Donatella Romanova Ivan manteve seus olhos fixos nos meus, esperando por uma reação, mas tudo o que ele encontrou foi um silêncio inabalável. Eu podia ver o brilho de frustração crescer por trás daquele olhar gélido, como se não conseguisse entender o motivo da minha apatia. A verdade é que, por dentro, algo em mim já estava morto há muito tempo. Só que ninguém havia percebido. — Todos vocês, saiam. — A voz de Ivan soou firme, cortando o silêncio da sala com uma autoridade que não deixava margem para questionamentos. Ivan relaxou o aperto no meu braço, mas não se afastou. Seus olhos percorreram meu rosto com uma mistura de curiosidade e apreciação. O silêncio entre nós se alongou por alguns instantes antes que ele quebrasse com um tom quase pensativo, como se estivesse refletindo em voz alta. — É curioso... — Ele murmurou, inclinando a cabeça levemente, avaliando cada detalhe. — Com essa sua beleza angelical, esse rosto delicado... — Ele tocou meu queixo com dedos ásperos,
Roman Ostrov Meu pai disfarçou bem o impacto ao ver os corpos dilacerados nas fotos espalhadas sobre a mesa. Seus olhos passavam de uma imagem para outra, com uma expressão de frieza que ele cultivara ao longo dos anos. No entanto, por trás da máscara de controle, percebi o leve estremecimento. O terror rapidamente deu lugar à preocupação. Ele pegou uma garrafa de uísque de uma prateleira atrás de si, serviu dois copos cheios e os esvaziou em questão de segundos, como se o álcool pudesse apagar as imagens gravadas em sua mente. Eu o observei em silêncio, o mesmo olhar de quando era criança, esperando sua aprovação. Mas desta vez, havia um leve sorriso em meus lábios. Porque, ao contrário de antes, eu não precisava mais da aprovação dele. Eu sabia que fiz um trabalho impecável. — Roman, o conselho não vai tolerar isso... — ele disse, sua voz carregada de gravidade. — Eles eram parte da linhagem fundadora da Bratva. Mereciam respeito. — Respeito pelos mortos é um desperdício — rebat
Roman Ostrov — Anastacia — meu pai a encarou, com um olhar quase complacente. — Conte a sua história! — Eu sei que o que eu vou dizer aqui — ela soluça levemente, antes de continuar — é uma sentença de morte. Mas, essa já me foi dada quando Nikolai, o meu amante, que jurou proteger a mim e a minha família, ordenou a morte da minha filha. — Isso é mentira — Nikolai, gagueja. Anastacia deposita fotos registradas pelas câmeras de segurança da sua própria casa, confirmando a traição. — Sra. Romanova, a traição matrimonial é punida com a morte, a senhora tem consciência do que fez? — Sergei falou alarmado. — Sim — a mulher respondeu, com a cabeça baixa — Ivan Ostrov prometeu que a minha filha seria poupada. Minha filha é uma herdeira legítima, com o seu casamento e um filho, em alguns anos a cadeira voltará a quem pertence por tradição. Um herdeiro Romanov. — E com quem sua filha irá se casar? — Dmitry lança um olhar feroz para Ivan e outro para Anastacia. — Roman Ostrov. — Ele n
Roman Ao sair da reunião, os passos firmes de Dmitry Kozlov ecoavam logo atrás de mim. Senti sua presença pesada, quase como uma sombra, e sabia que ele queria falar. Claro que queria. Tanta coisa havia mudado em poucas horas. A Bratva agora tinha um novo líder, mas isso era apenas o começo. Sem dizer uma palavra, virei-me e sinalizei para ele me seguir. Encontramos uma pequena sala privada, longe de olhares curiosos. Fechei a porta atrás de nós, e o som oco reverberou pelo ambiente silencioso. Dmitry relaxou um pouco, mas seu olhar continuava carregado com a intensidade que só aqueles que sobreviveram por tanto tempo nesse jogo perigoso conhecem. Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio. - Roman... agradeço por sua confiança - começou ele, sua voz baixa, mas carregada de respeito. - A Bratva agora é sua. Com isso, vem tudo o que você pode imaginar - o poder, os territórios, as lealdades. Tudo. - Dmitry fez uma pausa, o peso de suas palavras pairando entre nós como uma tempestade pr
