— O quê? Que absurdo é esse? — A coitada não acreditava no que acabava de ouvir.
— É isso mesmo que acabou de escutar. Se quiser salvar a vida de sua filha, apenas, case-se comigo.— Isso é alguma piada de mau gosto? Por que estão brincando comigo?— Não é nenhuma brincadeira, senhora Maia. — Fábio começou a falar, vendo que Théo poderia assustar mais a mulher. — O senhor Théo precisa de uma esposa, mas é apenas no papel, entendeu? Não será um casamento real e terá um tempo estipulado para acabar. Será apenas um acordo, assinado entre ambos. Se a senhora aceitar, o Théo se compromete a arcar com os custos da operação de sua filha e de todos os gastos pós-operatórios.— Isso não me parece nada bom, por que eu?— Porque você me deve! — Théo respondeu, curto e grosso.— Mas eu disse que irei pagar o senhor pelos danos do seu carro, eu só não estou podendo conversar sobre isso no momento, por isso, te peço um pouco de paciência.— Eu não tenho tempo. Meu carro é novo e importado, acha que o comprei para deixá-lo encostado numa oficina? Aceite esse acordo, ou me pague agora mesmo, o que me deve!— E quanto é que devo para o senhor? — Perguntou, atordoada, não sabia como arranjaria o dinheiro, mas devia ter noção de quanto deveria arrumar.— Aqui está. — Fábio entregou um papel com o orçamento do conserto do carro.Quando Maia viu aquele tanto de zeros à direita, quase caiu de costas. Ela até levou a mão à boca, para não ter um ataque de pânico.— Isso é impossível, foi apenas um farol quebrado.— Senhora, o carro do meu cliente não é um carro comum. No nosso país, esse modelo custa mais de seis milhões de reais. Tem noção de quanto custa uma peça original? Além disso, mesmo que tenha sido apenas um farol, eles só vendem o par.— Eu não tenho condições de pagar um valor desses, nem se eu trabalhasse minha vida inteira, eu conseguiria arcar com este custo.— Olha. — Théo falou pacientemente. — Se fosse apenas o farol, eu até poderia deixar passar, por entender a sua situação, mas meu carro ficou um pouco amassado e com a pintura danificada, terei que pintá-lo outra vez. — Fingia estar se solidarizando com a mulher, mas, na verdade, só queria manipulá-la.— Eu não acredito. — Maia sussurrava.— Estou te dando uma oportunidade de quitar sua dívida. Preciso de uma esposa de mentira, por alguns meses. Você só precisará entrar no personagem e me ajudar. Se olhar bem, quem mais ganha com tudo isso é você. Sua filha estará fora de perigo, terá um lugar decente para morar, e se, se sair bem, quando isso terminar, posso até te dar uma quantia considerável para recomeçar sua vida.Maia parecia tentada com a proposta. Sabia que poderia estar entrando na pior roubada de sua vida, mas o que estava em jogo ali era a saúde da filha. Jamais conseguiria, por conta própria, o dinheiro para a operação, e se fosse esperar por ajuda do governo, sua filha poderia morrer. Ainda mais, havia a dívida que acabou fazendo, sem querer. Seria impossível arrecadar o valor do conserto do carro, nem que trabalhasse simultaneamente em três empregos, ainda por cima, estava desempregada.— O que tenho que fazer? — Olhou para os dois homens, decidida a se sacrificar pela vida da filha.Théo sorriu, vendo que conseguiria o que queria.— Primeira coisa, deve assinar esses papéis que estão aqui. — Disse Fábio. — Iremos transferir sua filha imediatamente para um bom hospital, para ter todo o suporte médico.Ela pegou os papéis que o homem mostrou e leu cuidadosamente. Estava muito assustada por ver que eles tinham todos os seus dados pessoais.— Como vocês conseguiram saber disso tudo, em tão pouco tempo? — Perguntou incrédula.