Dias atuais... Donatella Romanova - 18 anos O silêncio na mansão Romanov era ensurdecedor, interrompido apenas pelo som distante dos passos suaves de Anastacia, minha mãe, atravessando o corredor como uma sombra. Ela apareceu à minha frente, seu rosto sem emoção, mas seus olhos brilhando com algo que eu não conseguia definir. Talvez fosse satisfação disfarçada, talvez fosse o alívio que ela vinha esperando por tanto tempo. — Donatella — ela disse, sua voz controlada, com uma tranquilidade quase perturbadora. — Seu pai... foi morto, na prisão. Eu senti meu estômago revirar, o chão parecia se desintegrar sob meus pés. As palavras dela caíram sobre mim como uma onda gélida. Uma dor forte me atingiu o peito, me fazendo curvar o corpo pra frente, em um movimento nada gracioso. — Mas não se preocupe — ela continuou, sem esperar uma resposta, enquanto atravessava a sala com a mesma elegância fria de sempre. — Nós estamos protegidas. Nikolai vai cuidar de tudo. — Ela tentou dar um
Roman Ostrov A reunião terminou, mas o peso dos olhares dos outros capitães permaneceu cravado em mim enquanto eu saía do prédio. Aqueles homens, que haviam dado suas vidas à Bratva, me encaravam como se eu fosse uma incógnita, um mistério que não conseguiam decifrar. Achavam que eu não pertencia a esse mundo? Eles não podiam estar mais enganados. Dmitry foi o único que teve coragem de me cumprimentar. Seus olhos, embora tranquilos, carregavam uma mensagem sutil. Ele sabia algo. Provavelmente, informações sobre o Sistema Prisional Russo, o suficiente para entender que eu, Roman Ostrov, jamais cometeria o erro de matar o chefe supremo da Bratva por engano. O seu gesto discreto confirmava o que eu já suspeitava — ele sabia que havia mais nessa história do que os outros imaginavam. No carro, a volta para casa se desenrolava em um silêncio pesado. Ivan Ostrov, ao meu lado, parecia perdido nos labirintos de seus próprios pensamentos. Eu, por outro lado, mantinha meus olhos fixos na escur
Donatella Romanova Era madrugada quando fui acordada por um som distante, abafado, que no começo achei ser parte de algum sonho. Mas, conforme minha mente saía do torpor, os barulhos se tornaram mais claros, mais reais. Tiros. Muitos tiros. Meu coração disparou, e me sentei na cama, atordoada, tentando entender o que estava acontecendo. A mansão, normalmente envolta em silêncio, agora parecia um campo de batalha. Meus pensamentos corriam, confusos e desorientados, mas uma coisa era clara: estávamos sob ataque. Levantei-me da cama de um salto, meus pés descalços tocando o chão frio enquanto tentava chegar à porta, mas antes que eu pudesse sequer fazer algo, a porta do meu quarto foi arrombada com um estrondo que fez todo o meu corpo tremer. Três homens vestidos de preto, armados e com o rosto coberto, invadiram o quarto. Antes que eu pudesse reagir, senti uma mão áspera agarrando meus cabelos com brutalidade, puxando-me de volta. — Não! — Gritei, lutando contra o aperto fero
Donatella Romanova Ivan manteve seus olhos fixos nos meus, esperando por uma reação, mas tudo o que ele encontrou foi um silêncio inabalável. Eu podia ver o brilho de frustração crescer por trás daquele olhar gélido, como se não conseguisse entender o motivo da minha apatia. A verdade é que, por dentro, algo em mim já estava morto há muito tempo. Só que ninguém havia percebido. — Todos vocês, saiam. — A voz de Ivan soou firme, cortando o silêncio da sala com uma autoridade que não deixava margem para questionamentos. Ivan relaxou o aperto no meu braço, mas não se afastou. Seus olhos percorreram meu rosto com uma mistura de curiosidade e apreciação. O silêncio entre nós se alongou por alguns instantes antes que ele quebrasse com um tom quase pensativo, como se estivesse refletindo em voz alta. — É curioso... — Ele murmurou, inclinando a cabeça levemente, avaliando cada detalhe. — Com essa sua beleza angelical, esse rosto delicado... — Ele tocou meu queixo com dedos ásperos,
