2. Embarcando para a Turquia

Blair

Eu entrei apressada na sala de Briefing onde a tripulação do voo estava reunida. Esse tipo de reunião era comum e necessária, já que muitas vezes conhecíamos a tripulação apenas uma hora antes de embarcar. 

— Você está atrasada — Frank Carson, o comandante, com quem eu já tinha voado algumas vezes, avisou assim que entrei.

— Eu tive um pequeno acidente no caminho, sinto muito — eu ofereci um sorriso cordial, usando toda a diplomacia que fui obrigada a aprender desde que escolhi essa profissão.

— Vá conhecer o restante da tripulação — ele indicou com a cabeça, deixando passar meu pequeno deslize. 

Eu segui sua orientação, e pouco menos de uma hora depois estava recepcionando os passageiros que embarcavam.

Eu adorava aquele trabalho, era muito mais do que voar, era como se eu fosse por algumas horas uma espécie de diplomata, treinada para garantir o conforto e segurança de todos os passageiros da aeronave.

Assim que todos terminaram de se acomodar e o comandante acionou a trava das portas, eu e mais alguns comissários começamos a realizar as demonstrações de segurança antes da decolagem. 

Eu senti aquela sensação de prazer crescente dentro de mim conforme a aeronave levantava voo.

 Eu amo meu trabalho. 

A viagem foi relativamente tranquila, com apenas uma instabilidade turbulenta que nos atingiu algumas horas depois da decolagem. Felizmente, onze horas depois de decolar, estávamos pousando com sucesso no aeroporto internacional de Istambul sob aplausos dos passageiros.

— Então, você quer dividir um táxi até o hotel? — Meredith, uma de minhas colegas do voo, perguntou enquanto nós recolhíamos o lixo deixado para trás depois do desembarque dos passageiros.

— Eu não vou para o hotel dessa vez, eu vou visitar meus pais — eu expliquei, apanhando um copo de suco embaixo de uma das poltronas — eles podiam devolver tudo quando passamos recolhendo da primeira vez, ao invés de simplesmente deixar no chão. 

— Mesmo? Seus pais moram em Istambul? — ela ignorou minha queixa anterior.

— Sim, eles se mudaram para o país natal do meu pai quando me formei no High School. Eu tinha decidido entrar em uma escola de aviação na Califórnia, então continuei nos Estados Unidos, e desde então essa tem sido minha rotina — eu contei, empurrando o carrinho pelo corredor da aeronave. 

— Parece ser interessante — ela fechou um dos compartimentos de carga que tinha sido deixado aberto — é bom que você tenha conseguido esse voo, então. 

— Geralmente me colocam em um voo para Istambul a cada um ou dois meses — eu expliquei — Acabamos aqui.

Nós duas desembarcamos, e assim que conseguimos nossas malas, seguimos lado a lado pelo grande aeroporto de Istambul.

— Meus pais vivem no Texas, e eu não tenho tantas chances assim de vê-los — minha colega comentou.

— Eu tenho sorte nessa área — eu garanti enquanto saímos atrás de um táxi.

Eu me despedi dela antes de conseguir um carro para me levar ao apartamento de meus pais, na área central de Istambul.

Já passava das dez horas da noite quando desembarquei na porta do condomínio em que os dois moravam há dez anos. Eu teria seguido diretamente para o interior do prédio se o porteiro, um rapaz que eu não conhecia, não tivesse me impedido.

— Desculpe, senhorita, você é moradora? — ele me interrompeu.

— Ohh, meus pais moram aqui. Eu sou Blair Ozkan — eu expliquei, voltando a caminhar.

Mas para minha surpresa o rapaz saiu de seu posto e se colocou em meu caminho, impedindo minha passagem

— Sinto muito, mas o sr e a srª Ozkan saíram mais cedo e eu não posso permitir que a senhorita suba sem autorização. 

— Autorização? Você perdeu a parte em que eu disse que sou filha deles? — eu pisquei atordoada — eu sou autorizada a entrar sempre que venho.

— Senhorita, eu já trabalho há quase dois meses aqui e não a conheço — ele foi enfático.

— Isso é porque eu não moro no país — eu revirei os olhos — olha, eu posso ligar para o meu pai.

— Eu não posso autorizar sem a presença de um dos dois — ele insistiu para minha total frustração. 

Ótimo, o que ele espera? Que eu me sente aqui na porta e espere pelos dois?

— Eu acabei de passar mais de dez horas em pé em um avião — eu cruzei os braços o encarando — você quer mesmo que eu aguarde os dois voltarem sabe-se lá Deus de onde, sendo que eu tenho a senha para entrar na casa dos meus pais? 

— Eu estou apenas cumprindo o protocolo, senhorita — ele garantiu.

