ENZO
Corro pelo parque como faço quase todas as manhãs, acompanhado de dois soldados, Dante e Assis, os gêmeos. Correr e me manter em forma faz parte do meu treinamento. Muitas vezes enfrento homens tão fortes quanto eu, preciso sempre estar preparado. Aumento o ritmo da corrida, abandonando algumas pessoas e deixando meus homens para trás. Eles resmungam, e sorrio.
— Vocês parecem umas donzelas — digo. Os gêmeos fecham a cara, rio alto. No caminho de volta, uma mulher vem correndo em nossa direção. Ela corre como estivesse fugindo, a todo tempo olha para trás. Seu semblante parece o de uma pessoa atordoada. Propositalmente, não me afasto quando percebo que ela vai me atropelar. Seu corpo de curvas perfeitas vem de encontro ao meu.
— Olha por onde anda — digo. Seus olhos estão arregalados, sua mente trabalha por alguns segundos. Observa meu rosto atentamente, faço o mesmo com ela. Ela tenta se soltar, mas mantenho-a presa por mais um pouco.
— Por favor, não me machuque — ela pede com os olhos arregalados. A linda mulher de cabelos da cor do sol, que está preso em um rabo de cavalo, demostra medo, algo em sua mente a apavora. Para que ela saiba que não a machucarei, solto seu pulso. Ela se afasta com seus olhos sobre os meus e corre, retornando de onde veio. Fico alguns minutos parado, sem entender o que aconteceu.
— Que mulher gostosa! — os gêmeos dizem em uníssono. Não sei por que, mas não gosto; minha reação é grunhir para eles. Volto a me movimentar, mas dessa vez caminho em vez de correr. Meu cérebro trabalha naquela garota. Do que ela estava fugindo?
Assis diz uma das suas bobagens e nós três rimos, por um breve momento me esqueço da bela garota assustada. Ouço uma voz bem distante pedindo socorro e acelero meus passos. A um metro de distância, vejo-a sendo arrasta por um homem negro de altura mediana. Corro em sua direção. Pego o homem pela camisa e o arremesso longe. Os gêmeos vão até ele, enquanto pego a linda mulher em meus braços; ela está praticamente desacordada. Dois tiros são disparados, seus olhos se fecham. Os gêmeos retornam.
— Tudo resolvido — dizem sorrindo. Logo depois, o riso dá lugar a preocupação quando eles notam a desconhecida desmaiada em meus braços.
— Ela morreu? — Dante pergunta, apreensivo. Digo que não, que ela está respirando. Ordeno que peça ao meu motorista para que venha ao meu encontro, não posso andar pelo parque com ela desacordada em meus braços. Em poucos minutos, meu motorista chega, e entro com a desconhecida no carro.
— Para o hospital mais próximo.
Os gêmeos retornam para a entrada do parque onde eles deixaram o carro. Entro com ela no hospital, e a recepcionista a reconhece.
— Doutora Vitalle? Dio mio, o que aconteceu? — rapidamente ela é colocada em uma maca e é levada para dentro do hospital. A enfermeira pergunta o que houve, digo que a encontrei desacordada no parque e a trouxe para o hospital. Não posso dizer o local exato antes que meus homens façam a limpeza, a morte desse maledetto não pode ser associada a mim.
— Qual é o nome dela? — pergunto curioso.
— Ela é a doutora Kiara Vitalle, trabalha nesse hospital. Estou grata pelo que fez por ela.
Sorrio. Kiara Vitalle, bom saber. Aceno com a cabeça e me retiro. Não tenho mais o que fazer nesse lugar. Do lado de fora, os gêmeos e meu motorista estão me aguardando. Sigo para casa com a imagem da Kiara em meus pensamentos.
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— Chefe?
Porra, não prestei atenção em nada que eles disseram. Não é uma boa hora para essa reunião, Kiara não sai dos meus pensamentos. Encerro a reunião, pego minha carteira, celular e minha chave, deixo meu escritório no clube e vou para o hospital.
Na recepção do hospital, pergunto por Kiara. A recepcionista me reconhece e libera minha entrada, como se ela fosse conseguir me impedir. Com a informação do quarto em que está, pego o elevador e sigo para o segundo andar. Em seu quarto, tem mais dois leitos. Não gosto disso, ela teria que estar em um quarto particular. Aproximo-me de sua cama, ela está dormindo.
Observo-a dormir. Seu rosto está um pouco inchado, e a cabeça enfaixada. Apesar dos hematomas, consigo ver sua beleza. Sua pele clara é perfeita. Uma enfermeira entra no quarto e verifica os medicamentos que estão sendo administrados diretamente na sua corrente sanguínea.
— Como ela está? — pergunto.
— A doutora Vitalle está melhorando. Ela teve uma concussão cerebral, por isso ficou desacordada por algum tempo. Ela está sendo medicada com remédio para dor. Levou muitas pancadas, por isso o doutor achou melhor a induzir a um coma de um dia para que, quando ela acordar, a dor tenha amenizado.
