Por Aaron D'Angelo
Já passavam das oito da noite. A temperatura de minha secretária havia baixado consideravelmente e a Sra. Moore fazia questão de estar sempre pendente dela.
Olhei para a janela com a visão da lua lá fora, o clima no ar estava fresco e minha mente nebulosa.
Os pensamentos um atrás outro me atormentando um pouco mais a cada minuto.
O quê ela tem haver comigo? Ela é livre em seu tempo fora do trabalho.
Mas quanto tempo ainda temos?
Me interrogava sem sossego.
Marina parecia ter apenas alguns meses antes de dar à luz.
Como acharei outra secretária? Não quero dores de cabeça de novo, odeio treiná-las.
Tínhamos uma viagem importante no fim de semana, a empresa estava na fase final de um projeto que viajamos para assinar a mais ou menos cinco meses.
— Céus, aquele cliente me fez perder a cabeça... — Disse me lembrando do quanto ele nos havia feito beber.
Olhei para ela, voltando minha atenção ao seu corpo pequeno repousando na cama.
— Vamos seguir com isso, não é? Nada vai mudar. — Eu desejei encarando o rosto de Marina banhado pela luz da lua.
Observei-a por mais alguns minutos, antes de a Sra. Moore aparecer.
— Ela já está dormindo a muito tempo, creio que o melhor é acordá-la para tomar algo e se hidratar.
— Não é melhor deixá-la dormir mais? — Na verdade não tinha a mínima ideia de como se cuida de alguém.
— Ela suou muito, acorde-a e leve-a para tomar a sopa que preparei. Vou trocar os lençóis.
A senhora parecia saber sobre o assunto, questioná-la não estava em questão.
Não tinha ideia também de como se acordava alguém, para eu que vivi sempre só, companhias não eram algo com que eu saiba lidar.
Órfã, apenas sustentado pela fortuna que meus pais deixaram. Os tutores eram prestativos, mas não passavam de empregados e no fim, mesmo uma casa cheia de tudo e todos, ainda me parecia uma casa vazia.
Como o primeiro que fiz, levantei-a e ela novamente tombou com a cabeça em meu ombro. Tomei seu corpo em meus braços e a carreguei na cozinha.
Arrastei com o pé uma das cadeiras, para dar espaço suficiente para sentar-me com ela.
— Como faço isso...? — Murmurei para mim mesmo.
Ela não acordava e também não conseguia fazê-la abrir os olhos. Sentei-me com ela em meu colo, peguei uma colher de sopa e assoprei.
— Vamos... abra a boca. -Tentei colocar a sopa perto de seus lábios para ver si se abriam, mas de nada adiantou.
Quando já ia desistindo Marina abriu os olhos, pouco, mas os abriu.
— O quê está acontecendo... chefe? — Ela parecia entorpecida, a voz calma demais e baixa demais.
— Não me chame de chefe aqui, Marina, estamos na casa da Sra. Moore se lembra?
— Eu, eu ... como chegamos aqui? — Ela se remexeu em meus braços.
— Sossegue, você não está bem. — A abracei contra mim para conter seus movimentos.
— Chefe eu...
— Marina, está querendo sua sepultura? Me chame de qualquer coisa, mas "chefe" e "senhor", esqueça. — Disse irritado.
O estado torpe dela poderia colocar água abaixo meus planos, e se perdêssemos a chance de comprar aquela casa, todo o projeto do resort iria ralo abaixo.
— Mas eu... — Antes que ela pudesse terminar a frase coloquei a colher em sua boca.
Tinha que a impedir de falar enquanto não estivesse em seu juízo, a Sra. Moore já vinha em nossa direção.
— Oh, ela acordou. Que bom vê-la melhor. — A senhora se sentou à mesa.
— Sra. Moore... — Ela já tagarelava, mas a impedi dando outra colherada de sopa em sua boca.
— Sim, ela está melhor, mas não diz nada com nada. — Sorrio mostrando um ar divertido que não existia na situação.
— Como está a temperatura dela? — A senhora perguntou antes de se servir-se de um pouco de sopa.
— O termômetro está no quarto, eu..
