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Capítulo três - Rancores

LUCAS andava de um lado para o outro, estava tenso e nervoso. Toda vez era isso, Malú sempre o afastava mesmo com todo seu esforço e dedicação para ganhar o amor da moça. Ele não sabia mais o que fazer, já tinha se livrado de Miguel, o grande empecilho que tinha entre eles, mas, agora, tinha Maicon.

Lucas odiava aquele moleque. Por ele, poderia tê-lo matado sufocado quando nasceu, mas ele nunca conseguiu ficar sozinho com o menino, Malú não deixava. Tinha a certeza de que ela não se entregava a ele por conta do garoto.

Entrou em seu consultório nervoso, sentou-se e ligou o computador, fazia tempo que Lucas não pensava no passado, mas naquela manhã as lembranças da infância e adolescência invadiram sua cabeça, fazendo-o sentir mais raiva de Miguel. Com os cotovelos em cima da mesa e o rosto entre as mãos, Lucas relembrou sua infância com aquele que ele julgava que tinha o traído.

Miguel e Lucas se conheceram aos três anos de idade. Em uma noite, o menino acordou com febre e chamando pela mãe, por isso, uma das babás que tomava conta dele o levou em uma consulta pediátrica com a mãe de Miguel. Lucas se sentia mal, com febre, dores pelo corpo e vômitos constantes; estava com uma virose perigosa; assim como Miguel, então os dois ficaram juntos no mesmo quarto, e desde daquele dia jamais se separam.

Os anos foram passando e quanto mais a amizade deles crescia, mais a inveja de Lucas aumentava. Era difícil para ele como criança saber lidar com esse sentimento pesado, ele mal entendia o que aquilo era, somente quando ficou maior entendeu que ele queria na verdade ser o Miguel.

Passou a maior parte de sua vida se questionando do porquê Miguel tinha tudo o que ele não tinha. Os melhores brinquedos, amor dos pais. Era um saco para Lucas sempre ver o carinho e proteção que Josiane e Antônio tinham com o filho. Mais tarde, quando nasceu Beatriz, foi a mesma coisa, ela era apenas meses mais velha que sua irmã Charlie.

Lucas percebia a diferença com que sua mãe o tratava, ele queria dizer que era apenas ciúmes da irmã mais nova, mas era nítida a preferência que Margareth tinha pela filha caçula.

Margareth, mãe de Lucas, era uma senhora bonita e cheia de classe; era loira e tinha os olhos azuis-escuros, nariz fino e arrebitado, assim como a boca. Tinha um corpo de dar inveja, bem torneado e cheio de curvas.

Lucas não entendia porque sua mãe não o amava, afinal, ele era um bom filho, sempre obediente, estudioso e não dava nenhum tipo de trabalho para ela. Porém, Lucas era para ela apenas mais um que ela tinha que lidar, diferente de Charlie.

Charlie, sua irmã, era o oposto dele. Desde pequena, era mais falante e mais descontraída. Ela tinha uma beleza diferente, sua boca era carnuda e vermelha, tinha o nariz como o da mãe, fino e arrebitado, seus cabelos castanhos eram médios, sempre usava franja e isso dava um ar mais angelical nela. Apesar de ter um gênio forte, onde não aceitava que ninguém dissesse o que fazer, Charlie era amável.

Seu pai, no entanto, parecia que nem filhos tinha, era ausente em todos os sentidos. Isso fez com que Lucas olhasse para a própria família de um jeito diferente, era muito melhor viver sozinho do que ao lado daqueles que não o amavam. Depois de alguns meses do nascimento de Charlie, seu pai, Robert, —um senhor de cinquenta e um anos, cabelos já grisalhos, olhos castanhos, e que sempre tinha a barba por fazer— faleceu de um ataque cardíaco, foi tão de repente que Lucas nem se importou, já era ausente mesmo em vida, que falta seu pai faria depois da morte?

Lucas suspirou pesadamente, sendo retirado dos pensamentos com batidas na porta. Sem ânimo algum, pediu para quem quer que fosse entrasse.

— Bom dia, doutor, podemos conversar? — a moça disse, colocando a cabeça dentro da sala e apoiando, em seguida, o corpo na porta.

— Claro, Caroline, o que deseja? — Lucas a fitou.

A moça negra o olhou com os seus olhos escuros com intensidade, Caroline Souza tinha 26 anos, era dona de um incrível sorriso, corpo bem feito, peitos pequenos, coxas grossas e bunda grande.

