AS PESSOAS COMEÇARAM A CORRER e gritar antes que eu pudesse perceber o que estava acontecendo. Senti uma vibração estranha sob meus pés. Um ruído ultrapassou o som que saía dos meus fones de ouvido, como um avião que voa baixo demais.
Levantei a cabeça, os fios castanhos e enrolados voaram com a força do vento, tapando a minha visão. Segurei os cabelos e vi o que parecia uma cena de um filme de ficção científica: uma construção circular de metal branco, voando baixo e atirando feixes de luzes multicores. Naquele instante, eu soube que não era um sonho e algo terrível estava mesmo acontecendo, algo que ninguém acreditava ser possível: o mundo, tal como conhecemos, estava sendo invadido. Era o apocalipse.
— Mãe! — Fiquei em pé, puxando os fones e procurando onde estava minha família.
De longe, avistei minha mãe e sua cabeleira loiro trigo. Seu excêntrico vestido amarelo-ouro, flamulando com o vento, cobrindo parte da visão que eu tinha de Johin, meu irmão mais novo, de dois anos de idade. Corri até eles, alarmada, meu coração batendo forte. Mamãe estava com os olhos verdes arregalados de medo, travada. O carrinho vermelho de Johin andava sozinho, sendo arrastado pelo vento.
Puxei meu irmão do chão, enlaçando sua barriguinha gorducha. Johin e minha mãe eram parecidos, ambos possuíam cabelos cacheados loiros, olhos verdes acinzentados e ficaram tão assustados que não foram capazes de se mover. Nunca fui destemida nem corajosa, era o tipo de garota que berrava agudo caso visse uma barata, mas naquele dia, não sei, algo em mim funcionou diferente, uma espécie de instinto de sobrevivência.
Enquanto as pessoas corriam desesperadas sem saber para onde ir, tracei mentalmente uma rota de fuga que me levasse para longe da confusão e dos disparos luminosos. Foi como estar em uma cena de um filme de guerra espacial, mas eu não queria ser daqueles figurantes que explodem e saem voando nos cantos da tela.
— Vamos sair daqui! — gritei, carregando meu irmão. Minha mãe andou pela grama com dificuldade, deu uma parada e virei-me em tempo de vê-la tirar os saltos e sair correndo com eles nas mãos.
Mamãe sempre foi muito protetora e logo senti as mãos dela em minhas costas.
— Por ali! — Minha tia Lilane, tão loira quanto minha mãe e incrivelmente parecida, apontou uma escadaria, as pessoas iam por lá. Ela, minha prima Nytacha e meu tio Donovan estavam passando as férias em nossa cidade.
— Não. — Tomei outro caminho.
Algo dentro de mim gritava em alerta e acalmava-me, ao mesmo tempo, concedendo-me a incrível habilidade de pensar direito, ao invés de agir por impulso, e vi uma rota mais segura: subindo o morro.
— Vamos por ali!
Mamãe não discutiu. Talvez, para ela, qualquer lugar estivesse bom, desde que saíssemos do parque. Meu tio agarrou a mão de minha prima e a puxou para o mesmo caminho que eu.
Corri carregando Johin. Ele estava com o rosto vermelho, a boca como uma meia lua para baixo, chorando assustado. Mamãe pisou numa pedra e machucou o pé, parei para esperá-la, mas ela gritou, mandando-me seguir em frente e minha tia agarrou meu braço, puxando-me. Vi minha mãe curvar-se e colocar a mão no pé.
Pouco antes de chegar ao topo do morro, olhamos para trás, atraídas por um forte barulho. A escadaria que não subimos estava sendo atacada, algo havia explodido no meio, criando um buraco, e as pessoas gritavam. Dei graças a Deus por não estarmos lá.
Minha mãe nos alcançou e ordenou que não olhássemos para trás, tomou Johin dos meus braços e continuamos a subir. Foi extremamente difícil para ela, sem os sapatos. Minha tia estava de sandálias de praia, shorts e uma blusinha esvoaçante e meu tio de bermuda e regata, afinal, era um dia normal em família. Para mim e Nytacha, que tinha a minha idade, foi mais fácil, pois estávamos de tênis, calça jeans e camiseta.
Um grupo de homens estava na nossa frente, correndo mais depressa do que nossas pernas podiam ir. Tio Donovan puxou meu irmão do colo de minha mãe, ajudando-a, finalmente. Vi os bracinhos de Johin agarrados no vestido amarelo, como se estivesse sendo arrancado à força. Mamãe colocou a mão em sua cabeça, por cima do capuz do Batman, para confortá-lo.
