Meu pai desapareceu e nem o próprio Espírito Santo saberia me dizer o que havia ocorrido para ele tomar uma decisão tão irresponsável.Eu não poderia esperar muito de uma criatura tão irracional como ele, pois fazia anos que eu era a pessoa responsável por nós dois. Porém eu também não conseguiria viver com a preocupação me perturbando todas as noites enquanto ele se escondia de seja lá o que, e esse pensamento carregou-me até nossa casa de veraneio no Brasil. O único local onde eu tinha certeza que o encontraria quando seu momento de surto acabasse.O problema era que procurar por um homem com amor pelo desconhecido, seria como tentar algo quase impossível e, até então, tudo o que eu tinha era uma casa velha e mofada onde passamos nossas férias…Acreditei que levaria uma eternidade até ele tomar a decisão de ir para à casa, no entanto, não custava tentar.À casa estava escondida em uma região urbana na Grande São Paulo. Uma área muito tranquila, regada de pessoas educadas com pouco t
Deixei-o entrar na casa, me sentindo estranha com aquele olhar cravado em mim. Ele aproximou-se para respirar o meu perfume e os seus olhos se fecharam, dando liberdade a sua imaginação. Parecia que estava degustando um bom vinho enquanto sua mão boba deslizava pela minha cintura.— Thiago, não o chamei aqui para isso.Pelo desejo estampado no rosto do rapaz, senti que as minhas palavras apenas o atiçaram mais.— Colocou esse vestido lindo para quê, então?O seu dedo indicador segurou o meu queixo, sustentando o nosso olhar.— Porque estamos numa época quente.— Óbvio que foi isso — ele sorriu, claramente não acreditando nas minhas palavras.Não demorou muito para que me beijasse com toda a saudade possível. Aquele jogo durava tanto tempo que nós mesmos não deveríamos recordar do momento em que começou, mas realmente não era o que eu queria naquela noite. Claro que não recusaria seu beijo ousado, no entanto meu intuito não era acabarmos na cama.— Eu preciso do seu serviço. — Disse an
Pintei um lindo dogue alemão cinza. O pelo do animal brilhava com o verniz, deixando a pincelada mais realista. Estava perfeito. Eu podia jurar que havia ficado tão real a ponto de ser possível sentir a maciez do seu pelo curto se o tocasse. Por instinto acabei lhe acariciando e percebi que estava certa ao acreditar na vida da tela.A criatura me olhou profundamente após retirar a enorme cabeça do quadro. Ele rosnou feroz e latiu mostrando os dentes afiados em seguida.Dei alguns passos para trás não acreditando naquilo, e deixei um grande medo percorrer o meu corpo. Quando o cachorro percebeu a sensação que fluiu de mim, saltou da tela em disparada.Corri por minha vida, então percebi que o quarto ao meu redor se tornou uma imensa sala azul sem saída. O local se estendia por diversos quilômetros sem sequer uma janela. Ainda que eu corresse com toda a vontade, a cada segundo ouvia as patas baterem rápidas e fortes em minhas costas. Tão perto que me arrancava lágrimas de desespero.Min
A semana seguiu sem que eu tivesse notícias das investigações. Thiago não respondeu nenhuma das mensagens que enviei e, por mais que eu soubesse a razão, tudo o que eu queria era um pouco de luz no fim do túnel. Ainda assim deixei que o tempo cuidasse de tudo. Talvez ele estivesse fazendo aquilo apenas para me torturar ou talvez realmente não tivesse nada.— Sabia que conhecia você de algum lugar — indagou Melissa, assim que cruzei a porta de entrada da livraria.— Achei que já tivéssemos passado por essa parte. — Era de se esperar que uma hora ela me veria por aí caso seu irmão não me reconhecesse. Por mais que eu tentasse fugir de vez em quando e não fosse mais tão requisitada como antes, ainda tinham pessoas que me reconheciam.— Na verdade, não — confessou ela com uma pequena folha balançando no ar. Em seus dedos, estava uma fotografia que havia acabado de ser retirada do mural de visitantes.Quando segurei a foto que foi direcionada a mim vi as duas figuras adolescentes sorrindo