— Ao ter dinheiro, é fácil conseguir o que quer. — Théo respondeu convencido.Ela engoliu em seco. Sabia que estava sendo comprada por aquele homem, mas não via outra alternativa. Cada segundo contava para salvar a vida de Lis, então assinou cada página, sentindo como se estivesse vendendo sua alma.— Pronto, e agora? — Perguntava com medo do que viria em seguida.— É o seguinte, a partir de agora, sua filha irá ser cuidada por pessoas altamente qualificadas. Agora, preciso que assine esses dois papéis aqui. — Fábio tirou duas folhas de um segundo envelope.— E do que se trata esses papéis? — Perguntou desconfiada.— O primeiro é o registro de casamento, o segundo é um acordo pré-nupcial.— Acordo pré-nupcial? — Engoliu seco.— Vou te explicar detalhadamente. Você e o Théo estarão oficialmente casados, mas você deve manter sigilo para todas as pessoas que conheça. Apenas o avô dele, e as pessoas interessadas, saberão disso. Segundo, enquanto estiverem casados, você terá que se mudar para a casa dele, mas irão dormir em quartos separados. Não haverá nenhum tipo de contato físico e íntimo entre vocês, não precisa se preocupar, mas na frente do avô dele, deverá agir como se vocês fossem bem próximos. Farei uma lista de coisas que você deverá saber sobre ele, para ser o mais realista possível, na frente das partes interessadas. Faça uma lista de coisas que você também quer que ele saiba sobre você.— Terei que me mudar para a casa dele? — Perguntou assustada.— Você não pode continuar naquele bairro periférico, onde mora atualmente. Deve sair de lá imediatamente. Quando sua filha sair do hospital, ela irá ficar com você também.— Mas demorei tanto para conseguir alugar a casa onde moro, o valor do aluguel é muito acessível, não posso sair de lá.— Senhora Maia, há algumas coisas que deverá deixar para trás. É melhor pensar apenas no agora.— E quanto tempo tudo isso irá durar?— Até quando meu avô desistir de querer me casar com alguém. — Théo respondeu.— E isso vai demorar muito?— Pode ser que sim, pode ser que não. Dependerá do quanto você for convincente.— Preciso de tempo para conseguir assimilar isso tudo, primeiro devo focar na cirurgia da minha filha. — Se explicou.— Não temos tempo, assine logo isso, e vou mandar alguém vir buscar você.— Como assim me buscar? Não posso abandonar minha filha! — Disse nervosa.— Vou arranjar uma enfermeira que cuide e fique unicamente com ela. Você terá apenas dois dias para se transformar na esposa perfeita para mim. Esse será o preço que terá que pagar para ver sua filha bem e saudável de novo. Está disposta a aceitar?Ela olhou para os dois homens à sua frente, depois para os papéis em suas mãos. Pensou no que poderia acontecer se aceitasse, e no que aconteceria se dissesse não. Então, decidiu focar apenas em Lis.— Eu aceito, farei tudo isso, por ela!— Meus parabéns, você tomou a decisão certa. Apenas assine os papéis e deixe que cuidemos do resto. — Fábio disse, oferecendo a caneta para ela. — Eu não tenho certeza do que estou fazendo, mas se isso for ajudar minha filha a ficar bem, não me importo com mais nada. — Disse, assinando os papéis.— A partir de agora, vocês estão oficialmente casados. Amanhã, agendaremos uma sessão de fotos para tornar a situação mais realista. — Eu não posso deixar minha filha aqui sozinha.— Eu já disse que alguém irá ficar com ela. — Théo disse impaciente. — Para tudo na vida é preciso um sacrifício, se você quiser mesmo o bem de sua filha, irá fazer tudo o que o Fábio te disser. Agora, eu vou indo para casa, tenho mais o que fazer, meu dia já foi muito estressante.Saindo dali, sem dizer mais nenhuma palavra, Théo deixou Maia e Fábio sozinhos.— Senhora, sei que tudo que está acontecendo é muito para ser processado rapidamente, mas olhe pelo lado bom, sua filha irá ficar bem. Sei que o Théo parece