No topo do morro, vimos que não tinha saída: muitas naves brancas e circulares estavam explodindo lugares e coisas, a cidade estava em pânico, havia vários focos de incêndio. Helicópteros da polícia e jatos da aeronáutica já riscavam o céu e tentavam uma defesa. Um deles foi atingido por um feixe luminoso azul, rodopiou e caiu no meio do parque, em cima de pessoas e obras de arte.
— Jaylee! Venha aqui. — Minha mãe chamou, aos gritos, e percebi que ela já estava adiante, no limite do morro, onde havia um grande barranco que dava para o fundo de alguns prédios. — Vamos pular!
Olhei para baixo, tive medo e, ao ver a distância que eu teria que cair, fui tomada pela vertigem . Os barulhos se intensificaram e percebi, bem ali, que eu havia perdido tudo.
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Acordo assustada e empurro o lençol fino que cobre meu corpo. A luz alaranjada da manhã entrava pelas frestas da janela anunciando mais um dia no inferno conhecido como Torre Bawarrod. Quando eu e minha família nos abrigamos em um dos prédios próximos ao barranco, era para ser um esconderijo, mas acabou se transformando em nossa prisão.
— Beba isso, Anneth. — Vejo a silhueta de minha tia Lilane curvada sobre o colchão no qual dormia minha mãe, os cabelos presos em uma trança dourada e comprida arrastavam as pontinhas no chão. — Beba tudo.
— Mãe? Tia? O que houve? — Espanto o lençol e sento-me, usando uma camiseta branca com manchas de café que tirei do lixo dos nobres há um ano para usar de camisola.
Estranho sua presença, já que minha tia dificilmente entra no nosso apartamento, a não ser quando é para partilhar alguma comida que mal sobra em sua casa. Por cima do ombro, tento enxergar minha mãe, mas tudo o que vejo é que tia Lilane trouxe um suco de acerola para ela, desses de caixinha.
— Não se preocupe Jaylee. — Minha tia fala suavemente, virando um pouco a cabeça para mim. Apesar de sua voz estar tenra, seus olhos estão preocupados e as sobrancelhas claras se juntam enrugando a testa. — Sua mãe só está um pouco cansada. Vá se trocar, você tem que ir trabalhar na lavanderia.
Confiro rapidamente Johin, deitado de bruços, ainda dormindo sobre meus pés. Nós dividimos o mesmo colchão e moramos agora em um pequeno apartamento, com a sorte de contarmos com um banheiro privativo e uma pequena área para cozinha; regalias que minha mãe conseguiu com seu trabalho árduo.
— É anemia de novo? — Um arrepio percorre minha espinha.
— Não faça perguntas e vá se arrumar. Você sabe o que acontece se você se atrasar. — Tia Lilane passa a ordem com a voz dura.
Fico em pé, tendo agora uma ampla visão de mamãe deitada, puxando suco pelo canudinho, enquanto minha tia segura a caixinha para ela. Os braços dela estão cheios de mordidas dos “sanguessugas” e ela ainda usa o vestido de seda azul-celeste, seu uniforme de trabalho.
Tento não observar tanto quanto minha curiosidade deseja. Caminho até o banheiro e troco a camisola por meu uniforme de trabalho: calça jeans e uma regata roxa com um furo na barra. Precisarei costurar minha roupa depois, mamãe disse que faria quando voltasse do trabalho, mas pelo visto adoeceu.
Encaro meu reflexo no espelho e a visão em nada se parece com a memória que tenho de mim na época em que eu era feliz, normal, ia para a escola, paquerava os meninos no pátio e ficava a tarde toda vendo desenho animado e cuidando de meu irmão.
Após três anos vivendo na Torre Bawarrod, eu já deveria ter acostumado com meu rosto magro e cansado. Abro a torneira. A água é escassa e cai pouca, mas o suficiente para eu lavar o rosto e as axilas. Escovo os dentes usando pouca pasta, passo uma escova pelos cabelos e calço meias grossas e galochas amarelas. Hoje em dia, posso considerar uma benção ter sapatos tão resistentes, mesmo que antigamente eu visse esse tipo de calçado como algo fora de moda. Começamos a valorizar coisas diferentes quando perdemos a liberdade e o dinheiro.
— Estou indo. — Passo por minha tia.
— Tchau, Jay! — Johin acena, segurando seu copo e tomando leite, com a tia ao seu lado, acariciando o seu cabelo. Mamãe está dormindo e não ouso dizer nada, apenas aceno para meu irmão e abro a porta.
