— Meus parabéns, você tomou a decisão certa. Apenas assine os papéis e deixe que cuidemos do resto. — Fábio disse, oferecendo a caneta para ela.
— Eu não tenho certeza do que estou fazendo, mas se isso for ajudar minha filha a ficar bem, não me importo com mais nada. — Disse, assinando os papéis.— A partir de agora, vocês estão oficialmente casados. Amanhã, agendaremos uma sessão de fotos para tornar a situação mais realista.— Eu não posso deixar minha filha aqui sozinha.
— Eu já disse que alguém irá ficar com ela. — Théo disse impaciente. — Para tudo na vida é preciso um sacrifício, se você quiser mesmo o bem de sua filha, irá fazer tudo o que o Fábio te disser. Agora, eu vou indo para casa, tenho mais o que fazer, meu dia já foi muito estressante.Saindo dali, sem dizer mais nenhuma palavra, Théo deixou Maia e Fábio sozinhos.— Senhora, sei que tudo que está acontecendo é muito para ser processado rapidamente, mas olhe pelo lado bom, sua filha irá ficar bem. Sei que o Théo parece meio rude, mas ele está tendo um mau dia. Depois que vocês tirarem as fotos do casamento, não irão se ver com tanta frequência e você poderá ficar com a sua filha. Ele só precisará de você, quando Joaquim Campos, o avô dele, chegar.— E se o avô dele descobrir que isso é uma farsa e acabar me colocando na cadeia? — Perguntou temerosa.— Isso não irá acontecer, não se preocupe. Mas tente ser o mais realista possível. Agora, tente descansar um pouco, amanhã bem cedo, vou te buscar. Como irão tirar fotos, preciso que esteja bem apresentável. Então, marcarei um salão para você e tratarei de arrumar uma roupa adequada para a ocasião.— A pessoa que irá ficar com minha filha é de confiança? — Preocupou-se.— Será uma enfermeira, muito bem qualificada, não se preocupe.— O senhor consegue entender um pouco da minha angústia? Minha filha tem apenas dois anos, está num hospital entre a vida e a morte, e quando acordar encontrará uma estranha ao seu lado, ao invés de sua mãe. Eu não posso descansar desse jeito.— Eu te entendo, mas pense que isso é apenas uma fase, logo ela estará bem, e você estará proporcionando a ela uma boa qualidade de vida.Maia respirou fundo. Angustiada, seu coração resistia fortemente, sabia que se passasse mal ali, sua filha ficaria desamparada.— Tudo bem, quando ela será transferida?— Neste exato momento, há uma ambulância lá fora te aguardando.— Certo, amanhã nos vemos então.— A acompanhante de sua filha já vai estar lá fora. Por que não aproveita e vai para casa descansar? Amanhã será um longo dia.— Eu não vou conseguir pregar o olho esta noite, nem aqui, nem em casa.— Não é querendo te pressionar, mas amanhã você precisa estar aparentemente bem. O Théo não ficará de bom humor, se algo der errado.— Prometo que não irei decepcioná-lo.Saindo dali, Maia acompanhou a equipe médica que fazia a transferência de sua filha, e logo chegaram num hospital particular, que ela só conhecia por nome até aquele momento, pois jamais teria condições de pagar qualquer tratamento ali.— Boa noite, senhora, me chamo Júlia. Sou a enfermeira encarregada para cuidar de sua filha, Lis. — Uma mulher de aparentemente 40 anos entrou na sala, onde Maia estava com a filha.— Boa noite, eu sou Maia, não precisa me chamar de senhora, por favor.— Tudo bem, Maia. Eu já li todo o relatório sobre a ficha médica de sua filha, não se preocupe, cuidarei muito bem dela.— Obrigada, eu vou te passar meu número, assim, você pode me manter atualizada, enquanto eu não estiver por aqui.— Tudo bem, acredito que seu dia foi muito corrido hoje, pode descansar, que ficarei ao lado dela.[…]Às cinco da manhã, Fábio havia mandado alguém buscar Maia no hospital. Ela foi levada a um salão de beleza, onde cuidaram de suas unhas, cabelo e pele. Também fizeram depilação, sobrancelha, massagem e uma maquiagem perfeita, que realçou a mulher escondida há algum tempo dentro dela.Ela parecia outra mulher.