Com a boca ainda aberta por estar surpreso, percebeu que Maia notou a sua presença naquele lugar, então ela largou o telefone e veio na direção dele.— Boa tarde, senhor. — O saudou educadamente.Ela havia decidido em sua cabeça que não iria falar nada que pudesse contrariá-lo, para que tudo ocorresse de forma rápida. Assim, poderia retornar para o hospital e ficar ao lado da filha.— Boa tarde… — Théo piscou algumas vezes, até se recompor. — Vejo que um bom banho não faz mal a ninguém, hein? — Disse, dirigindo o olhar para Fábio, com tom de deboche.Por mais que Maia houvesse entendido a indireta, preferiu não falar nada, e fingir-se desentendida de tudo.— Se os dois estiverem prontos, vamos logo fazer as fotos. Temos pouco tempo. — Fábio disse, tentando reverter a situação. — Por favor, lá dentro, se comportem como um casal recém-casado. Vocês não precisam se beijar ou coisa assim, mas tentem passar um ar de intimidade nas fotos, proponho fingir que esse é o primeiro teste. Se conse
Quando chegaram à mansão onde Théo morava, Maia quase desmaiou, apreciando o tamanho e o luxo do lugar. Ela não podia acreditar que aquele homem morava sozinho, num lugar que parecia mais um castelo.A desigualdade social a deixou até sem graça, era tão injusto uns com tanto, e outros sem nada.Na garagem onde Fábio parou o carro, havia mais quatro carros estacionados, e não eram carros comuns, e sim luxuosos, do tipo que ela só via pela televisão.— Há mais pessoas morando na casa com ele? — Perguntou, desconfiada.— Não, por quê? — Fábio a questionou, descendo do carro.— É que tem tantos carros estacionados aqui.— Ah, esses são todos do Théo, ele gosta muito de carros esportivos.— Esses carros são todos dele? — Sua boca não conseguia fechar de surpresa.— Isso mesmo, mas falta um, porém você já o viu, é o que você colidiu, que, por azar, é o mais caro da coleção.Maia engoliu seco.— Por que ele tem tantos carros? Aposto que nem deve usá-los.— Bem, quando dá na teia, ele resolve
Não era de se negar que Maia era uma mulher bonita, mas os problemas da vida a fizeram perder todo o brilho.Cabelos lisos longos, que agora estavam iluminados, quase loiros. Seus olhos tinham uma cor âmbar. Era alta e tinha seios fartos.Quando se olhou no espelho, ao sair do salão, percebeu que ainda havia uma mulher atraente debaixo de toda aquela vida corrida e cansada, ela só não sabia que iria vê-la, tão cedo assim.Agora, em frente a Théo Campos, que segurava seu queixo, a olhando com seus olhos negros, queimando até a sua alma, se lembrou de que ainda podia ser uma mulher atraente e, mesmo que não quisesse assumir, receber um elogio fez seu coração palpitar.Há quanto tempo não ouvia um elogio? Quanto tempo um homem não a olhava daquele modo?Seus pensamentos foram tirados, quando Théo soltou seu queixo e se afastou, continuando a falar. — Confesso que, pela primeira impressão que tive de você, não esperava tudo isso. Mas após te ver assim, toda produzida, reforcei meu pensame