— Meu Deus, Jay, vamos nos atrasar. — Nytacha me espera encostada na parede do corredor e lança o melhor olhar repreendedor que ela consegue fazer, que não é muito.
Nytacha é o tipo de garota suave, com rostinho de anjo, e puxou sua mãe em todos os traços: cabelos cor de trigo enrolados, olhos verdes como o mar e um sorriso bonito capaz de encantar todos os rapazes de Bawarrod. É um problema sério e, dependendo do setor, meu tio não a deixa caminhar sozinha pela Torre.
— Desculpe. — Dou de ombros e fito seu bracelete no braço direito, posicionado um pouco acima do cotovelo. Tenho um igual. É um simples bracelete prateado, liso, que representa quem somos: filhas das doadoras de sangue. Basicamente, nossos pais são comidas de vampiros
Ah, sim, vampiros! Com a invasão alienígena descobrimos que não éramos os únicos habitantes do planeta. Enquanto nossas armas de fogo e bombas atômicas se provaram inúteis contra eles, os vampiros possuíam uma arma secreta capaz de dizimá-los: magia. Infelizmente, usar magia acaba com a energia vital de um vampiro e ele pode morrer, dependendo de seu esforço, caso não se alimente de sangue humano. Eis a equação que nos permite viver em total harmonia (ou quase) com os vampiros hoje em dia: nós somos comida!
Podemos viver em suas casas, enquanto os servimos como seus criados, até que fatidicamente morreremos, afinal somos mortais, ao contrário deles. Ao mesmo tempo, eles precisam de nós para sua própria sobrevivência e cuidam para que continuemos vivos, desde que possamos servir de alimento a eles.
O principal motivo pelo qual minha família está tão entregue à desgraça é que mamãe é a única doadora com um certificado entre nós. Seu sangue costumava ser valorizado, mas três anos de doações acabaram com sua saúde e agora ela não consegue ceder tanto quanto antes, podendo fazer uma doação com muito esforço.
Os vampiros pagam pelo tanto que você doa e pelo seu tipo sanguíneo. Ter doenças, como hepatite, tira você do páreo. Ouvi dizer que uma família inteira foi abandonada à própria sorte do lado de fora dos muros da Torre quando contraiu uma doença dessas.
Ano passado, quando meu irmão contraiu pneumonia, nosso maior medo era o de sermos expulsos, mas mamãe buscou médicos e remédios para ele melhorar. Infelizmente, as contas ficaram pesadas, exigindo mais doações.
Depois que mamãe adoeceu, as contas ficaram apertadas e começamos a vender tudo o que tínhamos. Não sei como vamos fazer agora, pois o que pagam na lavanderia é muito menos do que precisamos e Johin ainda não tem idade para trabalhar. Pagar o aluguel é tão importante quanto comer; às vezes mais. Sem um lugar para ficar, encontraremos a morte certa dentro do estômago de um alienígena, é o que dizem.
— Bom dia, Zerion! — A voz suave de Nytacha corta meus pensamentos. Ela acena para um dos guardas reais, um vampiro, que está todo coberto por uma armadura negra e um capacete.
Os vampiros não falam conosco, normalmente, mas Zerion sempre acena com a cabeça quando vê Nytacha passar, só não sei até que ponto ele faz isso por simpatia ou com segundas ou terceiras intenções, pensando em cravar as presas nela. Outro dia, Nytacha ganhou uma cesta de frutas, e advinha quem mandou? Pois é, Zerion. Acho que está demarcando território, e quando minha tia Lilane liberar a filha para doações de sangue, ele será o primeiro da fila.
— Eu não sei como você sabe que é ele — murmuro cobrindo a boca com a mão, no instante em que passamos pela porta da lavanderia.
— É muito simples. — Nytacha abre um sorriso.
O cheiro de sabão cutuca minhas narinas de forma incômoda, um ardor simples, que dá vontade de espirrar, mas não causa o espirro em si. Muitos jovens da nossa idade trabalham por aqui, há bastante roupas para lavar.
— Ela deve reconhecer o volume no meio das pernas dele. — Byrn passa os braços nos meus ombros e nos de Nytacha, abraçando-nos ao mesmo tempo. Ela é uma garota mais alta e mais robusta que nós.
— Eu nunca faria tal coisa! — Nytacha fica com o rosto todo vermelho de vergonha e se adianta para o tanque.
