— Alice?
— Do País das Maravilhas.
— Por conta do cabelo claro e a estatura medíocre? — Ela riu.
— Não só fisicamente, mas sua curiosidade também, que consegue se exceder à dela. E sua estatura não é medíocre, eu gosto assim.
— Já me disseram que pareço com ela, mas nunca criticaram tanto minha curiosidade. — Respondeu Louisa, rabugenta.
— Não fique brava, só não sou do tipo “livro aberto”. Gosto de guardar para mim algumas coisas.
— Imagino como deve ser conviver com você, como namorar ou morar na mesma casa sem poder perguntar nada.
Louisa ergueu o queixo, confrontando-o petulantemente. Zya sorria largamente, divertindo-se com as reações de Lou às suas restrições.
— Quer dizer que já imaginou como seria namorar comigo?
Lou sabia que ele iria dizer algo do tipo; estava aprendendo rápido como lidar com Zya e o que esperar dele. Ou pelo menos era o que ela pensava.
— Clar
Chris voltava à consciência aos poucos, começando por escutar os sons ao seu redor; um bip insistente de alguma coisa bem perto de sua cabeça, uma respiração pesada e masculina. E mais nada. Com estas exceções, um silêncio pesado reinava ali, onde quer que ele estivesse. Espalmando as mãos, Chris sentiu um colchão macio e lençóis esticados e arrumados abaixo de si. Sentiu estar coberto até a cintura e algo cobrindo a pele do peito. Chris notava que sua boca estava seca e a garganta arranhando, dolorida. O corpo todo parecia travado e tenso, louco para se movimentar nem que por um segundo apenas. Ao abrir os olhos, percebeu que estava em um quarto afundado na penumbra, com mobília branca – assim como qualquer outra coisa ali. Chris percebia que não conseguia focalizar nada ainda, e sua visão se encontrava embaçada.Uma torrente de sensações o invadiu, confundindo-o. Medo, fome, agitação, dor – muita dor – e coisas que ele sequer sabia dizer direito o que eram. Aquele bip
Genesis saía da loja de conveniências do único posto de gasolina de Sunfalls com uma pequena sacola nas mãos, contendo dois lanches naturais que Aiden e ele gostavam de comer. Gen arrastava os pés calçados com botas camufladas pela entrada de asfalto do posto de gasolina, sem pressa alguma para chegar em casa. Colocou novamente os fones de ouvido e aumentou o volume no celular, optando por sua banda preferida, Blue Stahli. Tirou os óculos escuros estilo aviador do bolso da calça cargo e os colocou no rosto, acostumado a usá-lo o dia todo por conta do clima de Sunfalls.Seguiu pelo acostamento da estrada tranquilamente. O posto ficava cerca de vinte minutos de sua casa, um pouco afastado de tudo. Observava a extensa estrada à sua frente, dando graças à Deus por não ter de segui-la por mais de dois quilômetros apenas. Genesis podia ver parte da cidade de onde estava, tranquila e tremulante com o calor que subia do asfalto fervente.Genesis pensava nas coisas que Saul
Checando as fichas de procurados enquanto o carro ganhava a estrada rapidamente, Elya riscava os possíveis lugares para onde cada um deles poderia ter fugido, trocava de pasta os que já haviam sido pegos e incluía novos procurados e suas informações.— Estou receoso de não achar nem metade destes que procuramos. — Disse Elya.Seu parceiro ao volante, Willem, mantinha os olhos azuis cravados na estrada longa, atento.— Vamos achar todos, Elya. Não se preocupe demais ou perderá todas essas lindas madeixas castanhas e ficará como eu, tão careca que se pode ver até o que se passa na minha cabeça. — Brincou Willem.Elya riu sem som, com a cabeça baixa, ainda focado nas fichas. Estavam cercados pelos demais carros contendo o resto dos homens. Levantando os olhos negros, Elya vasculhou o horizonte, constatando que não havia muita coisa ali.— Que fim de mundo é esse...— O lugar perfeito para eles se esconderem, meu caro. — Comentou Wil
Zya aproveitava cada segundo do seu horário de almoço, sentado em um canto da parte de trás da fábrica. Comia um pesado sanduíche com uma variedade enorme de recheio, pensativamente. Estava na metade do seu expediente de trabalho, que não era tão ruim assim; era um trabalho árduo, claro, e aquela fábrica era horrivelmente quente, mas ocupava sua mente. Zya sentia uma vontade grande de arregaçar as mangas da blusa, mas não queria deixar à mostra seus braços. Prendeu seus dreadlocks com uma fita grossa de couro para que não sujassem. O barulho ali era alto demais a ponto de deixá-lo surdo e tonto. Sons de prensas batendo em metal, soldas trabalhando e homens falando alto demais reverberavam por toda a fábrica. Ele não se acostumara com tudo aquilo ainda, mas se sentia um pouco mais familiarizado a cada minuto que se passava.Terminou de comer e cruzou a fábrica até o banheiro, que estava vazio. Para um lugar com centenas de operários imundos, o banheiro era bem limpo; tinh