Roman Ostrov Meu pai disfarçou bem o impacto ao ver os corpos dilacerados nas fotos espalhadas sobre a mesa. Seus olhos passavam de uma imagem para outra, com uma expressão de frieza que ele cultivara ao longo dos anos. No entanto, por trás da máscara de controle, percebi o leve estremecimento. O terror rapidamente deu lugar à preocupação. Ele pegou uma garrafa de uísque de uma prateleira atrás de si, serviu dois copos cheios e os esvaziou em questão de segundos, como se o álcool pudesse apagar as imagens gravadas em sua mente. Eu o observei em silêncio, o mesmo olhar de quando era criança, esperando sua aprovação. Mas desta vez, havia um leve sorriso em meus lábios. Porque, ao contrário de antes, eu não precisava mais da aprovação dele. Eu sabia que fiz um trabalho impecável. — Roman, o conselho não vai tolerar isso... — ele disse, sua voz carregada de gravidade. — Eles eram parte da linhagem fundadora da Bratva. Mereciam respeito. — Respeito pelos mortos é um desperdício — rebat
Roman Ostrov — Anastacia — meu pai a encarou, com um olhar quase complacente. — Conte a sua história! — Eu sei que o que eu vou dizer aqui — ela soluça levemente, antes de continuar — é uma sentença de morte. Mas, essa já me foi dada quando Nikolai, o meu amante, que jurou proteger a mim e a minha família, ordenou a morte da minha filha. — Isso é mentira — Nikolai, gagueja. Anastacia deposita fotos registradas pelas câmeras de segurança da sua própria casa, confirmando a traição. — Sra. Romanova, a traição matrimonial é punida com a morte, a senhora tem consciência do que fez? — Sergei falou alarmado. — Sim — a mulher respondeu, com a cabeça baixa — Ivan Ostrov prometeu que a minha filha seria poupada. Minha filha é uma herdeira legítima, com o seu casamento e um filho, em alguns anos a cadeira voltará a quem pertence por tradição. Um herdeiro Romanov. — E com quem sua filha irá se casar? — Dmitry lança um olhar feroz para Ivan e outro para Anastacia. — Roman Ostrov. — Ele n
Roman Ao sair da reunião, os passos firmes de Dmitry Kozlov ecoavam logo atrás de mim. Senti sua presença pesada, quase como uma sombra, e sabia que ele queria falar. Claro que queria. Tanta coisa havia mudado em poucas horas. A Bratva agora tinha um novo líder, mas isso era apenas o começo. Sem dizer uma palavra, virei-me e sinalizei para ele me seguir. Encontramos uma pequena sala privada, longe de olhares curiosos. Fechei a porta atrás de nós, e o som oco reverberou pelo ambiente silencioso. Dmitry relaxou um pouco, mas seu olhar continuava carregado com a intensidade que só aqueles que sobreviveram por tanto tempo nesse jogo perigoso conhecem. Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio. - Roman... agradeço por sua confiança - começou ele, sua voz baixa, mas carregada de respeito. - A Bratva agora é sua. Com isso, vem tudo o que você pode imaginar - o poder, os territórios, as lealdades. Tudo. - Dmitry fez uma pausa, o peso de suas palavras pairando entre nós como uma tempestade pr
Roman Ostrov O ar da Rússia me recebeu como um golpe gelado no rosto. Atravessar o Atlântico para voltar à minha terra natal depois de um mês em Nova York era como despertar de um pesadelo apenas para descobrir que a realidade era ainda pior. As luzes da cidade, os arranha-céus imponentes e o anonimato que eu vivia por lá eram uma fuga. Mas aqui... aqui tudo me puxava de volta, como correntes invisíveis que eu não podia ignorar. O peso do sangue derramado, das promessas não cumpridas e da traição enraizada estava sobre meus ombros. Era um fardo que eu não podia simplesmente deixar para trás, não importava para onde eu fosse. A limusine deslizou suavemente pelos portões da mansão Ostrov, e o motorista parou em frente à entrada principal. A enorme construção, com seus pilares de mármore e janelas imponentes, parecia observar meu retorno como um predador paciente, à espera de minha próxima jogada. Saí do carro, ajeitando o casaco enquanto o vento cortante fazia a neve no chão girar em