ACORDO ASSUSTADA COM O BARULHO de um tiro e me sento, respirando ofegante. O quarto está escuro e só há silêncio. Olho para o lado, Devon está dormindo com os braços para cima e o corpo inteiramente nu, apenas um pedacinho de lençol branco cobrindo sua cintura.
Vivo.
— ENTÃO VOCÊ AINDA COME ESSE LIXO?— Jay! — Lyek abre um sorriso com a boca cheia de arroz e carne de tubarão. Ele solta a marmita em cima do capô e desce do carro, uma Ferrari preta e prateada, com modificações. Respiro fundo, olhando para esse rapaz robusto e de olhar amável. — Veio me visitar? — Não esconde seu sorriso, que esquenta meu co
— SINTO MUITO. REAGI MAL. — Zane fala com o rosto sem expressão e sem piscar os olhos, como se fosse um quase-robô dentro de sua armadura. Ele vira para Lady Lucretia quase que de imediato. — Aí está, fiz como você queria, senhora.— Zane! — Vendada, Lady Lucretia cruza os braços por cima da armadura e torce a boca. — Você tem que realmente querer
— EI, JAY! — ZANE SEGURA NO MEU BRAÇO ANTES QUE eu consiga chegar em Devon. Giro e encaro ele e Lady Lucretia, quer dizer, os panos negros que os cobrem.Parece até que é um aviso para que eu não diga a Devon o que preciso dizer. Como um desses sinais que Deus nos envia, mudando nossos caminhos de última hora. AS LÁGRIMAS ROLAM DOS MEUS OLHOS, escorrendo pelas minhas têmporas. Se eu não disser alguma coisa, ele vai perceber, investigar, descobrir tudo e me matar. Em meio ao desespero e a tremedeira que acomete o corpo, suspiro.— Estou chorando porque te amo — confesso, chorando. Minha boca retorcida para baixo em uma careta mais feia que um palhaço triste. — Esse é o problema &mdas(42) Confessar
NÃO SÃO COMUNS TERREMOTOS NO ÁRTICO, mas todos nós sentimos um abalo sísmico. As paredes tremeram e mamãe disse que Johin acordou assustado, chorando. Uma parte da geleira despencou e o oceano ficou ainda mais gelado. Zane caiu no chão de joelhos, gritando e chorando ao saber da morte de Elisabeth, Devon tentou abraçá-lo, mas o castelo de Bawarrod se partiu ao meio com a notícia. Literalmente. Os escravos fugiram, os serviçais correram aterrorizados.— “ A LUZ DO SOL BATE CONTRA MEUS OLHOS, DESPERTANDO- ME. A sensação é de que estou surda, meu corpo inteiro está dolorido e estou dentro de uma cela construída para prisioneiros confessarem seus crimes. Como sou uma humana e tenho Relação-Sanguínea, minhas mãos estão amarradas atrás do meu corpo, presas na cadeira, com luvas isolantes e criadas para conter meus poderes. NÃO EXISTE NADA PIOR que essa sensação de que não valho nada, perdi toda a minha dignidade. Não importa o que façam, curve a cabeça, mas nunca a alma. Não acho que posso manter essa promessa agora.Escuto o barulho de tambores lá fora. Acho que é o dia da minha tortura, deve estar tendo um festival, com diversos espectadores em praça pública. N&(44) Sofrimento II
(45) Tragédia
ENSURDECIDA PELO SOM DAS BATIDAS DESESPERADAS do meu coração, por alguns segundos achei que tudo estava acabado: Zane ser alvejado e desfalecer nos braços de Devon era o ato final, as cortinas se fechariam e Celeste tinha vencido, ainda que nem participasse do teatro.Perplexa, contemplo um futuro frio e um mundo mais sombrio sem a presença quente e brilhante de Zane. É como afundar em areia movediça. O que será de mim sem ele? Quando me senti perdida, ele era meu abrigo. Se estava triste, ele fazia com que eu sorrisse. Não posso imaginar viver sem ele. As lágrimas nascem nos meus olhos.Zane abre os olhos e busca o ar, como se estivesse se afogando. Dorian levanta, colocando as duas mãos na cabeça e vira as costas, acordando de seu desespero. Meu coração dá uma batida dupla e exasperada. Respiro. É como presenciar um milagre.— Apenas respire. — Devon o mantém junto ao corpo, segurando a cabeça de Zane. — Respire. — Zane recupera o fôlego devagar, como se acordasse de um pesadelo, sua