— Ah tia Sophie, eu não quero ir, vai ser muito chato. — Queixou-se Nicolas emburrado.
— Para de ser malcriado, Nico! — Retrucou Eliza. — Eliza, não questione os mais velhos — Revidou o menino erguendo o corpo numa postura exagerada. — Você só é quatro minutos mais velho do que eu nico! e ainda assim eu sou cinco centímetros mais alta do que vocês!. — Quatro e meio! e não por muito tempo... você vai ver só eu ficarei gigante e você será uma tampinha. — Chega. — Falou Sophie firme antes que uma discussão acirrada iniciasse — Façamos o seguinte, assim que a gente sair da casa de Fátima nós compraremos um lanche, pode ser? — Vamos beber refrigerante? — Perguntou o menino — E tomar sorvete? — Perguntou Eliza — Sim! — Respondeu a tia sorrindo. As crianças abraçaram Sophie comemorando felizes.. Como ficaram mais tempo do que planejado e almoçaram na casa de Fátima. Sophie decidiu que o lanche, sorvete e refrigerante seriam a janta após as crianças tomarem banho. Estava contente, iria faturar uma renda excelente com os móveis planejados. Ao entrar em sua casa assustou-se, estava mais bagunçada do que se recordava, uma pilha de roupas em cima do sofá, prato para lavar e brinquedos espalhados pelo chão. Quem dera tivesse alguém para ajudar, ou a força de sua irmã. Como Sabrina conseguia criar os filhos, trabalhar e deixar a casa tão impecável? Ela aprenderia. Tirou o sutiã, trocou de roupa e deu banho em Eliza no chuveiro acabou ficando toda molhada. Nicolas, porém, preferia tomar banho sozinho, pois dizia já ser um "Homem" e não bebê. Mas, quase sempre Sophie o ajudava Após vestir a sobrinha, a deixou assistindo desenho no quarto, Nicolas fazia um show no banheiro, cantando a música do Fernandinho "Eu vou dançar na chuvaaaa..." e dançando. — Ei, bonitão! não esquece de lavar o bumbum e atrás das orelhas. — Tia Sosô! Me dá privacidade, um homem nunca esquece essas coisas. — Repreendeu ofendido, cobrindo suas partes com as mãos. Ela riu bastante sem que o menino percebesse . Sophie começou a organizar a sala quando a campainha tocou descontroladamente, quem poderia ser? Desceu as escadinhas que levava até o portão e ao abrir deparou-se com uma visão magnífica: Um homem alto, belíssimo, vestido num terno cinza da melhor qualidade. — Senhorita....Ro...drigues? — O coração gelou ao reconhecer a voz, os olhos se abriram e ela sequer notou que estava com um short curto, sem sutiã e molhada. ........ Albert Larsen não estava acostumado a ser tratado com tamanha petulância. Especialmente por uma mulher e para piorar estrangeira! Quando soube da morte de Vicente ficou sem ar, pensou que o coração explodiria de tanta dor. Precisou averiguar a informação por três longos e agonizantes dias antes de aceitar o fato que nunca mais poderia ver o rosto sereno de seu irmão caçula. Trancou-se no escritório por várias horas a fim de viver seu luto, conteve as lágrimas, e logo mascarou o rosto para voltar ao normal. Não podia permitir que percebessem sua vulnerabilidade. Ligou o computador, Seu olhos fixaram pela milésima vez no email que falava.... "Apesar da péssima gramática em inglês, francamente, como era possível escrever com tamanhos erros?" não era de se admirar que pensou ser um trote... quem dera o fosse, mas a informação sobre a morte de seu irmão era verídica e ao que pode entender Filho! Vicente teve um filho, uma parte viva de seu irmão. Prometeu a si mesmo que seria diferente com o sobrinho, não cometeria os mesmos erros de outrora. Jamais deixaria a criança desamparada, precisava o conhecer imediatamente. Ficou ainda mais contente ao saber que eram gêmeas, melhor que