— Eu sinto muito. — disse o médico retirando a touca cirúrgica da cabeça.
— Não ouse usar esse tom comigo, doutor! — Josiane disse com os olhos cheios de lágrimas. — Não diga que meu filho não resistiu.
— Calme, Senhora Josiane, não disse isso.
— Então ande, diga logo o que aconteceu. — ela pediu num tom alto pelo nervosismo.
— Durante a cirurgia, tivemos uma complicação. Miguel poderá ter sequelas graves e irreversíveis, mas só saberemos quando ele acordar.
— Meu Deus! Isso não pode acontecer — Josiane disse chorando.
— O que poderá acontecer com ele? — Tony disse aflito, embora tivesse uma leve suspeita de qual seria essa sequela permanente.
— Miguel pode ter a função motora afetada, pode ficar cego, ou ter algum
LUCAS não se conformava em ser abandonado assim. Nenhuma ligação, nenhuma satisfação, nada! O silêncio o deixava furioso. Aqueles dias longe dos Alazar e com Malú expulsando-o constantemente do quarto de Maicon toda vez que ele entrava só o deixava muito irritado. Estava sentado em seu sofá com um copo de uísque na mão, seus pensamentos fervilhavam. Após tomar o último gole da bebida, ele jogou o copo contra a parede levando as mãos à cabeça e sentindo as lágrimas queimarem seus olhos.— Por quê? Por que fazem isso comigo? — perguntou aflito e cheio de mágoa. — Nunca os tratei mal, nem os desprezei, eles são minha família, por que me deixaram para trás?Lucas se levantou com uma nas mãos na cabeça e a outra na cintura, começou a andar de um lado para o outro, tentava
MIGUEL estava com uma pequena gaiola na mão. Estava esperando seu voo de volta finalmente para casa, ele estava inquieto e nervoso assim como seu amigo João que piava sem parar dentro da gaiola. Miguel levantou o pano que o cobria e o passarinho veio para perto dele.— Preciso que se acalme, amigo, nós vamos para a casa. — O passarinho se esfregava na grade da gaiola como um gatinho manhoso pedindo atenção de seu dono. — Você vai comigo na cabine, então se acalme, não irei te abandonar.— Acho que é agitação demais para ele. — Matias disse, sentando-se na cadeira ao lado de Miguel.— Também acho, ele está estressado. — Miguel abriu a portinha da gaiola e colocou a mão lá dentro. O João-de-barro mais que depressa subiu em sua mão e ajeitou-se nela dormindo em seguida.— Estou ven
— Miguel...MALÚ acordou sobressaltada, tinha sonhado com Miguel. Ele havia deixado um beijo carinhoso em sua cabeça e saído. Ela tinha que parar com isso, tinha que entender que a vida segue, que as coisas por mais que ela não queira mudam. Estava na hora de aceitar o fato de que Miguel morreu e não voltaria, por mais que isso a machucasse, ela precisava seguir em frente.Ela colocou o porta-retrato de Miguel no lugar, porém ainda o olhava com intensidade, sabia que nunca mais amaria ninguém. Miguel era especial para ela, ele era sua alma gêmea, era aquela pessoa que seria para sempre, e pensar em amar outra pessoa para ela, seria perda de tempo, pois ela nunca amaria alguém como amou Miguel.O amor pode ferir, mesmo quando ele cura, amar não é sobre querer amar alguém, e sim sobre saber os motivos que faz você amar aquela pessoa, amar é compreend
Sooner or later the lights up aboveWill come down in circles and guide me to loveI don't know what's right for meI cannot see straightI've been here too long and I don't wanna wait for itChristina Aguilera, A Great Big World - Fall On MeMIGUEL estava com seu amigo João no jardim da casa de seus pais tomando sol, era de manhã; após o quase encontro com Malú, ele não saiu mais de casa. Dois meses então passaram voando e cada dia ele se esforçava para se recuperar porque ele queria mais que tudo voltar para ela, ser dela sem que nada mais impedisse.— O que está pensando, menino? — Dora se sentou ao lado e passou as mãos nas costas de Miguel, ele deitou a cabeça no ombro daquela senhora gentil, que ajudou sua mãe a criá-lo.— Malú. — disse apenas.<
MIGUEL estava em seu quarto, ele andava de um lado para o outro tentando montar um plano para que Lucas caísse, foi então que algo veio em sua mente, ele pegou o telefone. Mais do que nunca precisaria da ajuda de seus amigos para que seu plano desse certo.— Hospital San Josef, boa noite em que posso ajudar? — disse uma das recepcionistas ao telefone de uma forma simpática.— Boa noite, gostaria de falar com Doutor Juan Hernandez. — Miguel disse sem se preocupar em disfarçar a voz.— Quem gostaria? — ela perguntou, olhando no telefone o ramal da sala do Doutor.— Diga a ele que é um velho amigo, por favor!— Tudo bem. — Miguel escutou um suspiro pelo telefone. — Só um minuto irei fazer a transferência, aguarde na linha.— Ok.Depois de alguns minutos, uma voz familiar atend
LUCAS acordou naquela manhã, com uma dor no peito, toda aquela espera, todo aquele desprezo o deixou abalado. Ele não entendia o porquê ser deixado para trás, não entendia o porquê ninguém o amava como ele realmente merecia. Na mente de Lucas, ele que merecia toda a atenção, ele merecia que todos seus desejos e vontades fossem realizados, ele detestava quando era contrariado e quando as coisas não saíam ao seu modo.Lucas sabia que era frio, calculista, muitas das vezes era insensível, era inescrupuloso e um transgressor de regras sociais e morais. Ele sabia que passaria por cima de qualquer um para satisfazer seus interesses, Lucas não era louco, ele sabia exatamente o que fazia para atingir seus objetivos.Ele sabia que matar Miguel era necessário, que subornar o perito no barco também, sabia que roubar órgãos e vender no mercado negro er
O vento soprava gelado naquela ilha. O som do mar, o mesmo que acalmava, irritava-o. Miguel se sentou abraçando as pernas, balançava-as como o restante do corpo no mesmo ritmo... Lento. Ele batucava os dedos no joelho enquanto observava a espuma branca que batia de encontro as rochas. Com os olhos fixos no mar agitado devido a uma tempestade na noite anterior, Miguel chorava.Sentia-se mais solitário do que nunca. Nessa manhã, nem o sol e nem os pássaros daquela ilha deram o ar da sua graça, apenas nuvens, chuva e a solidão. Miguel fechou os olhos e suspirou, com o coração pesado e cansado de saudades.Ele escutava cada gota de chuva bater de encontro às folhas, era para ser reconfortante, se não fosse tão solitário.Afinal, ele não sabia como havia parado ali. Não sabia quem era, ou o que havia acontecido, mas, dentro de si, um vazio o atormentava ferozmente
Fumaça.Havia muita fumaça.MIGUEL recobrou a consciência e tentou se manter em pé, mas isso parecia ser uma missão impossível, o barco balançava de um lado para o outro e sua cabeça latejava fortemente.Levou a mão à cabeça e sentiu algo viscoso, quando olhou, percebeu que era sangue, por isso, ficou confuso por alguns instantes. Ele havia caído?Não lembrava direito, focou os olhos na mancha de sangue no chão do barco e, então, relembrou tudo o que aconteceu minutos atrás, a discussão, a briga e, por fim, as pancadas na cabeça.O coração de Miguel se contraiu, enquanto, em sua mente, ele só conseguia se perguntar: como Lucas pôde? Como ele pôde se virar contra ele? Ele era seu melhor amigo, não era? Fechou os olho