— Eu não sou a pessoa mais apropriada para desiludir um iludido — Retrucou, ele se colocou de pé bruscamente e olhou o ambiente com uma análise nada discreta como se dissesse que ela é a única iludida, desconfortável Sophie começou a falar.
— Hoje o dia foi corrido, não tive tempo de arrumar a casa. — Acredite, percebi. — Respondeu com desdém. — Não darei nenhuma explicação a você. — Creio que também não tenha pedido, a questão é senhorita Rodrigues, está evidente que este lugar precário não tem a menor estrutura para criar uma criança, principalmente os meus sobrinhos. E a senhorita não tem as exigências necessárias para o papel de mãe. — Falou no mesmo tom frio e distante da ligação. — Você consegue ser ainda pior do que pareceu no telefone. Vem a minha casa sem ser convidado e desmerece a mim e minha vida, não tem o direito de fazer isso, você não me conhece, não sabe nada sobre mim e essa casa que não tem a menor estrutura como disse foi onde cresci com minha família. Você sempre teve uma vida fácil cheia de regalias e mansões, acontece que algumas pessoas não têm, precisam batalhar para ter algo na vida — Sophie estava quase sem fôlego ao terminar seu discurso. — Devo me apiedar com sua história triste ou sentir-me culpado por ter nascido rico? — Perguntou no mais frio tom de arrogância. Sophie evidentemente estava perplexa demasiadamente para responder, sendo o caso Albert procedeu... — Não se trata de sua história nem tampouco de você, senhorita Rodrigues, mas de Eliza e Nicolas do que é melhor para eles, pense bem. Sophie o puxou pelo braço e o levou para fora, estavam no mini hall de frente para o portão abaixo das escadas de cimento, não queria que as crianças acordassem com o barulho da discussão. O soltou com força antes de responder: — Com certeza o melhor para eles não é você, Sabrina e Vicente jamais concordariam com esse absurdo, sempre disseram que se algo acontecesse a eles, as crianças ficariam sob minha responsabilidade. — A senhorita não tem a menor responsabilidade! hambúrguer, refrigerante e sorvete antes de dormir ainda tarde desse jeito? Como fala sobre responsabilidades se nem uma alimentação decente é capaz de lhes prover? — Perguntou com toda calmaria gélida debochada. Os nervos de Sophie já haviam passado do limite. E aquilo doeu muito. Ela fazia o possível e impossível por Eliza e Nicolas. — Não é sempre que dou isso a eles, e você não pode aparecer aqui depois de oito anos que nem mesmo falava com seu irmão e exigir que eu lhe entregue os filhos dele. Um homem que não amava o próprio irmão o suficiente para o apoiar tem a ousadia de querer os filhos dele? Se eu os entregasse a alguém como você então seria sim irresponsável. — Eu sempre amei o meu irmão, mais do que possa imaginar. — Albert olhava nos olhos de Sophie com tamanha força e convicção, foi desconcertante, mas ela não recuou. se aproximou dele sustentando o olhar. — Eu não acredito nem por um segundo, se o amasse não o teria expulsado de casa e ameaçado colocá-lo num hospício! Se o amasse, buscaria conhecer a mulher que ele amava ao invés de dizer que ela não passava de uma interesseira sem classe e indigna de sua família. Como teve a coragem de falar isso sobre minha irmã? Ela era uma pessoa incrível e amorosa... — Os olhos dela lacrimejaram ao falar de Sabrina, foi preciso manter a distância e desviar o olhar daquele homem, certamente não teria a capacidade emocional de a entender — E como eu saberia disso? Muitas moças se aproximaram de Vicente por interesse e não é anormal moças pobres interesseiras! Eles eram jovens demais, estavam indo rápido demais, o que eu devia fazer? Aplaudir e aceitar? Eu me preocupava com ele. — O tom de voz permaneceu gelado como o Everest. E Sophie o encarou incrédula. "Que escroto!" O que? Não é anormal moças pobres interesseiras! Como podia falar assim? — E, no entanto, mesmo depois de ter deserdado Vicente, minha irmã continuou com ele. Prova mais do que suficiente que o sentimento não era interesse, mas amor, amor de verdade. — Ele nada disse e por um momento Sophie pensou ter visto uma fração de sentimentos naquele olhar indolente. — Se o amava tanto — Continuou — por que não o procurou para fazer as pazes e se resolver? — Eu o procurei, mesmo com todo meu orgulho, o procurei e ele não estava em canto algum