Maia era jovem e muito bonita, mas os problemas que foram aparecendo em sua vida deixaram que ela descuidasse de si, já que todo o seu foco foi transferido para a saúde da filha e na sobrevivência das duas.Era quase uma da tarde, e estava praticamente pronta, quando seu telefone tocou. Quando viu o nome na tela, tremeu de raiva. Seu ex, Tiago, estava lhe ligando.— Fala — atendeu nervosa.— Vi suas chamadas perdidas aqui agora, o que queria com tanta insistência?— Você só viu agora? Eu não acredito nisso.— Fala logo Maia, eu estou ocupado.— A Lis passou mal ontem e dessa vez, foi muito sério. Ela passará por uma cirurgia no coração, você precisa ir vê-la.— Mas você já está com ela, por que preciso ir até aí também?— Eu não estou com ela, por isso estou te pedindo para ir até lá. Vou te passar o endereço do hospital.— Como assim não está com ela? Está me dizendo que deixou a menina sozinha no hospital? Que tipo de mãe é você? — Tiago alterou seu tom de voz.— Estou correndo atrás do dinheiro das despesas médicas. Se esqueceu de que faz mais de cinco meses que você não paga a pensão?— Você sabe, que estou desempregado por esses dias, e o que ganho é muito pouco.— Eu também ganho uma miséria, mesmo assim, faço das tripas, coração, pela Lis. Já estou cansada de sua irresponsabilidade, você não imagina as coisas que estou passando, tendo que arcar com tudo sozinha, já que nem para ser um pai presente você presta!— Não começa, Maia, você até ganha uma ajuda do governo para cuidar dela, então não venha me cobrar.— Estou te avisando, Tiago. Ou você dá um jeito de mandar o dinheiro atrasado da pensão, ou vou te denunciar na polícia. Você sabe que pode ser preso, não sabe?— Você não é nem louca de fazer isso, se eu for preso, aí, sim, que não vou poder conseguir dinheiro. Então, fica quietinha do jeito que está.— Você vai até o hospital, ou não? — Mudou de assunto, sabendo que aquela conversa era uma perda de tempo.— Não posso, tenho uma entrevista de emprego agora à tarde.— Tiago, nossa filha não está bem, e você não vai vê-la?— Você acabou de me ameaçar, dizendo que, se eu não pagar a pensão, irei preso, então preciso procurar um emprego, não percebe?— Fica com ela, pelo menos no dia da cirurgia. Ela precisará de um de nós ao seu lado.— E você não pode estar lá por quê? O que você está fazendo? O que é mais importante que a Lis?— Eu já disse que estou tentando arrumar dinheiro para a cirurgia dela, sabe pelo menos quanto custa?— Eu não sei, mas se você não pode ficar do lado dela, quando ela mais precisa, você é uma péssima mãe. Cadê aquele discurso que você vivia dando, dizendo que ela era a coisa mais importante de sua vida? Como que, no momento tão crítico como esse, você a deixa sozinha no hospital?— Você não sabe o que está dizendo, seu canalha. A Lis realmente é meu bem mais precioso, e é por ela que estou me sacrificando, para poder arcar com tudo, enquanto você fica livre e não vai vê-la. Quer saber? Cansei disso, nem sei por que ainda resolvo te ligar, você é um péssimo homem, e como pai, você conseguiu se sair pior ainda.Desligando o telefone na cara do ex, Maia tremia de raiva.Como aquele canalha teve coragem de dizer que ela era uma péssima mãe? Se ele soubesse, o que ela estava tendo que se submeter, só para auxiliar a filha, não a criticaria.
— Maia, você precisa se vestir, daqui a pouco, virão te buscar. — Uma das funcionárias do salão, que cuidava dela, disse.— Tudo bem. — Enxugou uma lágrima solitária que queria descer de seus olhos.Vestida num vestido branco, para um casamento no civil, ela estava deslumbrante. Era como se houvesse outra mulher ali, em frente ao espelho.— Há um carro te esperando lá fora. — A maquiadora disse, após terminar os retoques finais. — Aproveite seu dia, que seu casamento seja muito feliz e próspero.— Tudo bem, muito obrigada. — respondeu tímida.As pessoas que estavam ali não sabiam da sua história e nem com quem ela estava se casando. Tudo era mantido em sigilo total.Saiu do salão e andou em direção ao carro que a aguardava. Fábio Souza estava parado em pé, ao lado do carro, falando ao telefone. Ao vê-la, não pôde esconder sua cara de surpresa. Pensou que trocaram Maia por outra pessoa.
— Maia? — Perguntou, sem tirar o semblante de surpresa do rosto.— Sim, o que houve?— Nada — se recompôs. — Se já está pronta, é melhor irmos.Entraram no carro e foram para o estúdio de fotos. Quando chegaram lá, Théo ainda não havia chegado, e então tiveram que esperar por ele, uns quarenta minutos. Até que ele apareceu.Quando Théo chegou, avistou Fábio mexendo em seu celular, sentado numa cadeira na recepção.— Já cheguei Fábio, me atrasei porque meu avô me ligou agora a pouco e disse que já está chegando amanhã.
