Há seis meses a morte trágica e inesperada de sua irmã e cunhado foram os motivos da insônia de Sophie. Mal ela havia terminado o funeral quando descobriu de forma chocante a traição do homem que pensou ser o amor de sua vida. As horas se tornaram intermináveis e as semanas um abismo escuro insuportável. O único motivo que a mantinha viva eram seus sobrinhos. Coube a ela a função de criar e proteger duas criança... mesmo sem emprego fixo, desesperada e endividada. Ao tentar inutilmente se desfazer das coisas de Sabrina naquela manhã, achou uma caixa de madeira guardando o contato do irmão mais velho de Vicente e por cortesia Sophie resolveu comunicar a tragédia. Mas, de boas intenções, o inferno está cheio....
Era meia noite e quinze quando Sophie ouviu o celular tocar. Quem poderia ser? levantou-se cautelosamente da cama para não acordar os sobrinhos que insistiam em dormir com ela. Colocou a historinha "Advinha o quanto eu te amo de Sam McBratney" que leu há pouco na cômoda e foi até a sala. — Alô? — Atendeu sonolenta. — Busco a senhorita Rodrigues. — Bradou uma voz masculina, fria e autoritária, dona de um sotaque estrangeiro. — Quem gostaria? — Perguntou Sophie ainda com olhos fechados. — Albert Larsen, é a Sophie Rodrigues? Por um momento ela parou de respirar, e logo despertou. De todas as pessoas do mundo que poderiam ligar ele por certo não passou em sua cabeça. Uma sensação desagradável dominou-a no estômago. O que aquele homem queria, para ligar tão tarde? Ela informou tudo no email há cerca de três dias! — Sim — Respondeu cautelosa. — Recebi sua notícia sobre a morte de Vicente, não foi possível entrar em contato antes, er.. você disse que ele teve um filho? — Perguntou sem rodeios. A voz do homem soava tão distante e vazia que ela sentiu um arrepio colossal na espinha. Ele só podia ter pedra de gelo no peito ao invés de coração, como conseguia falar assim sabendo que o irmão faleceu de forma tão trágica? — Dois filhos na verdade, Eliza e Nicolas. — Será que ele pretendia ajudar financeiramente? O orgulho dela impedia de cogitar a ideia de aceitar qualquer dinheiro daquela família, no entanto, se for para o bem das crianças tentaria ser racional. Ele era tio, não poderia ser tão ruim aceitar uma mesada... Seria sim e ponto! — Hmm.. Qual a idade deles? — Perguntou ainda em tom seco, distante. — Seis anos, são crianças gêmeas. — Quem está com eles no momento? Já que sua irmã morreu também. — Ser humano insensível! A respiração dela acelerou. — Estão comigo permanentemente, por quê? — Retrucou alterada com o interrogatório. — Com a senhorita? excelente, será mais fácil. — Respondeu apático sem alterar o tom firme. — Desculpe, mas não entendi o que você quis dizer. — Vou trazê-los para morar comigo. Que horário fica melhor para a senhorita colocá-los num voo para Copenhague amanhã? certamente arcarei com todas as despesas. — Sophie não respondeu de imediato, ficou furiosa ao mesmo tempo incrédula. — Você é louco ou se faz de idiota? — Perguntou. — P-perdão? — Não. Meus sobrinhos não vão morar com um estranho problemático, muito menos viajar num avião e sozinhos! — Ela também sabia ser arrogante. — Posso assegurar que estou muitíssimo bem para entender que não cabe a senhorita decidir, e não há motivos para irritar-se, tampouco para ofensas, afinal estou fazendo questão de a livrar deste fardo. Não deveria me agradecer? — Sophie respirou fundo para não xingar o homem de todos os nomes possíveis, pois sentia ser capaz. E ela jamais falava palavrões! — Eles são meus sobrinhos não fardos! E se pensa que vai tirar eles de mim, está enganado! — São meus sobrinhos também, não tem o direito de me afastar deles. — Eles nem sabem de sua existência! — A culpa não é minha, Vicente foi embora com sua irmã e nunca mais deu notícias, eu nem ao menos sabia sobre eles. — Ah, nossa! que inocentes são os Larsen, vocês ameaçaram de internar ele num hospício e dar um fim na minha irmã se eles continuassem juntos além de deserdá-lo! E acha que ele agiu errado em desaparecer? — Se arrependimento matasse ela já estaria sepultada a 7 palmos da terra, quem dera tivesse o poder de voltar no tempo e jamais entrar em contato com Albert, nome tão metido quando o dono. — Como ousa... — Ele calou-se ao ouvir a voz de Eliza. — Tia Sosô? — Chamou a menininha esfregando os olhos com as mãos. — O que aconteceu? — Bocejou — tá brigando com quem? — Abafando o telefone com a mão e sorrindo, Sophie disse: — Com ninguém princesa, a tia não percebeu que falava alto, volte para cama só vou dar um fim nessa pessoa, digo, na conversa e já me deitarei também. — Hum, eu queria tomar leite morno com nesquik — A tia já leva para você meu Bem, agora vá deitar — A menininha assentiu em concordância e