da Dinamarca então descobri que não o encontrei porque ele foi embora, veio ao Brasil sem olhar para trás ou se despedir, é natural que eu ficasse chateado e então fui adiando a viagem até hoje. — Eles tiveram de vir, era o único jeito, um ano depois que se mudaram para uma casebre Sabrina engravidou, ela não conseguia emprego por não falar dinamarquês fluente e as poucas economias de Vicente já estava no fim, ele também não conseguia emprego já que não sabia fazer nada além de ser rico. — Não desmereça Vicente, ele sempre foi bom na administração das terras comigo. — Pois foi inútil! Porque os conhecimentos dele não serviram para nada, porém Vicente descobriu sua vocação quando os filhos nasceram, as coisas apertaram, eles quase não tinham nem o que comer, precisei pedir ajuda de várias pessoas para conseguir ajudar a pagar a passagem. O rosto de Albert parecia mortificado. Ele desviou o olhar ao dizer: — Ele devia ter me avisado que estava com dificuldades financeiras, jamais deixaria de ajudá-los, principalmente por causa das crianças. — Dignidade! Ele tinha o suficiente para não pedir dinheiro a você ou qualquer outro Larsen. Ficaram em silêncio por um momento. — Qual vocação ele descobriu? — Perguntou por fim, olhando para todas as direções exceto a ela. — Médico pediatra, ele era apaixonado por crianças, era residente num dos melhores hospitais da capital. — Os olhos de Sophie inundaram outra vez, mas ela não choraria na frente dele! — Hum, ao menos me consolo em saber que ele... foi feliz, certo? — Sim, eles eram muito felizes e a situação financeira melhorou bastante, Sabrina voltou a lecionar e ele bem, já sabe. — Mais um motivo para levar meus sobrinhos, eles estarão mais próximo do pai. — Não! — Senhorita Rodrigues acaba de me dar uma informação valiosa, meus sobrinhos são filhos de um dinamarquês e nasceram na Dinamarca. — E daí? a mãe deles é brasileira e moram até então no Brasil. — Acontece que naturalmente nasceram na Dinamarca o que os torna cidadãos dinamarqueses, uma única ligação minha e eles serão deportados. — Um sorriso triunfante envolveu os olhos dele. Sophie congelou, nunca lhe passou pela cabeça tal coisa. E não teria condição de embarcar numa briga na justiça, se ele estralar os dedos teria os melhores advogados de qualquer país, e quanto a ela? Não podia continuar brigando, ele não poderia ser tão cruel, certo? mudaria de tática. — Albert — Amansou a voz — você não pode ser tão desalmado, em tudo o que me disse que pode dar a eles só ouvi sobre dinheiro e coisas materiais, mas eu, no entanto posso dar algo muito melhor. — Ele ergueu uma das sobrancelhas como se não conseguisse acreditar — Amor! Eu os amo muito Albert, são minha única família. Perderam os pais há seis meses e um homem que eles nunca ouviram falar, aparece e os leva para um país estranho longe da única pessoa que eles se sentem seguros, por favor! tente se colocar no lugar das crianças. Albert não havia considerado a questão pelo que ela pôde observar em seu rosto. — Tem razão, eu não pensei com clareza. A senhorita tem total razão, não posso afastá-los de você. — Bingo! Ele tinha um coração afinal, ela venceu, se soubesse que seria tão fácil teria apelado pelo emocional muito antes! Sophie com um sorriso no rosto estava prestes a agradecer quando ele completou. — Então nesse caso já está decidido, a senhorita poderá ir conosco. O sorriso dela se desfez. — O que? — Morará na Dinamarca conosco até as crianças se habituarem a nova vida e a mim. — Você certamente só pode estar insano, como lhe ocorre que eu abandonaria toda a minha vida apenas para ceder aos seus caprichos e facilitar tudo para você? — Não peço por mim, mas pelos nossos sobrinhos. se os ama tanto quanto afirma, não pensará duas vezes em vir conosco... e também, não é como se sua vida fosse de tal importância nesse Pais para não poder ir. Maravilha! Agora ele estava usando o amor dela para a coagir. Espera! nas entrelinhas ele disse que a vida dela era insignificante? — Como pode dizer que a minha vida no meu país não tem valor? — É uma questão lógica, me diga senhorita, com o que trabalha? Faz parte do governo? — Eu... eu... — Ela não diria que estava sem emprego fixo. — Faço móveis e dou aulas — Ah... claro, o que não tem rendido sequer míseros cem dólares — Era notório o