— Amanhã? — Fábio ficou surpreso. — Então temos menos de vinte e quatro horas, para decorarmos todo um roteiro dessa história toda. — Disse preocupado.
— Cadê aquela mulher? — Théo olhava em volta, mas só via uma moça de cabelos dourados sentada próximo ao corredor. — Não me diga que ela retrocedeu! — Insinuou, nervoso.— Claro que não, olha-a ali. — Apontou para a mulher de cabelos dourados, que usava um vestido elegantíssimo.— Aquela é a minha esposa? — Théo perguntou, surpreso e de boca aberta.Com a boca ainda aberta por estar surpreso, percebeu que Maia notou a sua presença naquele lugar, então ela largou o telefone e veio na direção dele.— Boa tarde, senhor. — O saudou educadamente.Ela havia decidido em sua cabeça que não iria falar nada que pudesse contrariá-lo, para que tudo ocorresse de forma rápida. Assim, poderia retornar para o hospital e ficar ao lado da filha.— Boa tarde… — Théo piscou algumas vezes, até se recompor. — Vejo que um bom banho não faz mal a ninguém, hein? — Disse, dirigindo o olhar para Fábio, com tom de deboche.Por mais que Maia houvesse entendido a indireta, preferiu não falar nada, e fingir-se desentendida de tudo.— Se os dois estiverem prontos, vamos logo fazer as fotos. Temos pouco tempo. — Fábio disse, tentando reverter a situação. — Por favor, lá dentro, se comportem como um casal recém-casado. Vocês não precisam se beijar ou coisa assim, mas tentem passar um ar de intimidade nas fotos, proponho fingir que esse é o primeiro teste. Se conse
Quando chegaram à mansão onde Théo morava, Maia quase desmaiou, apreciando o tamanho e o luxo do lugar. Ela não podia acreditar que aquele homem morava sozinho, num lugar que parecia mais um castelo.A desigualdade social a deixou até sem graça, era tão injusto uns com tanto, e outros sem nada.Na garagem onde Fábio parou o carro, havia mais quatro carros estacionados, e não eram carros comuns, e sim luxuosos, do tipo que ela só via pela televisão.— Há mais pessoas morando na casa com ele? — Perguntou, desconfiada.— Não, por quê? — Fábio a questionou, descendo do carro.— É que tem tantos carros estacionados aqui.— Ah, esses são todos do Théo, ele gosta muito de carros esportivos.— Esses carros são todos dele? — Sua boca não conseguia fechar de surpresa.— Isso mesmo, mas falta um, porém você já o viu, é o que você colidiu, que, por azar, é o mais caro da coleção.Maia engoliu seco.— Por que ele tem tantos carros? Aposto que nem deve usá-los.— Bem, quando dá na teia, ele resolve
Não era de se negar que Maia era uma mulher bonita, mas os problemas da vida a fizeram perder todo o brilho.Cabelos lisos longos, que agora estavam iluminados, quase loiros. Seus olhos tinham uma cor âmbar. Era alta e tinha seios fartos.Quando se olhou no espelho, ao sair do salão, percebeu que ainda havia uma mulher atraente debaixo de toda aquela vida corrida e cansada, ela só não sabia que iria vê-la, tão cedo assim.Agora, em frente a Théo Campos, que segurava seu queixo, a olhando com seus olhos negros, queimando até a sua alma, se lembrou de que ainda podia ser uma mulher atraente e, mesmo que não quisesse assumir, receber um elogio fez seu coração palpitar.Há quanto tempo não ouvia um elogio? Quanto tempo um homem não a olhava daquele modo?Seus pensamentos foram tirados, quando Théo soltou seu queixo e se afastou, continuando a falar. — Confesso que, pela primeira impressão que tive de você, não esperava tudo isso. Mas após te ver assim, toda produzida, reforcei meu pensame
O trajeto até o hospital foi feito em silêncio, mas mesmo que quisesse, Maia não conseguiria abrir a boca em nenhum momento, já que a pobre coitada segurava onde podia, para não deixar que a alma saísse do corpo. Théo via a cara de assustada que ela fazia e acelerava o carro com gosto, só para assustá-la de propósito. Assim, ela jamais ousaria pedir carona novamente.Quando chegou no hospital, tentou arrumar o cabelo do jeito que conseguia. Já que Théo havia escolhido um conversível aberto, para levá-la até lá.— Obrigada, eu prometo que estarei em sua casa, bem cedo. — Disse agradecendo, e saindo correndo. Mesmo que ele tenha feito tudo aquilo para provocá-la, demonstrando que não queria vir, ela chegou ao hospital em menos de 15 minutos, coisa que, se fosse esperar por um táxi, demoraria mais de uma hora.Entrando no hospital, procurou por informações da filha e onde ela estaria. Chegando no quarto onde Lis estava, viu seus olhinhos pretos se alegrando, por vê-la.— Meu amorzinho, a