— Que se dane o protocolo, eu sempre fui autorizada a subir  — eu ergui a voz.

— Srtª Ozkan, que satisfação encontrá-la novamente — uma voz conhecida soou, para meu alívio.

Eu me virei a tempo de ver Yanis, um dos seguranças mais antigos do condomínio, se aproximar de nossa pequena comoção. 

— Por que você ainda está carregando essa mala? — ele sorriu, enquanto o jovem porteiro parecia desconcertado — vamos, eu levo isso para você. 

— Mas...

— Ele não quer me deixar entrar porque meus pais não estão em casa — eu expliquei, encarando o homem.

Yanis lançou um olhar afiado para o rapaz, antes de forçar um sorriso, apanhando minha mala em seguida.

— Bobagem, Samir é novo aqui, foi apenas um mal entendido, o Sr Ozkan ficará radiante com a sua presença — ele garantiu, já carregando minha bagagem em direção ao elevador.

Um sorriso de alívio adornou meu rosto enquanto deixava toda aquela confusão para trás. Eu estava exausta, tudo o que desejava era tomar uma ducha demorada e cair na cama para descansar um pouco.

E foi o que fiz, aproveitei que o local estava deserto e segui meu plano. Eu sequer ouvi meus pais chegarem em casa, acordando apenas no dia seguinte, com o som de batidas na porta do quarto.

— Blair? — a voz de minha mãe soou.

— Estou acordada — eu gemi, ainda deitada, aproveitando a escuridão total das cortinas blackouts.

Minha mãe abriu a porta entrando no quarto e acendeu a luz enquanto eu me sentava na cama.

— Você chegou a que horas ontem? Deveria ter nos ligado — ela abriu as cortinas, deixando o sol invadir o ambiente, nos dando a visão da baía de buyukcekmece.

— Eu cheguei pouco depois das dez — eu relatei enquanto me espreguiçava.

Ela se aproximou, se sentando na beira da cama, ainda olhando a vista da baía. 

— Vá se vestir, seu pai quer sair para tomar café da manhã no privato — ela piscou para mim. 

Privato era um pequeno café que ficava a algumas quadras do condomínio, meu pai me levava para tomar café da manhã lá sempre que possível. 

— Eu vou em um minuto — eu garanti enquanto ela saia do quarto.

Eu revirei minha mala em busca de algo adequado para vestir. No fim, escolhi uma calça jeans, suéter vermelho de gola alta, e um par de botas para enfrentar o outono turco. A temperatura ainda não estava tão baixa, fazia cerca de quinze graus e uma fina garoa caia do lado de fora.

Eu segui para encontrá-los na sala de estar, e logo estávamos a caminho do café. Mesmo com o clima instável, as ruas de Istambul continuavam cativantes como sempre, com todo seu contraste entre o antigo e o moderno, o ocidente e o oriente. 

— Eu quero saber cada detalhe do seu voo — meu pai avisou enquanto caminhávamos para evitar o trânsito caótico da cidade.

— Foi a mesma coisa de todos os voos, pai. Você sabe, não é a primeira vez que isso acontece.

— Vamos, sempre tem algo que você possa compartilhar — ele me provocou.

— Você não deixa de ser um fofoqueiro, não é? 

— Vamos Ayeleen, nós temos um longo dia pela frente — ele gargalhou ao meu lado, usando meu nome do meio, abrindo a porta para que eu entrasse no café.

— O mais próximo de uma fofoca que posso te contar, é que dei um banho de Matcha em um comandante antes de embarcar — eu contei após nos acomodarmos em uma das mesas. 

— Como? — minha mãe se surpreendeu.

— Eu estava com pressa e esbarrei nele.

— Isso pode te colocar em problemas? — meu pai franziu o cenho.

— Por sorte ele tinha acabado de desembarcar — eu suspirei — e eu dei a ele um pacote de cookies caseiros como pedido de desculpas.

Aquela informação pegou minha mãe desprevenida, provavelmente por saber que a coisa mais avançada que eu fazia na cozinha era espaguete.

— Você fez cookies? — Seu tom era incrédulo. 

— Não seja tola, Lauren. Você se lembra quando ela tentou fazer aquela macarronada? Ficou Intragável. Ela deve ter comprado — meu pai zombou.

— Obrigada pai — eu revirei os olhos — mas quem fez foi a Abby, era para eu entregar para o Noah.

A expressão de minha mãe mudou de incrédula para exasperada.

— Viu, Não foi ela quem fez — meu pai apontou. 

— E você não vê problema algum no que ela falou?  — ela devolveu.

— Você sabe que ela se entende com os amigos depois.

Não pude evitar de sorrir diante daquele pequeno embate entre meus pais, apesar de vê-los com certa frequência, eu sentia falta de estar próxima aos dois.

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