Roman Ao sair da reunião, os passos firmes de Dmitry Kozlov ecoavam logo atrás de mim. Senti sua presença pesada, quase como uma sombra, e sabia que ele queria falar. Claro que queria. Tanta coisa havia mudado em poucas horas. A Bratva agora tinha um novo líder, mas isso era apenas o começo. Sem dizer uma palavra, virei-me e sinalizei para ele me seguir. Encontramos uma pequena sala privada, longe de olhares curiosos. Fechei a porta atrás de nós, e o som oco reverberou pelo ambiente silencioso. Dmitry relaxou um pouco, mas seu olhar continuava carregado com a intensidade que só aqueles que sobreviveram por tanto tempo nesse jogo perigoso conhecem. Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio. - Roman... agradeço por sua confiança - começou ele, sua voz baixa, mas carregada de respeito. - A Bratva agora é sua. Com isso, vem tudo o que você pode imaginar - o poder, os territórios, as lealdades. Tudo. - Dmitry fez uma pausa, o peso de suas palavras pairando entre nós como uma tempestade pr
Roman Ostrov O ar da Rússia me recebeu como um golpe gelado no rosto. Atravessar o Atlântico para voltar à minha terra natal depois de um mês em Nova York era como despertar de um pesadelo apenas para descobrir que a realidade era ainda pior. As luzes da cidade, os arranha-céus imponentes e o anonimato que eu vivia por lá eram uma fuga. Mas aqui... aqui tudo me puxava de volta, como correntes invisíveis que eu não podia ignorar. O peso do sangue derramado, das promessas não cumpridas e da traição enraizada estava sobre meus ombros. Era um fardo que eu não podia simplesmente deixar para trás, não importava para onde eu fosse. A limusine deslizou suavemente pelos portões da mansão Ostrov, e o motorista parou em frente à entrada principal. A enorme construção, com seus pilares de mármore e janelas imponentes, parecia observar meu retorno como um predador paciente, à espera de minha próxima jogada. Saí do carro, ajeitando o casaco enquanto o vento cortante fazia a neve no chão girar em
Roman Ostrov O silêncio caiu como um peso entre nós. Ivan me olhava como se não acreditasse no que ouvia. Talvez, por um segundo, ele pensasse que ainda tinha alguma chance de me manipular, de me dobrar à sua vontade. Mas aqueles dias haviam passado. — Você vai se arrepender disso — sibilou Ivan, as palavras saindo como veneno. — Eu garanti que sua futura esposa preferisse o diabo ao invés de você. Ela te odeia, Roman. E quando você se casar com ela, não verá nada além de desprezo nos olhos dela. As palavras dele me atingiram como um soco, mas mantive a expressão inalterada. O fato de ele ter manipulado Donatella contra mim não era uma surpresa. Era o tipo de jogo sujo que Ivan sempre jogava. No entanto, o que ele não entendia era que eu não precisava do amor de Donatella, nem da aprovação dela. Tudo o que importava naquele momento era o que o casamento representava para a Bratva. Ivan deu um último olhar, cheio de ódio e promessas silenciosas de vingança, antes de sair
Donatella Romanova A empregada entrou pela terceira vez, e eu já sabia o que ela diria antes mesmo de abrir a boca. Sua voz, embora suave, carregava a urgência do momento. — Srta. Romanova, por favor, eles estão esperando... Levantei o olhar do espelho, onde meus próprios olhos, azuis e frios como gelo, refletiam a imagem de uma mulher que já havia aceitado seu destino. A mulher que eu era antes, que chorava pela perda de sua família, que sonhava com uma vida longe de homens como Roman Ostrov, não existia mais. Eu estava prestes a me tornar a esposa do homem que destruiu tudo que eu amava, e mesmo que o ódio ainda queimasse em meu peito, minha resignação era evidente. — Sra. Ostrova — corrigi, o nome soando forte em meus lábios. Agora, eu pertencia ao homem que havia tirado tudo de mim. A empregada se retirou, deixando o silêncio pesar no ambiente. Suspirei, levantando-me e alisando o tecido do vestido que parecia mais uma mortalha do que um traje de noiva. Cada passo que d
