Blair
— Vamos, você viu a foto? Eu venci essa, comandante — não pude evitar um sorriso.
Estava deitada em uma espreguiçadeira em uma praia próxima de San Juan aproveitando as horas de folga antes de embarcar.
— Blair, estamos falando do Duomo em Milão — Dimitri devolveu, exalando diversão em sua voz — você precisa aceitar que é uma boa foto.
— Não estou negando isso, estou falando que a minha ficou melhor — eu devolvi.
Já fazia duas semanas que Dimitri e eu começamos a manter contato, e praticamente todos os dias trocavamos fotos dos lugares onde estávamos, competindo para ver quem tinha o melhor destino.
— É uma praia, Blair.
— É uma praia em Porto Rico, Dimitri — eu devolvi — Caribe. Você já esteve no Caribe alguma vez?
Uma risada soou do outro lado da linha fazendo com que eu mordesse o lábio inferior, sentindo uma crescente onda de entusiasmo surgir em meu interior.
Eu adorava conversar com ele, aquilo sempre tornava meu dia sempre mais interessante.
— Não, Blair. Eu nunca estive no Caribe.
— Então precisamos consertar isso, comandante — eu devolvi fechando os olhos, sentindo o delicioso sol de Porto Rico me banhar — eu conheço praias incríveis.
— É algum tipo de hobby? Conhecer o maior número de praias que conseguir? — ele questionou.
Eu me deitei de lado na espreguiçadeira, observando o contraste da areia com as águas extremamente azuis do mar caribenho.
Ele não sabe o que está perdendo.
— Exatamente, se eu tiver a oportunidade de conhecer as mais diversas praias, eu não vou perder tempo.
— Eu não posso discordar, mas você não disse que volta hoje mesmo para casa?
— Sim, eu desembarquei há cinco horas e tenho que estar de volta ao Aeroporto no início da noite. Será um voo rápido, apenas quatro horas.
— Você não deveria descansar?
— Eu estou descansando enquanto aproveito o sol. Vai me dizer que você fica no hotel o tempo todo? — Eu me sentei — Você tem sorte de eu não estar em Milão, ou te arrastaria pela cidade inteira.
— Mesmo? Isso pode ser interessante.
— Você tem alguma previsão para voltar aos Estados Unidos, comandante? — Eu perguntei com certa esperança.
— Eu já recebi a escala do próximo mês, mas não estou escalado para os Estados Unidos — ele relatou com pesar.
— Mas que merda — eu murmurei baixo em turco, fazendo um beicinho enquanto observava o céu azul através das lentes escuras de meus óculos de sol.
Eu estava adorando conversar com Dimitri, mas não podia evitar o desejo de vê-lo, tornando a coisa um pouco menos mecânica e mais pessoal. Eu não nasci para uma amizade virtual. Gostava de estar presente, de ter contato físico, de poder levar a pessoa nos lugares que eu gosto!
Eu estava adorando conversar com ele, mas estava odiando toda aquela distância!
— Blair, eu preciso ir. Fiquei de encontrar a tripulação mais tarde, e...
— Claro, vá se divertir — eu suspirei — aproveite Milão.
— Tenha um bom voo mais tarde, Blair — ele desejou antes de encerrar a ligação.
Eu voltei a suspirar, deixando finalmente o celular de lado, decidindo aproveitar o sol.
— Pensei que não iria desligar nunca — Evangeline, uma das comissárias que tinham trabalhado comigo naquele vôo e decidiu me acompanhar à praia, declarou fazendo com que eu me lembrasse de sua presença.
— Desculpe, é só um cara que eu conheci algumas semanas atrás.
— Só um cara? — ela desdenhou — não parecia ser "só um cara".
Não pude evitar de rir diante do olhar da garota. Eu já tinha trabalhado com ela em outra ocasião, mas nunca cheguei a conhecê-la de verdade e estava gostando de passar um tempo em sua companhia. Mesmo que depois disso passássemos mais oito meses sem contato algum.
— Infelizmente essa é a realidade — eu olhei em sua direção — ele é só um cara que vive na Rússia.
— Rússia!?
— Entende por que ele é só um cara? — eu suspirei, voltando a me jogar na espreguiçadeira arrancando um pequeno riso da garota.