Roman Ostrov O ar da Rússia me recebeu como um golpe gelado no rosto. Atravessar o Atlântico para voltar à minha terra natal depois de um mês em Nova York era como despertar de um pesadelo apenas para descobrir que a realidade era ainda pior. As luzes da cidade, os arranha-céus imponentes e o anonimato que eu vivia por lá eram uma fuga. Mas aqui... aqui tudo me puxava de volta, como correntes invisíveis que eu não podia ignorar. O peso do sangue derramado, das promessas não cumpridas e da traição enraizada estava sobre meus ombros. Era um fardo que eu não podia simplesmente deixar para trás, não importava para onde eu fosse. A limusine deslizou suavemente pelos portões da mansão Ostrov, e o motorista parou em frente à entrada principal. A enorme construção, com seus pilares de mármore e janelas imponentes, parecia observar meu retorno como um predador paciente, à espera de minha próxima jogada. Saí do carro, ajeitando o casaco enquanto o vento cortante fazia a neve no chão girar em
Roman Ostrov O silêncio caiu como um peso entre nós. Ivan me olhava como se não acreditasse no que ouvia. Talvez, por um segundo, ele pensasse que ainda tinha alguma chance de me manipular, de me dobrar à sua vontade. Mas aqueles dias haviam passado. — Você vai se arrepender disso — sibilou Ivan, as palavras saindo como veneno. — Eu garanti que sua futura esposa preferisse o diabo ao invés de você. Ela te odeia, Roman. E quando você se casar com ela, não verá nada além de desprezo nos olhos dela. As palavras dele me atingiram como um soco, mas mantive a expressão inalterada. O fato de ele ter manipulado Donatella contra mim não era uma surpresa. Era o tipo de jogo sujo que Ivan sempre jogava. No entanto, o que ele não entendia era que eu não precisava do amor de Donatella, nem da aprovação dela. Tudo o que importava naquele momento era o que o casamento representava para a Bratva. Ivan deu um último olhar, cheio de ódio e promessas silenciosas de vingança, antes de sair
Donatella Romanova A empregada entrou pela terceira vez, e eu já sabia o que ela diria antes mesmo de abrir a boca. Sua voz, embora suave, carregava a urgência do momento. — Srta. Romanova, por favor, eles estão esperando... Levantei o olhar do espelho, onde meus próprios olhos, azuis e frios como gelo, refletiam a imagem de uma mulher que já havia aceitado seu destino. A mulher que eu era antes, que chorava pela perda de sua família, que sonhava com uma vida longe de homens como Roman Ostrov, não existia mais. Eu estava prestes a me tornar a esposa do homem que destruiu tudo que eu amava, e mesmo que o ódio ainda queimasse em meu peito, minha resignação era evidente. — Sra. Ostrova — corrigi, o nome soando forte em meus lábios. Agora, eu pertencia ao homem que havia tirado tudo de mim. A empregada se retirou, deixando o silêncio pesar no ambiente. Suspirei, levantando-me e alisando o tecido do vestido que parecia mais uma mortalha do que um traje de noiva. Cada passo que d
Donatella Romanova Eu tentei segurar as lágrimas, mas elas ameaçavam transbordar. As emoções eram um turbilhão que me rasgava por dentro. Eu o odiava tanto quanto o desejava, e isso me destruía. Como podia ser? O homem que arruinou minha vida, que matou minha família, agora estava ali, me tirando do chão, da única força que eu tinha, e me fazendo sentir coisas que eu jamais admitiria em voz alta.Meu corpo tremia quando senti Roman se ajoelhar diante de mim. Era uma visão surreal, o temido chefe da Bratva, o homem mais implacável que eu conhecia, agora ajoelhado aos meus pés, com os olhos fixos em mim. Era como se ele estivesse quebrando alguma regra invisível, algo entre nós dois que jamais deveria ter sido ultrapassado.— Donatella, eu vou dispensar os convidados — ele disse, a voz mais suave do que eu esperava. — Você precisa descansar.Descansar. Como se o descanso pudesse curar o caos que ele trouxe para a minha vida. Mas, naquele momento, eu não consegui responder. Apenas o enc