Willem permaneceu sentado à mesa do pequeno quarto de hotel durante todo o dia, amaldiçoando o calor excessivo e os malditos papéis que indicavam a péssima situação de sua divisão de polícia. Arrancou a gravata de seu pescoço, abrindo os primeiros botões da camisa branca. Se já era certo inferno usar roupas sociais naquele calor, Willem pensava no que seus policiais deveriam estar passando com a farda pesada. Compadeceu-se quando dois deles tiveram de ser hospitalizados por conta de insolação e desidratação. Mesmo que fossem resistentes, o calor de Sunfalls era inumano.
Elya tinha o olhar distante para além do horizonte, com o rosto quase colado na janela. Ele sabia do nervosismo de Willem pela verba da divisão já chegando ao fim e pela recusa do Governo em renovar o contrato deles para que continuassem caçando aquelas pessoas.— Elya, temos dinheiro para dois meses de operação apenas. Não querem renovar nada, dizem que não está dando resultados de verdade essa nosO dia fora bastante produtivo e ocupou boa parte dos pensamentos de Zya, que normalmente estavam voltados à Chris e no que havia feito com ele. Ficou sabendo que todos na cidade achavam que Chris estava desaparecido, que logo o encontrariam e com vida. Mas Zya sabia que jamais iriam achá-lo, a não ser que fizessem algum teste miraculoso no punhadinho de cinzas aos pés do penhasco, sendo levada pelo vento um pouco mais a cada dia.Zya teve de ficar responsável pela enorme prensa de metal naquele dia, apenas apertando botões e mexendo em alavancas, tendo seu rosto ligeiramente apertado pela máscara de proteção e sentindo o avental de lona pesar mais a cada minuto que se passava. Zya já tinha se acostumado ao calor ali dentro da fábrica e quando saía, não era acometido por um calor tão grande quanto o do dia em que chegou a Sunfalls. É claro que sentia falta de Ghonargon, mas Sunfalls era a sua casa naquele momento e teria de permanecer ali até segunda ordem. Tal certeza já
Jenna passeava pela rua segurando uma sacola grande com uma enorme variedade de canudos comestíveis para os sorvetes, indo para a sorveteria. Era demasiado cedo para ela a abrir ainda, mas gostava de deixar tudo organizado. Aquela manhã prometia mais um quente e demorado dia. Jenna prendeu os cabelos claros em um coque frouxo e optou vestir uma jardineira cor de salmão e uma camiseta fina branca por baixo, completando o visual com sapatilhas vermelhas e um lenço florido na cabeça. Jenna sorria, distraída, notando os detalhes do caminho; o céu que clareava rapidamente, a brisa fresca que soprava ininterrupta, o som de seus passos no chão de terra seca e a sacola tremulando em sua mão.Ela passava pela rua deserta quando avistou a casa de Samira na metade da rua. A casa era malcuidada, com a pintura descascando e os jardins da frente com plantas mortas e mato marrom cobrindo tudo. Algum dia os muros baixos abrigaram um portão igualmente baixo, que naquele momento tinha ape
Aiden acordou cedo, cerca de nove da manhã. Nos primeiros segundos após acordar, apenas absorveu aquele silêncio maravilhoso de quando se acaba de despertar, deitado na cama quente, olhando para a parede ao lado com os olhos semicerrados. E então, como uma explosão de sentidos, Aiden se assustou com o som ininterrupto do tráfego lá fora, de aviões passando com frequência e pessoas falando alto – dentro e fora do prédio. Estavam ali há mais de uma semana e Aiden sempre se assustava com todo aquele barulho pelas manhãs.Ele jogou os edredons para o lado e se arrependeu imediatamente: o frio ali era intenso. Seus músculos ficaram tensos com tal frio e Aiden desejou estar em Sunfalls. Porém logo se esqueceu do desejo e saiu da cama ansioso por se aventurar cidade afora mais uma vez, como vinha fazendo quase todos os dias. Escolheu suas roupas e pegou sua toalha e itens de higiene, saindo do quarto. Antes de entrar no banheiro, deu uma olhada em Genesis, que ainda dormia prof