voltou ao quarto. — Era a Eliza aí? — Sim. — Isso são horas de uma criança estar acordada? — E isso são horas de ligar para perturbar os outros? — Um silêncio se fez do lado oposto da linha, mas ela pode ouvir aquela respiração forte, ameaçadora. — Seu comportamento rude é mais uma prova de que não está apta a criar um Larsen que dirá dois! — Oh, não me diga! Os Larsen criam os filhos tão bem que Vicente cortou relações com todos há anos! Sabe de uma coisa Albert, esqueça este assunto, esqueça que nos falamos e esqueça que tem sobrinhos pois eles nunca, jamais irão para a Dinamarca com você. Não esperando resposta, Sophie desligou o celular com força. Notou várias chamadas perdidas com DDD estrangeiro e também de Henrique, seu ex-namorado traidor. Preparou o leite de Eliza e foi dormir pensando no descaramento do sujeito. Que homem sem noção! Não conseguia acreditar na coragem daquele ser humano horrendo de ligar com tamanha arrogância e exigir que ela colocasse os sobrinhos para viajarem sozinhos num avião até a Dinamarca! Somente se fosse irresponsável. Ela os protegeria, mesmo de um tio rico esnobe, certamente os protegeria! Procurou acalmar-se pois em algumas horas ele não passaria de uma lembrança desagradável. Dois dias depois, porém, estava tranquila, o sujeito não deu sinal de vida para sua alegria e sossego. Fátima a ex-professora da universidade de arquitetura na qual Sophie precisou trancar um mês após a tragédia, ligou pedindo que Sophie refizesse todos os móveis da cozinha dela e fosse ainda naquela segunda-feira fazer um orçamento. Confiante, arrumou as crianças para irem juntos.— Ah tia Sophie, eu não quero ir, vai ser muito chato. — Queixou-se Nicolas emburrado. — Para de ser malcriado, Nico! — Retrucou Eliza. — Eliza, não questione os mais velhos — Revidou o menino erguendo o corpo numa postura exagerada. — Você só é quatro minutos mais velho do que eu nico! e ainda assim eu sou cinco centímetros mais alta do que vocês!. — Quatro e meio! e não por muito tempo... você vai ver só eu ficarei gigante e você será uma tampinha. — Chega. — Falou Sophie firme antes que uma discussão acirrada iniciasse — Façamos o seguinte, assim que a gente sair da casa de Fátima nós compraremos um lanche, pode ser? — Vamos beber refrigerante? — Perguntou o menino — E tomar sorvete? — Perguntou Eliza — Sim! — Respondeu a tia sorrindo. As crianças abraçaram Sophie comemorando felizes.. Como ficaram mais tempo do que planejado e almoçaram na casa de Fátima. Sophie decidiu que o lanche, sorvete e refrigerante seriam a janta após as crianças tomarem banho. Estava
Albert Larsen tocou o que parecia uma espécie pré-histórica de campainha várias vezes seguidas, a criatura petulante que o aguardasse. Levaria seus sobrinhos de um jeito ou de outro. O portão surrado de ferro foi aberto num rompante barulhento, para sua surpresa por uma mulher que mais se parecia uma... sereia. Se esforçou para não demonstrar que ficou afetado por aquela visão. — Senhorita... Ro..drigues? — Pela expressão assombrada certamente era ela, Albert não imaginou que a mulher pudesse ser... bendito fosse o Criador! ela era apetitosa demais! — O-o que e-está fazendo aqui? — Perguntou visivelmente assustada. O que lhe trouxe uma tremenda satisfação, certamente não era tão corajosa quanto pareceu na ligação. — Depois da conversa que não finalizamos e ter se tornado incomunicável nos últimos dois dias, pensou mesmo que eu ficaria quieto? — Perguntou erguendo uma sobrancelha. — Para ser franca, pensei que você seria de fato uma pessoa incoveniente e muito.... muito ir
— Eu não sou a pessoa mais apropriada para desiludir um iludido — Retrucou, ele se colocou de pé bruscamente e olhou o ambiente com uma análise nada discreta como se dissesse que ela é a única iludida, desconfortável Sophie começou a falar. — Hoje o dia foi corrido, não tive tempo de arrumar a casa. — Acredite, percebi. — Respondeu com desdém. — Não darei nenhuma explicação a você. — Creio que também não tenha pedido, a questão é senhorita Rodrigues, está evidente que este lugar precário não tem a menor estrutura para criar uma criança, principalmente os meus sobrinhos. E a senhorita não tem as exigências necessárias para o papel de mãe. — Falou no mesmo tom frio e distante da ligação. — Você consegue ser ainda pior do que pareceu no telefone. Vem a minha casa sem ser convidado e desmerece a mim e minha vida, não tem o direito de fazer isso, você não me conhece, não sabe nada sobre mim e essa casa que não tem a menor estrutura como disse foi onde cresci com minha família. Você
