Albert Larsen tocou o que parecia uma espécie pré-histórica de campainha várias vezes seguidas, a criatura petulante que o aguardasse. Levaria seus sobrinhos de um jeito ou de outro.
O portão surrado de ferro foi aberto num rompante barulhento, para sua surpresa por uma mulher que mais se parecia uma... sereia. Se esforçou para não demonstrar que ficou afetado por aquela visão. — Senhorita... Ro..drigues? — Pela expressão assombrada certamente era ela, Albert não imaginou que a mulher pudesse ser... bendito fosse o Criador! ela era apetitosa demais! — O-o que e-está fazendo aqui? — Perguntou visivelmente assustada. O que lhe trouxe uma tremenda satisfação, certamente não era tão corajosa quanto pareceu na ligação. — Depois da conversa que não finalizamos e ter se tornado incomunicável nos últimos dois dias, pensou mesmo que eu ficaria quieto? — Perguntou erguendo uma sobrancelha. — Para ser franca, pensei que você seria de fato uma pessoa incoveniente e muito.... muito irritante, apenas não imaginei que você viajaria metade do planeta apenas para perturbar a paz alheia. — Respondeu num nível extremo de ironia, ela era muito mais petulante do Albert havia imaginado. Ele quase ficou sem palavras, o que era absurdo! quando uma mulher o tratou assim? nunca! Algo queimou dentro dele, fúria talvez? não importava, ele não perderia a compostura, não mesmo. Um lorde jamais permite que suas emoções o dominem. Em contrapartida, intensificou a arrogância estampada em seu rosto, esperava que ela entendesse o recado.... certamente não sabia com quem falava. — Não tenho a menor intenção de perturbar sua paz, senhorita Rodrigues, apenas vim buscar os meus sobrinhos. — Ele deu um passo para frente, e para o sofrimento de Albert ela cruzou os braços deixando o busto mais evidente ao responder: — Isso está fora de questão! você não vai tirar eles de mim, pode chamar o papa, presidente da República, a rainha da Dinamarca e até mesmo o rei supremo de Nárnia, mas, eu não os entrego para você! — Ela falava em tom furioso, e para Albert, era uma tarefa árdua manter os olhos no rosto da jovem.... — A senhorita deveria saber, quando eu quero algo, o possuo — Respondeu em seu tom calmo e ameaçadoramente gélido, embora sua mente começava a vagar outras ideias sobre possuir e todas envolviam aquele busto no formato de coração. — Oh, sério? É uma pena que seu status de conquistador das galáxias tenha recebido um nocaute hoje! — O nível de ironia dela realmente o deixou sem palavras, e para sua infelicidade seu olhos vagaram por todo o corpo dela desenhado pelo tecido encharcado. Definitivamente uma sereia. Não esperando sua resposta, assim como na chamada, ela tentou fechar o portão, mas Albert lutava para conseguir entrar, era uma disputa acirrada de um lado Sophie alegava que ele só entraria por cima do cadáver dela e do outro Albert afirmava que derrubaria o portão se fosse preciso, pela primeira vem em 30 anos o lorde se sentiu feito uma criança! Aquilo estava cada vez mais ridículo..... a batalha foi interrompida por gritos de choro. Sophie soltou o portão e correu escada acima, permitindo a ele uma bela visão daquele traseiro arrebitado.... Foco, Albert, foco! disse para si mesmo, ela não é uma opção lasciva e sim a pedra no meio do caminho, sua rival. Ele subiu a escada de cimento grosso e constatou que não era segura para seus sobrinhos, a porta da casa na lateral da construção estava aberta e quando ele entrou ficou assustado aquilo era tão.... total.... nunca viu zona parecida.... horripilante! uma bagunça assombrosa! Sua atenção, porém, voltou da casa para aquela cena familia.... ..... Sophie correu o mais rápido possível para alcançar Eliza. Reconheceu o grito dela, desde o acidente, sempre que se via sozinha a menina chorava desesperada. Nicolas, ainda tinha pesadelos quase toda noite, esse foi o motivo pelo qual ela precisou trancar a universidade e sair do estágio que conseguiu numa multinacional após ser destaque num seminário era evidente que seria efetivada após concluir o curso, mas, sua família vinha em primeiro lugar. Nicolas enrolado na toalha, tentava acalmar a irmã enquanto chorava junto. — Meus amores, o que aconteceu? — Ela perguntou preocupada. — P-P-pensei q-que V-você t-também sumiu, igual a m-mamãe — A menina chorou mais e Sophie a abraçou apertado. — Calma minha princesa, a tia está aqui. — Não vai nos deixar