-— Não precisa do termômetro, encoste os lábios na testa dela e vai saber. — Ela passou a dica e esperou até que eu executasse.
Ela me olhava esperando a resposta e eu olhei para minha secretária.
— Vamos ver essa temperatura... — Disse tomando coragem e enfim colando minha boca a testa de Marina.
Por uns segundos não soube dizer, mas depois de retirar-me olhei para a senhora com a resposta.
— Um pouco quente ainda, mas tenho certeza que vai melhorar logo. — Virei-me para encarar Marina. — Não é, amor?
Queria ver sua cara de espanto e lá estava ela, de olhos arregalados, seus batimentos acelerados e como estava tão perto, podia a ouvir ofegante. Mas então Marina gemeu, fazendo-nos preocupar.
— Humm... — Ela levou a mão à barriga.
A fim de saber o que ela estava sentindo, também coloquei minha mão sobre seu ventre e então ela pareceu surtar por dentro.
Eu podia sentir o bebê se mexer, a mão dela se pôs sobre a minha apertando-a, como se ela sentisse medo de quê eu soubesse.
— Está tudo bem. — Quis acalmá-la
Acariciei seu ventre, sua mão sobre a minha relaxou e então a confusão se fez presente em seu olhar.
Não sabia o quê estava havendo comigo, mas sentia a necessidade de encará-la, entendê-la e naquele momento… senti-la.
Por Marina Allen.Abrir os olhos nunca foi tão angustiante, eu não tinha ideia do quê havia acontecido. De pronto o foco de minha vista era ele, meu chefe, Aaron D'Angelo, tão próximo a mim.Estava tonta e confusa, demorou um tempo até que me achasse na situação. Tentei me comunicar, mas ele me interrompeu em todas as vezes.Percebo então a conversa entre ele e a Sra. Moore, procurando entender o que era dito me foquei e de repente eu soube ser eu mesma o assunto em discussão."Não chamar a atenção", era meu principal método de defesa contra a curiosidade alheia, mas naquele momento não estava funcionando.As sensações e o controle de meu corpo voltavam aos poucos, e eu subitamente me dei conta de que me encontrava em seu colo.Droga!Pensei.Isso até a Sra. Moore perguntar se eu tinha febre, pois do nada recebi um beijo
Por Marina Allen.Iluminado pelo abajur oposto a mim, podia vê-lo mais ou menos. Desfez o nó da gravata, retirou os sapatos e as abotoaduras.— O quê isso significa? — Questionei-o ao vê-lo levantar parte da coberta na cama.— Estou indo dormir.— Aqui?— Sim. Onde mais seria? — Ele continuou se sentando na cama e em seguida enfiando-se em baixo das cobertas.— Mas eu estou aqui! — Disse esticando meus braços impedindo-o de se ajeitar.— Nesta cama cabem dois. — Ele me fez encolher os braços. — Além do mais, há uma senhora lá fora que acredita em que somos marido e mulher.— Mas senhor...A cara furiosa de meu chefe por eu ter usado o " Senhor" de novo foi o suficiente para me calar.— É Aaron. A partir de agora use meu nome Marina. — Ele disse e desligou o abajur.
Por Aaron D'AngeloEra no mínimo estranho dividir a cama com alguém, mas com Marina foi mais confortável do que eu pensava.Quando acordamos pela manhã, fui o primeiro e por alguns minutos não pude evitar acariciar sua cabeça.Vê-la dormir ali, tão serena e calma, não parecia a mesma secretária que eu tinha no escritório.Em certo momento ela já não dormia mais tão pesado e achei melhor parar de mexer com o cabelo dela.Seus olhos se abriam aos pouquinhos e ela me surpreendeu com um " bom dia" acompanhado de um meigo sorriso, mas logo voltou a si e se afastou.Desci da cama e me espreguicei de pé.De repente Marina tampou a boca com a mão e se curvou pra frente.Preocupado atravessei a cama e me coloquei ao seu lado.— O quê foi?— Nada, apenas enjoos matinais. — Ela sorriu amarga.
