Com a boca ainda aberta por estar surpreso, percebeu que Maia notou a sua presença naquele lugar, então ela largou o telefone e veio na direção dele.
— Boa tarde, senhor. — O saudou educadamente.Ela havia decidido em sua cabeça que não iria falar nada que pudesse contrariá-lo, para que tudo ocorresse de forma rápida. Assim, poderia retornar para o hospital e ficar ao lado da filha.— Boa tarde… — Théo piscou algumas vezes, até se recompor. — Vejo que um bom banho não faz mal a ninguém, hein? — Disse, dirigindo o olhar para Fábio, com tom de deboche.Por mais que Maia houvesse entendido a indireta, preferiu não falar nada, e fingir-se desentendida de tudo.— Se os dois estiverem prontos, vamos logo fazer as fotos. Temos pouco tempo. — Fábio disse, tentando reverter a situação. — Por favor, lá dentro, se comportem como um casal recém-casado. Vocês não precisam se beijar ou coisa assim, mas tentem passar um ar de intimidade nas fotos, proponho fingir que esse é o primeiro teste. Se conseguirem enganar o fotógrafo, isso já é um ponto para vocês.O casal entrou no estúdio, de mãos dadas. Maia estava muito nervosa e parecia que aquilo ali seria seu maior tormento. Sorrir para as câmeras era um pesadelo, já que a presença de Théo lhe causava um arrepio na espinha, acompanhado de um sentimento nada bom.Aquele homem se fazia de bonzinho na frente das pessoas, mas ela sabia que ele era um completo manipulador.O fotógrafo começou a tirar algumas fotos, sempre indicando a eles a melhor posição e ângulo.— Você pode se sentar no colo do seu marido e olhar para cá? — O fotógrafo pediu.— O quê? — Maia perguntou nervosa, esbugalhando os olhos.Já estava difícil dar as mãos para ele, se fizesse aquilo, iria desmaiar.
Ela olhou para Théo, que estava sentado na poltrona, com cara de que nada de mais estava acontecendo. Então olhou para Fábio, nervosa, pedindo com o olhar, para ele interferir. Mas Fábio apenas acenou com um sinal positivo, pedindo que ela fizesse o que o fotógrafo pediu.Vendo que não poderia sair daquilo, sem ser desmascarada, respirou fundo e o fez.
Sentou-se no colo do seu “marido” e sorriu para a foto. Mas em seu interior, xingava todos ali presentes e iria questionar, sobre o acordo de que não teriam nenhum contato físico.
— Muito bem, agora para finalizarmos, vamos para o beijo. — O fotógrafo disse mais uma vez.— Não! — Maia negou-se rapidamente, chamando para ela a atenção de todos. — É que… — Pensou numa desculpa. — Meu marido sabe que sou muito tímida na frente das pessoas, então, é melhor não fazermos fotos desse jeito.Se explicou num tom meigo, que acabou fazendo com que o fotógrafo acreditasse na sua história.— Está bem, desculpe-me se fui invasivo. Acho que as outras fotos ficaram ótimas, então, podemos encerrar por aqui mesmo, se concordarem.Aliviada, Maia respirou fundo e contou até dez em pensamento.Finalmente, o pesadelo havia se dissipado.
