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Capítulo quatro - O resgate

A única coisa que limita as suas aspirações

é a sua imaginação.

MIGUEL observava seu amigo João-de-barro, o pequeno passarinho pegava alguns gravetos e levava até seu ninho, gorgolejava e batia as asas com alegria, ele sorriu com a alegria de seu amigo. O dia estava lindo, o sol brilhante, e nenhuma nuvem era vista no céu.

Ele se levantou, retirou o short velho e correu até o mar, em seguida, mergulhou, a água estava quente, ficou algum tempo ali nadando perto da borda, pois não poderia ir para muito longe. Apesar de saber nadar bem, a arrebentação era perigosa e morrer naquele paredão de pedras não era mais seu objetivo. Sua meta agora era traçar um plano para que pudesse voltar para casa.

Após relembrar tudo o que aconteceu com ele, Miguel ficou ainda mais triste, porque por mais que ele pensasse, mais conclusões ruins ele chegava. Saiu do mar e sentou-se na areia, observou bem o mar, e sua cabeça e seu coração lembraram a mulher que mais amava na vida.

“Será que Malú tinha se casado com Lucas? Será que ela era feliz com ele? Tiveram filhos e uma família feliz?”, pensou Miguel. O que poderia fazer para sair dali? Queria ir para casa, para Malú, queria ver os pais, a irmã, seus amigos queridos, mas sair daquela ilha sozinho era impossível, será que Deus finalmente ouviria suas preces e ajudaria-o a sair dali?

Observou o mar novamente e as lembranças doces de momentos inesquecíveis invadiram a sua mente, fazendo-o sorrir.

— Vamos, Malú, tire logo a roupa e pule.

— Está frio, Miguel, não quero mais.

— Para de frescura e vem.

Miguel retirou a camisa e a calça e, de uma vez, pulou na piscina. A água estava fria e fez sentir o baque de temperatura, talvez fosse melhor Malú nem entrar, porém, quando ele emergiu, viu a moça pulando de cabeça, essa era sua garota: não desistia de nada.

— Eu disse para você que estava frio. – Ela batia os dentes.

— Pode deixar que eu te esquento.

Miguel nadou para perto de Malú e abraçou-a, ela passou os braços em volta do pescoço de Miguel e olhou-o.

— Oi — ela disse tímida.

— Oi – ele respondeu, sorrindo.

— Até que a água não está tão fria assim.

— Viu só, eu disse.

— Vamos sair antes que meus pais nos peguem aqui.

 Miguel deu uma gargalhada que a fez sorrir também, ela sabia que estavam sozinhos na casa dela. Miguel se aproximou dos lábios de Malú e beijou-a com desejo. Suas mãos começaram a percorrer o corpo dela, dando leve apertões. Malú gemeu quando a boca de Miguel deixou a sua e desceu para o pescoço, em seguida, para os seios. Ela passou as pernas pela cintura dele, trazendo-o para mais perto de si, fazia tempo que o desejo a consumia, ela já desejava Miguel dentro de si e sentir sua ereção encostando seu corpo, só a deixava mais tentada por aquilo. Fazia alguns meses que começaram a namorar e ele sempre foi muito educado e respeitador com ela, e ela também nunca havia deixado ir além, só que, dessa vez, estava difícil de segurar. Mas mesmo com o desejo queimando dentro de si, ela o afastou, afinal, não achou o local muito apropriado. De início, ele não entendeu e olhou confuso.

— Desculpe, acho que me empolguei. – disse envergonhado.

— Não se desculpe, eu também quero, só que não aqui, podemos entrar?

Miguel assentiu sentindo vergonha, ele desejava Malú mais que tudo, mas não queria apressar nada, tudo deveria ser no tempo dela, quando ela quisesse e se sentisse confortável. Miguel recolheu suas roupas e as roupas de Malú, pegou as toalhas em cima das espreguiçadeiras e entregou uma para ela. Encabulado, andaram um do lado do outro em silêncio, cada um envolto em seus pensamentos.

