4. Meia noite em St Petersburg

Dimitri

Já era quase meia noite e eu caminhava pelos corredores do meu prédio arrastando minha mala. Depois de um longo voo de treze horas eu fiquei feliz de estar em casa, entrando no apartamento, levei a mala para o quarto e fui para o chuveiro.

Quando saí, apanhei meu celular e fui para a sala, me acomodando no sofá antes de observar a mensagem de Blair me desejando um bom voo. 

Depois que liguei para ela há dois dias, nós dois vínhamos trocando mensagens constantes. Não era nada demais, apenas estava entediado no hotel na noite de quarta e lhe pedi indicação de algum bar, o que ela prontamente atendeu, me fazendo terminar a noite assistindo a Wednesday Night Hockey em um bar esportivo próximo ao hotel.

Após isso, nós passamos a nos falar regularmente. Blair me entreteve com sua rotina em Istambul, e quando soube que eu voltaria para St Petersburg ela me desejou uma boa viagem e eu não pude deixar de retribuir, sabendo que ela embarcaria algumas horas depois que eu.

Eu chequei o horário, ela já deve ter pousado de acordo com o resumo do voo que ela me passou. Após uma leve consideração eu decidi enviar a mensagem.

"Já pousou?"

 Não demorou muito para que a resposta chegasse.

" Estou no táxi, preciso me apressar"

Ela tinha me contado que precisava chegar a tempo do jantar de noivado de sua amiga, de quem ela seria a dama de honra, e estava com medo de se atrasar.

"Você vai chegar a tempo. Como foi o voo? "

Eu devolvi, buscando outro assunto em seguida. Eu não sabia explicar bem o que estava acontecendo, eu apenas me sentia empolgado de conversar com aquela comissária.

Quando Noah Mitchell me passou o telefone dela, eu pensei que Blair seria uma companhia agradável enquanto eu estivesse na cidade, claro que não poderia ignorar sua beleza, de forma que foi decepcionante descobrir que ela não estava no país, mas eu já devia esperar por isso, nós nos conhecemos em um aeroporto!

" Um passageiro me deu trabalho com o maldito celular, mas nada que eu já não esteja acostumada a lidar."

"Isso acontece em praticamente todos os voos"

Eu aguardei sua resposta, e quando ela não veio após alguns minutos eu ponderei se seria ou não inadequado mandar outra mensagem. 

" Vai conseguir chegar a tempo?" 

Decidi tentar, se ela não me respondesse, eu desistiria, provavelmente a atrapalharia se insistisse. Mas não foi o que aconteceu. 

"Desculpe, acabei de chegar em casa. Com sorte eu vou conseguir. E você, como foi o voo? Já está em casa?" 

Eu pensei por um momento como poderia responder aquilo, então decidi ir até a janela, tirando uma foto da vista.

A imagem mostrava a rua cheia de prédios antigos, muito bem iluminada. O céu estava limpo e a lua brilhava se escondendo parcialmente atrás das cúpulas da catedral do sangue derramado.

"Já estou em casa" 

Eu escrevi na legenda. Não precisei aguardar muito para que a resposta chegasse.

"Uau, essa é a vista que você tem? Estou oficialmente com inveja"

" Aposto que você tem uma vista tão boa quanto"

Eu voltei a me sentar no sofá, sem conter um pequeno sorriso. A porta do apartamento foi aberta e Joe Miller, meu primo que vinha ocupando meu quarto de hóspedes pelas últimas semanas, entrou.

— Hey, você voltou! — ele exclamou.

— Cheguei há pouco mais de uma hora, onde você esteve? — eu questionei ao vê-lo ir até a cozinha.

Uma nova notificação fez com que eu desviasse a minha atenção.

"Estou longe disso, comandante. Mas por sorte eu tenho um emprego que me garante a chance de conhecer lugares e pessoas incríveis."

Pessoas incríveis... Eu poderia me considerar incluído nesta definição? Aquele pensamento trouxe um sorriso involuntário aos meus lábios. 

— Quem é Blair? — Joe me assustou, lendo a mensagem por cima de meu ombro.

— Ninguém que seja do seu interesse — eu murmurei, fechando a conversa sem responder a mensagem.

— Mesmo? Porque pela foto do contato parecia ser alguém interessante — ele zombou — vamos primo, não seja egoísta.

Eu me limitei a me levantar e ir até a cozinha, em busca de um copo de água, mas o rapaz não desistiu.

— Você não acha que já passamos da idade de esconder as nossas namoradas? — ele insistiu.

— Ela não é minha namorada. É apenas uma comissária que eu conheci essa semana — eu expliquei.

— Uma comissária? Talvez seja interessante eu começar a viajar mais. Me diz primo, você consegue algumas passagens de graça pra mim? — ele zombou.