— Byrn, não a provoque assim! — Coloco as duas mãos na cintura e analiso minha melhor amiga.
Ela tem os cabelos bem escuros e curtos como os de um menino. No pescoço, uma gargantilha de renda cobre o que eu acredito ser mais uma mordida de seu mestre. No início do ano, Byrn começou a doar sangue para ajudar nas despesas de casa, e faz isso uma vez por mês, que é o tempo médio saudável para alguém conseguir doar sangue. Noto que sua calça jeans é nova, com certeza ela está aproveitando bem o dinheiro que recebe.
— Só estava brincando. Sei que sua prima ainda é intacta.
— Não sei dizer se você está falando da virgindade ou do fato de que ela não fez nenhuma doação.
— Ah, não tem muita diferença, doar sangue é como fazer sexo. Você até tem um orgasmo! — Byrn dá uma larga risada, divertindo-se, e os músculos do pescoço forçam-se contra a renda negra. — Você devia tentar um dia desses.
— Minha mãe simplesmente não permite. — aproximo do tanque e Byrn fica do meu lado; foi assim que nos tornamos amigas.
Abro a torneira e deixo a água gelada e límpida jorrar até encher. O trabalho na lavanderia é muito leve. Nada como cortar cabeças de galinhas, arar a terra, temperar ferro para armas ou, ainda, faxinar os aposentos dos nobres. Ficamos com as mãos cheirosas e macias, limpas e, digamos que, alguns de nós aproveitam para tomar um belo banho, já que em nossas casas temos muito menos água do que nas torneiras daqui.
— Se ela continuar doente, talvez você não tenha muita escolha.
— Eu sei. — Puxo uma calça dourada do cesto de roupa e afundo na água do tanque.
— Além do mais, você já tem idade para ser uma doadora e é besteira não começar logo. Pagam mais quando você é nova.
— Pois sempre que digo que quero ajudar ela diz que sou nova demais para isso. Já foi difícil convencê-la em me deixar vir para a lavanderia.
— Olhe para isso, queria ter um vestido assim. Aposto que este é de Lady Lucretia! — Byrn se curva por cima do tanque, puxando um vestido preto e vermelho do cesto.
Analiso o vestido bordado com fios dourados e renda, um tecido impecável. Até consigo imaginar Lady Lucretia vestindo-o, mas não sei se cabe nela.
— Os seios dela não cabem aí! — Dou uma risada.
— Ela amassa, para ficarem mais redondos aqui em cima. Mais sexy. — Byrn passa as mãos em seus seios, simbolizando. — Uma vez eu a vi no jardim, à noite, durante um festival no salão de festas e preciso dizer que ela é linda como um anjo. Pálida como a lua, cabelos negros como o céu da noite e os olhos brilhantes como as estrelas!
Byrn é uma entusiasta, antes de nossa vida mudar, ela era viciada em Crepúsculo.
— Dizem que ela vai se casar em breve. — Ederlon, que está no tanque ao lado de Byrn, se intromete em nossa conversa. É um rapaz alto, porém magro para trabalhos braçais e foi designado para a lavanderia. Ele é um pouco mais novo que eu, mas bem mais alto.
— Às vezes, sinto-me de volta aos castelos feudais. Vampiros têm esse lance todo estranho e antigo de reis, rainhas e princesas. — Resfolego, puxando a calça dourada para cima e para baixo na água ensaboada.
— Eu acho lindo — Byrn suspira. — Mas, pelo que ouvi dizer, o Rei Bawarrod quer casá-la com o general.
Tanto eu quanto Ederlon paramos nossos afazeres e lançamos a mesma expressão de nojo para Byrn.
— Com o “Glutão”? — Ederlon é o único com coragem de verbalizar todo o seu horror. Seus olhos castanhos escuros abrem-se bastante e seu nariz comprido acentua o momento cômico.
— É, com o Glutão. Uma vez lavei uma de suas fardas depois de um festival e estava muito suja de sangue, entre outras coisas, uma lambança.
“Glutão” é o apelido que o general tem por essas bandas. Dizem que ele come como um porco e mata todos os seus escravos, sugando-os até a última gota. A descrição assemelha-se a de um monstro sem autocontrole.
— Coitada — Ederlon suspira.
— Menos conversa e mais trabalho! — A supervisora da lavanderia logo chama nossa atenção. Ela é humana como todos nós, mas trabalha em um cargo maior, já que seu marido é escravo de sangue de um dos nobres.
