Aiden e Genesis pararam em frente a um prédio pequeno com um elevador de carga de cor chumbo e uma porta de madeira que dava para um hall pequeno. O prédio ficava em uma rua estreita e escura, com calçadas desniveladas e um ou outro buraco no asfalto da rua. Havia mais prédios ali, quase colados uns nos outros, com apenas becos pequenos separando-os. De ambos os lados, ruas um pouco maiores e mais movimentadas levavam até eles o som ininterrupto de veículos e vozes.
— Vamos entrar. Nosso apartamento é o de número nove, no terceiro andar. — Indicou Genesis.
— Você já deixou tudo certo em relação ao apartamento?
— Sim. Bom, na noite anterior à nossa ida, Saul perguntou se eu queria dinheiro e eu recusei. Mas quando fui pegar as cartas na manhã da nossa partida, em meio a elas havia um envelope recheado de dinheiro, com o nome dele escrito. Usarei esse dinheiro para pagar alguns meses de aluguel. Temos bastante agora.
— Então, com quem devemos falar
Saul esperava todos saírem da igreja, permanecendo em pé no púlpito vendo aquele pequeno aglomerado de pessoas andando para fora, conversando animadamente. Ele se orgulhava de deixar as pessoas esperançosas e animadas com suas missas. Em pouco tempo, Saul se encontrava sozinho ali dentro; com exceção de uma pequena pessoa de longos cabelos claros e enormes olhos azuis.Louisa.Saul desceu do púlpito sorrindo para ela, unindo as mãos em frente ao corpo. Lou torcia as mãos no colo – como sempre fazia quando estava ansiosa ou com algum problema – e não o olhava nos olhos.— Lou! Gostou da missa de hoje?— Ah, sim. Foi muito boa.— Você queria falar comigo, não era?— Sim, e isso faz três dias, na verdade. — Respondeu ela, hesitando.Saul passou as mãos no cabelo, culpando-se por ter esquecido que sua filha precisava dele.— Me perdoe. Andei com coisas demais na cabeça ultimamente. Ainda quer falar algo?Louisa se s
O calor no quarto a fez acordar mais cedo do que de costume. Samira se arrastou para fora da cama, resmungando orações repetidas vezes enquanto andava pela casa de pijama – branco com bolinhas pretas. Os cabelos escorridos cobriam seu rosto envelhecido precocemente, com rugas e linhas de expressão que não deveriam estar ali. Samira não tinha muito em mente, apenas contava os dias desde a partida de seu filho e sobrinho. Deixaram um bilhete sem emoção e dois quartos vazios.— Me abandonaram... — Sussurrou ela, sem expressão.Samira se fechou no banheiro e ligou a torneira da banheira, enchendo-a com água quente. A cabeça cheia de pensamentos desconexos latejava fortemente, piorando a cada instante e a cada coisa nova na qual Samira pensava. Fora largada por Saul e pelo próprio filho, que não pensou nela nem por um momento e se fora para algum lugar que Samira não conhecia, pois sequer fora avisada.A banheira transbordava, alagando aos poucos o chã
Willem permaneceu sentado à mesa do pequeno quarto de hotel durante todo o dia, amaldiçoando o calor excessivo e os malditos papéis que indicavam a péssima situação de sua divisão de polícia. Arrancou a gravata de seu pescoço, abrindo os primeiros botões da camisa branca. Se já era certo inferno usar roupas sociais naquele calor, Willem pensava no que seus policiais deveriam estar passando com a farda pesada. Compadeceu-se quando dois deles tiveram de ser hospitalizados por conta de insolação e desidratação. Mesmo que fossem resistentes, o calor de Sunfalls era inumano.Elya tinha o olhar distante para além do horizonte, com o rosto quase colado na janela. Ele sabia do nervosismo de Willem pela verba da divisão já chegando ao fim e pela recusa do Governo em renovar o contrato deles para que continuassem caçando aquelas pessoas.— Elya, temos dinheiro para dois meses de operação apenas. Não querem renovar nada, dizem que não está dando resultados de verdade essa nos
O dia fora bastante produtivo e ocupou boa parte dos pensamentos de Zya, que normalmente estavam voltados à Chris e no que havia feito com ele. Ficou sabendo que todos na cidade achavam que Chris estava desaparecido, que logo o encontrariam e com vida. Mas Zya sabia que jamais iriam achá-lo, a não ser que fizessem algum teste miraculoso no punhadinho de cinzas aos pés do penhasco, sendo levada pelo vento um pouco mais a cada dia.Zya teve de ficar responsável pela enorme prensa de metal naquele dia, apenas apertando botões e mexendo em alavancas, tendo seu rosto ligeiramente apertado pela máscara de proteção e sentindo o avental de lona pesar mais a cada minuto que se passava. Zya já tinha se acostumado ao calor ali dentro da fábrica e quando saía, não era acometido por um calor tão grande quanto o do dia em que chegou a Sunfalls. É claro que sentia falta de Ghonargon, mas Sunfalls era a sua casa naquele momento e teria de permanecer ali até segunda ordem. Tal certeza já