Maia não sabia o que era pregar os olhos, nem por um minuto. A todo o momento, esperava notícias de Júlia, e também pensava se devia desmentir para o ex, sobre seu relacionamento.Estava com medo de que Tiago, que agora sabia de seu casamento, fizesse alguma chantagem. Por isso, pensava que ele jamais deveria descobrir quem era Théo Campos, e nem as condições financeiras que ele possuía.Tiago, apesar de ter apenas 26 anos, era esperto, para conseguir um dinheiro fácil. Lógico que, quando o conheceu, Maia não tinha nenhuma ideia das atitudes do marido. Com o tempo, percebeu que ele gostava de se apropriar do que não era seu, e se tivesse alguma oportunidade de poder ganhar dinheiro, sem precisar trabalhar, ele estava em cima, sem pensar duas vezes.As horas passavam depressa, e nenhuma novidade sobre a filha havia chegado. Eram seis e meia da manhã, quando uma mulher chegou, batendo à porta do seu quarto, carregando uma maleta.— Olá, senhora Maia, bom dia, eu sou Geyse, sua maquiadora
O clima na mesa do café da manhã estava estranho. Ninguém podia negar que Maia era o centro das atenções, já que todos, hora ou outra, lhe lançavam olhares mortais de soslaio. A coitada só não saiu dali correndo naquele momento, por conta da pressão e ameaça que Théo havia lhe feito antes.— Acredito que, como tenham chegado de viagem hoje, irão tirar o dia para descansar, não é mesmo? — Théo perguntava ao casal, que estava na mesa.— Bem, não estamos tão cansados assim, mas iremos descansar aqui. Entretanto, estamos muito empolgados para conhecer a cidade. — Tenho certeza de que irão amar, espero que se divirtam muito.— Você os levará! — Disse Joaquim. — O quê? — Isso mesmo que ouviu, enquanto eles estiverem aqui, quero que os leve para conhecer a cidade.— Vovô, eu não quero parecer desrespeitoso, mas o senhor sabe que sou um homem muito ocupado.— Não se preocupe com isso, eu já liguei para a empresa e fiquei sabendo que você não tem nenhum compromisso importante por esses dias,
— Olha, sei que não posso pedir algo no momento, mas podemos encontrar seu advogado no hospital? Seria até mais fácil.— Por quê? Théo sabia o porquê, mas gostava de ver Maia implorando, já que sempre gostava de ver o quanto as pessoas dependiam dele.— Minha filha saiu da cirurgia agora a pouco, queria muito vê-la, por favor.— Não estou interessado. — respondeu curtamente.Fazendo com que ela o olhasse, mostrando o quão indignada estava. Ele também não conseguia entender, mas o jeito com que ela o olhava indignada acabava lhe agradando.— Por favor, não vou demorar.Ficou em silêncio, ao dirigir. Estava indo em direção ao hospital, mas fingia que não, pois era bom ver a cara de tortura que Maia fazia. Não havia motivos para querer lhe fazer mal, pois o único erro dela foi estar no lugar e hora errada. Entretanto, o modo como ele foi criado, com todos em volta fazendo as suas vontades, sempre queria arrumar alguém em que colocasse a culpa, quando era contrariado.— Por favor, eu te
— Já terminei com minha filha, se quiser conversar agora, estou disponível. — Maia disse, vendo que não poderia escapar daquela situação.— Claro. — Fábio pigarreou e a olhou meio desconfiado, temendo que ela tirasse conclusões erradas do que viu. — Vocês precisam ser mais realistas, entenderam? Acredito que se demonstrarem afeto, na frente da família Trajano, eles verão que não podem mais tentar nada, e irão se dar por vencidos.— Eu não estou entendendo, como assim demonstrar afeto? — Questionou nervosa. — Combinamos que não haveria contato físico.— E não haverá, mas tentem estar mais próximos um do outro, tentem ser cúmplices.Eles discutiam, até o telefone de Théo começou a tocar insistentemente. Era o avô.— O que foi, vô?— Venha para casa agora.Dizendo isso, Joaquim desligou o telefone.— Preciso ir para casa, meu avô deve estar aprontando alguma coisa, depois conversamos, vamos Maia.Deu ordens, nervoso, e saiu dali, indo para casa.Quando chegou, estranhou o silêncio no luga