9 - A Estrela

Roman Ostrov

  O telefone tocou uma vez. O som ecoou pela cela como um presságio. Quando atendi, a voz fria e metódica de Nikolai me atingiu com a mesma precisão de sempre.

  — O alvo chegou — ele disse, sem rodeios. — Está em uma cela isolada. Chegou o momento de provar sua lealdade ao conselho.

  Eu ouvi em silêncio, deixando que suas palavras mergulhassem na minha mente. Tinha esperado por esse momento por muito tempo, mas agora, as circunstâncias eram diferentes. Não era apenas o Roman que entrou nessa prisão anos atrás. Muito havia mudado.

  — Cumprirei a missão, como me foi ordenado — respondi, minha voz calma, controlada.

  Desliguei o telefone e fiquei em silêncio por alguns instantes. Eu tinha uma nova missão, uma tarefa que deveria provar minha lealdade à Bratva diante do conselho. Mas havia algo que eles não sabiam, algo que eu guardaria em segredo por enquanto. Antes de ser iniciado formalmente, antes de fazer o juramento "Pelo Sangue e Pela Bratva", eu já havia me provado digno. Eu carregava em meu joelho o símbolo mais poderoso dentro da Bratva. A estrela de cinco pontas.

  Aquela tatuagem era algo que poucos tinham, algo que a maioria só conhecia em lendas e murmúrios. Eu era agora um "Homem sem Lei". Mas isso era algo que o conselho não precisava saber... ainda.

  Antes de cumprir minha missão, fui até o velho. Ele estava sentado no canto da cela, como sempre, observando o nada. Mas ao me aproximar, ele ergueu o olhar e soube, no mesmo instante, que meu momento havia chegado.

  — Hoje é o dia, não é? — ele disse, sem emoção, como se estivesse falando sobre o clima.

  Eu assenti.

  — Vou cumprir o que me foi ordenado — respondi, sem desviar o olhar.

  O velho sorriu, um sorriso cheio de cansaço, mas também de uma sabedoria que só o tempo traz.

  — Roman — ele começou, sua voz firme — quero que saiba de uma coisa. Quando te dei a estrela, não foi porque você salvou minha vida duas vezes. Eu te dei essa marca porque reconheci em você a verdadeira essência da Bratva.

  Eu fiquei em silêncio, esperando que ele continuasse.

  — A estrela de cinco pontas tem um significado muito além do que a maioria pensa. As pessoas acreditam que ela é um símbolo de poder... e é, mas representa mais que isso. Cada ponta da estrela reflete os valores fundamentais de um verdadeiro Homem sem Lei.

  Ele levantou uma mão trêmula e apontou para cada uma das pontas da estrela tatuada no meu joelho.

  — Primeiro, Poder — começou ele. — O controle absoluto sobre si mesmo, sobre os outros, e sobre os negócios da Bratva. Sem poder, você não pode comandar.

  Ele passou para a segunda ponta.

  — Respeito. A capacidade de comandar respeito não vem do medo sozinho. Vem de suas ações, da sua presença. Um verdadeiro líder não precisa dizer que é líder, ele simplesmente é.

  A terceira ponta veio logo em seguida.

  — Fidelidade. Lealdade inabalável à Bratva e ao código. Fidelidade sem desvio, sem hesitação. É o sangue que corre nas suas veias, e enquanto o sangue correr, sua lealdade nunca pode vacilar.

  A quarta ponta.

  — Vingança. A justiça implacável contra aqueles que ousam trair ou desafiar a Bratva. Retribuição é o que mantém o equilíbrio. Quem trai a Bratva, deve ser tratado sem misericórdia.

  E, por fim, a quinta ponta.

  — Sacrifício. Nada disso importa se você não estiver disposto a abrir mão de tudo, até mesmo da sua vida, pelo bem maior da Bratva. Aqueles que portam essa estrela sabem que a Bratva vem antes de qualquer coisa, até de si mesmos.

  Ele fez uma pausa, o olhar profundo, como se estivesse tentando gravar aquelas palavras em minha alma.

  — Estes são os significados que fazem de você mais do que um homem, Roman. Fazem de você um verdadeiro Homem sem Lei. A estrela que você carrega é o maior símbolo de comprometimento com a Bratva, e agora, você está pronto para provar isso ao mundo.

  Eu respirei fundo, absorvendo o peso de suas palavras. A estrela em meu joelho ardia como se tivesse acabado de ser marcada. Eu sabia, naquele momento, que ele estava certo. Tudo o que eu representava, o que a Bratva representava, estava encapsulado naquele símbolo.

  — Lembre-se, Roman — o velho disse, se levantando devagar, sua mão pousando no meu ombro. — O conselho quer ver sangue. Querem a morte daquele homem como prova de sua lealdade. Mas você... já provou que é mais do que eles imaginam. A verdadeira lealdade é para com a Bratva, agora você está acima do conselho. Você é um Homem sem Lei.

  Eu assenti, sentindo a gravidade do que ele dizia. Antes de sair, o velho me olhou nos olhos uma última vez.

  — Vai e faça o que precisa ser feito. Mas nunca se esqueça do que significa carregar essa estrela. Você é Bratva... para sempre.

  Com essas palavras ressoando na minha mente, deixei a cela. O som metálico da porta ecoou nos corredores. A missão me aguardava, e o conselho esperava minha prova de lealdade.

  Mas o que eles não sabiam... era que eu já havia me provado digno muito antes deste momento.

  A estrela de cinco pontas ardia no meu joelho, como uma marca indelével de quem eu era agora.

  Um Homem sem Lei. Governado pelo código de conduta da Bratva e guardião de suas leis.

  Os corredores escuros e frios da prisão ecoavam com o som dos meus passos firmes enquanto me aproximava da cela isolada. A missão estava clara em minha mente: matar o homem dentro da cela, provar minha lealdade ao conselho e, finalmente, ser iniciado formalmente na Bratva. Mas algo estava diferente, o ar parecia mais pesado, carregado de tensão. Ao me aproximar, percebi que o cadeado da cela já estava aberto.

  Algo estava errado.

  Empurrei a porta de metal e, ao entrar na cela, vi o homem caído no chão. Seu corpo estava imóvel, com uma poça de sangue se espalhando lentamente sob ele. Um tiro certeiro no peito. Por um momento, fiquei paralisado, observando a cena com uma mistura de choque e descrença.

  Aproximei-me cautelosamente, a lâmina que trazia em meu casaco ainda fria em minhas mãos. Quando me ajoelhei ao lado do corpo, reconheci imediatamente o rosto do homem. Era o mesmo homem da foto que Nikolai me havia mostrado há dez anos. O alvo que, desde então, eu havia sido treinado para eliminar.

  Mas ele já estava morto.

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