desdém naquela voz, o que só a irritou — Mande um comunicado a seu chefe, e saiba que não ficará desamparada se é o que a preocupa. — Mas...? — Sem, mas, senhorita Rodrigues. Arrume todas as suas coisas e das crianças agora mesmo, tenho um voo reservado para as dez da manhã de amanhã. — Amanhã? e como espera que eu arrume tudo em tão poucas horas? — Não se preocupe, pegue o que for mais urgente e se esquecer algo tanto das crianças quanto seu, eu compro. Entregue-me seus passaportes. Sophie não pretendia facilitar as coisas para ele. Ser humano mais arrogante e sem coração. — Eu não tenho passaporte. Ele a olhou como se o que disse fosse o cumulo do absurdo. — O das crianças está desatualizado há anos. Ele continuava com a mesma expressão. — Não há problema, eu sempre dou um jeito, querida.Sophie não podia deixar de pensar que foi um milagre ter conseguido arrumar as bagagens em tão pouco tempo. Eliza e Nicolas, no entanto, não foram difíceis de convencer viajar, é certo que ela não explicou os verdadeiros termos. Quando Albert chegou com motorista particular e o carrão, as crianças pareciam intimidadas. Já Sophie não podia deixar de sentir raiva ao olhar o rosto do homem, ele provavelmente dormiu bem a julgar pelo ar de vencedor. — Fico contente que tenha feito a escolha sensata, senhorita Rodrigues. — Sussurrou no ouvido dela assim que chegaram ao aeroporto. Sophie quis morrer! Nunca se sentiu tão vulnerável, tola e impotente. Estava mesmo sendo dominada pelo pavor, não podia deixar que seus sobrinhos fossem deportados, não mesmo! Jamais deixaria de os proteger e nunca os entregaria para aquele homem. Ela, porém, tinha um plano.... Albert se cansaria mais cedo ou mais tarde e com toda certeza não haveria espaço nos coraçõezinhos deles, Sophie tinha o amor ao seu l
A tensão dominou todo o restante do voo, só falaram o necessário na troca de aeronave por conta da escala. Ao desembarcarem no aeroporto de Copenhague tudo mudou, o lugar parecia uma obra de arte e estava bastante movimentado para uma madrugada, podia ser impressão mas parecia que as pessoas olhavam sem parar para eles e faziam comentários baixinhos especialmente as moças, Sophie deu de ombros. Ela não imaginou que tanta gente fosse para Dinamarca, Sophie só havia parado para pensar no país quando sua irmã decidiu que faria uma viagem sozinha para conhecer Vicente pessoalmente, já que os dois conversavam há cerca de 6 meses pelas redes sociais e ele pagou toda a viagem, Sophie não sabia desse fato, até a irmã contar a verdade quando já estava no país. Certamente teria sido contra essa decisão, afinal, já é perigoso namorar pela internet que dirá mais cruzar o mundo para conhecer alguém que pode muito não existir de fato ou pior ser um psicopata! Foi chocante para ela aceitar a loucura
Albert Høgh Larsen mesmo exausto foi incapaz de deitar-se na cama ainda que o relógio marcasse 03:40h da madrugada ao escutar um berro seguindo por um choro estridente deixou de ler o relatório para reunião da manhã seguinte que aconteceria em exatas 5 horas e Cristo! Ele estava mesmo desgastado. Mas ainda assim correu em direção ao quarto de seus sobrinhos — Meus amores, o que houve? — Ouviu Sophie perguntar assim que chegou na porta do quarto, ele ficou irritado por ter sido ignorado pelos olhos daquela mulher repletos de desdém — Estava tudo escuro. — disse a menina, se sentiu culpado talvez devesse ter concordado em deixar que as crianças dormissem com a tia por mais que odiasse admitir. — Tem um monstro ali! — Apontou o menino para um armário de madeira rústica e absurdamente grande. — De baixo dessa cama gigante também. — Completou Eliza aos prantos. — Por Deus! Não há monstro algum — Começou Albert impaciente, por mais culpado que pudesse se sentir isso já era dem
Albert Larsen não conseguia recordar de algum dia estar tão ansioso ao voltar para casa. Ainda que seus sobrinhos não gostassem dele não podia conter o ânimo de os ver e levaria presentes, doces tradicionais dinamarqueses. Saiu o mais cedo possível do escritório o que surpreendeu toda sua equipe. Faltava dois dias para terminar de resolver os problemas ocorridos em sua ausência, provavelmente no dia seguinte sequer pudesse retornar para casa, um surto de alguma coisa pesou no peito dele. Sua surpresa ao chegar, ela estava vazia. Não havia sinal de Nicolas, Eliza ou Sophie. — Axel, onde estão todos? — Perguntou ao mordomo. — Meu Lorde! — Disse o homem surpreendido. — Veja bem, o... o... senhor chegou cedo. Olhe a hora três da tarde. — Albert apenas ergueu uma das sobrancelhas de forma condescendente. — Senhorita Sophie recusou-se de... como posso explicar? — Diga de uma vez. — Ordenou impaciente. — Ora, deixamos que dormissem à vontade como o senhor nos instruiu, já passava