Acho que vocês já entenderam como o fator sangue é importante por aqui. Minha mãe costumava servir a dama de honra da rainha, mas recentemente ela doa aleatoriamente para os guardas, se tiver sorte. Pagam pouco, pois seu sangue é ralo.
Depois da bronca, trabalhamos como animais. Meus dedos ficam enrugados e meus braços cansados. Quando meus ombros não aguentam mais, ouvimos o gongo para o intervalo e nos juntamos todos no jardim para comer. Ao contrário dos vampiros, podemos ver a luz solar e fazemos isso bastante, para nos lembrar o tempo todo de que somos diferentes deles.
Servem marmitas para nós, arroz e frango, a única hora em que eu consigo comer alguma coisa. Enrolo a coxa de frango num guardanapo e guardo, bem escondido, no meu bolso esquerdo. Não pretendo comer depois, mas levá-la para Johin e minha mãe.
— Aqui, peguei para você. — Uma suculenta maçã bem vermelha entra no meu campo de visão .
— OBA! — BYRN ESTICA A MÃO para pegar minha suculenta maçã.Em pé na minha frente, fazendo sombra no sol, Lyek ergue a fruta sobre seus cabelos negros, desviando-se dos dedos longos de Byrn, mecânico e um dos meus amigos mais antigos aqui dentro.— APESAR DE NÃO HAVER JANELAS ABERTAS no Setor B, a penumbra que encobre o local é cortada por pequenos feixes de luz que escapam pelas frestas. Não há muitas lâmpadas funcionando por ali, mas desconfio que a escuridão não seja problema para vampiros.Passos explodem contra as paredes do corredor. Byrn puxa o meu braço bruscamente para dar passagem aos cinco soldados com arma(3) Vantagem
É DIFÍCIL PARA UMA GAROTA QUE está passando por necessidades financeiras graves se conformar com o tipo de luxo em que vive a família de Byrn. Ela, sua mãe e seu pai são doadores. O apartamento em que entrei é duas vezes maior que o meu, a sala decorada e aconchegante, limpa, com móveis de madeira e carpete marrom cinzento. Um lugar silencioso e que cheira a produto de limpeza, uma das coisas mais difíceis de conseguir hoje em dia, além de comida. DEPOIS DE MAIS UM DIA DE TRABALHO na lavanderia, Byrn deu mais uma sacola com dois potes, contendo refeições para minha mãe e meu irmão. Eu a abracei forte. Quando puder, vou retribuir todo favor que ela fez.Tenho uma sensação de dívida terrível com todos os meus amigos, especialmente Lyek e Byrn, que têm me auxiliado sem que eu precise pedir.(5) Sociedade dos Vampiros
O SALÃO É VERDADEIRAMENTE SUNTUOSO e digno de um castelo cheio de pompa. O teto é branco, com pinturas douradas e três grandes lustres de cristais se projetam para baixo. Há muitas portas, brancas e douradas, separadas por pilastras redondas, todas elas fechadas, lacradas, quase sinto como se estivesse sem ar. O chão é de madeira, os saltos explodem, mas a música é alta e as vozes se sobrepõem umas às outras de uma maneira instigante e até familiar. É uma festa normal, como se eu apenas estivesse na época errada. Garçons passam bem vestidos, oferecem bebidas e docinhos dignos d
UM RAIO DE LUZ INCOMODA MEUS OLHOS, despertando-me. Meu corpo inteiro dói como se eu tivesse sido atropelada por um caminhão. Não sei exatamente quanto tempo minha mente vacilou, mas a impressão é de que quase morri. Consigo enxergar os lampiões da saleta e percebo que o vampiro ainda me abraça e entorna meu sangue como um elixir. Se não parar, vou morrer.Seguro em seus o
A PORTA ESTÁ TRANCADA, tento girar a maçaneta e ela não cede. Dou socos, talvez mamãe esteja dormindo exausta, mas não escuto nem Johin.Aos poucos, a irritação da porta ter sido deixada trancada como se esquecessem de mim dá lugar à preocupação. E se mataram minha família? Posso ter feito algo muito grave ontem, algo que tenha irritado algu&eac
— NÃO ME INSULTE NA FRENTE DOS NOBRES. — Devon puxa um lenço vermelho do bolso da frente do paletó e estende para mim. Desde que nos encontramos, é a primeira vez que ele dirige palavras a mim.Pego o lenço macio, de qualidade, e seco os olhos, tentando não borrar a maquiagem. Olha, um gesto de bondade! Quase me convence que é um lorde, se eu não conhecesse o l