Donatella Romanova Eu estava jogada no chão úmido do porão, as cordas apertadas em meus pulsos e tornozelos, queimando minha pele a cada movimento. Não resistia mais. Apenas sobrevivia. A escuridão ao meu redor era sufocante, e o silêncio opressor parecia a única companhia fiel que restava. Estava sozinha, verdadeiramente sozinha. O som de passos ecoou pelo porão, rompendo o silêncio com um peso sombrio. Meu coração disparou. Mais soldados da Bratva. Aqueles uniformes, que um dia significaram proteção, agora eram o prenúncio de dor e terror. Meu corpo se enrijeceu quando eles entraram, mas uma voz diferente se destacou, menos ameaçadora, quase cuidadosa. — Sra. Romanova — um dos homens se aproximou, seus olhos analisando meu estado. — Vim tirá-la daqui. As palavras ressoaram como um soco. Sra. Romanova? A forma como ele falou comigo, a reverência em sua voz, me deixou desconcertada. Eu deveria ser tratada como uma prisioneira, como alguém que não merecia respeito. Algo havia m
Roman Ostrov Donatella teve uma noite difícil. Seus pesadelos incessantes, as marcas da dor emocional que ela carrega, demoraram a se acalmar. Só depois de horas, sua respiração voltou a um ritmo tranquilo, e o sono a envolveu novamente. Mesmo assim, eu mal dormi, precisava ficar de olho nela. Não correria o risco de que ela fizesse mais alguma estupidez. Ao amanhecer, me levantei antes de todos, deixando ordens claras: ninguém deveria acordar minha esposa. Ela precisa descansar. Boris Petrov, meu Sub-chefe, havia feito progressos interessantes com o prisioneiro que capturamos. Eu, Roman Ostrov, fui criado nas sombras do terror, moldado pelas mãos cruéis de Ivan Ostrov para ser um assassino. Mas foi a máfia italiana que me ensinou algo mais — a arte de ser um líder. Não um simples chefe, mas um líder impiedoso, alguém que sabe que o poder não é dado, ele é tomado, conquistado, e consolidado com sangue. Agora, sentado na cadeira de Chefe da Bratva, eu já tinha o poder. Mas a
Donatella Romanova — Sra. Ostrova, o médico acabou de chegar — a empregada anunciou, sua voz baixa, respeitosa. — Vou recebê-lo no escritório de Roman — respondi, jogando um xale sobre os ombros, tentando me revestir da força que eu já não tinha. Caminhei lentamente pela mansão, cada passo ecoando nos corredores silenciosos. Ao me aproximar da porta de vidro que levava ao escritório, parei por um instante, absorvendo a tranquilidade ilusória do lugar. A luz natural banhava o ambiente, o que deveria me trazer paz, mas eu sabia que não havia paz à minha espera. — Donatella. — A voz grave de Dr. Alexander quebrou o silêncio, seu olhar penetrante me observava com uma mistura de compaixão e algo mais sombrio. Algo que eu já sabia, mas não queria admitir. — E então, doutor, veio me dizer que meus problemas não são apenas fruto da minha mente perturbada? — Perguntei, com o tom de ironia que sempre usava para disfarçar o medo. Dr. Alexander suspirou, seu semblante sério, quase paternal.