igual aos nossos pais, tia Sosô, vai? — Nicolas perguntou contendo as lágrimas nos olhos. — Mas é claro que não, eu jamais deixaria vocês, estamos grudados agora.... lembra? — Ela disse abraçando também o menininho. Logo o drama cessou. — Quem é esse cara aí, tia Sosô? — Perguntou Eliza, agora, tranquila. Nicolas ao ver o estranho saiu correndo para o quarto, afinal estava apenas de toalha. Uma ira alucinando envolveu Sophie ao ver aquele ser prostrado na entrada de sua casa. — Você tem os olhos iguais aos de seu pai — Disse o intruso avaliando a menina, para sua surpresa, Sophie pode perceber o que parecia ser um sorriso nos olhos daquele homem. — Conheceu papai? — Eliza perguntou erguendo uma sobrancelha descrente, aquilo foi bizarro... Só então Sophie notou que a menina fazia exatamente a mesma expressão do tio quando ficava contrariada, surpresa ou não acreditava no que alguém falava e também .... quando queria desafiar. — Sim, sou irmão dele, seu tio. — A expressão deu lugar para uma surpresa genuína fazendo a garotinha ficar boquiaberta. Sophie o fuzilou com o olhar e Nicolas entrou vestido com seu pijama do Homem-Aranha. — Nico, esse homem disse que é nosso tio! — Falou Eliza. — Vai se casar com nossa tia Sosô? — O menino perguntou com os olhos arregalados. — Não! claro que não. — Respondeu Sophie. ao mesmo tempo que Albert enfatizou — Nem se minha vida dependesse disso. — Ufa! — Respondeu o menino aliviado colocando as mãos no peito — acho que não tô preparado pra compartilhar a tia Sosô de novo. — Sou o irmão de seu pai, e você pequenino, se parece bastante com ele, exceto os olhos. — É.. eu sei, mamãe, tia Sosô e eu temos os olhos parecidos e.. ei! eu não sou pequeno, sou grande! — Você é mais baixo que eu Nico — Provocou Eliza com um sorriso maroto, o menino a fuzilou com o olhar. — Tia Sosô, esse moço é mesmo irmão do Papai? — Perguntou o menino ignorando a irmã. — Dizendo ele...— Respondeu Sophie revirando nitidamente os olhos. — Sabe muito bem que é verdade — Retrucou Albert ríspido. — Fala direito com minha tia Sosô! — Repreendeu Nicolas — E... e... tia eu tô com fome, podemos jantar agora? Bingo! Sophie conteve uma gargalhada, ainda que ele tentasse roubar sua crianças ela tinha algo poderoso ao seu lado "O amor" Eliza concordou que estava com fome, então Sophie disse ao invasor. — Se nós der licença, senhor Larsen, nós vamos jantar agora e temos a conta certa, sugiro que retorne outra hora. — Não precisa se preocupar, senhorita, não estou com fome... esperarei aqui mesmo. Sophie levou os sobrinhos até a cozinha americana. E na mesa de jantar deu para eles o hambúrguer e refrigerante. Deus! estava tudo uma bagunça, péssima hora para ele aparecer. — Esse é o jantar deles? — Perguntou crítico. — Eu acho que é bastante óbvio que sim. — Ela respondeu. — Crianças precisam ter uma alimentação saudável, senhorita Rodrigues, não vejo a menor estrutura.... — Agora! — Ela o interrompeu — não é o momento conveniente para essa conversa Albert. — Graças ao bom Deus ele se calou, mas ela podia ver com muito incômodo ele analisar toda a sua casa. Que constrangedor! — Não gostei dele — Falou Nicolas, entre dentes, Eliza riu baixinho. — Também não — Sussurrou a tia. Eliza concordou devorando seu lanche. Sophie contava os segundos para que terminassem de comer, e assim ela pudesse escovar os dentes das crianças e as colocar para dormir. — Mas tia Sosô, e o sorvete? — Perguntou Eliza após beber o último gole do seu refrigerante . Sophie torcia para que tivessem esquecido... podia sentir o olhar julgador mortal de Albert repousado nela. — Já está tarde, amanhã a gente toma o sorvete. — Mas, tia Sosô! — O menino protestou. — Tudo bem, tenho de manter a minha palavra, mas será só um pouquinho. — As crianças vibraram de alegria. Após tomarem o sorvete semi derretido no microondas, Sophie escovou e passou fio dental nos dentes deles. — Tem certeza de que não prefere ir embora, Albert? eu vou colocar eles para dormir... ler uma historinha e isso vai demorar. — Não se incomode, eu não tenho a menor pressa. — Respondeu esticando as pernas no sofá que parecia pequeno demais para ele. Mas, verdade seja dita a pilha de roupas contribuía para tal. Leu duas vezes consecutivas a história "Mais que bicho largatixo - da autora Sylvia Orthof" e algumas fábulas de Esopo adaptadas para crianças, ele espere sentado. Antes de sair