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8 - Homem Sem Lei

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 Roman Ostrov – 28 anos

 O tempo dentro das paredes frias da prisão havia me moldado de formas que eu jamais poderia prever. Dez anos. Dez longos anos desde que entrei aqui com uma única missão. Mas, ao longo desses anos, aprendi que o verdadeiro poder não reside apenas em sobreviver, mas em dominar. E foi exatamente isso que fiz.

 Ao lado do velho, que no início todos subestimavam, nos tornamos os senhores desse lugar infernal. O velho, com sua sabedoria acumulada por décadas de experiência nas sombras da Bratva, e eu, com minha juventude e ambição, fizemos da prisão o nosso império. Os guardas nos respeitavam — ou, mais frequentemente, nos temiam. E os prisioneiros, antes desorganizados e violentos, agora se reportavam a nós como soldados fiéis. Sob o comando do velho e minha liderança emergente, controlávamos o tráfico, o contrabando, e cada negócio que movia poder e dinheiro atrás dessas grades. Para muitos, essa prisão era um pesadelo; para nós, era um reino.

 Mas, como em qualquer reino, sempre existem traidores.

 Certa noite, soube que algo estava errado. Um garoto novo, recém-chegado, começou a se aproximar do velho com uma frequência que me deixou desconfiado. Suas conversas eram curtas, aparentemente inofensivas, mas algo no jeito nervoso e ansioso do garoto me alertava. Ele parecia inquieto demais, como se estivesse esperando o momento certo para agir. A desconfiança cravou suas garras em mim, e comecei a observá-lo de perto, como um lobo à espreita de uma presa frágil.

 A traição se revelou durante uma madrugada abafada, enquanto o silêncio sombrio da prisão era rompido apenas pelo som ocasional de passos ecoando pelos corredores. Fiquei à espreita, observando. O garoto, movido pela intenção oculta, entrou furtivamente na cela do velho, com uma lâmina improvisada escondida sob suas roupas. Era claro o que ele tinha vindo fazer. E eu, silencioso como a própria morte, me aproximei.

 Antes que ele pudesse cravar a faca no coração do velho, eu estava sobre ele. Com um movimento rápido e certeiro, agarrei o pescoço do traidor por trás e, num instante, torci sua cabeça com força suficiente para ouvir o som seco de ossos se partindo. O corpo do garoto desabou como uma marionete sem cordas.

 O velho, que até então havia permanecido imóvel, se levantou lentamente da cama. Seus olhos, embora marcados pelo cansaço de anos, carregavam um brilho de reconhecimento e gratidão. Ele se aproximou, os passos lentos, e olhou para o corpo sem vida do traidor aos nossos pés. Sabia que algo assim estava para acontecer. Alguém sempre tenta tomar o topo, e ele, como sobrevivente de inúmeras lutas pelo poder, não seria ingênuo o suficiente para ignorar as ameaças ao seu redor.

 — Mais uma vez você me salvou, Roman — disse o velho, a voz baixa e rouca, mas carregada de peso e sinceridade.

 Eu apenas assenti. Proteger o velho havia se tornado quase instintivo para mim. Ele me ensinara mais do que qualquer outro mentor na minha vida, e nossa aliança era, ao mesmo tempo, um pacto de sobrevivência e de lealdade.

 O velho se sentou na beirada da cama, as rugas profundas em seu rosto iluminadas pela luz fraca da cela. O ar estava pesado, carregado de significados não ditos, como se o próprio ambiente sentisse que algo mais estava por vir.

 — Preciso confessar algo — ele começou, sua voz agora trêmula, mas resoluta. — Eu realmente sou da Bratva, como todos sempre suspeitaram. — Ele fez uma pausa, como se estivesse pesando cada palavra que diria a seguir. — E eu sei quem você é, Roman. Sempre soube.

 Minhas mãos se apertaram levemente, e senti meu corpo enrijecer. Havia algo na voz do velho que me fazia ficar alerta.

