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Capítulo cinco - Um coração cheio de espinhos

Se apagaron las estrellas que tú y yo encendimos

Dentro tuyo se hizo piedra todo ese dolor

Tuve el cielo entre tus brazos y lo eche al vacío

Por creer que estaba escrito en las hojas del destino

Samo- Doy un pasi atrás

MALÚ acordou assustada, viu em sua frente um rosto de um homem negro, tinha cabelos raspados, olhos tão negros que parecia que ela olhava um abismo, nariz grosso assim como seus lábios, ele era grande e musculoso, mas quando ela o olhou novamente, ele sorriu e aquele sorriso transmitiu paz e segurança. Lembrou-se de suas palavras, então algo dentro de si se acendeu, sentiu novamente esperança.

Em breve!”

Foi isso que aquele homem disse, um simples “em breve” e seu coração se agitou. Mas como era possível? Malú sabia que tinha um coração amargurado, cheio de espinhos, ela sabia que a única pessoa que ela conseguia demostrar sentimento era Maicon, nem com seus pais, Malú conseguia mais, era difícil e doloroso, porque ela sempre se lembrava de Miguel e seu coração reconhecia a perda.

Limpou as lágrimas dolorosas de saudades e deitou-se encolhida, será que algum dia toda essa saudade seria amenizada? Será que algum dia ela se sentiria inteira novamente?

Pegou um porta-retrato, olhou uma foto dela e de Miguel, ambos sorriam, era impossível não sorrir com a lembrança daquele dia.

Malú estava agitada, ela esperava Miguel naquela manhã de sábado para um passeio no parque, estava tão ansiosa que não parava de andar de um lado para o outro. Quando ele parou o carro em sua porta, animada, ela bateu palmas e saiu dando pulos de alegria para recebê-lo.

— Bom dia, meu amor! — ela disse com entusiasmo.

— Bom dia, princesa, pronta para um dia inesquecível? — Miguel se aproximou de Malú e deu-lhe um beijo.

Sempre que estavam juntos, não queriam se separar. Juntos eram sempre mais, juntos não era Miguel e Malú e sim apenas um.

— Prontíssima! — disse com um sorriso largo após o beijo. — Mãeeeee, estou indo! — Malú gritou para sua mãe que logo veio correndo com uma máquina fotográfica nas mãos, Malú revirou os olhos e Miguel sorriu.

— Bom dia, dona Josiane, tudo bem?

— Bom dia, Miguel, tudo sim, meu filho. Quero tirar uma foto de vocês.

— Aí, mãe, para com isso!

— Vamos lá, querida, isso não dói. — Malú fez bico.

— Vamos lá, amor, vamos fazer a vontade da sua mãe, não custa. Ainda teremos mais uma foto para recordar.

— Tudo bem, mas vai logo, quero passar o dia todo com Miguel, o máximo possível.

Miguel abraçou Malú por trás e colocou as mãos em cima de sua barriga, ela sorriu e colocou as mãos em cima da dele. Ele colocou o rosto no ombro dela e falou baixinho em seu ouvido que a amava, foi nesse instante que Josiane tirou a foto a qual Malú estava abraçada.

— Pronto, podemos ir?

— Tudo bem, vão logo. — Ela puxou a mão de Miguel, que se despediu da mãe dela com um aceno.

Durante todo o caminho, Malú sorria. Ela amava passar o dia com Miguel. Eles não conseguiam tempo para ficarem juntos, pois a faculdade de medicina ocupava muito Miguel, que estudava dia e noite para passar em todas as provas. Sabiam que esse sacrifício era necessário, então quando podiam, não se desgrudavam um minuto sequer.

Ao chegarem ao parque, Miguel pegou a cesta de piquenique e Malú uma toalha xadrez, andaram um pouco e pararam de frente para um lago. Ali tinha uma grande árvore que forneceria uma deliciosa sombra para eles.

— O dia está perfeito! — ela disse, sentando-se ao lado do seu amado.

— Sim, nenhuma nuvem nesse céu azul.

— O que trouxe para nós comermos? Estou com fome! — perguntou enquanto abria a cesta.

Malú se admirou com a quantidade de comida que Miguel havia preparado, tinha bolos, uma torta de limão e sanduíches. Também tinha uma caixa térmica com sucos e refrigerantes.

— Vai alimentar um batalhão, Miguel? — Ele sorriu, pegou a mão dela e beijou.

— Não quero ter que me levantar daqui tão cedo! — disse, deitando-se e colocando as mãos atrás da cabeça, ele olhava o céu por entre as folhas da árvore.

— Está tão pensativo, meu amor, o que foi? — Malú deixou o sanduíche de queijo branco de lado e deitou-se no peito de Miguel.

— Um pouco.

— Posso saber o que anda pensando tanto? — Ela passava a mão por cima do peito dele.

Ele retirou a mão dela de seu peito e segurou-a, levando para seus lábios, em seguida, beijou-a, ele sabia que Malú se derretia com esse gesto.

— Estava pensando aqui que eu te amo tanto, que queria passar o resto da minha vida ao seu lado.