uma criança, duas! Albert sempre desejou ser pai, mas, não conseguia visualizar mulher alguma para o papel de mãe dos seus herdeiros.... Fúteis e egoístas, eram todas elas. Serviam meramente para o satisfazer e só. Criando os sobrinhos, seria uma preocupação a menos, porém, como nem tudo são flores, havia a pedra no meio do caminho: Sophie Rodrigues. Ele estava disposto a chutar para o mais longe possível. A mulher ousou desligar o telefone antes dele! quanto atrevimento... evidentemente não passava de uma desequilibrada, ele socorreria seus sobrinhos das garras dela. Perdeu seu irmão para uma Rodrigues, não perderia as crianças de seu sangue também. Dois dias depois ele providenciou com muita impaciência enquanto recolhia informações sobre sua oponente, seu vôo para o Brasil. De todos os países, Vicente, teve de escolher justo o Brasil! apenas quinze horas de voo, aguentaria esse sufoco. Ao pisar no aeroporto de Guarulhos, seu contato enviou a localização correta da casa da petulante Rodrigues e havia um motorista lhe aguardando, olhou para o carro se é que dava para classificar aquela velharia como automóvel. O homem o saudou e abriu a porta para que ele entrasse, deveria ter trazido Dagfinn, seu assistente pessoal. Colocou dois dedos na fonte direita de seu rosto e respirou fundo para se acalmar, havia tanto a se resolver, mas, certamente aquele velho daria conta. Era noite quando o motorista estacionou, ele torceu muito para que fosse um engano pois o lugar sequer parecia habitável, era impossível crer que pessoas morassem ali, sobretudo um Larsen. EPÍLOGO DO CAPÍTULO: Albert andava de um lado para o outro em seu escritório tentando lidar com o turbilhão de suas emoções... dois dias! tinha de suportar mais dois dias para voar até o outro continente. Atendeu o celular: — Acabei de enviar um e-mail com as informações que você me pediu — Respondeu seu contato. — Graças a Deus! — Respondeu impaciente e desligou a chamada. Correu até seu computador, encontrou o que queria e abriu o arquivo: Sophie dos Santos Rodrigues Brasileira, 23 anos, solteira. Número de CPF xxx.xxx.xxx-xx Número do RG xx.xxx.xxx-xx Descrição famíliar: Mãe: Maria José dos Santos Rodrigues. status: Falecida. Profissão: Costureira Pai: Fernando João Rodrigues Santos status: Falecido. Profissão: Marceneiro. Irmãos: 1 - Sabrina Rodrigues Larsen status: Falecida. Profissão: Professora/aspirante a estilista. ....... Escolaridade: Ensino superior em arquitetura. Status: incompleto / trancado um mês após o falecimento da irmã. Profissão: Atualmente sem emprego fixo / Trabalha como marceneira autônoma na garagem da própria casa. Sem ficha criminal. Dinheiro na conta: 250,00 reais, um total de 37,67 EUR Endereço: Jardim são Francisco, número XXX cidade São Paulo, estado São Paulo - Brasil. A mulher nem mesmo tinha uma renda estável! como uma pobretona com míseros 37 euros tinha a audácia de o enfrentar? Precisava e iria urgentemente tomar a frente dessa situação.Albert Larsen tocou o que parecia uma espécie pré-histórica de campainha várias vezes seguidas, a criatura petulante que o aguardasse. Levaria seus sobrinhos de um jeito ou de outro. O portão surrado de ferro foi aberto num rompante barulhento, para sua surpresa por uma mulher que mais se parecia uma... sereia. Se esforçou para não demonstrar que ficou afetado por aquela visão. — Senhorita... Ro..drigues? — Pela expressão assombrada certamente era ela, Albert não imaginou que a mulher pudesse ser... bendito fosse o Criador! ela era apetitosa demais! — O-o que e-está fazendo aqui? — Perguntou visivelmente assustada. O que lhe trouxe uma tremenda satisfação, certamente não era tão corajosa quanto pareceu na ligação. — Depois da conversa que não finalizamos e ter se tornado incomunicável nos últimos dois dias, pensou mesmo que eu ficaria quieto? — Perguntou erguendo uma sobrancelha. — Para ser franca, pensei que você seria de fato uma pessoa incoveniente e muito.... muito ir