Acordei na manhã seguinte sentindo meu corpo doer e formigar em alguns locais. Me recordei da noite anterior, quando quase fui morta e apanhei feio de três rapazes nojentos. Pensei na sorte que tive por Jonathan ter me encontrado e no que poderia ter acontecido se ele não tivesse chegado a tempo.O herdeiro Morgan, um rapaz tão fechado e sempre sério, apareceu no momento que mais precisei de alguém.Meu celular — encima da mesa-de-cabeceira — vibrou durante meus devaneios e quando a luz acendeu, li as breves palavras “Precisamos conversar” de Thiago para mim.Do lado de fora, o dia havia amanhecido ensolarado e parecia que seria agitado. Depois de ler o recado do detetive senti toda a esperança percorrer meu interior com o banho delicioso de sol que invadia a janela sobre mim. Eu torcia para que as notícias fossem boas, pois não conseguia ver nenhum tipo de sentimento naquele recado.Deixei a casa o mais rápido que pude quando ele me mandou o endereço do local onde iria me esperar par
Entrei na livraria às pressas. O ar me faltava e eu tentava controlar toda minha raiva junto à respiração descompassada.Melissa me olhou com a expressão assustada e disse meu nome sem que o som saísse de sua boca. Ela deixou seu balcão o mais rápido que conseguiu para ir até mim.— O que aconteceu com você? — perguntou, mas eu não sabia como responder.Não queria chorar mais, nem me preocupar com meu pai. Mas era impossível. Eu era sua filha e, querendo ou não me preocupar fazia parte disso.— O que aconteceu é que tenho um pai estúpido e um amigo incompetente — soltei. A garota mudou sua expressão para dúvida, esperando que eu explicasse. — Eles decidiram não me contar nada.— London, já sabe o que penso disso tudo. Acredito que agora concorde comigo. — Eu afirmei. Depois de um longo suspiro, limpei a garganta observando o ambiente calmo e me sentei.— Estou criando coragem para fazer — sussurrei, fazendo com que a jovem se sentasse para me ouvir melhor. — Ele não vai me nos perdoar
Ainda não havia feito a denúncia, pois em todos os momentos que cheguei a sair de casa para ir, pensava na minha relação com George e desistia da ideia.Por mais que Melissa e Carter me encorajassem durante nossas conversas, eu desistia no meio do caminho e retornava à estaca zero.Enquanto isso, o detetive tentava fazer contato comigo de todas as formas. Até mesmo mandando o seu assistente ir em minha casa para saber se eu realmente o estava ignorando. Sua última tentativa foi aparecer pessoalmente no Morgan's, no horário que eu tinha costume de ir. Por sorte Jonathan o colocou para fora com poucas palavras ditas num canto reservado do lugar.Jonathan manteve seu comportamento indiferente todas as vezes que tentei fazê-lo rir. Eu havia decretado que aquela seria uma das minhas meta para o final do ano, mesmo que parecesse impossível.Já Carter se incomodou com minhas tentativas de aproximação para com seu irmão. Por isso resolvi mostrar a todos que meu interesse era apenas uma experi
Nas portas de entrada do Morgan's deixávamos uma pequena caixa de vidro temperado com uma abertura de 40 cm de comprimento por 20 cm de largura. Nessa caixa era possível colocar o equipamento danificado para que eu pudesse analisá-lo quando estivesse presente no local.Havia um pequeno recado colado na tampa daquele objeto. Dizia para que o dono do aparelho deixasse um bilhete junto ao equipamento, com os detalhes de seu problema e um telefone para contato, pois iríamos ligar para informá-lo sobre o valor e quanto tempo levaria o conserto.Caso o cliente aceitasse, eu continuaria o trabalho. Se não, ele poderia retirar seu aparelho das oito às dezesseis horas no balcão da Assistência Técnica.Resolvi criar a caixa do quebrado quando ficou difícil ir todos os dias a biblioteca, tendo que encarar as pessoas na rua. Aquilo foi útil, principalmente depois que fiquei meses, ausente.Primeiro de tudo; eu estava indo a tantas consultas médicas para acompanhar meu tio que era quase impossível