do quarto trocou de roupas, embora queria mesmo tomar um belo e demorado banho. Ao voltar para sala, Albert repousava a cabeça para trás no encosto do sofá com os olhos fechados, só faltava ele estar dormindo... Que injustiça! o homem conseguia ser muito mais bonito que o cunhado. Sem se dar conta, Sophie o avaliava minuciosamente, enquanto Vicente era louro dos olhos azuis típico modelo viking, Albert era mais alto, forte não exageradamente, mas, num estilo elegante, tinha os olhos verdes, cabelos cheios castanho escuro na altura da nuca, lábios rosados marcantes, queixo quadrado.... parecia ter saído de uma livro de romance, Sophie se pegou suspirando, oh! pelo amor de Deus, por que esse insuportável tinha de ser tão bonito? — Eu sei que sou lindo, senhorita Rodrigues, pode tirar uma foto se quiser admirar mais... — Ele falou ainda com os olhos fechados, parecendo ter lido os pensamentos dela. Que grosseiro convencido!— Eu não sou a pessoa mais apropriada para desiludir um iludido — Retrucou, ele se colocou de pé bruscamente e olhou o ambiente com uma análise nada discreta como se dissesse que ela é a única iludida, desconfortável Sophie começou a falar. — Hoje o dia foi corrido, não tive tempo de arrumar a casa. — Acredite, percebi. — Respondeu com desdém. — Não darei nenhuma explicação a você. — Creio que também não tenha pedido, a questão é senhorita Rodrigues, está evidente que este lugar precário não tem a menor estrutura para criar uma criança, principalmente os meus sobrinhos. E a senhorita não tem as exigências necessárias para o papel de mãe. — Falou no mesmo tom frio e distante da ligação. — Você consegue ser ainda pior do que pareceu no telefone. Vem a minha casa sem ser convidado e desmerece a mim e minha vida, não tem o direito de fazer isso, você não me conhece, não sabe nada sobre mim e essa casa que não tem a menor estrutura como disse foi onde cresci com minha família. Você
Sophie não podia deixar de pensar que foi um milagre ter conseguido arrumar as bagagens em tão pouco tempo. Eliza e Nicolas, no entanto, não foram difíceis de convencer viajar, é certo que ela não explicou os verdadeiros termos. Quando Albert chegou com motorista particular e o carrão, as crianças pareciam intimidadas. Já Sophie não podia deixar de sentir raiva ao olhar o rosto do homem, ele provavelmente dormiu bem a julgar pelo ar de vencedor. — Fico contente que tenha feito a escolha sensata, senhorita Rodrigues. — Sussurrou no ouvido dela assim que chegaram ao aeroporto. Sophie quis morrer! Nunca se sentiu tão vulnerável, tola e impotente. Estava mesmo sendo dominada pelo pavor, não podia deixar que seus sobrinhos fossem deportados, não mesmo! Jamais deixaria de os proteger e nunca os entregaria para aquele homem. Ela, porém, tinha um plano.... Albert se cansaria mais cedo ou mais tarde e com toda certeza não haveria espaço nos coraçõezinhos deles, Sophie tinha o amor ao seu l
A tensão dominou todo o restante do voo, só falaram o necessário na troca de aeronave por conta da escala. Ao desembarcarem no aeroporto de Copenhague tudo mudou, o lugar parecia uma obra de arte e estava bastante movimentado para uma madrugada, podia ser impressão mas parecia que as pessoas olhavam sem parar para eles e faziam comentários baixinhos especialmente as moças, Sophie deu de ombros. Ela não imaginou que tanta gente fosse para Dinamarca, Sophie só havia parado para pensar no país quando sua irmã decidiu que faria uma viagem sozinha para conhecer Vicente pessoalmente, já que os dois conversavam há cerca de 6 meses pelas redes sociais e ele pagou toda a viagem, Sophie não sabia desse fato, até a irmã contar a verdade quando já estava no país. Certamente teria sido contra essa decisão, afinal, já é perigoso namorar pela internet que dirá mais cruzar o mundo para conhecer alguém que pode muito não existir de fato ou pior ser um psicopata! Foi chocante para ela aceitar a loucura
