Do sofá de seis lugares de couro preto era possível ver o escritório de Jonathan com as portas francesas abertas para que ele tentasse vigiar o ambiente, enquanto trabalhava em sua papelada. Ela usava seus óculos gigantes que me faziam rir.A portas de madeira maciça na cor caramelo pareciam me convidar a explorar seu habitat, pois estavam viradas para fora como se estendesse seus braços em minha direção. Ele estava tão absorto em seus afazeres na mesa do local, que não me viu descer as escadas e sentar em sua frente no sofá da sala.Creio que a distância não ajudava muito na percepção das pessoas por ali. Mas por estarmos a sós e a madeira da casa ranger a cada passo meu, achei que iria incomodá-lo de alguma forma. Mesmo que não fosse minha intenção.Por mais que ele parecesse ocupado, eu havia percebido que aquele não era um dia qualquer e que as pessoas da casa estavam dispensadas dos afazeres para passar um tempo com a família.Mesmo que esse não fosse nosso caso e eu não fosse de
— London — a voz penetrou meus ouvidos puxando-me dos sonhos para a realidade. — Querida, acorde.Meus olhos se abriram encontrando um ambiente totalmente escuro. A figura grande estava inclinada sobre mim parecendo um tanto inquieta.— Não se assuste e me desculpe por invadir seu quarto.Reconheci sua voz, mesmo que meus sentidos ainda estivesse tentando acordar.Apoiei o peso do corpo nos cotovelos, para poder vê-lo melhor a meia luz da lua que invadia o quarto pela janela.— Jonathan? O que..— Tem alguém na casa — ele disse e meu coração despertou completamente. Um arrepio gélido percorreu todo meu interior com a sensação de insegurança e o moreno percebeu no mesmo instante. — Não se preocupe, os rapazes estão checando. Mas me pediram para ficar perto de você, caso precisemos ir.— E seus empregados?— Em suas respectivas casas, suponho — o homem deu um suspiro cansado e endireitou o corpo para começar a caminhar pelo quarto. — Embora eu creia que um deles tenha envolvimento nessa
Eu estava começando a achar que a mente do homem na casa não conseguia bolar tantas mentiras, afinal não chegou a me dar motivos para me ter ali como eu imaginei que seria. E eu precisava descobrir mais.O fim da tarde estava abafado, enquanto eu pensava nos pró e contras. Eu descobri uma opção viável. Pelo que entendi, Jonathan parecia querer substituir a mulher que perdeu e por isso me pediu para lhe pagar com meu tempo.Como ele não dava muitas opções para que eu pudesse raciocinar, tive que usar o que eu sabia e tudo que eu tinha era pequenas informações sobre seu passado.Pensei então, que se Jonathan quisesse me manter ali para ocupar sua mente, eu poderia tentar aproximá-lo de sua família. Pois eles não me pareciam nenhum pouco unidos.Com isso meus pensamentos se abriram. Afinal, ele poderia mudar de ideia ou diminuir minha pena.A rotina que estava tentando aplicar em mim me provou que eu com certeza, não era o que ele queria. Então tudo não passava de um pequeno desejo.Uma
A porta bateu com força contra o batente quando a soquei. Eu havia colocado cada gota de minha raiva naquele golpe e tenho certeza que assustei a garota de cabelos negros.Eu a olhei enraivecido e ela piscou várias vezes antes de dizer:— Isso não resolve nada.— Como assim você não quer isso. O que eu fiz? — Perguntei desferindo um novo soco, desta vez na parede. Porém o choque de meus dedos contra o concreto fez uma dor forte percorrer meus ossos.— Olha o que faz, Jonathan. Sempre desconta tudo em algo. Eu estou farta disso, de seu ciúmes sem sentido e seus ataques estúpidos. — As palavras eram jogadas de sua boca com agilidade, fúria e rancor.Cada uma me cortava como se me atingissem com diversas facas e eu já sentia o acúmulo de angústia em meu interior. Sabia que era mentira, sabia que ela escondia algo, mas ouvir aquilo me doeu.— Ally, não faz isso comigo — implorei. — Eu amo você.— Mas eu não amo você — outra mentira, ela não olhava em meus olhos quando estava mentindo e me