O trajeto até o hospital foi feito em silêncio, mas mesmo que quisesse, Maia não conseguiria abrir a boca em nenhum momento, já que a pobre coitada segurava onde podia, para não deixar que a alma saísse do corpo. Théo via a cara de assustada que ela fazia e acelerava o carro com gosto, só para assustá-la de propósito. Assim, ela jamais ousaria pedir carona novamente.Quando chegou no hospital, tentou arrumar o cabelo do jeito que conseguia. Já que Théo havia escolhido um conversível aberto, para levá-la até lá.— Obrigada, eu prometo que estarei em sua casa, bem cedo. — Disse agradecendo, e saindo correndo. Mesmo que ele tenha feito tudo aquilo para provocá-la, demonstrando que não queria vir, ela chegou ao hospital em menos de 15 minutos, coisa que, se fosse esperar por um táxi, demoraria mais de uma hora.Entrando no hospital, procurou por informações da filha e onde ela estaria. Chegando no quarto onde Lis estava, viu seus olhinhos pretos se alegrando, por vê-la.— Meu amorzinho, a
Maia não sabia o que era pregar os olhos, nem por um minuto. A todo o momento, esperava notícias de Júlia, e também pensava se devia desmentir para o ex, sobre seu relacionamento.Estava com medo de que Tiago, que agora sabia de seu casamento, fizesse alguma chantagem. Por isso, pensava que ele jamais deveria descobrir quem era Théo Campos, e nem as condições financeiras que ele possuía.Tiago, apesar de ter apenas 26 anos, era esperto, para conseguir um dinheiro fácil. Lógico que, quando o conheceu, Maia não tinha nenhuma ideia das atitudes do marido. Com o tempo, percebeu que ele gostava de se apropriar do que não era seu, e se tivesse alguma oportunidade de poder ganhar dinheiro, sem precisar trabalhar, ele estava em cima, sem pensar duas vezes.As horas passavam depressa, e nenhuma novidade sobre a filha havia chegado. Eram seis e meia da manhã, quando uma mulher chegou, batendo à porta do seu quarto, carregando uma maleta.— Olá, senhora Maia, bom dia, eu sou Geyse, sua maquiadora
O clima na mesa do café da manhã estava estranho. Ninguém podia negar que Maia era o centro das atenções, já que todos, hora ou outra, lhe lançavam olhares mortais de soslaio. A coitada só não saiu dali correndo naquele momento, por conta da pressão e ameaça que Théo havia lhe feito antes.— Acredito que, como tenham chegado de viagem hoje, irão tirar o dia para descansar, não é mesmo? — Théo perguntava ao casal, que estava na mesa.— Bem, não estamos tão cansados assim, mas iremos descansar aqui. Entretanto, estamos muito empolgados para conhecer a cidade. — Tenho certeza de que irão amar, espero que se divirtam muito.— Você os levará! — Disse Joaquim. — O quê? — Isso mesmo que ouviu, enquanto eles estiverem aqui, quero que os leve para conhecer a cidade.— Vovô, eu não quero parecer desrespeitoso, mas o senhor sabe que sou um homem muito ocupado.— Não se preocupe com isso, eu já liguei para a empresa e fiquei sabendo que você não tem nenhum compromisso importante por esses dias,
— Olha, sei que não posso pedir algo no momento, mas podemos encontrar seu advogado no hospital? Seria até mais fácil.— Por quê? Théo sabia o porquê, mas gostava de ver Maia implorando, já que sempre gostava de ver o quanto as pessoas dependiam dele.— Minha filha saiu da cirurgia agora a pouco, queria muito vê-la, por favor.— Não estou interessado. — respondeu curtamente.Fazendo com que ela o olhasse, mostrando o quão indignada estava. Ele também não conseguia entender, mas o jeito com que ela o olhava indignada acabava lhe agradando.— Por favor, não vou demorar.Ficou em silêncio, ao dirigir. Estava indo em direção ao hospital, mas fingia que não, pois era bom ver a cara de tortura que Maia fazia. Não havia motivos para querer lhe fazer mal, pois o único erro dela foi estar no lugar e hora errada. Entretanto, o modo como ele foi criado, com todos em volta fazendo as suas vontades, sempre queria arrumar alguém em que colocasse a culpa, quando era contrariado.— Por favor, eu te