— Ele parece melhor — falei para o doutor ao meu lado, enquanto andava pelos corredores do hospital. Eu tinha acabado de sair do quarto, onde meu tio havia sido colocado depois de um surto terrível. Tivemos uma longa conversa sobre momentos aleatórios de meu dia a dia e de seu futuro retorno para nossa casa. Ele estava diferente do que me acostumei.Nos últimos anos, deparei-me com um Morgan paranóico, obcecado por coisas aleatórias e que gritava absurdos repentinamente. Quando quase feriu gravemente a auxiliar de enfermagem, não tivemos outra opção. Foi preciso interná-lo às pressas.— Caio apresentou uma melhora significativa, mas sabemos que não é nada concreto — o médico iniciou. Sua mão direita pousou em meu ombro em forma de solidariedade enquanto o homem não tentava me transmitir nada em seu olhar. — Então, sejamos pacientes para que você não tenha dias difíceis futuramente.— Mas ele vai poder ir para casa? — Perguntei direto e o homem deixou sua mão cair para me livrar do con
Senti o perfume do jovem Tomás e abri os olhos levemente para encontrar o seu olhar penetrante e acolhedor. Fiquei feliz por vê-lo ali.— Preciso trocar seus curativos — ele disse calmo, me estendendo a mão. Dei-lhe um leve sorriso sentando na cama e deixei que fizesse seu trabalho retirando os curativos sujos, espalhados por minha pele.Calmamente ele limpou meus ferimentos com um pouco de água boricada e algodão. Seu toque me fez relaxar. Não era rústico, era paciente e me dava calmaria. No entanto, eu não tinha muitas pessoas para conversar ali e uma delas, era isolante demais. Então resolvi tentar mudar a situação com quem talvez pudesse ter uma boa dinâmica.— Trabalha aqui à muito tempo? — Perguntei fazendo-o sorrir. Seus cabelos ruivos pareciam como fogo quando tocados pelo sol e seu sorriso deixava o rosto claro, angelical.— Tem dois anos. Sou praticamente o imediato de Jonathan. — Franzi o cenho e Tomás bufou em tom irônico. — Sou auxiliar de enfermagem, London. Comecei a tr
— Soube que tiveram uma conversa legal ontem. — disse Tomás, ao entrar em meu quarto pela manhã.Olhei em sua direção e o vi todo de branco, como um enfermeiro de verdade. Sua blusa regata se colava ao peito, calças jeans com um bom caimento que se encaixava bem ao corpo do rapaz, já os cabelos ruivos estavam penteados para trás com um certo charme próprio e usava os sapatos sociais pretos para diferenciar o estilo “hospitalar”.— Isso é ótimo!Acrescentou enquanto colocava a comida trazida na bandeja de prata sobre a cama. O cheiro de café invadiu meu interior, mesclado ao odor de bolo de chocolate com creme Chantilly. Respirei aquilo para apreciar a comida, antes de prová-la e sorri fraca ao jovem parado próximo ao sofá.— Acho que finalmente estou entendendo algumas coisas. — Falei sentando na cama. Ele pensou melhor no local onde colocou a comida e levou a bandeja para a mesa-de-cabeceira, em seguida me entregou a xícara de café.— Sabe… eu acho você bem corajosa — disse com natur
Senti o toque quente minha testa enquanto meu corpo tremia como se fosse inundado pelo frio. No entanto, eu estava queimando por dentro feito carvão em brasa. Conseguia sentir o suor frio em cada canto de mim, ensopando minhas roupas.Abri os olhos e minha visão estava borrada, eu via manchas que tentavam se formar em frente a mim. Mas, infelizmente, sabia onde ainda estava. Sabia que era na enorme casa.Entendi que, o que me tocava era a mão de John, ele analisava a temperatura de minha testa e eu não entendia porque sua mão estava pelando.— Ela não está nada bem — disse sua voz preocupada. — Vou levá-la ao hospital!— Mas senhor eles vão vê-la e conseguimos despistá-los ainda. — Eu não conhecia a dona da voz e era difícil identificar um rosto com minha visão turva. Minha cabeça ardia demais, enquanto sentia os tremores e calafrios.— Ela está doente, não posso continuar… Vou matá-la sem querer isso. Não era nem para ela estar aqui… Meu Deus onde eu estava com a cabeça? Deveria ter
