7 - Intervenção

Roman Ostrov - 18 anos

O som abafado da prisão já havia se tornado um ruído familiar, quase um companheiro silencioso. O eco constante de vozes distantes, o ranger das camas de metal enferrujado e o silêncio pesado que preenchia as lacunas entre as paredes de concreto... tudo isso fazia parte do cenário que me envolvia. A cela, pequena e opressora, era o meu território agora. Ou, pelo menos, era assim que precisava pensar para manter a sanidade. Mas a cada dia que passava, a espera se tornava uma tortura lenta, o tique-taque invisível da minha paciência sendo corroído a cada segundo.

Sabia que estava ali por um motivo maior — uma missão. Um alvo. Um teste. Mas mesmo com esse conhecimento, a incerteza e o tédio me consumiam como um fogo que queimava silenciosamente por dentro.

Foi numa tarde cinzenta e claustrofóbica que a ligação chegou. Como um som dissonante no caos rotineiro da prisão, o guarda veio me chamar. Eu sabia, antes mesmo de pegar o telefone, que algo importante estava para acontecer. O olhar de curiosidade contida do guarda e a forma como seus passos ecoavam no corredor reforçavam essa certeza. Quando levei o telefone ao ouvido, a voz de Nikolai, fria e calculada, soou como um golpe no silêncio.

— Roman — sua voz fluía como veneno. — O alvo ainda não foi preso.

As palavras ecoaram na minha mente, rebatendo contra as paredes da cela imaginária que habitava dentro de mim. O alvo não estava aqui. O que significava que eu teria que esperar. Novamente. Uma mistura de frustração e alívio atravessou meu peito. A frustração, porque a missão estava incompleta e meu desejo de ação fervilhava. O alívio, porque cada momento adicional me permitia estudar o terreno, avaliar os jogadores, e me preparar melhor para o que estava por vir.

— Aguarde — Nikolai continuou, sua voz impregnada com uma calma quase irritante. — A espera faz parte do teste. Sua paciência será recompensada. Mas lembre-se, Roman, a missão não é apenas eliminar o alvo. Sua sobrevivência aí dentro também é parte do que precisamos ver.

Houve uma pausa, um momento em que quase pude imaginar o sorriso predatório surgindo em seu rosto, como o de um lobo que observa a presa lutando para se manter à tona.

— Acha que consegue esperar? — a provocação em sua voz era clara, uma lâmina afiada que cortava o silêncio do outro lado da linha.

Minhas mãos apertaram o telefone com força, os músculos dos meus braços tensos. Eu sabia que ele estava testando não apenas minha paciência, mas também minha determinação.

— Sim, eu espero — respondi, minha voz firme, inabalável.

— Ótimo — ele murmurou, satisfeito. — Continue sendo discreto. Ninguém pode saber quem você realmente é.

Antes que eu pudesse responder, a linha ficou muda. Fiquei ali, parado, o telefone ainda colado ao meu ouvido, enquanto o barulho incessante da prisão retornava como um zumbido distante. Para Nikolai, tudo era um jogo. Cada movimento, cada decisão, uma peça no tabuleiro. Não havia espaço para fraquezas.

Voltei para minha cela, com a mente alerta. A prisão não era apenas um lugar de confinamento; era um campo de batalha. E se eu quisesse sair dali com a aprovação da Bratva, teria que fazer muito mais do que eliminar o alvo. Eu precisaria sobreviver às ameaças invisíveis que cercavam cada canto daquele lugar.

A noite caiu como um manto de sombras sobre a prisão, trazendo consigo uma tensão palpável. O ar estava denso, carregado de algo mais do que o usual cheiro de concreto úmido e corpos cansados. O velho que dividia a cela comigo — um homem de aparência frágil, com cabelos brancos e olhos cansados — permanecia sentado em seu canto, como sempre. Ele era um enigma, quieto e introspectivo, mas os olhares desconfiados que outros prisioneiros lhe lançavam eram suficientes para me fazer entender que algo estava para acontecer. Rumores percorriam os corredores. Sussurros de que ele tinha ligações com a Bratva. E, em um lugar como aquele, isso era tudo o que bastava para torná-lo um alvo.

Naquela noite, a tensão explodiu.

Eu estava deitado na cama de metal, o colchão fino e desconfortável mal amortecendo o peso do meu corpo. Observava o velho no canto, seus olhos perdidos no chão, quando ouvi os passos ecoando pelo corredor. Era um som ritmado, pesado, como uma tempestade iminente. Um grupo de três homens apareceu na porta da cela. Eles eram brutamontes — grandes, brutais, o tipo de prisioneiro que todos evitavam. A malícia em seus olhos era evidente, assim como o ódio que exalavam.

— Então é verdade... — um deles murmurou, seus olhos fixos no velho. — Um Bratva aqui, no meio de nós. Achou que podia se esconder, velho?

O velho não se moveu. Seu corpo permaneceu imóvel, mas seus punhos se apertaram levemente. Era como se estivesse preparado para o que estava por vir, como se tivesse visto aquilo antes, inúmeras vezes. Mas os brutamontes não enxergavam o que eu via. Para eles, ele era apenas um homem frágil, com cabelo branco e uma postura curvada. Presa fácil.

— Você e sua máfia russa acham que ainda mandam aqui, não é? — provocou outro dos homens, sua risada cortante e áspera. — Este lugar não pertence mais a vocês.

Com um gesto brusco, o primeiro deles abriu a grade da cela, o metal rangendo como um aviso sinistro. Eu me levantei lentamente, minha mente já traçando os próximos movimentos. Sabia que, se eles atacassem, eu teria que intervir. Se o velho fosse, de fato, um Bratva, eu teria que protegê-lo. A irmandade exigia lealdade.

O primeiro homem avançou, tentando agarrar o velho pelo colarinho. Mas, para surpresa dele, o velho se moveu com a agilidade de um homem muito mais jovem. Ele desviou do golpe, empurrando o agressor com uma força inesperada. O homem tropeçou, desequilibrado. Os outros dois hesitaram por um momento, atônitos com a reação.

Mas isso não durou muito.

Os três se lançaram sobre o velho, suas intenções claras. Ele se defendia com habilidade, seus movimentos precisos, mas eles eram muitos, e ele estava em desvantagem numérica. Um soco acertou o rosto do velho, e vi o sangue escorrer de seu lábio. Foi nesse momento que decidi agir.

Com a rapidez de um predador, saltei sobre o segundo agressor. Meu cotovelo encontrou a lateral de seu rosto, e ele desabou no chão com um grunhido de dor. O terceiro tentou agarrar-me pelas costas, mas eu já havia sacado a faca que mantinha escondida. Com um movimento ágil, cravei a lâmina em sua costela, sentindo o calor do sangue se espalhar pela minha mão.

O primeiro agressor, furioso, avançou novamente, mas ele era lento e desajeitado pela raiva. Desviei de seu golpe e o acertei com um soco certeiro na garganta, cortando sua respiração. Ele caiu de joelhos, as mãos agarrando-se desesperadamente ao pescoço. Antes que pudesse se recuperar, o acertei de novo, desta vez no coração. Ele desabou, sem vida.

O último tentou fugir, mas o velho, com uma força que desmentia sua idade, o alcançou. Um soco brutal na mandíbula o derrubou no chão, e, sem hesitar, cravei a faca em sua garganta. O sangue jorrou, e a vida se esvaiu de seus olhos em segundos.

A cela ficou em silêncio, o ar pesado com o cheiro de ferro e morte.

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