Roman Ostrov Antes que qualquer outro comentário fosse feito, retirei o meu próprio casaco e me aproximei de Donatella, cobrindo-a rapidamente. Puxei o casaco sobre seus ombros e inclinei-me ligeiramente, minha voz baixa e firme ao seu ouvido. — Não precisamos fazer disso um espetáculo, doçura. Ela permaneceu em silêncio, mas seus olhos brilhavam com aquela mistura de raiva e frustração que agora eu estava começando a entender. Donatella estava testando os limites, mas eu não a deixaria exposta diante de Ivan ou de qualquer outro. Olhei para Lucy, a empregada, que nos observava atentamente. — Sirva o desjejum no deck externo — ordenei, mantendo minha voz firme, mas calma. — Senhor, está muito frio lá fora — ela avisou, a preocupação evidente em sua voz. — Perfeito — respondi, um sorriso surgindo em meus lábios. — Assim, garanto que minha esposa continuará vestida durante toda a refeição. Lucy hesitou por um momento, mas logo assentiu e saiu para preparar a refeição. D
Roman Ostrov Eu me aproximei, cruzando os braços, e o encarei com seriedade. — Diga logo — a impaciência transbordava na minha voz. Dmitry respirou fundo, como se estivesse se preparando para revelar algo que eu não gostaria de ouvir. — Roman, a saúde de Donatella está muito debilitada. E não estou falando apenas do estado emocional, mas físico também. Ela frequentava o hospital com uma frequência absurda, várias consultas por semana. A maioria dessas consultas não era com especialistas comuns... — ele fez uma pausa, ponderando o impacto do que viria a seguir — ...mas com um psiquiatra. Minha respiração ficou pesada. Isso explicava muita coisa. Eu já sabia que algo estava muito errado com Donatella, mas ouvir a confirmação de que ela estava sob tratamento psiquiátrico tornava tudo ainda mais complicado. — Psiquiatra? — perguntei, mais para processar a informação do que para realmente questionar. — Ela estava sendo tratada mentalmente? Dmitry assentiu, com o olhar sério.
Roman Ostrov O local era um armazém desativado nos arredores da cidade, um lugar onde ninguém questionaria os gritos que estavam prestes a sair. O silêncio era espesso, o ar carregado com um cheiro de ferrugem e umidade. Eu entrei no prédio com passos firmes, o som das minhas botas ecoando pelo chão de concreto. O desgraçado do psiquiatra estava acorrentado a uma cadeira no centro da sala, as luzes artificiais iluminando seu rosto pálido e suado. O medo estava estampado nos olhos do homem assim que me viu. Eu me aproximei devagar, os dedos estalando levemente enquanto me preparava. Dmitry tinha feito bem seu trabalho ao deixá-lo aqui, bem longe dos olhares curiosos da Bratva, e agora cabia a mim arrancar a verdade daquele verme. — Sabe por que está aqui, não sabe? — perguntei, minha voz fria, carregada de uma calma que precede a tempestade. O psiquiatra apenas balançou a cabeça, o suor escorrendo por suas têmporas. Sem esperar resposta, dei um passo à frente e segurei sua man
Roman Ostrov Eu saí do galpão com o gosto metálico da raiva ainda preso à minha língua, cada passo pesado, como se o chão estivesse tentando me puxar para baixo, para longe da realidade. O silêncio do armazém parecia ecoar dentro de mim, mas por fora, o mundo continuava. Dmitry estava encostado no carro, esperando, sua postura rígida, sempre atento. Quando entrei no carro, o cheiro de sangue fresco e pólvora ainda impregnava minhas roupas. Ele percebeu imediatamente, mas não fez perguntas. Dmitry sabia. Ele sempre sabia. Donatella estava no banco traseiro, dormindo profundamente, os fones de ouvido cobrindo suas orelhas delicadas. Ela parecia tão tranquila, alheia ao caos que me consumia por dentro, tão distante de tudo o que acabara de acontecer. — Dei o aparelho pra ela ouvir música — Dmitry disse, com um tom cuidadoso. — Por causa do barulho no galpão. Achei melhor não arriscar. Olhei para Donatella, seus olhos fechados, o rosto relaxado, e apenas dei de ombros. Não havi