 — Suas feições — ele continuou, os olhos estudando meu rosto com uma intensidade que eu nunca havia percebido antes. — Você me lembra alguém que conheci há muito tempo. Sua mãe, Polina Trofimova. — Ao mencionar o nome de minha mãe, a sombra de um sorriso triste apareceu em seus lábios. — Ela era uma mulher forte, com o mesmo olhar implacável. Eu sabia que você era o filho dela desde o primeiro momento em que vi seu rosto.

 As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. Não era só que ele conhecia minha mãe. Ele sabia exatamente quem eu era desde o início. A magnitude do que ele estava revelando começou a se solidificar em minha mente.

 Com um gesto que me surpreendeu, o velho — o homem que todos temiam, que governava com punhos de ferro e sabedoria — ajoelhou-se lentamente diante de mim. Aquela cena parecia impossível. Aquele homem, temido por tantos, agora estava ajoelhado aos meus pés, como se reconhecesse algo maior do que qualquer título ou posição.

 Ele se levantou com dignidade, o peso dos anos claramente em seus ombros, e caminhou até o canto mais escuro da cela. Ali, puxou uma pequena caixa de madeira envelhecida, guardada com reverência. Seus dedos calejados abriram a caixa com cuidado, revelando agulhas, tinta e instrumentos rústicos, que ele manejava com a destreza de um artesão que entende o valor de seu ofício.

 — Rasgue a calça — ele ordenou, apontando para o meu joelho, sem deixar espaço para questionamentos.

 Com um gesto rápido, saquei a faca e rasguei o tecido da calça, expondo a pele acima do joelho. O velho, em um silêncio concentrado, começou a trabalhar. A agulha perfurava minha pele com precisão, mas a dor física era insignificante diante do peso simbólico do que aquilo representava.

 Enquanto ele desenhava meticulosamente a estrela de cinco pontas em minha pele, sua voz grave começou a ecoar na cela, carregada de um significado ancestral.

 — Esta estrela — ele começou, sem tirar os olhos do trabalho — não é só um símbolo. É mais do que poder, mais do que lealdade. Ela diz ao mundo que você é um вор в законе (vor v zakone), um homem sem lei, alguém que não responde às regras comuns, mas ao código inquebrável da Bratva. Um homem que não se dobra diante de ninguém.

 Cada linha traçada na minha pele era um juramento silencioso, cada ponto uma promessa de sangue e ferro. Eu sabia o que significava carregar essa estrela. Os homens que a possuíam eram uma elite, temidos e respeitados em igual medida, e seus nomes eram sussurrados com reverência e temor.

 — Esta estrela te coloca acima até do chefe da Bratva — o velho continuou, sua voz quase como um cântico. — Apenas aqueles que a carregam podem concedê-la. E agora, você faz parte de algo maior, mais antigo do que qualquer um de nós. Os vor v zakone são os guardiões da verdadeira essência da Bratva, aqueles que mantêm seu espírito vivo. Onde quer que você vá, esta tatuagem dirá ao mundo que você não responde a ninguém... exceto ao código.

 A tatuagem estava quase completa, e o silêncio na cela era interrompido apenas pelo som da agulha trabalhando, como uma música sombria e solene.

 — Lembre-se, Roman — o velho disse, parando para me encarar com os olhos firmes. — Esta estrela não é apenas um símbolo de privilégio. É um fardo. Você não a carrega por escolha. Agora, você pertence à Bratva... e a Bratva pertence a você.

 Quando ele terminou, limpou a pele marcada pela tinta e sangue, dando um passo para trás para observar seu trabalho. Eu olhei para a estrela recém-tatuada em meu joelho, sentindo seu peso não apenas na pele, mas na alma.

 — Agora — concluiu ele, sua voz impregnada de gravidade — você não é apenas Roman Ostrov. Você é um "homem sem lei".

 Enquanto o velho guardava os instrumentos com a calma que só a experiência traz, eu observava a estrela em minha pele, sentindo a ardência dela — não a dor física, mas o peso do juramento silencioso que havia feito. Os vor v zakone eram lendas. E agora, eu era um deles.

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