5. Visitando Pskov

Dimitri

Joe não me atrasou em nada, e no horário estipulado estávamos dentro do carro a caminho da cidade onde meus pais viviam, a cerca de três horas de distância de St Petersburg. Eu não os visitava com tanta frequência, mas procurava manter o contato regularmente.

— Me diz primo, como está a Maria? — Joe me provocou.

— O que eu te disse naquela época ainda vale, Joe. Fique longe de minha irmã — eu ameacei, me referindo a uma época durante a adolescência de Maria, quando ela se viu apaixonada por ele.

Joe nunca chegou a se envolver com ela, mas gostava de me provocar sobre o assunto. Eu sabia que apesar de sua fama, ele jamais magoaria a própria prima. Aquilo porém não evitou que eu o ameaçasse sempre que ele tocava no assunto.

— Eu só estou falando, eu vi as fotos dela na internet e os anos apenas fizeram bem — ele insistiu.

— Sabe o que mais melhorou com o tempo? Minha pontaria — eu lhe lancei um olhar enviesado, arrancando uma gargalhada do rapaz.

— Eu não acho que você teria coragem de me fazer algum mal, primo.

— Você quer mesmo descobrir? Além disso, se você tiver visto fotos da família toda, vai perceber que o Yuri está quase do meu tamanho. Aposto que ele adoraria se vingar por todas as vezes que você o provocou quando era menor.

Meu irmão mais novo sempre foi alvo das piadas de Joe, mas agora, com quase dezoito anos, eu duvido que seja tão simples caçoar dele. Joe gargalhou de novo, olhando para o lado de fora da janela, observando a paisagem que deixávamos para trás depressa.

— Você está reclamando, mas vai sentir minha falta quando eu for embora, primo.

— Joe, eu praticamente não fiquei em casa enquanto você esteve aqui — eu devolvi — eu vou ficar bem.

— E quando esteve em casa se recusou a sair — ele devolveu — você precisa aprender a se divertir.

— Acredite, eu me divirto, não preciso da sua ajuda para isso.

E aquilo era verdade, por mais que eu raramente saísse e visitasse alguma balada de St Petersburg, eu não deixava de aproveitar quando estava em outros países, sempre buscava usar minhas folgas fora do país para conhecer o máximo que pudesse o lugar onde estava, e sempre tinha uma companhia para isso. Apenas estava farto das boates de minha cidade, tudo era diferente quando tinha tantas culturas a meu dispor.

— Antes que eu vá, você deve me acompanhar pelo menos uma vez.

Eu o ignorei, sintonizando o rádio em uma estação de música qualquer, o fazendo bufar antes de voltar a olhar pela janela.

O restante da viagem até a casa de minha mãe foi tranquila, Joe e eu conversamos amenidades entre os conselhos que eu tentava dar para que o rapaz pudesse se acertar com a família.

— Eu não estou negando que você tem uma ótima profissão — ele explicou quando já estávamos próximos de nosso destino — apenas não entendo porque eu teria que seguir seus passos.

— E não tem. O que seu pai quer dizer é que ele espera que você faça alguma coisa da sua vida. Você é formado por um motivo — eu apontei — volte a pintar, tente vender seus quadros, faça qualquer coisa.

— Ele considera tudo o que eu faço a maior perda de tempo — Joe se queixou — me trata como se eu ainda fosse um adolescente.

— Sabe o que é uma atitude de adolescente? Fugir de casa após uma discussão — eu respirei fundo — Se você tivesse ficado e provado o seu ponto de vista, talvez ele pudesse te respeitar um pouco.

— Ele não respeita ninguém — ele devolveu de imediato, encerrando o assunto.

Nós chegamos à casa de minha mãe perto da hora do jantar, ela parecia surpresa em nos encontrar ali, porém não hesitou em nos receber com satisfação.

— O que eu quero dizer, tia, é que ele não acredita que eu possa fazer nada de útil — Joe relatou a minha mãe sua discussão com o pai enquanto a ajudávamos a arrumar a mesa para o jantar.

— Isso não é verdade, Joe — minha mãe declarou com indulgência — você se formou, isso prova que é capaz. Meu irmão só é um pouco duro para se expressar.

Eu respirei fundo por ouvir as mesmas reclamações nas últimas semanas desde que ele chegou à Rússia.

— Eu já falei isso pra ele.

— Você deveria ouvir seu primo.

— Ele disse que eu deveria voltar a pintar, mas qual o sentido nisso? — Joe prosseguiu em sua queixa como se minha mãe fosse uma espécie de terapeuta familiar.

Mais uma semana, é tudo o que eu tenho que aguentar, além disso, eu vou passar boa parte dela em Lisboa, não será tão difícil.

— Desse jeito você poderia provar que ele está errado, você precisa de um incentivo melhor que esse? — Maria apontou, entrando na sala de jantar.

Joe prontamente deixou o que estava fazendo para abraçar minha irmã, beijando seu rosto em seguida para meu descontentamento. Ela havia se tornado uma bela mulher com seus trinta anos, sua pele clara contrastava com os cabelos castanhos e os olhos verdes que ela tinha herdado de nossa mãe, de maneira que sempre chamava atenção dos rapazes ao seu redor.

— Maria, olha só para você — Joe levantou, piscando um olho para minha exasperação — você mudou tanto.