Quando o fotógrafo se retirou, deixando apenas os três ali, ela foi em direção a Fábio.— O senhor disse que não haveria nenhum contato íntimo entre mim e ele, por que deixou que o homem insinuasse aquilo sem interferir? — Perguntou indignada.— Eu não pude evitar, sinto muito. — Fábio se desculpou.— Espera, você acha que se sentar no colo de outra pessoa é um contato íntimo? — Théo perguntou, gargalhando.— Se o senhor é acostumado a se sentar no colo dos outros, como se não fosse nada, não é um problema meu! — Disse séria.O que fez a cara dele ficar vermelha de raiva. Ver que Fábio segurava um sorriso, por conta da insinuação da mulher, lhe fez ficar cheio de ira.— Olha lá, como você fala comigo, está me ouvindo? — Disse indignado, olhando para ela. — Não se esqueça de que você não pode questionar as coisas.— Como não? Se eu não interviesse, precisaria beijá-lo? — Questionou.— Mas é claro que não! Você acha que eu me rebaixaria tanto assim? — A mediu dos pés à cabeça, com desdenho.— Pois saiba que eu também jamais me rebaixaria desse modo. — Dito isso, saiu do estúdio, deixando os dois homens para trás.— Você viu a petulância dela, Fábio? Ela acha que está falando com quem?— Não leve a sério, Théo, ela tem razão em estar assim. Prometemos a ela que não haveria contato físico entre vocês, deveríamos ter suposto que, nas fotos, iria acontecer isso.— Não importa, é melhor você lembrar a ela de que não sou só eu que preciso dela, então a mande abaixar a cabeça e cortar as asinhas que estão começando aparecer, ou então, juro que não irei responder por mim.— O que está insinuando, Théo, está ameaçando fazer algo com a filha dela, no hospital? — Fábio se assustou, com o tom de voz do homem.— Não, claro que não. Mas se ela pensa que, depois que a filha estiver bem, pode escapar disso aqui, saiba que irei, com muito prazer, colocá-la na prisão. Aí, quero ver com quem a filha dela vai ficar.— Théo, você está indo longe demais.— Não estou não! Só quero que cada um saiba de seu lugar aqui. Então, espero que essa seja a primeira, e a última vez, que ela resolva levantar a voz para mim.Théo saiu dali nervoso, passando por Maia, sem olhar para ela, que se espantou com o modo como o homem estava. Logo depois, viu Fábio se aproximar com o semblante sério.— Maia, as fotos serão entregues daqui a uma hora, então vamos esperar, tudo bem? Por enquanto, devemos conversar sobre algumas coisas.— Mas eu não preciso esperar as fotos ficarem prontas, eu não me importo com elas. Preciso ir para o hospital agora.— Sinto muito, mas você não poderá ir. O avô do Théo estará chegando amanhã e vocês precisam entrar em acordo, sobre algumas coisas, para serem bem convincentes na frente dele.— Mas o senhor não disse que era só decorar as coisas sobre ele, e ele decorar as minhas?— Teremos que fazer mais que isso, se quisermos ter êxito. Após pegarmos as fotos, iremos até a casa do Théo, para que você se familiarize com o ambiente. Imagina só se o avô dele notar que você nunca esteve naquele lugar? Perceberá que estão mentindo.— Eu entendo. — Disse, engolindo seco.— E tem mais uma coisa.— O quê?— Preciso que você mantenha o controle, quando estiver perto dele. O Théo é um homem bem difícil de se lidar, e ele não está acostumado a ser contrariado. Se você agir com ele, do mesmo modo que agiu lá dentro, pode ser que ele não tenha tanta paciência, como teve agora.— Está me dizendo que o modo que ele agiu comigo agora a pouco foi do jeito paciente?— Pode acreditar que sim. Acredite, ele precisa de você, mas lembre-se, você também precisa dele. Não só agora, que a sua filha está no hospital, mas depois disso também. Se você não cumprir com o acordo, ele não terá nenhum tipo de compaixão por você e irá querer o dinheiro do estrago do carro, de qualquer forma, nem que para isso tenha que te colocar atrás das grades, você entendeu?O modo como Fábio explicou as coisas fez Maia se assustar.Então, ele presumiu que, se ela havia se assustado com isso, do jeito mais calmo que pôde explicar, ela iria se desesperar, se ouvisse tudo da boca de Théo.
Era por isso que Fábio sempre era usado como um intermediador entre uma conversa, pois as palavras de Théo poderiam acabar com qualquer pessoa. Era certeza de que, se fosse contrariado ou se as coisas com o avô não dessem certo, a pobre coitada iria pagar por tudo. Théo não tinha nem um pouco de compaixão por ninguém, e jamais assumiria seu erro. Era mais fácil culpar alguém mais fraco pelo fracasso de qualquer coisa, e infelizmente, a pessoa mais fraca naquele momento era Maia. Ele não ligava se ela tinha uma filha que dependia totalmente dela, ou se ela foi praticamente forçada a aceitar a sua proposta.Théo a castigaria, se algo não saísse como estava planejando.
