ENZO
Kiara fica surpresa quando a deixo na porta do seu condomínio, e imagino o motivo: não pedi seu endereço. Fizemos a viagem toda em silêncio. O assunto Antonella realmente me incomoda; pelo meu tom de voz, ela percebeu isso, por isso não arriscou a dizer nem uma palavra sequer. Meu motorista abre a porta do carro, ela desce, e desço em seguida para me despedir.
— Buona notte — ela diz e vira as costas. Antes que dê mais um passo, seguro em seu braço. Sua pele se arrepia, ela fica tensa, parece com medo. Solto-a e levanto as mãos assim que ela me olha com seus olhos assustados.
— Calma, sou eu. Enzo, lembra? — digo brincando. Ela solta a respiração audivelmente. Finjo procurar algo em seu rosto. Faço uma expressão de que tem algo errado; ela mexe nos cabelos, passa as mãos no rosto.
— O quê? —
ANOS ATRÁS - MARCODesde o dia que fui escolhido para ser seu segurança pessoal, minha vida mudou completamente. Lembro-me como se fosse hoje. Estava parado próximo às escadas que ficavam logo atrás da porta. Meu chefe, que era seu pai, a chamou.— Pérola. — Olhei para o topo da escada. Quando a vi, meu mundo parou. Cada degrau que ela descia, fazia com que eu ansiasse que se aproximasse o mais rápido possível de mim. Seu vestido meia taça modelava seu corpo até a cintura. Na parte da saia, era rodado e me dava a visão perfeita de suas longas pernas torneadas. Sorria para seu pai enquanto descia e, porra, eu queria aquele sorriso só para mim.— Perola, esse aqui é Marco, um homem de minha confiança. A partir de hoje, será seu segurança particular.Enquanto meu chefe nos apresentava, não conseguia tirar meus
KIARAO que está acontecendo comigo? Sempre fui cautelosa em relação à minha segurança, as trancas em minha porta confirmam isso, mas desde que fui atacada, tenho a sensação de estar sendo seguida, e isto está me apavorando.Pela manhã, decidi fazer uma faxina em casa. Depois do almoço, fui ao supermercado comprar algumas coisas que estavam faltando. No instante que coloquei meus pés na rua, meu coração ficou inquieto. Tinha certeza de estar sendo seguida. Expulsei esses pensamentos e me forcei caminhar até o supermercado que fica a uma quadra do meu condomínio. A cada pessoa que me cumprimentava, eu me exaltava, agia como louca.Comprei o que era necessário o mais rápido possível. Precisava da segurança do meu lar. Praticamente corri para casa agarrada às sacolas pressionadas em meu peito. Olhava para todos os
KIARAAs luzes são apagadas. Ajeito-me na cadeira e olho para a tela. Depois de tantos trailers, o filme enfim começa. Meu corpo está direcionado para a tela, mas minha mente está nas palavras do Enzo. Os sentimentos que ele desperta em mim são novidade para mim, faz tempo que um homem não consegue envolver meu corpo e meus sentimentos de uma só vez, principalmente um homem que acabei de conhecer. A última vez que senti algo que chegou perto disso foi pelo Matteo, a diferença era que eu o amava. Seu jeito doce e tranquilo eram meu porto seguro, eu confiava nele e o conhecia como ninguém. Matteo me fazia rir, que é algo em comum com Enzo; se bem que ele acabou de me fazer chorar.Já fiquei com alguns rapazes que não me despertaram interesse de ir para cama, ainda mais porque os conheci em barzinho ou na balada depois de alguns drinques. Depois do Matteo, só me
