Roman Ostrov — Quero uma conversa privada! — Rodolfo me analisa, e eu faço o mesmo com ele. Depois de um breve momento de tensão, concordei e segui para o meu escritório, um dos meus homens fez menção de me acompanhar mas com o gesto meu voltou atrás. — Você sequestrou a minha mulher. — Minha voz saiu firme, mas controlada. — Me diga, senhor Takeda, por que eu deveria ser cordial com você? Ele não recuou. Em vez disso, manteve o olhar fixo no meu, sua expressão séria e cheia de intenções. — Posso provar que jamais faria mal a ela, Roman. — Ele começou, sua voz baixa, mas carregada de significado. — Mas precisava chamar a sua atenção. Era a única forma. Me sentei na cadeira atrás da mesa, analisando cada movimento seu. Algo me dizia que ele não tinha vindo para uma simples negociação. Eu gesticulei para que continuasse. — Prossiga. — Ordenei. Rodolfo colocou a mão no bolso interno do casaco, e meu corpo ficou imediatamente alerta. Minhas mãos estavam prontas para alcançar a a
Donatella Romanova O enterro de Mickail Romanov era algo que eu nunca pensei que aconteceria. Não porque ele não merecesse estar em um caixão, mas porque o conselho da Bratva, com toda sua hipocrisia, decidiu que ele deveria ter um enterro digno de um homem com prestígio social. Para mim, era apenas mais uma farsa, um teatro para manter as aparências. A cerimônia estava cheia. Homens de ternos pretos e mulheres em roupas escuras sussurravam entre si, fingindo tristeza. Eu estava ali porque Roman insistiu que minha presença era necessária, um símbolo de força. Mas, para mim, cada palavra do padre era um lembrete das cicatrizes que Mickail havia deixado. Meus pés começaram a me guiar para longe do grupo. A segurança de Roman tentou me acompanhar, mas consegui me desvencilhar com uma desculpa. Precisava de ar, ou pelo menos era isso que eu dizia a mim mesma. A verdade era que minha mente estava em um turbilhão de lembranças e emoções, e eu precisava de um momento para colocar os pens
Roman Ostrov A viagem até o hospital foi uma das mais longas da minha vida, embora os segundos parecessem escorrer como areia entre os dedos. Eu carregava Donatella em meus braços, sentindo o peso do seu corpo frágil contra o meu. Ela respirava com dificuldade, e cada suspiro parecia me arrancar um pedaço da alma. Ao chegarmos, o médico me recebeu com um olhar grave. — Senhor Ostrov, sua esposa precisa de um transplante de coração com urgência. — Ele disse, sem rodeios. — Estamos fazendo o possível, mas o tempo não está ao nosso lado. Minhas mãos se apertaram em punhos. Estava pronto para fazer qualquer coisa, mover céus e terras, mas nunca imaginei o preço que seria cobrado. Sergei apareceu pouco depois, seu rosto marcado pelo luto. Ele havia perdido sua filha, Alessandra não sobreviveu. — Roman, quero propor uma aliança. A mesma que te fiz, meses atrás! O coração de Alessandra, em troca de que a outra gêmea, Angélica, se case com o herdeiro da Bratva. Eu sempre abomin
Roman Ostrov O som do riso de Donatella ecoava pelo salão da mansão. Eu a observei do meu lugar à mesa, enquanto ela tentava convencer Dmitry a ficar quieto o suficiente para ajeitar sua gravata. Nosso filho era a mistura perfeita de nós dois: os olhos ferozes dela, meu olhar determinado, e uma inteligência surpreendente para alguém de apenas cinco anos. — Mamãe, tá apertado! — Dmitry reclamou, fazendo uma careta, mas Donatella sorriu, inclinando-se para beijar sua testa. — Hoje é um dia importante, meu pequeno. Seu pai precisa de você impecável. — Ela respondeu, com a firmeza e doçura que só ela possuía. Me levantei e caminhei até eles, não conseguindo esconder o orgulho que sentia. Peguei Dmitry no colo, ignorando suas tentativas de se soltar, e olhei diretamente em seus olhos. — Seu nome carrega uma grande história, filho. Dmitry Romanov-Ostrov. Nunca se esqueça de quem foi o homem que o inspirou. Ele assentiu com seriedade, como se entendesse o peso das minhas palavras,