Por Marina Allen.Nunca consegui dormir por tanto tempo, e tão bem, em toda a minha vida. No entanto, naquele dia foi diferente e acordei pela tarde abraçada meu chefe que me encarava sem expressão alguma em seu rosto.— Descansou bem?Eu não conseguia acreditar na pergunta dele.Saltei da cama, não devia estar tão próximo de meu chefe, não devia esquecer de me proteger dele.— Sim. Obrigada. — Respondi.Abri minha mala no canto do quarto, retirei algumas peças de roupas para tomar um banho e percebi uma sacola com peças minhas dentro.— Eu... eu estava vestindo essas daqui ontem, agora me lembro.— A Sra. Moore disse que era melhor dar um banho em você para abaixar a febre, por isso não está usando as mesmas. — Ele respondeu saindo da cama.— Pobre senhora, como ela conseguiu me dar banho s
Na estrada.Por Marina Allen.Na estrada...O carro balançando não tornava nada fácil.— John, não tem uma outra via? — Meu chefe perguntava para o chofer.— Infelizmente não senhor, a outra via está interditada.— Mas isso está esburacado demais.— Eu sei, no entanto é o único caminho agora. — O chofer respondeu voltando sua atenção totalmente para a estrada.Para ajudar a ficar pior, uma tempestade nos alcançou, a chuva só piorava e tivemos de parar em um trecho acidentado.— Senhor, creio que o melhor é buscar um abrigo por aqui, ou voltarmos. — Diz o chofer.— Sim, também creio ser o melhor. — D'Angelo concorda.— Então irei verificar se encontro algum canto aqui perto.— Vou também, a capas de chuvas aí no porta luvas, certo?
Por Aaron D'Angelo.A chuva lá fora era incessante, mas dentro do carro tinha tudo o que precisava.Antes de conhecer Marina Allen, meus dias no escritório eram uma completa dor de cabeça. Haviam pelo menos três secretarias para dar conta de todo o serviço.Especial, essa era a palavra que a descrevia. A mulher havia cometido muitos erros no primeiro dia, mas logo apresentou melhoras e consertou toda a agenda de meses.Sabia que ela era o que eu precisava, mas conforme seu esforço aumentava, mais admiração por ela eu tinha. Passávamos tanto tempo juntos que comecei a sentir uma queda por ela, seu jeito e sua personalidade me deixavam bobo.Como dizem " o proibido é mais interessante", no entanto, ainda continua proibido. Tive de adotar medidas contra Marina.Ser frio, viciado em trabalho e rígido eram máscaras usadas para marcar uma distância saudável e
Por Marina Allen.Eu estava em casa, era um dia chuvoso lá fora, estava com medo e podia pressentir que algo iria acontecer.Ouço batidas fortes na porta, levanto e caio. A porta se abre mesmo sem eu ter destrancado e vejo uma silhueta masculina cruzar a porta acompanhada de um clarão de um raio.— O quê é isso? — Minha visão é a pior.— Marina, não achou que iria conseguir escondê-lo pra sempre, achou? — A voz de meu chefe.Tentei me por de pé, mas ele passou por mim antes de eu firmar as pernas.— Vou levá-lo, você não poderá vê-lo nunca mais está me ouvindo.Ouvia um choro, um choro de bebê e ficava cada vez mais alto. Corri para tentar impedi-lo.No fim das contas não consegui, desejei voltar ao passado, ao dia em que descobri sobre minha gravidez.Como uma miragem branca, uma névoa tomou meu
Por Marina Allen.Lá fora a lua está brilhante no céu, meu pescoço dói de tanto encarar as paisagens da janela do carro.Não tenho vontade de olhá-lo, não quero olhar para ele. Sei também que ele me olha, minha pele arrepia com a intensidade de seu foco em mim e tento não perder minha sanidade.— John, preciso de uma parada. — Digo faltando menos de uma hora para chegarmos a cidade.— Sem problemas. — Ele responde gentil como sempre.— Obrigada.O silêncio é instalado outra vez, dez minutos à frente e paramos em um posto de gasolina.Coloco o pouco que tenho em meu estômago para fora. E quando me dou conta, ele está atrás de mim segurando meus cabelos para trás.— Senhor, esse é o banheiro feminino. — Digo correndo para pia e lavando o rosto.— Há alguma coisa que eu precise saber? — A pergunta vê