Albert Høgh Larsen mesmo exausto foi incapaz de deitar-se na cama ainda que o relógio marcasse 03:40h da madrugada ao escutar um berro seguindo por um choro estridente deixou de ler o relatório para reunião da manhã seguinte que aconteceria em exatas 5 horas e Cristo! Ele estava mesmo desgastado. Mas ainda assim correu em direção ao quarto de seus sobrinhos — Meus amores, o que houve? — Ouviu Sophie perguntar assim que chegou na porta do quarto, ele ficou irritado por ter sido ignorado pelos olhos daquela mulher repletos de desdém — Estava tudo escuro. — disse a menina, se sentiu culpado talvez devesse ter concordado em deixar que as crianças dormissem com a tia por mais que odiasse admitir. — Tem um monstro ali! — Apontou o menino para um armário de madeira rústica e absurdamente grande. — De baixo dessa cama gigante também. — Completou Eliza aos prantos. — Por Deus! Não há monstro algum — Começou Albert impaciente, por mais culpado que pudesse se sentir isso já era dem
Albert Larsen não conseguia recordar de algum dia estar tão ansioso ao voltar para casa. Ainda que seus sobrinhos não gostassem dele não podia conter o ânimo de os ver e levaria presentes, doces tradicionais dinamarqueses. Saiu o mais cedo possível do escritório o que surpreendeu toda sua equipe. Faltava dois dias para terminar de resolver os problemas ocorridos em sua ausência, provavelmente no dia seguinte sequer pudesse retornar para casa, um surto de alguma coisa pesou no peito dele. Sua surpresa ao chegar, ela estava vazia. Não havia sinal de Nicolas, Eliza ou Sophie. — Axel, onde estão todos? — Perguntou ao mordomo. — Meu Lorde! — Disse o homem surpreendido. — Veja bem, o... o... senhor chegou cedo. Olhe a hora três da tarde. — Albert apenas ergueu uma das sobrancelhas de forma condescendente. — Senhorita Sophie recusou-se de... como posso explicar? — Diga de uma vez. — Ordenou impaciente. — Ora, deixamos que dormissem à vontade como o senhor nos instruiu, já passava
Dois dias se passaram e Albert simplesmente havia sumido. Não que Sophie estivesse preocupada ou quisesse vê-lo, apenas era estranho ele não retornar para a própria casa. Disseram que por conta do trabalho, mas, suspeitava de que ele estivesse passando a noite com mulheres e mulheres! O que a deixava irritada... Era exatamente a mesma desculpa usada por Henrique. Revirou os olhos ao lembrar do ex. No futuro seria ainda mais irresponsável em deixar as crianças sozinhas, homens são assim, uns desgraçados que só querem usar e iludir as mulheres para seu próprio prazer e vontade. Albert certamente era o pior deles! Aquele amargor que a consumia diariamente tomou posse de seu peito ao recordar de Henrique, ele agora estava no top 2 da sua lista de imprestáveis. Foram instruídos na mudança para a residência oficial de lorde Larsen, o motorista Desmond quem os levaria. Ele sequer fez questão de aparecer. Esses dias, porém, fizeram com que
Albert Larsen estava em seu escritório particular numa reunião com seu assistente pessoal Dagfinn. Um homem de 54 anos, cuidava dele desde antes do seu nascimento, alguém em quem confiava com olhos vendados. — Mas o senhor precisará da assinatura dela, já que é guardiã legal das crianças.— Como poderei convencer essa mulher, Diga-me Dagfinn?A porta se abriu num rompante brusco. — Explique isso Albert! — Berrou Sophie ao entrar jogando nele o que identificou sendo um passaporte. — Abra! — Ordenou.Mas o que? Ele ficou com raiva de si mesmo por um momento, então ela havia descoberto por seu próprio descuido. Estava resolvendo os trâmites da nacionalidade dupla das crianças.— Você mentiu para mim! Sabe Albert, você é mesmo um mentiroso desprezível.— A culpa não é minha se você possui conhecimentos limitados ou a incapacidade de checar as informações antes de tomar decisões. — Ah, claro que a culpa é toda minha por amar demais as minhas crianças e pensar que ao menos você fosse um
Sophie Rodrigues teve de sentar-se para não entrar em pânico ao ver a quantidade de contas que precisaria pagar, Aos vinte e três anos nunca pensou que seria mãe. Às vezes até perguntava-se como deveria ser a sensação de gerar e criar um filho. Ela só não imaginava que era tão caro! E precisava admitir: Ser mãe solo é todo dia um grande desafio, principalmente quando as crianças são gêmeas. Ainda que fosse difícil e mesmo tendo de trancar a faculdade de arquitetura, ela não se frustrou ou se arrependeu. Seus sobrinhos precisavam dela e certamente os criaria com todo amor e dedicação como sabia que sua querida irmã Sabrina o faria. Não pode evitar as lágrimas ao recordar-se da tragédia ocorrida seis meses atrás. Acidente infeliz que levou consigo a vida de sua amada irmã e Vicente, seu cunhado. Sabrina foi muito mais do que irmã, melhor amiga para todas as horas e fazia bem o papel de mãe. No qual ambas perderam para o câncer, Sophi