Donatella Romanova Eu tentei segurar as lágrimas, mas elas ameaçavam transbordar. As emoções eram um turbilhão que me rasgava por dentro. Eu o odiava tanto quanto o desejava, e isso me destruía. Como podia ser? O homem que arruinou minha vida, que matou minha família, agora estava ali, me tirando do chão, da única força que eu tinha, e me fazendo sentir coisas que eu jamais admitiria em voz alta.Meu corpo tremia quando senti Roman se ajoelhar diante de mim. Era uma visão surreal, o temido chefe da Bratva, o homem mais implacável que eu conhecia, agora ajoelhado aos meus pés, com os olhos fixos em mim. Era como se ele estivesse quebrando alguma regra invisível, algo entre nós dois que jamais deveria ter sido ultrapassado.— Donatella, eu vou dispensar os convidados — ele disse, a voz mais suave do que eu esperava. — Você precisa descansar.Descansar. Como se o descanso pudesse curar o caos que ele trouxe para a minha vida. Mas, naquele momento, eu não consegui responder. Apenas o enc
Roman Ostrov Enquanto eu caminhava pelos corredores da mansão, cada passo pesado, meus pensamentos estavam presos em Donatella. A fragilidade dela, tão evidente em cada gesto, em cada palavra, me assombrava. A maneira como seus olhos brilhavam com um misto de raiva e insegurança, como seu corpo tremia, não por medo de mim, mas pelo que ela carregava dentro de si, uma bagagem emocional que eu não conseguia ainda entender completamente. Era impossível não notar a instabilidade emocional que a envolvia como um véu. Eu vi isso em seus olhos. Havia algo muito mais profundo do que o ódio que ela exibia. Era um abismo de dor e incerteza, algo que, por mais que eu tentasse decifrar, sempre escapava pelos meus dedos. E, no fundo, eu sabia que parte disso era minha culpa. Eu sempre soube que o caminho que escolhi para a minha vida deixaria destroços, mas ver isso tão de perto, ver o que eu fiz com Donatella... isso me atingia de uma forma que eu nunca pensei que algo pudesse. A culpa pes
Roman Ostrov Ela tentou me apressar, seus dedos cravando-se em meus ombros, puxando-me para mais perto, como se quisesse que eu tomasse tudo dela de uma vez. Mas eu não o fiz. Não ainda. Eu senti o momento em que ela cedeu completamente. Seus músculos relaxaram sob minhas mãos, e a respiração, antes acelerada e nervosa, começou a se acalmar. Meus dedos traçavam delicadamente o contorno do seu rosto, o toque suave, reverente. Seus olhos estavam fechados, os cílios longos descansando contra a pele pálida. Ela parecia quase frágil ali, entregue, mas não quebrada. Não dessa vez. Havia emoção e desejo cru. — Donatella... — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Não quero que isso seja algo que você vai se arrepender depois. Ela me encarou por um longo momento, e depois de um suspiro, seus dedos encontraram meu rosto. O toque dela era hesitante, quase tímido, como se estivesse testando os limites do que era permitido entre nós. Mas quando finalmente falou, sua voz era firme,
Roman Ostrov Antes que qualquer outro comentário fosse feito, retirei o meu próprio casaco e me aproximei de Donatella, cobrindo-a rapidamente. Puxei o casaco sobre seus ombros e inclinei-me ligeiramente, minha voz baixa e firme ao seu ouvido. — Não precisamos fazer disso um espetáculo, doçura. Ela permaneceu em silêncio, mas seus olhos brilhavam com aquela mistura de raiva e frustração que agora eu estava começando a entender. Donatella estava testando os limites, mas eu não a deixaria exposta diante de Ivan ou de qualquer outro. Olhei para Lucy, a empregada, que nos observava atentamente. — Sirva o desjejum no deck externo — ordenei, mantendo minha voz firme, mas calma. — Senhor, está muito frio lá fora — ela avisou, a preocupação evidente em sua voz. — Perfeito — respondi, um sorriso surgindo em meus lábios. — Assim, garanto que minha esposa continuará vestida durante toda a refeição. Lucy hesitou por um momento, mas logo assentiu e saiu para preparar a refeição. D