Quando chegaram à mansão onde Théo morava, Maia quase desmaiou, apreciando o tamanho e o luxo do lugar. Ela não podia acreditar que aquele homem morava sozinho, num lugar que parecia mais um castelo.A desigualdade social a deixou até sem graça, era tão injusto uns com tanto, e outros sem nada.Na garagem onde Fábio parou o carro, havia mais quatro carros estacionados, e não eram carros comuns, e sim luxuosos, do tipo que ela só via pela televisão.— Há mais pessoas morando na casa com ele? — Perguntou, desconfiada.— Não, por quê? — Fábio a questionou, descendo do carro.— É que tem tantos carros estacionados aqui.— Ah, esses são todos do Théo, ele gosta muito de carros esportivos.— Esses carros são todos dele? — Sua boca não conseguia fechar de surpresa.— Isso mesmo, mas falta um, porém você já o viu, é o que você colidiu, que, por azar, é o mais caro da coleção.Maia engoliu seco.— Por que ele tem tantos carros? Aposto que nem deve usá-los.— Bem, quando dá na teia, ele resolve
Não era de se negar que Maia era uma mulher bonita, mas os problemas da vida a fizeram perder todo o brilho.Cabelos lisos longos, que agora estavam iluminados, quase loiros. Seus olhos tinham uma cor âmbar. Era alta e tinha seios fartos.Quando se olhou no espelho, ao sair do salão, percebeu que ainda havia uma mulher atraente debaixo de toda aquela vida corrida e cansada, ela só não sabia que iria vê-la, tão cedo assim.Agora, em frente a Théo Campos, que segurava seu queixo, a olhando com seus olhos negros, queimando até a sua alma, se lembrou de que ainda podia ser uma mulher atraente e, mesmo que não quisesse assumir, receber um elogio fez seu coração palpitar.Há quanto tempo não ouvia um elogio? Quanto tempo um homem não a olhava daquele modo?Seus pensamentos foram tirados, quando Théo soltou seu queixo e se afastou, continuando a falar. — Confesso que, pela primeira impressão que tive de você, não esperava tudo isso. Mas após te ver assim, toda produzida, reforcei meu pensame
O trajeto até o hospital foi feito em silêncio, mas mesmo que quisesse, Maia não conseguiria abrir a boca em nenhum momento, já que a pobre coitada segurava onde podia, para não deixar que a alma saísse do corpo. Théo via a cara de assustada que ela fazia e acelerava o carro com gosto, só para assustá-la de propósito. Assim, ela jamais ousaria pedir carona novamente.Quando chegou no hospital, tentou arrumar o cabelo do jeito que conseguia. Já que Théo havia escolhido um conversível aberto, para levá-la até lá.— Obrigada, eu prometo que estarei em sua casa, bem cedo. — Disse agradecendo, e saindo correndo. Mesmo que ele tenha feito tudo aquilo para provocá-la, demonstrando que não queria vir, ela chegou ao hospital em menos de 15 minutos, coisa que, se fosse esperar por um táxi, demoraria mais de uma hora.Entrando no hospital, procurou por informações da filha e onde ela estaria. Chegando no quarto onde Lis estava, viu seus olhinhos pretos se alegrando, por vê-la.— Meu amorzinho, a
Maia não sabia o que era pregar os olhos, nem por um minuto. A todo o momento, esperava notícias de Júlia, e também pensava se devia desmentir para o ex, sobre seu relacionamento.Estava com medo de que Tiago, que agora sabia de seu casamento, fizesse alguma chantagem. Por isso, pensava que ele jamais deveria descobrir quem era Théo Campos, e nem as condições financeiras que ele possuía.Tiago, apesar de ter apenas 26 anos, era esperto, para conseguir um dinheiro fácil. Lógico que, quando o conheceu, Maia não tinha nenhuma ideia das atitudes do marido. Com o tempo, percebeu que ele gostava de se apropriar do que não era seu, e se tivesse alguma oportunidade de poder ganhar dinheiro, sem precisar trabalhar, ele estava em cima, sem pensar duas vezes.As horas passavam depressa, e nenhuma novidade sobre a filha havia chegado. Eram seis e meia da manhã, quando uma mulher chegou, batendo à porta do seu quarto, carregando uma maleta.— Olá, senhora Maia, bom dia, eu sou Geyse, sua maquiadora