Moscou | Mansão Ostrov Roman Ostrov - 12 anos — Roman, concentre-se — a voz de minha professora ecoava como um som distante, abafado, enquanto meus olhos permaneciam fixos na janela. Lá fora, as árvores altas se curvavam suavemente ao toque do vento, mas meu coração batia acelerado por outro motivo. Meu pai estava em casa. A expectativa me consumia, como sempre fazia quando ele retornava. Eu não tinha tempo para as palavras rabiscadas no caderno à minha frente. Nada importava além de vê-lo. Num movimento abrupto, empurrei a cadeira para trás, o som das pernas arranhando o mármore polido da sala fez a professora saltar. Antes que ela pudesse me conter, eu já estava de pé, marchando em direção ao escritório. — Roman! — A voz dela, mais incisiva agora, me seguiu pela sala. — Seu pai está ocupado! Por favor, volte para sua cadeira. Ignorei. A ideia de recuar me causava um mal-estar que eu odiava sentir, um frio que gelava o estômago. Quando alcancei a porta maciça do escritório
Roman Ostrov - 12 anos A sensação de puxar o gatilho sempre fora algo familiar para mim. O leve recuo da arma, o som seco do disparo ecoando na floresta enevoada, tudo isso fazia parte do que eu era. O primeiro pássaro caiu quase no instante seguinte, uma mancha escura contra o céu cinzento e nebuloso. O segundo logo o seguiu, um tiro limpo, preciso. Não havia hesitação. Não podia haver. No mundo de meu pai, o erro era um luxo que não se podia cometer. Mais um disparo. O terceiro pássaro despencou, seus últimos momentos interrompidos no ar. Não desviei o olhar enquanto os corpos das pequenas aves caíam, imóveis, em meio à vegetação densa. O silêncio que se seguiu era tão denso quanto a neblina que nos cercava, sufocante. Olhei para meu pai, esperando, quase ansiando por algum sinal de aprovação. Seus olhos, duros e calculistas, fixaram-se em mim por um momento que pareceu durar uma eternidade. Mesmo sem palavras, eu sabia. Ele estava satisfeito. Ele não precisava dizer, o brilho
Roman Ostrov – 18 anos Sicília | Máfia Italiana O homem que me encarava do outro lado do espelho não era mais o garoto que deixara a Rússia seis anos atrás. Aos 12 anos, quando Ivan me trouxe para a Sicília, eu era moldado por promessas, preparado para ser uma arma letal, o orgulho da Bratva. Mas aquele menino tinha desaparecido. O reflexo à minha frente agora era algo muito mais perigoso, mais frio, mais implacável. Meus olhos, que antes vibravam com curiosidade e fervor juvenil, agora estavam calmos, gélidos. O semblante sereno que eu exibia poderia facilmente enganar qualquer um que não entendesse o verdadeiro peso do mundo em que eu vivia. A superficialidade da juventude ainda me cercava, mas apenas na aparência. A profundidade das sombras que me moldaram estavam impressas em minha alma. Aos olhos dos outros, eu era jovem demais para ser uma figura tão envolvida nos jogos de poder e sangue. Mas isso era apenas a superfície. A máfia italiana tinha me quebrado, me destruído e
Donatella Romanova - 8 anos Moscou | Mansão Romanov Aos oito anos, eu ainda era uma criança, inocente em muitos aspectos, mas a mansão onde cresci não permitia que essa inocência durasse muito. Enquanto brincava no corredor com minha boneca, os ecos de vozes abafadas vieram do escritório. Não era incomum ouvir conversas entre minha mãe, Anastacia, e os homens de confiança de meu pai. Mas havia algo diferente naquele tom, algo que me fez parar. Curiosa, me aproximei da porta entreaberta, sabendo que deveria ficar longe. Eu já tinha ouvido tantas vezes que espiar assuntos dos adultos traria problemas, mas algo na tensão na voz de minha mãe me puxou irresistivelmente. — Eu não aguento mais esperar, Nikolai! — a voz dela estava ríspida, carregada de uma impaciência que eu não costumava ouvir. — Já faz anos. Quanto mais tempo isso vai levar? Houve uma pausa. A resposta de Nikolai veio calma, metódica, como sempre. — Já lhe expliquei, Anastacia. Isso deve ser feito com cautela. —