— É melhor você ficar quieto antes que eu mesmo te coloque em um avião e te despache de volta à Califórnia!

Eu lavei o copo que usei para beber a água, o secando e guardando no armário em seguida, enquanto meu primo gargalhava.

— Você já não passou da idade desse tipo de ameaça, primo? 

— Você já não passou da idade de fugir de casa? — eu retruquei. 

Sua gargalhada se transformou em um sorriso sem graça diante de minha resposta.

— Eu não estou fugindo. Apenas decidi dar um tempo. Meu pai...

— Você nem deveria morar na mesma casa que eles — eu devolvi — você já passou dos 30.

— É melhor você ir descansar, primo. Sua amiga comissária parece ter desistido de falar com você — ele murmurou pouco contente antes de ir para o quarto que ele vinha ocupando.

Joe tinha batido em minha porta depois de uma discussão com meu tio Joseph sobre seu futuro, e isso já fazia duas semanas. Eu não me importava tanto com sua presença, nós dois nos dávamos bem, desde criança ele era acostumado a vir passar as férias com minha família e isso acabou nos aproximando.

Mas aguentar sua presença durante semanas por conta de uma discussão com os pais já era demais. Ele precisava crescer e começar a enfrentar os próprios problemas.

Eu acordei quase na hora do almoço no dia seguinte, aproveitando que estava de folga até segunda-feira. Eu notei uma nova mensagem de Blair em meu celular. Antes mesmo de levantar da cama eu a abri, me sentindo ansioso por conhecer seu conteúdo. 

" Bom dia comandante, sei que não é uma vista fantástica como a do seu apartamento, mas é essa que tenho no momento, aguardando para começar o embarque."

Essa era a legenda de uma foto da garota dentro da cabine de uma aeronave, completamente uniformizada e tão bonita quanto quando a conheci. Então ela já estava escalada para voar mais uma vez. Achei que ela teria mais algum tempo de folga.

 Pensei em responder aquela mensagem. Por um momento, pensei em falar que para mim aquela imagem era mais interessante que a vista da minha janela, mas não queria que ela interpretasse errado. Eu sabia que um relacionamento era improvável, porém eu estava gostando de conversar com ela, e não gostaria de prejudicar uma possível amizade.

"Eu gostei da foto. Para onde você vai?" 

Decidi por uma resposta neutra.

" Guadalajara. Volto amanhã à tarde." 

" Tenha um bom voo, Blair"

Eu enviei, sabendo que se ela já estava a bordo da aeronave não teria tempo para ficar me respondendo.

Encontrei Joe na cozinha minutos depois tentando de alguma maneira utilizar minha cafeteira.

— Bom dia primo, pensei que tivesse entrado em coma. Qual a nossa programação para hoje? — ele questionou com a jarra de vidro cheia de água quente na mão.

— Nossa? E não devia ter café aí? — eu devolvi.

— Sua cafeteira está quebrada — ele murmurou — e sim, nossa... Você finalmente está em casa, então eu te farei companhia.

— Eu vou visitar meus pais, se você quiser pode vir — Eu respondi, avaliando a cafeteira na tentativa de encontrar o problema.

Eu abri o dispenser onde colocava o pó, franzindo o cenho antes de me virar para meu primo.

— Joe, você se lembrou do pó de café? — eu apontei o dispenser vazio.

— A minha mói o café na hora — ele deu de ombros — eu não sabia que precisava abastecer essa.

Eu respirei fundo me sentindo cansado de sua presença.

— Quando você vai voltar para sua casa mesmo?

— Se eu não te conhecesse, pensaria que está me expulsando, primo — ele sorriu — mas não se preocupe, eu já consegui uma passagem para o próximo fim de semana.

Aquela informação me aliviou um pouco, não que eu quisesse me livrar da companhia de meu primo, mas seria bom ter um pouco de privacidade.

— Se tivesse me falado eu conseguiria de graça pra você — eu devolvi, revirando o armário atrás do pó de café — você vai ficar ou vai para Pskov comigo?

Eu encontrei o pacote, abastecendo a cafeteira em seguida, enquanto aguardava a resposta de Joe.

— Faz tempo que não vejo sua a tia Joanne — ele decidiu — eu terei alguns dias ainda para aproveitar tudo o que St Pete tem a oferecer.

Eu acenei afirmativamente antes de voltar minha atenção para a cafeteira, eu me servi assim que o café ficou pronto, indicando o que restou para Joe antes de sair da cozinha carregando minha caneca.

— Esteja pronto em quarenta minutos — eu avisei.

— Nós não vamos almoçar? 

— Podemos parar em algum restaurante no caminho — eu devolvi.

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