— Eu não sou a pessoa mais apropriada para desiludir um iludido — Retrucou, ele se colocou de pé bruscamente e olhou o ambiente com uma análise nada discreta como se dissesse que ela é a única iludida, desconfortável Sophie começou a falar. — Hoje o dia foi corrido, não tive tempo de arrumar a casa. — Acredite, percebi. — Respondeu com desdém. — Não darei nenhuma explicação a você. — Creio que também não tenha pedido, a questão é senhorita Rodrigues, está evidente que este lugar precário não tem a menor estrutura para criar uma criança, principalmente os meus sobrinhos. E a senhorita não tem as exigências necessárias para o papel de mãe. — Falou no mesmo tom frio e distante da ligação. — Você consegue ser ainda pior do que pareceu no telefone. Vem a minha casa sem ser convidado e desmerece a mim e minha vida, não tem o direito de fazer isso, você não me conhece, não sabe nada sobre mim e essa casa que não tem a menor estrutura como disse foi onde cresci com minha família. Você
Sophie não podia deixar de pensar que foi um milagre ter conseguido arrumar as bagagens em tão pouco tempo. Eliza e Nicolas, no entanto, não foram difíceis de convencer viajar, é certo que ela não explicou os verdadeiros termos. Quando Albert chegou com motorista particular e o carrão, as crianças pareciam intimidadas. Já Sophie não podia deixar de sentir raiva ao olhar o rosto do homem, ele provavelmente dormiu bem a julgar pelo ar de vencedor. — Fico contente que tenha feito a escolha sensata, senhorita Rodrigues. — Sussurrou no ouvido dela assim que chegaram ao aeroporto. Sophie quis morrer! Nunca se sentiu tão vulnerável, tola e impotente. Estava mesmo sendo dominada pelo pavor, não podia deixar que seus sobrinhos fossem deportados, não mesmo! Jamais deixaria de os proteger e nunca os entregaria para aquele homem. Ela, porém, tinha um plano.... Albert se cansaria mais cedo ou mais tarde e com toda certeza não haveria espaço nos coraçõezinhos deles, Sophie tinha o amor ao seu l
A tensão dominou todo o restante do voo, só falaram o necessário na troca de aeronave por conta da escala. Ao desembarcarem no aeroporto de Copenhague tudo mudou, o lugar parecia uma obra de arte e estava bastante movimentado para uma madrugada, podia ser impressão mas parecia que as pessoas olhavam sem parar para eles e faziam comentários baixinhos especialmente as moças, Sophie deu de ombros. Ela não imaginou que tanta gente fosse para Dinamarca, Sophie só havia parado para pensar no país quando sua irmã decidiu que faria uma viagem sozinha para conhecer Vicente pessoalmente, já que os dois conversavam há cerca de 6 meses pelas redes sociais e ele pagou toda a viagem, Sophie não sabia desse fato, até a irmã contar a verdade quando já estava no país. Certamente teria sido contra essa decisão, afinal, já é perigoso namorar pela internet que dirá mais cruzar o mundo para conhecer alguém que pode muito não existir de fato ou pior ser um psicopata! Foi chocante para ela aceitar a loucura