Jonathan me informou que Melissa viria me visitar novamente, não passando nem duas semanas desde sua primeira chegada. Certamente, ela estava em busca de atualizações sobre o plano que eu havia prometido a ela.Inquieta, percorri o quarto branco, tentando conceber uma alternativa caso ela não concordasse em persuadir o senhor Morgan a simplesmente me liberar. Mesmo sendo determinada, começava a duvidar se conseguiria elaborar algo antes de sua chegada iminente.A porta se abriu, e Carmela apareceu com uma bandeja de café. Sem apetite desde o dia anterior e ansiosa pela volta da minha amiga, eu lutava para conter meus batimentos.Carmela colocou a bandeja na mesa de cabeceira enquanto eu fazia careta para a comida, o que a levou a revirar os olhos. Mesmo assim, deixou a refeição no quarto.Acomodei-me na cama e a aflição se espalhou por minhas entranhas. Queria esquecer os eventos recentes, mergulhar profundamente em minha mente como Alice no país das maravilhas. Contudo, minha realida
Acordei no meio da noite, assombrada pelo mesmo pesadelo recorrente. Não importava onde eu estivesse no sonho, Jonathan sempre me encontrava, e meu coração acelerava.Não entendia por que continuava sonhando com aquilo, e a angústia estava se transformando em desespero. Estava desenvolvendo um pânico terrível.Levantei-me da cama e dirigi-me à porta para sair do quarto, com a intenção de ir até a cozinha tomar algo, já que tinha permissão para perambular pela casa. Meu olhar ficou no grande corredor em formato oval, instigando-me a explorar cada canto daquela casa.Caminhei pelo corredor, tentando abrir as portas ao longo do caminho. Algumas estavam trancadas, fazendo-me pular para as seguintes sem interromper minha exploração. Durante o trajeto, pude vislumbrar alguns quartos, um escritório abandonado, uma sala com algumas poltronas empilhadas e salas vazias.No final do caminho, antes de chegar novamente à escadaria principal, vi uma porta entreaberta com uma luz fraca invadindo o c
Antes do dia clarear por completo, despertei e vi o rosto dele adormecido. Meus olhos desceram por seu peito exposto, e ao analisar embaixo das cobertas, encontrei dois corpos nus. Apertei os lábios para não fazer ruído, evitando acordá-lo.Levantei-me calmamente, recolhendo minhas roupas e fui desviando dos amontoados de livros pelo chão. Ao chegar no corredor, corri em direção ao meu quarto, ocultando meu corpo com uma blusa de frio que havia pegado no caminho.— Droga — resmunguei, recordando a noite anterior. Meu bom senso começava seu sermão em minha cabeça.Me tranquei em meu quarto nos dois dias seguintes, não permitindo a entrada de ninguém e evitando sair. Sentir atração por Jonathan me assustava, e eu só desejava poder falar com meu pai naquele momento para saber o que ele pensaria. Havia tanto tempo que não o via, e sua imagem estava começando a desvanecer em minha mente, apesar das lembranças de seus cuidados quando eu era pequena.George estava sendo egoísta e irresponsáve
Os olhos de Victor brilharam fixados nos meus, e meu maior horror foi perceber que não estava apresentável para visitas, especialmente para um rapaz que me analisava como um animal faminto.Não sabia de onde ele havia tirado, mas John segurava um sobretudo de moletom escuro em uma das mãos, ainda me aguardando no batente. Caminhei calmamente até a porta onde ele estava, e seus dedos se prenderam em meu cotovelo enquanto me vestia com a peça. Senti seu hálito roçar em meu pescoço, e as palavras sussurradas causaram calafrios em minha espinha.— Me chame se precisar. — Assenti, e o moreno me soltou com carinho, arrumando o sobretudo em meu corpo até que eu estivesse toda coberta. Carter fuzilou aquele gesto, parecendo até estar enojado.Cruzei a porta, aproximando-me do rapaz com um leve sorriso amigável. Não senti as borbulhas gostosas que experimentava quando John me tocava ao vê-lo, e não soube explicar por que minha mente queria confrontá-los. Era estranho compará-los daquela forma,