— Ok, o que você acha de esquecermos esse cara e encontrarmos um bom restaurante para o almoço?
Blair— Eu não entendo, nós fizemos seu jantar de noivado faz algumas semanas — eu encarei Abby.Nós duas estávamos acomodadas na mesa de um restaurante próximo ao aeroporto onde eu aguardava para embarcar para meu próximo destino. Inicialmente eu saí de casa pensando que embarcaria às 10 horas para a Argentina, mas no fim, por conta de uma comissária que ficou gripada e obviamente não poderia voar, eu embarcaria às 15 horas para Amsterdã.— Sim, mas meus pais não gostaram de não participar e querem fazer uma recepção — ela explicou — você é minha dama de honra, Blair, precisa ir.Eu observei meu celular em busca de algum sinal de Dimitri. Ontem ele não me enviou mensagem alguma pela primeira vez desde que nos conhecemos, e eu estava estranhando todo aquele silêncio.— Você me ouviu? — Abby franziu o cenho.— Sim, eu só acho que atravessar o país para um segundo jantar de noivado é um exagero! — eu desviei o olhar do celular, voltando minha atenção para minha amiga.— Não se trata ape
BlairDimitri veio em minha direção com um sorriso contido no rosto. Minha mão foi envolvida pela sua quando a estendi para cumprimentá-lo. O meu próprio sorriso foi mais espontâneo diante de sua presença, apesar de não saber bem como agir, agora que estávamos finalmente frente a frente.— Hey comandante, eu quase não te reconheci sem a roupa manchada — eu o provoquei.— Você não está carregando nenhum copo, então acho que minha roupa ficará a salvo. Pelo menos até chegarmos ao restaurante — ele garantiu — estou hospedado no Sheratom, você quer ir até lá? Sheratom era um dos três hotéis que ficavam dentro do complexo do aeroporto, que também contava com uma estação de trem que nos levaria até o centro de Amsterdam em cerca de quinze minutos.— Você está brincando? Nós não vamos ficar no hotel tendo uma cidade incrível para conhecer, comandante — eu neguei.— Eu já conheço Amsterdã — ele achou graça.— Mas nunca a visitou na minha companhia, te garanto que será uma experiência complet
BlairApós dividir a conta, logo estávamos de volta às ruas de Amsterdã.— O que eu quero dizer é que se casar na mesma igreja que os pais é importante para sua amiga — ele retomou o assunto inicial enquanto caminhávamos lado a lado.— De novo isso? — eu gemi — eu não devia ter te contado.— Mas contou — ele me provocou.Para meu alívio, eu avistei algo que poderia nos distrair daquele assunto.— Uma feira! Vamos fazer compras, Dimitri — Eu corri na frente, o deixando para trás.Ele balançou a cabeça com um meio sorriso nos lábios antes de me acompanhar. Eu passei por todas as barracas, analisando os produtos em busca de algo aproveitável.Aquela era uma das minhas partes preferidas de cada viagem, eu adorava encontrar souvenirs que me lembrassem os destinos que já visitei, e geralmente era algum enfeite para meu apartamento. O que talvez acabasse me transformando com o tempo em uma espécie de acumuladora internacional.— Olha, comandante. Eu preciso dessas botas! — eu exclamei, apanh
DimitriEu estava efetuando o pagamento com o cartão enquanto observava Blair com a boneca e as flores que dei a ela em suas mãos.Ela era tão bonita que era quase inacreditável. Mais do que isso, era engraçada, inteligente e espirituosa. Tudo o que eu já tinha percebido nos últimos dias havia se confirmado nessas poucas horas que passamos juntos até aqui.— O senhor quer que eu embrulhe o buquê ou sua namorada vai levá-lo assim? — A senhora que me atendeu indicou as flores que eu ainda carregava.— Aqui, pode embrulhar. Mas ela não é minha namorada — eu expliquei, entregando o buquê para a mulher.— Não? Vocês agem como um casal, talvez devam pensar na possibilidade — ela sorriu, apanhando uma caixa comprida de acetato e acomodando as flores ali — uma garota bonita assim não fica disponível por muito tempo.Eu me limitei a sorrir enquanto apanhava o embrulho. Eu sabia que ela tinha razão em relação a Blair, e se a situação fosse mais favorável, talvez eu tentasse algo sério com ela