O clima na mesa do café da manhã estava estranho. Ninguém podia negar que Maia era o centro das atenções, já que todos, hora ou outra, lhe lançavam olhares mortais de soslaio. A coitada só não saiu dali correndo naquele momento, por conta da pressão e ameaça que Théo havia lhe feito antes.— Acredito que, como tenham chegado de viagem hoje, irão tirar o dia para descansar, não é mesmo? — Théo perguntava ao casal, que estava na mesa.— Bem, não estamos tão cansados assim, mas iremos descansar aqui. Entretanto, estamos muito empolgados para conhecer a cidade. — Tenho certeza de que irão amar, espero que se divirtam muito.— Você os levará! — Disse Joaquim. — O quê? — Isso mesmo que ouviu, enquanto eles estiverem aqui, quero que os leve para conhecer a cidade.— Vovô, eu não quero parecer desrespeitoso, mas o senhor sabe que sou um homem muito ocupado.— Não se preocupe com isso, eu já liguei para a empresa e fiquei sabendo que você não tem nenhum compromisso importante por esses dias,
— Olha, sei que não posso pedir algo no momento, mas podemos encontrar seu advogado no hospital? Seria até mais fácil.— Por quê? Théo sabia o porquê, mas gostava de ver Maia implorando, já que sempre gostava de ver o quanto as pessoas dependiam dele.— Minha filha saiu da cirurgia agora a pouco, queria muito vê-la, por favor.— Não estou interessado. — respondeu curtamente.Fazendo com que ela o olhasse, mostrando o quão indignada estava. Ele também não conseguia entender, mas o jeito com que ela o olhava indignada acabava lhe agradando.— Por favor, não vou demorar.Ficou em silêncio, ao dirigir. Estava indo em direção ao hospital, mas fingia que não, pois era bom ver a cara de tortura que Maia fazia. Não havia motivos para querer lhe fazer mal, pois o único erro dela foi estar no lugar e hora errada. Entretanto, o modo como ele foi criado, com todos em volta fazendo as suas vontades, sempre queria arrumar alguém em que colocasse a culpa, quando era contrariado.— Por favor, eu te
— Já terminei com minha filha, se quiser conversar agora, estou disponível. — Maia disse, vendo que não poderia escapar daquela situação.— Claro. — Fábio pigarreou e a olhou meio desconfiado, temendo que ela tirasse conclusões erradas do que viu. — Vocês precisam ser mais realistas, entenderam? Acredito que se demonstrarem afeto, na frente da família Trajano, eles verão que não podem mais tentar nada, e irão se dar por vencidos.— Eu não estou entendendo, como assim demonstrar afeto? — Questionou nervosa. — Combinamos que não haveria contato físico.— E não haverá, mas tentem estar mais próximos um do outro, tentem ser cúmplices.Eles discutiam, até o telefone de Théo começou a tocar insistentemente. Era o avô.— O que foi, vô?— Venha para casa agora.Dizendo isso, Joaquim desligou o telefone.— Preciso ir para casa, meu avô deve estar aprontando alguma coisa, depois conversamos, vamos Maia.Deu ordens, nervoso, e saiu dali, indo para casa.Quando chegou, estranhou o silêncio no luga
O convite que o homem havia feito a Théo excluía Maia dos planos, e isso para eles era ótimo, já que essa era a intenção desde o início. Ela sabia que não era bem-vinda, e até achou que seria uma boa ideia ele aceitar, assim, poderia passar mais tempo com a filha, que estava se recuperando muito bem da cirurgia. — Agradeço o convite, mas é melhor irem apenas vocês. — Quanta baboseira, Théo, desde que chegamos aqui, você só vive recusando tudo que sugerimos. Quanta desfeita está me fazendo passar, e olha que esse é o primeiro dia ainda. — Joaquim disse, nervoso.— Eu disse ao senhor que minha vida é muito corrida, vô, e havia avisado isso, para evitar esse tipo de constrangimento.Théo estava muito nervoso, odiava ser repreendido na frente das pessoas, como se ainda fosse uma criança.— Então, se o problema é a sua ocupação, considere-se de férias. Se você não for amanhã conosco, não precisa ir mais para a empresa. Enquanto nossos convidados estiverem aqui, toda a sua atenção será vol