Capítulo 4

ENZO

Há alguns anos

Estou tão ansioso. Meus sapatos parecem que irão abrir um buraco no fundo de tanto que ando de um lado para o outro dentro do meu quarto. Daqui a poucas horas, irei me casar com a mulher da minha vida, a mulher que me deixa sem fôlego, que faz meu pau ficar duro só de pensar nela. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que a conheci na faculdade. Seus cabelos negros e cacheados, sua pele escura e seus olhos negros como a noite me encantaram. Desde então, não consegui mais tirar meus olhos dela.

Nosso primeiro beijo foi perfeito. Naquele instante, soube que ela seria minha. Antonella se tornou minha obsessão, tudo é para ela, por causa dela, e finalmente hoje será oficialmente minha. Minha cazzo!

— Está pronto, figlio? — mio padre pergunta assim que entra no meu quarto. Respiro fundo e maneio a cabeça. Ele sorri e me abraça. — Estou muito orgulhoso de você, Enzo. Nunca imaginei que mio figlio mais novo e o mais sem vergonha seria o primeiro a se casar.

— Nem eu, pai. Antonella mudou minha forma de pensar, o senhor bem sabe que nunca levei ninguém a sério, mas ela me faz querer somente ela. A cada dia que passa estou mais apaixonado.

— É o amor, quando ele chega não tem jeito. Veja tuo padre, depois de tantos anos de casado, ainda apaixonado por sua mãe.

Ele me abraça, sorrindo. Estou transpirando de tanto nervosismo. Enzo Mancinni, o caçula dos homens da família, prestes a subir ao altar. Se alguém me dissesse isso há alguns anos, eu diria que essa pessoa era louca.

Lorenzo, Pietro, minha mãe e Nina entram no quarto.

Mio fratello mais novo vai se enforcar antes de mim — Lorenzo diz, dando dois tapinhas em meu ombro.

— Você pode ser o mais velho, mas eu sou o mais gostoso, não posso ficar dando mole por aí. Sabe como é, muita mulher querendo desfrutar desta gostosura aqui.

Dou uma voltinha, mostrando meu corpo. Nina revira os olhos, todos riem. Mia madre me abraça, emocionada, dizendo que seu bebê vai se casar. Mio padre se diz orgulhoso do homem que me tornei. Pietro, na sua carranca de sempre, comenta que estou maluco. Desde que comuniquei à família que iria casar, ele não fala outra coisa. Sei que, como todos, ele torce por mim e que esse é o seu jeito. Meu irmão parece o Zangado dos sete anões, mas de anão ele não tem nada; de nós três, Pietro é o mais alto e mais forte.

**********

Aguardo no altar ansioso a mulher que escolhi para ser minha. A música começa a tocar e meu coração acelera. A porta da igreja se abre e tenho a visão de quão linda Antonella está em seu vestido branco, uma verdadeira princesa. Tudo à minha volta some, minha atenção é toda dela. Seu padre a entrega a mim. Beijo sua mão delicadamente, mas minha vontade é de saquear sua boca. O cerimonialista diz diversas coisas que não assimilo, pois não consigo parar de olhá-la. Minha obsessão por ela se intensifica cada vez mais.

Finalmente, chega a hora do sim. Faltou pouco para que eu mandasse o cerimonialista calar a boca e finalizar a cerimônia. Com as mãos tremulas, trocamos as alianças. Sem esperar o momento certo, tomo sua boca, a boca da minha esposa, minha mulher.

— Amor, não vejo a hora de ficar a sós com você. Por mim da igreja vamos para a nossa lua de mel.

— Que graça tem dar um festão e deixar tudo para trás? Vamos celebrar, Enzo, é o nosso casamento — ela diz.

Antonella tem razão. Ela quis tanto essa festa, minha obsessão por ela me faz a querer o tempo todo. Saímos da igreja e vamos para o salão que ela escolheu para a realização da festa. Seu desejo de casar-se na igreja e não fazer a festa na mansão Mancinni deixou meus pais chateados, ainda mais por eu ser o primeiro figlio a se casar, mas, mesmo não gostando de chatear meus coroas, o pedido da Antonella é uma ordem, faço de tudo para agradar minha mulher.

Posamos para algumas fotos e seguimos para a pista de dança. A banda toca uma música animada, minha mulher movimenta sua linda pele negra, que está se destacando em seu vestido branco, que está sem o excesso de tecido na parte de baixo. Antonella retirou assim que chegamos, está sexy para caralho. Todos os olhares estão sobre ela, e a parte obsessiva em mim faz com que eu a cerque por todos os lados.

Meus irmãos juntam-se a nós.

— Move essa bunda, Pietro — digo enquanto minha esposa, Nina, Lorenzo e eu dançamos. Pietro grunhe e vai se juntar ao Enrico, que é outro carrancudo. Sorrio. Esses dois nunca relaxam; até meu pai, o Don Guiseppe, está dançando. Percebo alguns olhares do Enrico para Nina, mas deve ser coisa da minha cabeça. Minha irmã só tem dezessete anos, e Enrico é como se fosse nosso fratello.

A banda toca algumas músicas que nunca ouvi. Todo o repertório foi escolhido por minha linda esposa, que, aliás, foi ao banheiro e ainda não voltou. Queria acompanhá-la, mas ela insistiu que eu ficasse. Decido ver se tudo está bem. Faz mais de vinte minutos que ela saiu, imagino que deva ter sido interceptada no caminho, pois desde que chegamos, ela ficou o tempo todo comigo, longe de sua família.

No percurso, pergunto a algumas pessoas se alguém a viu. Todos dizem que não; fico preocupado e vou até ao banheiro. Antes de bater na porta, ela abre, parece não estar bem.

— Enzo, que susto. — Ela coloca suas mãos em seu peito, parecendo realmente assustada. Mas por quê?

— O que houve, amor, está se sentindo mal? Você demorou tanto que vim ver o porquê da demora.

— Acho que a bebida não me caiu bem, vim lavar meu rosto e dar um tempo.

— Por que não me disse? Teria vindo com você. Me diz uma coisa, por que você se assustou quando me viu?

— Não foi porque te vi, e sim por abrir a porta e dar de cara com um homem na entrada de um banheiro feminino. Nem tinha associado que era você.

— Desculpa, amor, por ter te assustado. É melhor irmos embora. Se despede da sua família que vou organizar nossa saída.

Não sei por que, mas alguma coisa não está me agradando. Deve ser coisa da minha cabeça. Tudo relacionado à Antonella me leva ao extremo. Ela tem razão, eu a assustei.

Com o sistema de segurança organizado, vamos para o aeroporto. No avião particular, meus planos são frustrados. Antonella diz estar cansada, prefere dormir durante a viagem. Acomodo-a na cama e a deixo sozinha. Sentado em minha poltrona, penso o quanto a amo, no que sou capaz de fazer por ela. Estou muito feliz de tê-la feito minha, ao mesmo tempo, chateado porque a queria de quatro no meu pau.

Estou me sentindo incomodado, mas tenho que parar com essa porra. Antonella me pediu várias vezes para que eu diminua meus ciúmes.

“Enzo, por favor, você tem ciúmes do professor, do meu motorista, dos meus amigos, até de objetos que uso. Pare com esse ciúme senão a gente não vai dar certo. Amo você e quero muito que nossa relação seja para sempre”.

Antonella me disse em umas das minhas crises de ciúmes. Ela não entende que sou obcecado por ela. Só me falta eu estar assim só porque ela estava no banheiro. Tenho que concordar com Pietro, estou ficando maluco.

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