Dois dias se passaram e Albert simplesmente havia sumido. Não que Sophie estivesse preocupada ou quisesse vê-lo, apenas era estranho ele não retornar para a própria casa. Disseram que por conta do trabalho, mas, suspeitava de que ele estivesse passando a noite com mulheres e mulheres! O que a deixava irritada... Era exatamente a mesma desculpa usada por Henrique. Revirou os olhos ao lembrar do ex. No futuro seria ainda mais irresponsável em deixar as crianças sozinhas, homens são assim, uns desgraçados que só querem usar e iludir as mulheres para seu próprio prazer e vontade. Albert certamente era o pior deles! Aquele amargor que a consumia diariamente tomou posse de seu peito ao recordar de Henrique, ele agora estava no top 2 da sua lista de imprestáveis. Foram instruídos na mudança para a residência oficial de lorde Larsen, o motorista Desmond quem os levaria. Ele sequer fez questão de aparecer. Esses dias, porém, fizeram com que
Albert Larsen estava em seu escritório particular numa reunião com seu assistente pessoal Dagfinn. Um homem de 54 anos, cuidava dele desde antes do seu nascimento, alguém em quem confiava com olhos vendados. — Mas o senhor precisará da assinatura dela, já que é guardiã legal das crianças.— Como poderei convencer essa mulher, Diga-me Dagfinn?A porta se abriu num rompante brusco. — Explique isso Albert! — Berrou Sophie ao entrar jogando nele o que identificou sendo um passaporte. — Abra! — Ordenou.Mas o que? Ele ficou com raiva de si mesmo por um momento, então ela havia descoberto por seu próprio descuido. Estava resolvendo os trâmites da nacionalidade dupla das crianças.— Você mentiu para mim! Sabe Albert, você é mesmo um mentiroso desprezível.— A culpa não é minha se você possui conhecimentos limitados ou a incapacidade de checar as informações antes de tomar decisões. — Ah, claro que a culpa é toda minha por amar demais as minhas crianças e pensar que ao menos você fosse um
Sophie Rodrigues teve de sentar-se para não entrar em pânico ao ver a quantidade de contas que precisaria pagar, Aos vinte e três anos nunca pensou que seria mãe. Às vezes até perguntava-se como deveria ser a sensação de gerar e criar um filho. Ela só não imaginava que era tão caro! E precisava admitir: Ser mãe solo é todo dia um grande desafio, principalmente quando as crianças são gêmeas. Ainda que fosse difícil e mesmo tendo de trancar a faculdade de arquitetura, ela não se frustrou ou se arrependeu. Seus sobrinhos precisavam dela e certamente os criaria com todo amor e dedicação como sabia que sua querida irmã Sabrina o faria. Não pode evitar as lágrimas ao recordar-se da tragédia ocorrida seis meses atrás. Acidente infeliz que levou consigo a vida de sua amada irmã e Vicente, seu cunhado. Sabrina foi muito mais do que irmã, melhor amiga para todas as horas e fazia bem o papel de mãe. No qual ambas perderam para o câncer, Sophi
Já era noite quando retornaram para casa. Albert sorria enquanto a água do chuveiro descia sobre o seu corpo lembrando das imagens preciosas daquele dia, quanto mais tempo passava com aquelas crianças mais os queria para si. Quando lancharam, Nicolas disse algo que o tocou no peito. ALGUMAS HORAS ATRÁS... — Papai me chamava assim. — Falou o menino — Assim como? — Perguntou Sophie. — Campeão, gosto quando me chama assim tio Albert é como se... — O menino se calou receoso. — Como se, o que? — Insistiu Albert. O menino olhou para a tia com certa preocupação, desviou o olhar os dizer: — Como se meu pai estivesse falando comigo... Eu sinto...sinto...sinto muita falta dele. — Nicolas começou a chorar e Eliza o acompanhou abraçando a tia, que parecia estar desolada e muita aflita, os olhos inundados de lágrimas. Albert segurou a mão de Nicolas, eram tão pequeninas nas mãos dele. — O meu pai também — O menino olhou para ele contendo os soluços, Albert prosseguiu —