— Joe — eu soltei em tom de aviso.

Ela alternou o olhar entre nós dois, procurando o sentido daquela interação.

— O que? Ela merece elogios, primo. Apenas isso — Ele garantiu abraçando minha irmã — O tempo apenas fez bem para ela.

— Obrigada, Joe — ela lançou um olhar desconfiado para o primo, provavelmente se lembrando de todas as vezes que ele fugiu de suas investidas.

— Viu só, ela sempre gostou dos meus elogios, não é prima? — Ele passou um braço por seu ombro, sorrindo para mim.

Apenas uma semana, Dimitri. Ele vai embora em uma semana.

Minha mãe se limitou a balançar a cabeça como se aquilo fosse apenas bobeira de crianças e foi para a cozinha. 

— Eu não sei bem, Joe. Antes você estava interessado em elogiar apenas minhas amigas, lembra? — Ela devolveu com um sorriso quase inocente.

Joe riu, sem se deixar abalar pelo comentário de minha irmã, apertou um pouco seu meio abraço, fazendo com que ficassem ainda mais próximos do que antes.

— Você tem razão, Masha. Eu não pensava muito bem na época.

— Certas coisas nunca mudam, e acho que já estou grandinha para esse apelido — ela devolveu, me fazendo sorrir.

Maria sempre foi independente, e aquele era um dos motivos que me faziam não me envolver diretamente nas investidas de Joe, apesar de ameaçá-lo. Eu sabia que ela podia se cuidar sozinha. 

— Nós dois devíamos sair mais tarde, pelos velhos tempos — ele ignorou seu comentário, me fazendo franzir o cenho.

Tudo bem, eu não quero me envolver e cair em suas provocações, mas ele chamá-la para sair? Isso é passar dos limites!

— Sinto muito Joe, mas eu já tenho planos com alguém — ela retirou o braço de meu primo de seu ombro — Mas você pode relembrar os velhos tempos com a Nádia, ela ainda mora na casa ao lado.

Meu sorriso se alargou ainda mais, eu  não preciso mesmo intervir.

— É melhor você desistir, Miller. Ela não está interessada — provoquei meu primo. Porém, algo me chamou a atenção, me fazendo franzir o cenho ao me dirigir à minha irmã — e com quem você tem planos?

 — A melhor parte de ser adulta é não ter que dar satisfação para ninguém — ela devolveu — então eu tenho planos com alguém que não é do interesse de nenhum dos dois.

— Ela tem um namorado secreto, primo — Joe sussurrou — é melhor você interferir, namorados secretos nunca são coisa boa.

— E o que você sabe disso? — Ela revirou os olhos.

— Eu sei muita coisa, geralmente eu sou o namorado secreto — Ele devolveu.

Meu celular vibrou em meu bolso fazendo com que eu me distraísse da pequena discussão que se formou entre os dois. Eu desbloqueei a tela, encontrando uma nova mensagem de Blair.

 "Você não é o único que tem uma ótima vista, comandante" 

Essa era a legenda da foto da garota diante da janela de um quarto de hotel de onde era possível avistar uma bela catedral em meio a uma cidade ensolarada. Blair usava um vestido azul claro com estampas brancas e tinha os cabelos soltos um pouco úmidos, indicando que havia chegado na cidade a tempo o suficiente para um banho pelo menos.

Eu contive um meio sorriso ao ler a mensagem antes de checar o horário, me preparando para responder em seguida.

 " Você chegou bem? Parece estar calor aí " 

A resposta não demorou a chegar.

" O clima está ótimo. Por sorte me livrei do frio de Istambul"

Não pude evitar de rir com aquilo, era estranho pensar nela tão a vontade enquanto do lado de fora da casa de minha mãe a temperatura beirava zero graus e o sol já havia se posto, para ela aparentava ser apenas o início da manhã.

— Por que ele está rindo? — Maria questionou meu primo.

— Deve estar falando com a namorada secreta dele — Joe confidenciou.

Eu respirei fundo ignorando os dois, agradecendo mentalmente por meu irmão estar na casa da namorada, voltando minha atenção para algo mais importante no momento.

" Você odiaria estar em St Petersburg agora, então. "

" Definitivamente, eu sou uma garota de praias, comandante "

— Hey eu quero conhecer essa garota — Maria reclamou.

— O lado bom de ser adulto é que eu não devo satisfação a você, Masha — eu devolvi recebendo em troca uma carranca.

— Gostou dessa prima? — Joe gargalhou.

— Mama, o Dimulya está namorando e não quer me mostrar com quem — ela gritou de repente.

— Eu não estou namorando, é apenas uma comissária que conheci essa semana — eu devolvi com rispidez — e o que a mama sabe sobre a pessoa com quem você vai sair hoje?

— Ela sabe que não é um namorado e isso é o suficiente — ela cantarolou.

Por sorte minha mãe parece não ter ouvido o que Maria falou, e eu agradeci por isso. Tudo o que eu não precisava era ter que contar tudo em detalhes para minha ela. Já não bastava Joe que estava contando tudo o que sabia sobre Blair para minha irmã, o que não era muita coisa.

Mas eu pude aproveitar o momento para retomar minha conversa e não perdi tempo, eu não conseguia parar de falar com ela.

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