Albert Høgh Larsen mesmo exausto foi incapaz de deitar-se na cama ainda que o relógio marcasse 03:40h da madrugada ao escutar um berro seguindo por um choro estridente deixou de ler o relatório para reunião da manhã seguinte que aconteceria em exatas 5 horas e Cristo! Ele estava mesmo desgastado. Mas ainda assim correu em direção ao quarto de seus sobrinhos — Meus amores, o que houve? — Ouviu Sophie perguntar assim que chegou na porta do quarto, ele ficou irritado por ter sido ignorado pelos olhos daquela mulher repletos de desdém — Estava tudo escuro. — disse a menina, se sentiu culpado talvez devesse ter concordado em deixar que as crianças dormissem com a tia por mais que odiasse admitir. — Tem um monstro ali! — Apontou o menino para um armário de madeira rústica e absurdamente grande. — De baixo dessa cama gigante também. — Completou Eliza aos prantos. — Por Deus! Não há monstro algum — Começou Albert impaciente, por mais culpado que pudesse se sentir isso já era dem
Albert Larsen não conseguia recordar de algum dia estar tão ansioso ao voltar para casa. Ainda que seus sobrinhos não gostassem dele não podia conter o ânimo de os ver e levaria presentes, doces tradicionais dinamarqueses. Saiu o mais cedo possível do escritório o que surpreendeu toda sua equipe. Faltava dois dias para terminar de resolver os problemas ocorridos em sua ausência, provavelmente no dia seguinte sequer pudesse retornar para casa, um surto de alguma coisa pesou no peito dele. Sua surpresa ao chegar, ela estava vazia. Não havia sinal de Nicolas, Eliza ou Sophie. — Axel, onde estão todos? — Perguntou ao mordomo. — Meu Lorde! — Disse o homem surpreendido. — Veja bem, o... o... senhor chegou cedo. Olhe a hora três da tarde. — Albert apenas ergueu uma das sobrancelhas de forma condescendente. — Senhorita Sophie recusou-se de... como posso explicar? — Diga de uma vez. — Ordenou impaciente. — Ora, deixamos que dormissem à vontade como o senhor nos instruiu, já passava
Dois dias se passaram e Albert simplesmente havia sumido. Não que Sophie estivesse preocupada ou quisesse vê-lo, apenas era estranho ele não retornar para a própria casa. Disseram que por conta do trabalho, mas, suspeitava de que ele estivesse passando a noite com mulheres e mulheres! O que a deixava irritada... Era exatamente a mesma desculpa usada por Henrique. Revirou os olhos ao lembrar do ex. No futuro seria ainda mais irresponsável em deixar as crianças sozinhas, homens são assim, uns desgraçados que só querem usar e iludir as mulheres para seu próprio prazer e vontade. Albert certamente era o pior deles! Aquele amargor que a consumia diariamente tomou posse de seu peito ao recordar de Henrique, ele agora estava no top 2 da sua lista de imprestáveis. Foram instruídos na mudança para a residência oficial de lorde Larsen, o motorista Desmond quem os levaria. Ele sequer fez questão de aparecer. Esses dias, porém, fizeram com que
Albert Larsen estava em seu escritório particular numa reunião com seu assistente pessoal Dagfinn. Um homem de 54 anos, cuidava dele desde antes do seu nascimento, alguém em quem confiava com olhos vendados. — Mas o senhor precisará da assinatura dela, já que é guardiã legal das crianças.— Como poderei convencer essa mulher, Diga-me Dagfinn?A porta se abriu num rompante brusco. — Explique isso Albert! — Berrou Sophie ao entrar jogando nele o que identificou sendo um passaporte. — Abra! — Ordenou.Mas o que? Ele ficou com raiva de si mesmo por um momento, então ela havia descoberto por seu próprio descuido. Estava resolvendo os trâmites da nacionalidade dupla das crianças.— Você mentiu para mim! Sabe Albert, você é mesmo um mentiroso desprezível.— A culpa não é minha se você possui conhecimentos limitados ou a incapacidade de checar as informações antes de tomar decisões. — Ah, claro que a culpa é toda minha por amar demais as minhas crianças e pensar que ao menos você fosse um