ENZO— Chefe, vi algo estranho hoje.O soldado que ficou responsável pela segurança da Kiara me diz tão logo entro no meu escritório no clube. Arqueio minha sobrancelha e espero que ele fale.— A senhorita Kiara foi ao supermercado e ficou poucos minutos lá dentro. O estranho é que ela agia como se estivesse sendo seguida.— Você verificou se tinha algum maledetto atrás dela?— Verifiquei chefe, não tinha ninguém. Quando ela saiu do supermercado, praticamente correu agarrada às suas sacolas.— Será que aconteceu alguma coisa dentro do supermercado?— Não, chefe. Depois que ela estava segura em casa, voltei ao supermercado, olhei nas câmeras de segurança e não tinha nada, ninguém se aproximou dela.Essa atitude de Kiara ainda é referente ao se
PIETRODepois de três dias em Nova Iorque, finalmente retornarei para casa. Era para eu ter retornado ontem nesse mesmo horário, mas trouxe uma mulher na noite anterior para meu quarto e fodemos a noite toda, e uma boa parte do dia seguinte. Acabei perdendo o voo. Sexo, álcool e pouca alimentação me fizeram acordar somente hoje pela manhã. Não consigo enviar notícias para ninguém porque esqueci de carregar meu celular. No caminho para o aeroporto, coloco-o para carregar no carro.O sexo foi necessário para apagar o fogo que Bianca acendeu em mim, porém não foi o suficiente. A primeira pessoa em que pensei quando acordei foi nela. Apesar de não vivermos como marido e mulher, sinto sua falta, não consigo ficar muito tempo longe. Os dias que passei no Brasil na busca pelo Rico foi o maior período de tempo que fiquei distante. Minhas viagens sempre sã
PIETRO— Caralho, me sinto em uma cena de filme de faroeste. Se soubesse que a moda era essa, tinha vindo de chapéu — brinca Enzo, enquanto Ferri, Enrico e Lorenzo estão prestes a assassinar esses homens.— O que está acontecendo, Pietro? — Lorenzo pergunta em um tom nada amigável, com sua pistola prata em punho. Os seguranças do Kirk estremecem.— Calma, fratello. Vocês chegaram em boa hora, temos uma menina para resgatar.Enrico faz um som que significa que ele não está contente. Conheço meu cunhado e sei que ele quer eliminar o Kirk. Kirk é uma vítima, um pai capaz de fazer de tudo para resgatar sua filha, e nós vamos ajudar. Os Mancinni não escravizam mulheres, nossos parceiros também não. Isso é coisa de outro grupo, temos que descobrir qual e dar um fim neles.Kirk fica surpreso co
LORENZOVejo um homem se aproximando do Enzo. Não é um dos nossos. Quando aponta sua arma, grito.— ENZO!Não há tempo, um tiro é disparado. Como estivesse em câmera lenta, seu corpo cai no chão. Pietro e Enrico disparam com fúria e excesso de balas; matam o bastardo que atingiu mio fratello. Nesse momento, não sou o Don Lorenzo, sou Lorenzo, o fratello mais velho de quatro, o fratello do Enzo. Corro em sua direção, chamo por seu nome, mas ele não ouve, não há resposta.— Façam alguma coisa — imploro.Meu desespero toma conta das minhas palavras, das minhas pernas que querem fraquejar. Não posso, tenho que ser forte, por ele. Lágrimas inundam meus olhos. Verifico seu pulso. Ele ainda tem vida, o caçula ainda está vivo.— Caralho, Enzo, para de brin
GUISEPPEDesde o sumiço do Pietro, meu coração está inquieto, um sentimento de impotência se apossou de mim. Não saber onde mio figlio estava e não poder fazer nada, me deixou angustiado. Lorenzo não permitiu a minha ida para Nova Iorque, e ficar em casa aguardando notícias foi muito doloroso. Lorenzo não é só meu primogênito, é o Don dos Mancinni, o responsável por toda a famiglia, cargo esse que passei para ele, e estou orgulhoso de como tem cuidado da nossa famiglia e dos negócios. Temos que o respeitar e acatar suas ordens, ainda mais porque ele está certo. Não acrescentaria em nada a minha ida para resgatar Pietro, ainda daria preocupação aos meus filhos; eles dividiriam suas atenções comigo.Horas depois da ida do Lorenzo para Nova Iorque, Pietro me ligou, dizendo estar bem