— Nunca os vi por aqui. São novos na cidade? — Perguntou Herta, com a voz vacilando, típica de idosos.— Sim. Moramos naquela rua ali na frente.— Ah, no prédio do Zedd aposto.— A senhora o conhece?— Todos conhecem aquele demônio. Enfim, aqui está seus livros, jovem. Como se chama?— Aiden. E a senhora é Herta, não é? — Disse ele, apontando para o crachá.— Sim, isso mesmo.Aiden fitou uma plaquinha diminuta no balcão, a qual dizia que a livraria estava admitindo funcionários. Herta reparou que ele notou a placa e sorriu, remexendo as mãozinhas enrugadas. Ela parecia gostar de conversar com ele, coisa que fizeram por alguns minutos, jogando conversa fora sem pressa.— Olha, preciso de alguém que me ajude aqui, pois a livraria fica cheia durante metade da semana. Tem interesse, rapaz? -Perguntou ela, após ver que Aiden entendia muito bem de livros.Aiden olhou para Genesis, que ainda escolhia os liv
— Bem, antes de tudo quero que saiba que eu estava cuidando perfeitamente bem de Samira.Uma onda de choque gélido passou por seu corpo. Então era algum problema com sua mãe... Genesis deveria saber que algo a aconteceria. Como pôde ser tão idiota a ponto de achar que ela não se incomodaria com a mudança deles?— Conta agora. — Ordenou Genesis.— Ela... ela teve uma reação alérgica a alguma coisa que comeu e nós a encontramos... Gen, já era tarde demais. Tivemos de fazer o funeral rapidamente, não vou entrar em detalhes para não te assustar. Eu não fazia ideia de que ela tinha alergias.Genesis já não ouvia o que Saul dizia, apenas encarava o mundo lá fora, tão cinza e frio como o que ele sentia naquele momento. O ar que Gen respirava parecia não entrar em seus pulmões e uma dor no maxilar característica do choro o fez trincar os dentes. Um sentimento estranho o invadiu como se fosse, contraditoriamente, um enorme vazio que comprimia seus ór
Sentada no seu lugar preferido de toda Sunfalls, o muro dos fundos do cemitério, Louisa comia um bolinho recheado que Henrik havia feito; sua primeira aventura que deu certo na cozinha. Ela colocou alguns em um potinho e decidiu que andaria por todos os lugares que mais gostava na cidade antes de arrumar as malas e dar o fora. Já havia ido ao penhasco, à arquibancada da escola onde costumava ver Henrik jogar lacrosse e agora estava ali, e estes eram todos os lugares que Louisa mais gostava.Quando soube que sua mãe achou o corpo de Samira no banheiro de sua casa, ela sentiu o horror tomar conta de seu ser, triste por sua mãe ter visto algo daquele tipo. Jenna sempre fora delicada e sensível demais e ter tido aquela experiência certamente a perturbou muito. Desde então, dois dias atrás, Jenna não saia do quarto e Saul só saia de casa para dar as missas. Pela manhã, ele deu a ela o endereço de Genesis em Ghonargon e disse que ela e Henrik poderiam procurá-los caso não consegu
Willem pesquisava nos arquivos policiais digitais de Ghonargon havia horas à procura de mais informações que pudessem levá-los adiante.Que pudessem fazê-los manter seus empregos.As buscas infrutíferas o faziam ficar cada vez mais frustrado e inúmeras vezes Willem desejou ter jogado seu notebook pela janela do hotel, que era outro problema; dizer que era um hotel de quinta categoria seria um elogio. A comida era horrível, os quartos pareciam ser limpos apenas uma vez por semana, a água tinha cheiro de ferrugem e ele podia jurar que ouvia dezenas de insetos andando pelo quarto à noite.Willem ainda vestia as roupas sociais do dia anterior, estampando no rosto olheiras terríveis e barba por fazer. Ainda tinha cravada no coração a sensação de que deixara passar algo importante, algo que faria a situação dar uma guinada para frente. Willem fechou tudo o que estava fazendo no notebook e encarou o plano de fundo, uma foto de seus policiais em formação com El
Henrik estava apreensivo; algo terrível iria acontecer e ele podia sentir. Era quase palpável a maldita sensação no ar. No dia seguinte finalmente iria se mudar junto de Louisa e Zya e o medo de que algo desse erado era grande. Henrik achara bom ele ir junto, afinal Zya conhecia bem a cidade para a qual iam.Seu quarto estava pronto para ser deixado; os guarda roupas vazios e as malas cheias, tudo limpo e sem vida. Henrik sentiria falta daquele lugar. Duas batidas baixas na porta o fizeram deixar de divagar. Ele a abriu e viu Louisa parada ali, de pijamas de calor cor de rosa. Ela entrou no quarto sem esperar Henrik abrir totalmente a porta e se sentou na cama dele, mordiscando os lábios, claramente nervosa. Henrik fechou a porta e sentou no chão em frente a ela.— Henrik, estou com medo de amanhã. — Confessou, de olhos bem abertos e brilhantes.— Eu também, mas não há o que temer. Aliás, esqueci de te falar: vamos à noite. Assim chegamos lá um pouco antes do