Sophie não podia deixar de pensar que foi um milagre ter conseguido arrumar as bagagens em tão pouco tempo. Eliza e Nicolas, no entanto, não foram difíceis de convencer viajar, é certo que ela não explicou os verdadeiros termos. Quando Albert chegou com motorista particular e o carrão, as crianças pareciam intimidadas. Já Sophie não podia deixar de sentir raiva ao olhar o rosto do homem, ele provavelmente dormiu bem a julgar pelo ar de vencedor. — Fico contente que tenha feito a escolha sensata, senhorita Rodrigues. — Sussurrou no ouvido dela assim que chegaram ao aeroporto. Sophie quis morrer! Nunca se sentiu tão vulnerável, tola e impotente. Estava mesmo sendo dominada pelo pavor, não podia deixar que seus sobrinhos fossem deportados, não mesmo! Jamais deixaria de os proteger e nunca os entregaria para aquele homem. Ela, porém, tinha um plano.... Albert se cansaria mais cedo ou mais tarde e com toda certeza não haveria espaço nos coraçõezinhos deles, Sophie tinha o amor ao seu l
A tensão dominou todo o restante do voo, só falaram o necessário na troca de aeronave por conta da escala. Ao desembarcarem no aeroporto de Copenhague tudo mudou, o lugar parecia uma obra de arte e estava bastante movimentado para uma madrugada, podia ser impressão mas parecia que as pessoas olhavam sem parar para eles e faziam comentários baixinhos especialmente as moças, Sophie deu de ombros. Ela não imaginou que tanta gente fosse para Dinamarca, Sophie só havia parado para pensar no país quando sua irmã decidiu que faria uma viagem sozinha para conhecer Vicente pessoalmente, já que os dois conversavam há cerca de 6 meses pelas redes sociais e ele pagou toda a viagem, Sophie não sabia desse fato, até a irmã contar a verdade quando já estava no país. Certamente teria sido contra essa decisão, afinal, já é perigoso namorar pela internet que dirá mais cruzar o mundo para conhecer alguém que pode muito não existir de fato ou pior ser um psicopata! Foi chocante para ela aceitar a loucura
Albert Høgh Larsen mesmo exausto foi incapaz de deitar-se na cama ainda que o relógio marcasse 03:40h da madrugada ao escutar um berro seguindo por um choro estridente deixou de ler o relatório para reunião da manhã seguinte que aconteceria em exatas 5 horas e Cristo! Ele estava mesmo desgastado. Mas ainda assim correu em direção ao quarto de seus sobrinhos — Meus amores, o que houve? — Ouviu Sophie perguntar assim que chegou na porta do quarto, ele ficou irritado por ter sido ignorado pelos olhos daquela mulher repletos de desdém — Estava tudo escuro. — disse a menina, se sentiu culpado talvez devesse ter concordado em deixar que as crianças dormissem com a tia por mais que odiasse admitir. — Tem um monstro ali! — Apontou o menino para um armário de madeira rústica e absurdamente grande. — De baixo dessa cama gigante também. — Completou Eliza aos prantos. — Por Deus! Não há monstro algum — Começou Albert impaciente, por mais culpado que pudesse se sentir isso já era dem
Albert Larsen não conseguia recordar de algum dia estar tão ansioso ao voltar para casa. Ainda que seus sobrinhos não gostassem dele não podia conter o ânimo de os ver e levaria presentes, doces tradicionais dinamarqueses. Saiu o mais cedo possível do escritório o que surpreendeu toda sua equipe. Faltava dois dias para terminar de resolver os problemas ocorridos em sua ausência, provavelmente no dia seguinte sequer pudesse retornar para casa, um surto de alguma coisa pesou no peito dele. Sua surpresa ao chegar, ela estava vazia. Não havia sinal de Nicolas, Eliza ou Sophie. — Axel, onde estão todos? — Perguntou ao mordomo. — Meu Lorde! — Disse o homem surpreendido. — Veja bem, o... o... senhor chegou cedo. Olhe a hora três da tarde. — Albert apenas ergueu uma das sobrancelhas de forma condescendente. — Senhorita Sophie recusou-se de... como posso explicar? — Diga de uma vez. — Ordenou impaciente. — Ora, deixamos que dormissem à vontade como o senhor nos instruiu, já passava
Dois dias se passaram e Albert simplesmente havia sumido. Não que Sophie estivesse preocupada ou quisesse vê-lo, apenas era estranho ele não retornar para a própria casa. Disseram que por conta do trabalho, mas, suspeitava de que ele estivesse passando a noite com mulheres e mulheres! O que a deixava irritada... Era exatamente a mesma desculpa usada por Henrique. Revirou os olhos ao lembrar do ex. No futuro seria ainda mais irresponsável em deixar as crianças sozinhas, homens são assim, uns desgraçados que só querem usar e iludir as mulheres para seu próprio prazer e vontade. Albert certamente era o pior deles! Aquele amargor que a consumia diariamente tomou posse de seu peito ao recordar de Henrique, ele agora estava no top 2 da sua lista de imprestáveis. Foram instruídos na mudança para a residência oficial de lorde Larsen, o motorista Desmond quem os levaria. Ele sequer fez questão de aparecer. Esses dias, porém, fizeram com que