazer.— Me desculpe. Não era para machucá-la. — Ele sussurrou tão baixo que eu só pude entender ao
— Você está bem? — Disse a voz suave de Tomás invadindo meu quarto. O ruivo deixou a bandeja na mesa e fechou a porta.Olhei para ele de canto, depois voltei meus olhos à janela. Tinha árvores altas como paisagem e poderia jurar que era possível ver um lago, bem distante. Deduzi, que a casa ficava nas pequenas montanhas litorâneas. Significava que não tinha vizinhos curiosos.— Não fique com raiva de mim. — O rapaz disse tentando puxar minha atenção. — Se eu fosse rico te ajudaria.— Você é uma graça.— Sabe London, Jonathan não é o tipo de pessoa que se pode desafiar. Aliás, ele não é o tipo de pessoa que se brinca. Um movimento desses homens é uma montanha que ele moveria para destruí-los.Tomás parecia querer me dizer algo que não podia. Tudo o que captei em sua explicação foi que Jonathan, era poderoso o bastante para prejudicar alguém e isso era óbvio. Afinal, eu estava sendo prejudicada.— Você não sente nada por ele? — Me perguntou por fim fazendo-me franzir o cenho. — É uma pe