Louisa se olhava no espelho de corpo inteiro em seu quarto, analisando sua mais nova aquisição: um par de botas plataforma de cor branca com renda preta por cima, cobrindo todo o sapato, com exceção dos saltos, que eram pretos. As botas batiam em seus joelhos e ficavam bem demais com o vestido que Chris dera de presente a Lou. Aquele seria seu mais novo conjunto favorito; botas e vestido. Jogando o cabelo de lado, Louisa pensou como seria se fizesse o mesmo penteado de Zya, mas gostava de seu cabelo daquele jeito. Cansada de se admirar no espelho, Louisa sentou-se na janela, observando o celeiro. Estava escuro nele, o que indicava que Zya não chegara ainda. Já era tarde e todas as fábricas estavam fechadas havia algumas horas.— Lou?Louisa se virou rapidamente ao ouvir a voz de Chris. Ele estava parado na soleira da porta, com os tornozelos e os braços cruzados e sorria para ela. Fazia alguns dias que Louisa não o via, pois Marco o proibiu de receber visitas
— Gen, tão cedo? Estava esperando pelo menos mais um mês. — Dizia Saul.— Não posso mais esperar. Alguma coisa vai acontecer aqui e não quero estar presente. Vi uns caras estranhos mais cedo, como se fossem um tipo de exército, mas eram diferentes...— Jenna me disse. Bom, não posso forçá-lo a esperar. Tome o máximo de cuidado que puder, e cuide de Aiden. Você é o mais velho.— Só alguns meses mais velho. — Genesis o interrompeu.— Que seja, mas é mais velho e mais responsável. Mantenha a cabeça dele no lugar e tente não meter vocês dois em besteira. Não estarei lá para ajudar.— Eu sei... Só queria avisar para que você deixasse alguém cuidando da minha mãe, como disse que faria, Saul.— Me chame de pai. Já está na hora de começar a me chamar assim, não acha?O estômago de Louisa afundou ao ouvir o que seu pai dissera. Lembrou-se de todas as vezes em que Saul brigou com Henrik por caçoar de Genesis pelas costas dizendo que ele ha
Henrik acordou com o som de seu celular vibrando em cima da mesa de cabeceira de Louisa. Já era dia, mas o quarto estava afundado na penumbra, com as cortinas fechadas. Pegou o celular e desligou a chamada sem sequer ver quem era e o colocou de volta na mesinha. Esfregou os olhos e se voltou à Lou, que ressonava tranquila ao seu lado com o lençol cobrindo até metade do rosto. Lembrou-se gradativamente de tudo que ela havia contado na noite anterior e de como Lou estava com o emocional em cacos, tendo acabado de descobrir que tinham um irmão fora do casamento e ter sido ameaçada de modo tão maldoso por seu próprio namorado. Seu celular voltou a vibrar, forçando-o a atender. Pegou-o e se levantou rápido da cama, tentando não acordar Louisa. Saiu do quarto e fechou a porta atrás de si, notando como a casa estava silenciosa.Atendendo a insistente chamada, Henrik fechou a mão livre em punho ao ouvir aquela voz tão conhecida.— Henrik?— Chris. O que você quer? — Henrik
O sol havia nascido faria um bom par de horas. O gosto amargo da noite insone se instalou em sua garganta e ameaçava jamais deixá-lo. Chris revirava o celular nas mãos frias, repassando em sua mente as palavras de Lou. Não acreditava que até mesmo sua amizade de infância com Henrik ela estragaria. Ao chegar em casa na noite anterior, alguns flashes do dia de seu acidente o acometeram; momentos de luz azul intensa, o rosto de Louisa ora desesperado, ora admirado, eletricidade intensa nos braços delicados dela e dor, muita dor.Tentava entender o que diabos havia acontecido, mas nada plausível vinha à mente. Após algumas horas, Chris começou a deixar o ceticismo de lado e pensar mais além, em coisas mais fantasiosas, porém nada o fazia chegar a lugar algum. Um sentimento inominável tomava conta dele, expandindo seu peito a ponto de doer fisicamente. Não conseguia chorar, mas a vontade estava ali, batendo em seus olhos com força. Rangia os dentes dolorosamente, sentado no c