A enfermeira se retira, e fico perto do seu leito. Por impulso, mexo nas mechas de cabelo espalhadas no travesseiro. Seu cabelo é macio e sedoso. Um casal na faixa dos cinquenta anos entra no quarto.
— Dio mio, Kiara, minha filha. — A mulher, que agora sei ser sua mãe, diz e começa a chorar. Seu acompanhante a abraça, consolando-a.
— Ela vai ficar bem — ele diz e beija sua cabeça. Penso no que estou fazendo aqui, o que me trouxe aqui? Enquanto os dois observam Kiara, caminho para a porta. O senhor me chama.
— Figlio, desculpe. Nós entramos e não o cumprimentamos. Perdoe-nos, é que ficamos assustados quando ficamos sabendo do que aconteceu com a nossa figlia. Nós estávamos em outra cidade, por isso que chegamos agora. Você é amigo da dela?
— Eu não…
Não consigo concluir, porque uma enfermeira que não lembro de ter visto antes entra no quarto e diz aos pais da Kiara que eu que a encontrei desacordada e a trouxe para o hospital.
— Muito obrigada, mio figlio, se não fosse você… Não quero nem pensar. — A madre da Kiara me abraça e chora com a cabeça em meu peito. O padre dela aperta minha mão e me dá um abraço assim que sua mulher me solta. O meu plano de entrar e sair sem que alguém da sua família me visse foi por água abaixo. Eles pedem que eu conte o que aconteceu. Fico na dúvida, não sei se Kiara me viu tirando o homem de cima dela. Acho melhor dizer a verdade, ocultando algumas partes, é claro.
— Estava caminhando com meus seguranças quando ouvi um pedido de socorro, corri e a vi no chão sendo arrastada por um homem. Tirei-o de cima dela, na mesma hora ela desmaiou. Meus seguranças foram atrás dele, mas não encontraram. Ele sumiu no meio da mata.
— Dio mio, Guido, se não fosse esse rapaz nossa filha estaria morta — a mãe dela choraminga.
— Não sei como te agradecer, figlio.
— Não precisa, o importante é que ela fique bem — declaro.
— Me perdoe a falta de educação, qual é o seu nome?
— Enzo, Enzo Mancinni.
Observo Kiara mais uma vez antes de ir embora. No caminho, tento entender por que vim vê-la. Por que não consigo parar de me preocupar?
Sobre o corpo inerte da minha esposa, prometi não mais me envolver emocionalmente com mais ninguém. Desde seu falecimento, venho fodendo mulheres sem compromisso, nossos encontros são apenas para nosso prazer. Tenho evitado foder diversas vezes a mesma mulher para não me apegar e ter minha vida virada de cabeça para baixo outra vez. Tenho que me afastar da Kiara, nunca mais vou deixar uma mulher foder de novo com minha vida.
ENZOHá alguns anosEstou tão ansioso. Meus sapatos parecem que irão abrir um buraco no fundo de tanto que ando de um lado para o outro dentro do meu quarto. Daqui a poucas horas, irei me casar com a mulher da minha vida, a mulher que me deixa sem fôlego, que faz meu pau ficar duro só de pensar nela. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que a conheci na faculdade. Seus cabelos negros e cacheados, sua pele escura e seus olhos negros como a noite me encantaram. Desde então, não consegui mais tirar meus olhos dela.Nosso primeiro beijo foi perfeito. Naquele instante, soube que ela seria minha. Antonella se tornou minha obsessão, tudo é para ela, por causa dela, e finalmente hoje será oficialmente minha. Minha cazzo!— Está pronto, figlio? — mio padre pergunta assim que entra no meu quarto. Respiro fundo e maneio a cabeça. E
Dias Atuais - ENZOEntro na mansão Mancinni, feliz por estar em casa novamente. Por mais que ame morar em Florença, esse é meu lar. Meu coroa reúne mensalmente toda a família na mansão. Nossas obrigações com a famiglia e a distância dificultam o convívio, nos comunicamos apenas por telefone, ou via internet. Apenas Pietro reside próximo a mio padre e ao Lorenzo.Por falar em Pietro, fico surpreso em ver Bianca conosco, ela raramente participa das nossas reuniões. Não sei como é o relacionamento dela com mio fratello, ele é muito fechado, mas aparentemente eles parecem se dar bem. Bianca é uma moglie muito bonita, tranquila e doce. Mio fratello é um cara de sorte. Quando me vê, Rico corre para meus braços. Meu sobrinho é um ragazzo maravilhoso e muito inteligente, agr
