Checando as fichas de procurados enquanto o carro ganhava a estrada rapidamente, Elya riscava os possíveis lugares para onde cada um deles poderia ter fugido, trocava de pasta os que já haviam sido pegos e incluía novos procurados e suas informações.
— Estou receoso de não achar nem metade destes que procuramos. — Disse Elya. Seu parceiro ao volante, Willem, mantinha os olhos azuis cravados na estrada longa, atento. — Vamos achar todos, Elya. Não se preocupe demais ou perderá todas essas lindas madeixas castanhas e ficará como eu, tão careca que se pode ver até o que se passa na minha cabeça. — Brincou Willem. Elya riu sem som, com a cabeça baixa, ainda focado nas fichas. Estavam cercados pelos demais carros contendo o resto dos homens. Levantando os olhos negros, Elya vasculhou o horizonte, constatando que não havia muita coisa ali. — Que fim de mundo é esse... — O lugar perfeito para eles se esconderem, meu caro. — Comentou WilZya aproveitava cada segundo do seu horário de almoço, sentado em um canto da parte de trás da fábrica. Comia um pesado sanduíche com uma variedade enorme de recheio, pensativamente. Estava na metade do seu expediente de trabalho, que não era tão ruim assim; era um trabalho árduo, claro, e aquela fábrica era horrivelmente quente, mas ocupava sua mente. Zya sentia uma vontade grande de arregaçar as mangas da blusa, mas não queria deixar à mostra seus braços. Prendeu seus dreadlocks com uma fita grossa de couro para que não sujassem. O barulho ali era alto demais a ponto de deixá-lo surdo e tonto. Sons de prensas batendo em metal, soldas trabalhando e homens falando alto demais reverberavam por toda a fábrica. Ele não se acostumara com tudo aquilo ainda, mas se sentia um pouco mais familiarizado a cada minuto que se passava.Terminou de comer e cruzou a fábrica até o banheiro, que estava vazio. Para um lugar com centenas de operários imundos, o banheiro era bem limpo; tinh
Louisa se olhava no espelho de corpo inteiro em seu quarto, analisando sua mais nova aquisição: um par de botas plataforma de cor branca com renda preta por cima, cobrindo todo o sapato, com exceção dos saltos, que eram pretos. As botas batiam em seus joelhos e ficavam bem demais com o vestido que Chris dera de presente a Lou. Aquele seria seu mais novo conjunto favorito; botas e vestido. Jogando o cabelo de lado, Louisa pensou como seria se fizesse o mesmo penteado de Zya, mas gostava de seu cabelo daquele jeito. Cansada de se admirar no espelho, Louisa sentou-se na janela, observando o celeiro. Estava escuro nele, o que indicava que Zya não chegara ainda. Já era tarde e todas as fábricas estavam fechadas havia algumas horas.— Lou?Louisa se virou rapidamente ao ouvir a voz de Chris. Ele estava parado na soleira da porta, com os tornozelos e os braços cruzados e sorria para ela. Fazia alguns dias que Louisa não o via, pois Marco o proibiu de receber visitas
— Gen, tão cedo? Estava esperando pelo menos mais um mês. — Dizia Saul.— Não posso mais esperar. Alguma coisa vai acontecer aqui e não quero estar presente. Vi uns caras estranhos mais cedo, como se fossem um tipo de exército, mas eram diferentes...— Jenna me disse. Bom, não posso forçá-lo a esperar. Tome o máximo de cuidado que puder, e cuide de Aiden. Você é o mais velho.— Só alguns meses mais velho. — Genesis o interrompeu.— Que seja, mas é mais velho e mais responsável. Mantenha a cabeça dele no lugar e tente não meter vocês dois em besteira. Não estarei lá para ajudar.— Eu sei... Só queria avisar para que você deixasse alguém cuidando da minha mãe, como disse que faria, Saul.— Me chame de pai. Já está na hora de começar a me chamar assim, não acha?O estômago de Louisa afundou ao ouvir o que seu pai dissera. Lembrou-se de todas as vezes em que Saul brigou com Henrik por caçoar de Genesis pelas costas dizendo que ele ha
Henrik acordou com o som de seu celular vibrando em cima da mesa de cabeceira de Louisa. Já era dia, mas o quarto estava afundado na penumbra, com as cortinas fechadas. Pegou o celular e desligou a chamada sem sequer ver quem era e o colocou de volta na mesinha. Esfregou os olhos e se voltou à Lou, que ressonava tranquila ao seu lado com o lençol cobrindo até metade do rosto. Lembrou-se gradativamente de tudo que ela havia contado na noite anterior e de como Lou estava com o emocional em cacos, tendo acabado de descobrir que tinham um irmão fora do casamento e ter sido ameaçada de modo tão maldoso por seu próprio namorado. Seu celular voltou a vibrar, forçando-o a atender. Pegou-o e se levantou rápido da cama, tentando não acordar Louisa. Saiu do quarto e fechou a porta atrás de si, notando como a casa estava silenciosa.Atendendo a insistente chamada, Henrik fechou a mão livre em punho ao ouvir aquela voz tão conhecida.— Henrik?— Chris. O que você quer? — Henrik