DimitriEu saí do banheiro com uma toalha envolta em minha cintura e fui até a cama do quarto de hotel que eu ocupava em Viena. Já passava das sete da noite e eu me sentia exausto com toda a agitação daquele dia.Logo pela manhã voei de volta a St Petersburg e após algumas horas de descanso, embarquei para Viena. Eu liguei meu celular, o abandonando em cima da cama antes de ir até a janela, observando a rua iluminada repleta de prédios antigos onde inúmeras pessoas caminhavam, apesar do mal tempo. Minha mente vagou para as lembranças do dia anterior, quando a companhia de Blair se fez tão presente. Eu voltei até a cama, apanhando o celular que vibrava com as novas mensagens que chegavam.Eu ignorei as mensagens de Joe ameaçando se mudar de vez para St Petersburg e abri a mensagem que Blair me mandou de manhã."Comandante, acho que você não entendeu que as flores eram para a sua mãe."Eu havia deixado o buquê na recepção do hotel pela manhã para que lhe entregassem. Apesar de aceitar c
Eu encerrei a chamada até que chegasse à galeria. Blair adorou cada detalhe que eu lhe mostrava e eu me sentia satisfeito por conseguir distraí-la naquele momento, a única maneira daquela situação melhorar, seria se eu estivesse mais próximo a ela.— Olha, só estou falando que a última pintura... ESPERA.Eu interrompi meus passos imediatamente, sem saber o que tinha acontecido.— O que foi?— Você pode virar um pouco a câmera? — ela pediu — para a esquerda.— NÃO — eu virei na direção oposta ao entender o que ela tinha visto.Como ela consegue encontrar lugares assim?— Por favor, Dimitri — ela suplicou enquanto eu desistia e fui em direção ao mercado de pulgas¹ que ela tinha avistado de alguma forma.— Eu vou comprar apenas uma coisa — eu avisei.— Então eu vou ter que escolher bem — ela cantarolou.Não pude evitar sorrir enquanto caminhava entre as barracas, mostrando a ela tudo o que estava exposto.— Dimitri, olhe aquelas fotos antigas — Blair indicou.— São pessoas que você não c
Blair— E então? O que achou? — eu rodopiei na frente da câmera do celular, mostrando minha roupa para minha mãe.— Você ficou ótima com esse seu novo corte de cabelo — ela elogiou do outro lado da tela — deve ser mais fácil de prender agora.— Mãe, foco por favor — eu gemi.— Desculpe, mas não entendi o que você quer que eu veja — ela devolveu.— Mãe, eu te mostrei três roupas diferentes — eu me joguei na cama do quarto de hotel que eu ocupava em Madrid — eu tenho quinze minutos para terminar de me arrumar.— Você ficou bonita com todas as roupas — ela devolveu.— Não está ajudando — eu murmurei.— Eu sequer entendi com o que você quer ajuda! Você não devia voltar hoje?— E vou, mas eu terei duas horas antes de ter que ir para o aeroporto, então vou poder almoçar com um amigo no restaurante do hotel — eu expliquei apressada — e preciso encontrar ele em dez minutos, então se você puder ajudar.Eu revirei as opções que tinha separado, tentando tomar uma decisão. Por que eu não podia si
BlairO voo não durou tanto quanto eu gostaria, já eram quase oito da noite quando enfim cheguei em meu loft, me sentindo bem por estar em casa.Eu levei a mala até o mezanino antes de ir tomar um banho. Alguns minutos depois estava usando meu pijama de seda, acomodada sobre a cama com a caixa de música em minhas mãos. Eu girei delicadamente a manivela até o fim, ouvindo a melodia que soava através do mecanismo.Por que eu fiz aquilo? Eu não quero estragar essa amizade! É a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo.— Você não pode fugir para sempre, Blair — eu murmurei antes de buscar meu celular." Você está acordado? Não vou te perturbar se não estiver"Eu pedi comida chinesa enquanto esperava alguma resposta, quando já estava certa de que ela não viria, uma chamada de vídeo surgiu na tela do meu celular.Ok, Blair. Aja naturalmente. Não foi nada demais, você ainda pode consertar isso.Eu me acomodei na cama, passando os dedos nos cabelos antes de aceitar a chamada.— Hey, pensei