— Como se sente? — A voz de Tomás entrou em minha mente e abri os olhos para poder olhar suas esmeraldas. Havia um brilho ali, um ar de preocupação. Então ele ainda estava na casa… Aquilo me aliviou.— Melhor — sussurrei com um sorriso no rosto.— Que bom! Sabe London… — ele começou e tomou uma de minhas mãos nas suas. — Estou correndo perigo.Franzi as sobrancelhas ao ouvir sua frase, realmente ele estava com uma certa preocupação em seu rosto. Era difícil saber o motivo.— Porque acha isso? — Sentei-me na cama para poder ficar face a face com o ruivo. Ele deu de ombros, tentando encontrar uma frase dentro de si.— Estou me apegando a alguém…Ri de suas palavras, pensando em qual momento a paixão se tornou motivo para se temer algo.— Isso não é perigoso, a menos que queira comprá-la.Fiz a referência ao seu chefe insano e ele deu um sorriso tão sem graça que eu me achei péssima em piadas.— Acontece que já fizeram isso com ela.O silêncio me tomou por completo quando percebi quem er
O cheiro conhecido me invadiu, café e loção pós barba exalava pelo ambiente onde eu estava. Não era o quarto no porão ou o outro onde John havia me colocado. Era um salão com paredes espelhadas, o piso preto de mármore também me refletia, além de refletir o grande lustre sobre minha cabeça e os desenhos florais no teto.Uma valsa tocava ao fundo, quase Imperceptível. Me olhei na direção da parede de vidro analisando minha face para tentar encontrar vestígios de uma gripe, mas eu não parecia estar nem um pouco doente como no dia anterior.Pelo contrário, eu estava maquiada. Com uma sombra, marrom em meus olhos realçando o âmbar, o delineador desenhando o contorno deles se estendendo dos lados, as bochechas rosadas indicavam que havia um pouco de blush naquela área e por fim o batom avermelhado mostrava meus lábios finos, com claridade.Minhas roupas pareciam próprias para um grande baile, um longo vestido amarelo com um corte no meio deixando o branco aparecer na parte da frente como s
As palavras de London martelavam em minha cabeça o tempo todo, assim como o seu rosto de porcelana. Mal consegui dormir à noite pensando em quão diferente ela era de Alina. Por um lado o rosto podia lembrar bastante, mas Melissa estava certa, o caráter das duas era o oposto.Cheguei cedo na livraria, tive vontade de levantar e ir até lá só para vê-la. Talvez eu estivesse ficando louco ou ela estava conseguindo me domar.— John? — Falou Melissa ao entrar no Morgan's e encontrar tudo já aberto. Eu organizava os livros que ela havia deixado dentro da caixa na noite anterior. — Querido você está bem?— Estou ótimo — disse para morena, enquanto percebia um sorriso de canto surgir em seus lábios. — Acordei muito cedo… Estou fazendo certo?A garota deixou o seu sorriso ainda maior quando lhe mostrei a organização por ordem alfabética, que havia feito com seus livros para levá-los até às estantes. Ela não me respondeu, apenas meneou a cabeça em afirmação e veio em minha direção me ajudar a te
John trouxe meu café em todas as manhãs que se seguiram, três haviam se passado sem que o moreno me dirigisse a palavra e muito menos o olhar.Me senti mal por não ver Tomás, pois John com toda certeza havia se livrado dele assim que o mesmo dera indícios de uma paixonite..Jonathan ignorou todas as minhas perguntas durante os dias. Ainda estava bravo comigo talvez pelas minhas palavras naquele jantar, mas eu não poderia fazer nada se meu coração não conseguisse ver algo bom nele.George saberia o que me dizer nessas horas, se ainda estivesse comigo. Na verdade, eu jamais teria me mudado e jamais teria ido parar naquele lugar.Suspirei com meu desapontamento com o passado e passei a observar o moreno sentado na poltrona como em todos os dias, bem ao lado da janela ampla. Ele abria seu jornal e lia, esperando que eu terminasse o café para levar a bandeja embora.O silêncio estava me matando, já era difícil ter que ficar trancada dentro daquela casa. Estava sendo ainda pior não poder di