Roman Ostrov O massacre na casa de Alexei espalhou-se como fogo selvagem. Agora, todos sabiam que Roman Ostrov não fazia prisioneiros. Mulheres, crianças, ninguém seria poupado. Aqueles que se atrevessem a me trair seriam despedaçados como animais, deixados à mostra, pendurados como porcos em um açougue até que o último resquício de vida se esvaísse. O conselho, antes tão ruidoso, estava mergulhado em silêncio. Eles sabiam o que estava por vir. Mas enquanto o sangue manchava as ruas, a verdadeira batalha começava a emergir. Inimigos que se escondiam nas sombras aproveitaram o caos para se infiltrar em nosso território. Dmitry, sempre cauteloso, queria que eu esperasse. Para ele, o sangue derramado estava nos enfraquecendo, nos tornando vulneráveis. O que ele não sabia era que, quanto mais sangue jorrava, mais poderoso eu me tornava. O poder não se constrói com piedade, mas com a violência que os mantém acordados à noite, temendo o próximo golpe. Donatella estava linda como se
Donatella RomanovaRever as fotos da minha família destruída foi como rasgar de novo uma ferida que nunca cicatrizou. Era uma dor que eu aprendi a enterrar fundo, onde ninguém pudesse ver. Desde cedo, eu soube que esconder as emoções era a única forma de sobrevivência. Mas, mesmo com todo esse treinamento de sobrevivente, não havia como evitar o queimar lento de cada imagem.Roman estava furioso. Eu podia ver em seus olhos, mas ele não entendia o que se passava dentro de mim. Ele não sabia da confusão que minha mente era. Como poderia entender essa necessidade doentia que eu tinha de ser quebrada por ele? Talvez nem eu mesma entendesse. Havia algo de destrutivo dentro de mim, algo que ansiava por ser empurrada até o limite... até não restar mais nada.Eu queria a destruição. Queria o caos. Queria que, quando eu queimasse, Roman queimasse comigo. No fundo, eu sabia que não haveria inferno suficiente para Roman se ele não estivesse ao meu lado, e era esse fogo que eu desejava acender. M
PARTE I - PODERMoscou | Mansão Ostrov Roman Ostrov - 12 anos — Roman, concentre-se — a voz de minha professora ecoava como um som distante, abafado, enquanto meus olhos permaneciam fixos na janela. Lá fora, as árvores altas se curvavam suavemente ao toque do vento, mas meu coração batia acelerado por outro motivo. Meu pai estava em casa. A expectativa me consumia, como sempre fazia quando ele retornava. Eu não tinha tempo para as palavras rabiscadas no caderno à minha frente. Nada importava além de vê-lo. Num movimento abrupto, empurrei a cadeira para trás, o som das pernas arranhando o mármore polido da sala fez a professora saltar. Antes que ela pudesse me conter, eu já estava de pé, marchando em direção ao escritório. — Roman! — A voz dela, mais incisiva agora, me seguiu pela sala. — Seu pai está ocupado! Por favor, volte para sua cadeira. Ignorei. A ideia de recuar me causava um mal-estar que eu odiava sentir, um frio que gelava o estômago. Quando alcancei a porta maciça do
Roman Ostrov - 12 anosA sensação de puxar o gatilho sempre fora algo familiar para mim. O leve recuo da arma, o som seco do disparo ecoando na floresta enevoada, tudo isso fazia parte do que eu era. O primeiro pássaro caiu quase no instante seguinte, uma mancha escura contra o céu cinzento e nebuloso. O segundo logo o seguiu, um tiro limpo, preciso. Não havia hesitação. Não podia haver. No mundo de meu pai, o erro era um luxo que não se podia cometer.Mais um disparo. O terceiro pássaro despencou, seus últimos momentos interrompidos no ar. Não desviei o olhar enquanto os corpos das pequenas aves caíam, imóveis, em meio à vegetação densa. O silêncio que se seguiu era tão denso quanto a neblina que nos cercava, sufocante.Olhei para meu pai, esperando, quase ansiando por algum sinal de aprovação. Seus olhos, duros e calculistas, fixaram-se em mim por um momento que pareceu durar uma eternidade. Mesmo sem palavras, eu sabia. Ele estava satisfeito. Ele não precisava dizer, o brilho gelad
Roman Ostrov – 18 anosSicília | Máfia ItalianaO homem que me encarava do outro lado do espelho não era mais o garoto que deixara a Rússia seis anos atrás. Aos 12 anos, quando Ivan me trouxe para a Sicília, eu era moldado por promessas, preparado para ser uma arma letal, o orgulho da Bratva. Mas aquele menino tinha desaparecido. O reflexo à minha frente agora era algo muito mais perigoso, mais frio, mais implacável.Meus olhos, que antes vibravam com curiosidade e fervor juvenil, agora estavam calmos, gélidos. O semblante sereno que eu exibia poderia facilmente enganar qualquer um que não entendesse o verdadeiro peso do mundo em que eu vivia. A superficialidade da juventude ainda me cercava, mas apenas na aparência. A profundidade das sombras que me moldaram estavam impressas em minha alma. Aos olhos dos outros, eu era jovem demais para ser uma figura tão envolvida nos jogos de poder e sangue. Mas isso era apenas a superfície.A máfia italiana tinha me quebrado, me destruído em pedaç