ENZOVejo-me parado na porta do hospital esperando por ela, como se realmente estivesse esperando-a para irmos juntos. Observo seus passos, que demostram cansaço. Minha vontade é de carregá-la em meus braços e levá-la para casa. Prometi a mim mesmo me afastar, mas a vontade de cuidar dela é mais forte do que eu. Desde que voltei de Roma, da reunião mensal na casa do mio padre, meus dias têm se resumido a trabalhar e observar a Kiara. Tenho a necessidade de saber se ela está bem, se nenhum maledetto vai tocá-la. Tenho agido como a porra de um stalker; tento evitar, mas é mais forte do que eu.Kiara entra no seu carro e, como nos outros dias, dá duas voltas no quarteirão antes de entrar na garagem do seu prédio. Sorrio, pois, com todo seu cuidado, ela não percebe que está sendo seguida por mim. Não consigo
KIARADepois de quatro dias internada no hospital onde trabalho e mais três dias na casa dos meus pais, finalmente estou em casa. Tudo o que mais quero é ficar no meu cantinho. Apesar do medo que sinto, nada melhor que meu lar. Adoro ficar na casa onde nasci, onde meus pais residem até hoje, porém, não via a hora de voltar para casa.Minha paranoia em relação à minha segurança aumentou. Hoje pela manhã, assim que cheguei, a primeira coisa que fiz foi pedir ao chaveiro que colocou minhas trancas que verificasse se elas estavam funcionando bem, se era necessário trocá-las. Ele deve ter achado que sou maluca, mas pouco me importei.Chega ser irônico toda essa minha preocupação com a minha segurança. Sempre fiquei atenta ao perímetro quando chegava durante à noite de carro, observava as ruas antes de abrir o portão do pr&ea
KIARAÉ isso mesmo? Isso não foi um convite, praticamente uma intimação.Enzo me dá as costas e se senta em uma poltrona da recepção. Mais uma vez, fico inerte, perdida em meus pensamentos. Nós dois não nos conhecemos, quer dizer, nunca fomos apresentados oficialmente. Nosso único contato foi naquele dia fatídico. Ele não se deu ao trabalho de perguntar se tenho compromisso, nem se quero jantar com ele. Há uma luta interna em mim. O meu medo de estar sozinha com um homem novamente me diz para dizer não, mas a parte sensata em mim diz para dizer sim, afinal, não se trata de qualquer homem, e sim do meu salvador, o homem a quem devo minha vida.— Você só tem dezoito minutos — ele diz assim que verifica seu relógio no pulso. Seus lábios exibem um sorriso de canto da boca. Mais uma vez, ajo feito uma idiota. Re
ENZOKiara fica surpresa quando a deixo na porta do seu condomínio, e imagino o motivo: não pedi seu endereço. Fizemos a viagem toda em silêncio. O assunto Antonella realmente me incomoda; pelo meu tom de voz, ela percebeu isso, por isso não arriscou a dizer nem uma palavra sequer. Meu motorista abre a porta do carro, ela desce, e desço em seguida para me despedir.— Buona notte — ela diz e vira as costas. Antes que dê mais um passo, seguro em seu braço. Sua pele se arrepia, ela fica tensa, parece com medo. Solto-a e levanto as mãos assim que ela me olha com seus olhos assustados.— Calma, sou eu. Enzo, lembra? — digo brincando. Ela solta a respiração audivelmente. Finjo procurar algo em seu rosto. Faço uma expressão de que tem algo errado; ela mexe nos cabelos, passa as mãos no rosto.— O quê? —
ANOS ATRÁS - MARCODesde o dia que fui escolhido para ser seu segurança pessoal, minha vida mudou completamente. Lembro-me como se fosse hoje. Estava parado próximo às escadas que ficavam logo atrás da porta. Meu chefe, que era seu pai, a chamou.— Pérola. — Olhei para o topo da escada. Quando a vi, meu mundo parou. Cada degrau que ela descia, fazia com que eu ansiasse que se aproximasse o mais rápido possível de mim. Seu vestido meia taça modelava seu corpo até a cintura. Na parte da saia, era rodado e me dava a visão perfeita de suas longas pernas torneadas. Sorria para seu pai enquanto descia e, porra, eu queria aquele sorriso só para mim.— Perola, esse aqui é Marco, um homem de minha confiança. A partir de hoje, será seu segurança particular.Enquanto meu chefe nos apresentava, não conseguia tirar meus
KIARAO que está acontecendo comigo? Sempre fui cautelosa em relação à minha segurança, as trancas em minha porta confirmam isso, mas desde que fui atacada, tenho a sensação de estar sendo seguida, e isto está me apavorando.Pela manhã, decidi fazer uma faxina em casa. Depois do almoço, fui ao supermercado comprar algumas coisas que estavam faltando. No instante que coloquei meus pés na rua, meu coração ficou inquieto. Tinha certeza de estar sendo seguida. Expulsei esses pensamentos e me forcei caminhar até o supermercado que fica a uma quadra do meu condomínio. A cada pessoa que me cumprimentava, eu me exaltava, agia como louca.Comprei o que era necessário o mais rápido possível. Precisava da segurança do meu lar. Praticamente corri para casa agarrada às sacolas pressionadas em meu peito. Olhava para todos os