— Posso entrar? — perguntou com a voz manhosa.

— Depende, o que quer? — Arqueou a sobrancelha e colocou as mãos atrás da cabeça.

— Ah! Quando você está sozinho aqui e eu apareço, a gente se dá muito bem... — A moça sorriu de forma maliciosa, fechou a porta atrás de si e começou a retirar a blusa.

Lucas olhou bem para a moça e sorriu, não estava a fim de lidar com ela, seus pensamentos estavam longe, estava frustrado por conta de Malú.

 — Me faça um favor, Caroline. — pediu gentilmente.

— Claro, pode pedir que faço tudo para você. — Ela se debruçou na mesa.

— Ligue para a floricultura e mande entregar na delegacia um buquê de rosas vermelhas para Malú.

— Isso é sério, Lucas!? — perguntou indignada.

— Claro! Por que não seria? — Levantou-se bem rápido e colocou a mão na cintura.

— Quando você irá tomar vergonha na cara e parar de correr atrás dessa mulherzinha? Não percebe que ela não te quer? Na verdade, se fosse para apostar em algo, diria que ela tem nojo de você. — Ela sorriu com deboche.

— Caroline, por favor, vá fazer o que te pedi antes que eu perca a paciência com você.

— Pois não, chefinho, pode deixar que mando entregar o maior e mais caro buquê para ela. — concordou e vestiu a blusa enquanto olhava furiosa para Lucas.

Caroline saiu batendo a porta com força, achava injusto Lucas dar tanta importância assim para Malú. Ela nem gostava dele, ao contrário dela, que estava sempre ali para ajudá-lo em tudo que precisava.

Naquela noite, Lucas foi para casa, tomou banho e arrumou-se. Entrou no carro e dirigiu por um caminho que por ele faria todos os dias. Assim que chegou, desceu do carro com um sorriso estampado no rosto, tocou a campainha e esperou, quando a porta se abriu seus olhos brilharam e seu coração se agitou.

— Lucas?! — disse incrédula.            

— Boa noite, Malú, tudo bem? — perguntou e aproximou-se de Malú para beijá-la.

— O que faz aqui? — Malú perguntou, desviando o rosto para não ser beijada.

— Não me convida para entrar?

— Lucas, eu estou perdendo a paciência com você, já não disse que não queria você aqui hoje e nem nunca?

Malú deixou com que Lucas entrasse no hall de entrada de sua casa, apenas para ter o prazer de expulsá-lo, cada dia que passava ela o odiava ainda mais, ainda mais depois de ver aquela marca de bala no barco.

— Gostou das flores?

— As joguei no lixo! Quando eu te dei liberdade para isso? — disse com o dedo em riste.

— Malú, eu te amo, quando vai nos dar uma oportunidade? — disse com o olhar triste.

— Meu Deus! Para com isso, Lucas, a gente tentou uma única vez, mas não deu certo, você era amigo do Miguel, não dá, eu não consigo ter algo com você além de uma amizade.

— Eu pensei que quando Miguel morresse você fosse me dar uma chance, mas logo em seguida você descobriu que estava grávida.

— O que você quer dizer com isso, Lucas?

— Nada! — disse, dando um longo suspiro.

—Você foi como um irmão para o Miguel. Miguel foi e continuará sendo o amor da minha vida. Acha mesmo que eu iria trair a memória de dele? Por você, eu tinha um sentimento fraterno de irmão, mas hoje eu não sei definir qual sentimento carrego por você, só tenho a te dizer que eu não te perdoo por ter deixado Miguel para morrer queimado, largado no meio de um oceano sozinho. Você poderia ter trago o corpo dele para nós, enterramos um caixão vazio. Sabe como isso doeu?

— Malú, eu já expliquei, e...

— Maicon não gosta de você, acha mesmo que eu vou dar um padrasto para ele, ainda mais um assim como você?

— Antes era Miguel, agora é o Maicon?! — Lucas passou as mãos em seus cabelos com ar de nervoso. — Sempre tem um no meu caminho, sempre!

Lucas olhou furioso para Malú, um ódio foi tomando conta de si, saiu batendo a porta e entrou apressado dentro do seu carro, socou volante e tentou se controlar, porém o ódio que ele sentia dentro de si era grande demais, então ali, sozinho, a máscara caiu, e uma ameaça foi feita:

— Isso não vai ficar assim, eu juro que não! Antes o problema era o Miguel e agora é o Maicon... Mas isso é fácil resolver. Você irá me amar, Malú, por bem ou por mal.

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