O sol havia nascido faria um bom par de horas. O gosto amargo da noite insone se instalou em sua garganta e ameaçava jamais deixá-lo. Chris revirava o celular nas mãos frias, repassando em sua mente as palavras de Lou. Não acreditava que até mesmo sua amizade de infância com Henrik ela estragaria. Ao chegar em casa na noite anterior, alguns flashes do dia de seu acidente o acometeram; momentos de luz azul intensa, o rosto de Louisa ora desesperado, ora admirado, eletricidade intensa nos braços delicados dela e dor, muita dor.Tentava entender o que diabos havia acontecido, mas nada plausível vinha à mente. Após algumas horas, Chris começou a deixar o ceticismo de lado e pensar mais além, em coisas mais fantasiosas, porém nada o fazia chegar a lugar algum. Um sentimento inominável tomava conta dele, expandindo seu peito a ponto de doer fisicamente. Não conseguia chorar, mas a vontade estava ali, batendo em seus olhos com força. Rangia os dentes dolorosamente, sentado no c
Já era quase noite quando Zya decidiu dar um passeio por Sunfalls. Havia ido trabalhar naquele dia, falou com o supervisor da fábrica e ficou sabendo que estavam de fato procurando por alguém muito parecido com ele, mas que não achavam se tratar Zya, disse o supervisor, pois o cara das fotos não era exatamente igual a ele, e ele não entregaria ninguém sem ter certeza. Zya sentira-se agradecido pela boa vontade de seu chefe, que o dispensou mais cedo por conta da quantidade de trabalho que já havia realizado naquele dia. No meio da tarde, já se encontrava em casa.O dia estava propício para o tal passeio e ele não perdeu tempo; caminhou devagar pelas margens dos campos de girassóis até chegar ao penhasco onde terminava Sunfalls. Aquele lugar ficava cerca de meia hora da cidade, afastado dela. Era vazio, sem casas – dando para se imaginar o porquê não tinha uma casa sequer ali – e muito alto. Lá embaixo uma faixa de terra árida se estendia antes de acabar em uma mata de ár
Aiden olhava pela janela do trem, vendo a paisagem passar rapidamente como um borrão verde, marrom e eventualmente cinza. Onde estavam já não era mais tão ensolarado e quente, mas não haviam chegado em Ghonargon; estava há uma hora de lá ainda. Ele sabia que Ghonargon era longe, só não imaginava o quanto. Genesis ressonava no banco à frente, sentado meio largado com o capuz da blusa de moletom sobre a cabeça cobrindo metade do rosto. Antes de sair, Aiden e Genesis separaram as roupas mais grossas que tinham e as puseram nas bagagens de mão, pois seria estranho saírem de Sunfalls vestidos daquele jeito. Aiden vestia calças jeans escuras e botas de cano alto marrons, completando com uma blusa estilo militar preta e luvas de couro. Genesis vestia um conjunto de moletom azul escuro e tênis pretos, simples. O dia já estava no fim e duas horas atrás começaram a sentir o frio enregelar seus ossos e embaçar as janelas do trem. Vestiram-se e esperaram pacientemente a chegada à Ghonargon.&nbs
Aiden e Genesis pararam em frente a um prédio pequeno com um elevador de carga de cor chumbo e uma porta de madeira que dava para um hall pequeno. O prédio ficava em uma rua estreita e escura, com calçadas desniveladas e um ou outro buraco no asfalto da rua. Havia mais prédios ali, quase colados uns nos outros, com apenas becos pequenos separando-os. De ambos os lados, ruas um pouco maiores e mais movimentadas levavam até eles o som ininterrupto de veículos e vozes.— Vamos entrar. Nosso apartamento é o de número nove, no terceiro andar. — Indicou Genesis.— Você já deixou tudo certo em relação ao apartamento?— Sim. Bom, na noite anterior à nossa ida, Saul perguntou se eu queria dinheiro e eu recusei. Mas quando fui pegar as cartas na manhã da nossa partida, em meio a elas havia um envelope recheado de dinheiro, com o nome dele escrito. Usarei esse dinheiro para pagar alguns meses de aluguel. Temos bastante agora.— Então, com quem devemos falar