Miguel vinha se martirizando por achar que passou dos limites com Malú e ela pensando que finalmente havia chegado a hora. Ela estava tão nervosa que nem percebeu que o amado estava em outro mundo, mas assim que entraram na casa, ela não pensou duas vezes em se atirar nos braços dele e beijá-lo.

Miguel se assustou de início, mas acabou sorrindo em ver que Malú o queria tanto ou mais como ele a queria. Com as bocas coladas uma na outra, Miguel a pegou no colo e carregou-a para o quarto. Assim que entrou no quarto da moça, ele a colocou deitada na cama com cuidado, subiu em cima dela fazendo o colchão afundar com o peso. Malú passou as mãos pelo rosto de Miguel e ambos sorriram.

— Tem certeza disso, Malú? – perguntou aflito.

— Sim, eu te amo, Miguel, e quero que seja o primeiro e único na minha vida!

O sorriso de Miguel se alargou, aquela foi a declaração mais linda que ouviu, não por ser o primeiro homem na vida sexual de Malú, mas por ela falar que queria que ele fosse o único, isso o encheu de esperança para um futuro junto da mulher que ele sabia que seria sua esposa e companheira pelo resto da vida.

Talvez amar fosse isso... Descobrir o que o outro fala, mesmo quando ele não diz nada.

Miguel deu um pulo com um sorriso nos lábios, correu até o penhasco e começou a colocar ainda mais folhas secas e pedaços de madeira.

— Agora sim vão me ver aqui, estou chegando, Malú, estou chegando...

Depois de acender a fogueira e passar o dia a alimentando, Miguel se frustrou, não sabia mais ao certo se aquilo adiantaria, será que algum navio passaria ali? Um barco, até uma embarcação pequena? Qualquer coisa já seria mais que o suficiente. Sabia pelas estrelas que estava longe da costa, sabia que sozinho não conseguiria voltar para casa.

Dobrou os joelhos em cima das pequenas pedras, não se importou com a dor, ele apenas fechou os olhos e orou, pediu ajuda e sabedoria para lidar com tudo aquilo. Quando terminou, levantou-se, desceu do penhasco, pescou o jantar e subiu novamente. Aquela noite estava estrelada, a lua cheia e brilhante. Após comer o peixe, Miguel se sentou na beirada do penhasco enquanto a fogueira queimava atrás de si.

Ele acordou ouvindo vozes, um sotaque forte e carregado. Revirou-se no chão, enquanto pensava no quanto o sonho era estranho e confuso. Quando abriu os olhos, viu vários homens ao seu redor, a maioria negros e somente de calção, eles falavam, mas Miguel não entendia uma palavra sequer.

Um deles lhe apontou uma lança comprida e afiada, o rapaz se levantou num pulo e olhou ao redor em alerta, ele não sabia como agir, hora chorava, hora sorria.

— Não entendo. — disse levantando as mãos em rendição. As palavras confusas e os gestos bruscos deixaram Miguel apavorado.

— Me ajudem! Estou perdido, quero só ir para casa!

Um negro grande e forte chegou perto de Miguel, olhou-o de cima a baixo, rodeou-o e parou bem à sua frente.

— Quem é você? — disse em português, olhando-o no fundo dos olhos.

— Meu nome é Miguel... Miguel Alazar Barros. Não sei quantos anos tenho, pois não sei quanto tempo fiquei aqui, o que eu sei é que fui apunhalado pelo meu melhor amigo e deixado para morrer, mas, por sorte, o mar me trouxe para essa ilha, se puder me levar de volta, pagarei muito bem, eu tenho dinheiro, minha família é rica!

O homem se afastou, colocou a mão no queixo quadrado e pensou.

— Por favor, me leve embora, eu te imploro! — Miguel não se importou, chorou, enfim, ele via outro ser humano, poderia ser salvo e voltar para casa, por isso, se precisasse, ele imploraria pela vida.

— Meu nome é Matias, sou dono do Cruzeiro Sul, um navio cargueiro. Vi sua fogueira, rapaz. Por que não a acendeu antes? — Ele não esperou a resposta de Miguel e apressou-se em dizer o que tanto Miguel queria: — Venha, vamos te levar de volta a civilização...

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