Malú se levantou e olhou para Miguel que tinha um sorriso travesso nos lábios.

— Não acha que está pulando etapas, Miguel?

— Não. Eu não estou te pedindo em casamento ainda, mas eu quero muito que isso dure para sempre... — Sentou-se sobre as pernas.

Ele retirou do bolso um saquinho simples de veludo vermelho do bolso, e de dentro dele, havia duas alianças de prata, uma maior e outra menor, a menor tinha um pequeno diamante nele. Malú colocou as mãos na boca, seus olhos tinham um brilho especial.

— Eu sei que estamos oficializando nosso namoro hoje, porém, quero que saiba que é só mais um passo, que o próximo é o pedido de casamento. Por mim, casaria com você hoje mesmo, mas tenho a faculdade inteira pela frente, quero que quando fizer o pedido, eu possa ter tempo para planejar tudo com você. Aceita ser minha namorada?

Malú deu um gritinho de felicidade, pulou nos braços de Miguel e beijou-o. Não se importou com as pessoas olhando e algumas batendo palmas ao ver que o pedido foi aceito.

Miguel colocou o anel no dedo dela e sentou-se sobre as pernas novamente, abriu a cesta, pegou um lanche e comeu olhando Malú admirada com o pequeno anel em seu dedo. O que estivesse ao seu alcance ele faria, daria tudo para ver o sorriso no rosto lindo dela.

— Vamos andar de pedalinho? — ele pediu.

— Sim, eu ia pedir isso! — Malú não parava de sorrir.

— Feliz? — perguntou.

— Muito, eu te amo, Miguel.

— Eu também te amo, Malú.

Malú abraçou o porta-retrato e lágrimas caíram de seus olhos, as lembranças doces doíam em seu coração, e por mais que ela tentasse seguir em frente, seu coração estava amarrado no passado e esquecer era difícil.

— Mamãe? — Maicon batia na porta, chamando-a.

— Oi, meu amor, entre... — ela disse limpando o rosto e tentando disfarçar as lágrimas.

—Estava chorando, mamãe? — Maicon disse se aproximando da cama e colocando as mãos no rosto da mãe.

— Saudades, querido, saudades... — Malú colocou o porta-retrato em cima do criado-mudo. — O que está fazendo acordado tão cedo?

— Não chora, papai não gosta. Queria te fazer uma surpresa, por isso acordei primeiro que você.

— Eu sei que não.

— Olha, fiz uma surpresa para você, fique aí deitada que eu já trago! — Maicon abriu um sorriso banguela e saiu pulando. Malú se sentou na cama, passou as mãos nos cabelos e, em seguida, prendeu-os em um rabo de cavalo em cima da cabeça.

Maicon entrou no quarto da mãe com uma bandeja em suas pequenas mãos, Malú sorriu e ajudou-o subir na cama.

— Que delícia, meu amor. — disse orgulhosa do filho.

— Para você começar bem o dia.

Malú beijou a cabeça do filho e encarou a bandeja repleta de frutas, torradas, cereais com leite e suco de laranja. Ela comeu junto de Maicon com gosto, depois escovaram os dentes juntos e Maicon foi tomar banho para ir à escola. Malú sorriu, seu pequeno valia ouro, e graças a ele aquela tristeza sem fim que sentia quando acordou se dissipou no ar, seu pequeno tinha o dom de deixá-la sempre bem e feliz, assim como o pai dele antes de morrer.

— O que temos para hoje? — Malú disse ao entrar na delegacia e ver Falcão no corredor, servindo-se de café.

— Bom dia para você também. — respondeu em tom debochado.

— Desculpe, hoje não é um bom dia.

— Saudades?!

— Sim, tive um sonho estranho...

— Conte-me mais.

Malú relatou todo o sonho para Falcão que a escutava com atenção, balançava a cabeça para que ela tivesse certeza de que o ouvia.

— Foi só isso, mas acordei com a sensação de que tudo irá se resolver.

— Isso não é bom? — perguntou confuso.

— Não sei. Acho que quando desvendarmos tudo, vou ter certeza de que ele não irá voltar.

— Mas ele não vai, Malú. Tem esperança ainda, minha amiga? — Colocou a mão em seu ombro.

— Como diz o ditado, a esperança é a última que morre, ainda acredito que Lucas pode ter se enganado e Miguel não tenha morrido...

Foi a única coisa que disse, Malú tinha isso dentro de si, enquanto ela não tivesse provas concretas, ela teria esperança.

Naquele dia, ela trabalhou duro o dia inteiro, e quando anoiteceu já estava extremamente cansada, jantou com Maicon, tomou um banho e levou o garotinho para seu quarto para juntos fazerem uma sessão de cinema. Maicon ria com o filme infantil na tela, onde os sentimentos era pequenas pessoas dentro de nós, Malú adormeceu antes do filho olhando para o porta-retrato onde uma Malú sorridente era feliz. Passou os dedos em cima da aliança que usava até hoje e entregou-se a um sono profundo e sem sonhos.

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