Jenna passeava pela rua segurando uma sacola grande com uma enorme variedade de canudos comestíveis para os sorvetes, indo para a sorveteria. Era demasiado cedo para ela a abrir ainda, mas gostava de deixar tudo organizado. Aquela manhã prometia mais um quente e demorado dia. Jenna prendeu os cabelos claros em um coque frouxo e optou vestir uma jardineira cor de salmão e uma camiseta fina branca por baixo, completando o visual com sapatilhas vermelhas e um lenço florido na cabeça. Jenna sorria, distraída, notando os detalhes do caminho; o céu que clareava rapidamente, a brisa fresca que soprava ininterrupta, o som de seus passos no chão de terra seca e a sacola tremulando em sua mão.Ela passava pela rua deserta quando avistou a casa de Samira na metade da rua. A casa era malcuidada, com a pintura descascando e os jardins da frente com plantas mortas e mato marrom cobrindo tudo. Algum dia os muros baixos abrigaram um portão igualmente baixo, que naquele momento tinha ape
Aiden acordou cedo, cerca de nove da manhã. Nos primeiros segundos após acordar, apenas absorveu aquele silêncio maravilhoso de quando se acaba de despertar, deitado na cama quente, olhando para a parede ao lado com os olhos semicerrados. E então, como uma explosão de sentidos, Aiden se assustou com o som ininterrupto do tráfego lá fora, de aviões passando com frequência e pessoas falando alto – dentro e fora do prédio. Estavam ali há mais de uma semana e Aiden sempre se assustava com todo aquele barulho pelas manhãs.Ele jogou os edredons para o lado e se arrependeu imediatamente: o frio ali era intenso. Seus músculos ficaram tensos com tal frio e Aiden desejou estar em Sunfalls. Porém logo se esqueceu do desejo e saiu da cama ansioso por se aventurar cidade afora mais uma vez, como vinha fazendo quase todos os dias. Escolheu suas roupas e pegou sua toalha e itens de higiene, saindo do quarto. Antes de entrar no banheiro, deu uma olhada em Genesis, que ainda dormia prof
— Nunca os vi por aqui. São novos na cidade? — Perguntou Herta, com a voz vacilando, típica de idosos.— Sim. Moramos naquela rua ali na frente.— Ah, no prédio do Zedd aposto.— A senhora o conhece?— Todos conhecem aquele demônio. Enfim, aqui está seus livros, jovem. Como se chama?— Aiden. E a senhora é Herta, não é? — Disse ele, apontando para o crachá.— Sim, isso mesmo.Aiden fitou uma plaquinha diminuta no balcão, a qual dizia que a livraria estava admitindo funcionários. Herta reparou que ele notou a placa e sorriu, remexendo as mãozinhas enrugadas. Ela parecia gostar de conversar com ele, coisa que fizeram por alguns minutos, jogando conversa fora sem pressa.— Olha, preciso de alguém que me ajude aqui, pois a livraria fica cheia durante metade da semana. Tem interesse, rapaz? -Perguntou ela, após ver que Aiden entendia muito bem de livros.Aiden olhou para Genesis, que ainda escolhia os liv
— Bem, antes de tudo quero que saiba que eu estava cuidando perfeitamente bem de Samira.Uma onda de choque gélido passou por seu corpo. Então era algum problema com sua mãe... Genesis deveria saber que algo a aconteceria. Como pôde ser tão idiota a ponto de achar que ela não se incomodaria com a mudança deles?— Conta agora. — Ordenou Genesis.— Ela... ela teve uma reação alérgica a alguma coisa que comeu e nós a encontramos... Gen, já era tarde demais. Tivemos de fazer o funeral rapidamente, não vou entrar em detalhes para não te assustar. Eu não fazia ideia de que ela tinha alergias.Genesis já não ouvia o que Saul dizia, apenas encarava o mundo lá fora, tão cinza e frio como o que ele sentia naquele momento. O ar que Gen respirava parecia não entrar em seus pulmões e uma dor no maxilar característica do choro o fez trincar os dentes. Um sentimento estranho o invadiu como se fosse, contraditoriamente, um enorme vazio que comprimia seus ór