Donatella Romanova Enquanto eu me trocava para o jantar, minha mente vagava para as lições que Anastacia havia me ensinado desde cedo. ― Sempre diga aos homens o que eles querem ouvir, Donatella ― ela costumava sussurrar, seus olhos escuros e experientes me encarando no espelho enquanto eu tentava entender como isso funcionava. ― Eles acreditam no que você diz quando você fala com doçura, mesmo que seja mentira. Era uma regra que eu havia seguido minha vida inteira. Fingir, manipular, usar as palavras como um escudo e, às vezes, como uma arma. Mas, com Roman... algo era diferente. Não havia espaço para manipulação. Ele via através de mim. Ainda assim, parte de mim se agarrava àquilo que Anastacia me ensinara, como se fosse a única defesa que restava. Eu terminei de prender as meias 3/4 na cinta-liga, o tecido macio da lingerie vinho contrastando com minha pele pálida. O vestido vinho que escolhi tinha uma fenda lateral, uma provocação discreta. Coloquei minhas botas de couro, a
Roman Ostrov Eu a peguei pelo braço com força, o suficiente para garantir que ela soubesse que eu não estava brincando. A raiva fervia em minhas veias, e cada fibra do meu ser exigia controle. Mas o controle estava longe de ser o que eu sentia naquele momento. Enquanto a arrastava pelo corredor em direção ao quarto, as palavras saíam como veneno. — Eu disse que você estava vestida para matar, doçura — falei, com uma calma assustadora. — Mas o verdadeiro assassino aqui sou eu. Empurrei a porta do quarto com o ombro e a joguei contra a parede. Me aproximei dela lentamente, o olhar cravado em seus olhos. — Sabe quantas maneiras eu conheço de matar alguém, Donatella? — murmurei, aproximando o rosto do dela, quase encostando. — Centenas. Cada uma delas mais eficaz que a outra. E, ainda assim, você me aparece com isso? Envenenamento? É um serviço porco. Ela tentou manter a postura, mas eu vi o pavor momentâneo em seus olhos. Ela sabia que tinha cometido um erro. E eu a faria pagar por
Roman Ostrov O segurança entrou no quarto com passos rápidos e, ao olhar para Donatella em meus braços, sua expressão ficou sombria.— Sr. Ostrov, um médico aqui não vai ter tudo o que precisa. É melhor levá-la ao hospital agora. — sua voz era firme, mas havia um toque de urgência que me deixou ainda mais desesperado.Eu não esperei por mais palavras. Com Donatella nos braços, saí do quarto, meu coração martelando no peito. O ar parecia sufocante, e cada segundo que passava parecia um golpe contra o tempo. Ela estava praticamente inerte, seu corpo frio, sem reação.— Segurem as portas! — berrei para os seguranças, enquanto corríamos para fora da casa. O motorista já estava esperando ao lado do carro, e sem pensar duas vezes, coloquei Donatella no banco de trás, me apressando em entrar ao seu lado.— Vamos! Agora! — ordenei, minha voz dura, sem qualquer hesitação.O carro saiu em disparada, as luzes da cidade passando como vultos ao redor de nós. Eu segurava Donatella em meus braços,
Roman Ostrov Donatella estava de volta em casa, mas algo parecia diferente nela desde o hospital. O silêncio ainda era uma constante entre nós, mas não o mesmo tipo de silêncio gélido e hostil que ela costumava usar como arma. Era um silêncio pesado, carregado de arrependimento. Eu sabia que o que ela havia feito não era apenas uma tentativa de escapar de tudo, mas um pedido desesperado de ajuda. E agora, eu estava determinado a fazer com que ela entendesse que não precisava passar por isso sozinha. Encontrei Donatella na sala de estar, sentada em silêncio, com as mãos entrelaçadas no colo. Seu olhar estava perdido, distante, mas assim que entrei, ela me encarou. Seus olhos já não carregavam o mesmo ódio que costumavam ter. — Donatella... — chamei suavemente, me aproximando. — Este é Alexander. Ele é psiquiatra. — Eu sou louca? Antes que eu pudesse responder, Alexander interveio com uma calma profissional, seus olhos gentis pousando sobre ela. — Donatella, você não é lo