Capítulo 6

ENZO

Vejo-me parado na porta do hospital esperando por ela, como se realmente estivesse esperando-a para irmos juntos. Observo seus passos, que demostram cansaço. Minha vontade é de carregá-la em meus braços e levá-la para casa. Prometi a mim mesmo me afastar, mas a vontade de cuidar dela é mais forte do que eu. Desde que voltei de Roma, da reunião mensal na casa do mio padre, meus dias têm se resumido a trabalhar e observar a Kiara. Tenho a necessidade de saber se ela está bem, se nenhum maledetto vai tocá-la. Tenho agido como a porra de um stalker; tento evitar, mas é mais forte do que eu.

Kiara entra no seu carro e, como nos outros dias, dá duas voltas no quarteirão antes de entrar na garagem do seu prédio. Sorrio, pois, com todo seu cuidado, ela não percebe que está sendo seguida por mim. Não consigo ir embora. Olho a luz acesa da sala do seu apartamento, aguardo ansioso o momento em que ela entrará no quarto. Ontem fui agraciado com um deslumbre de sua silhueta atrás da cortina.

Observar sua rotina tem se tornado um vício, e não tenho gostado nem um pouco disso. Assim que as luzes se apagam, vou para casa. Minha noite de stalker termina. Grunho, com raiva de mim mesmo, do idiota que sou.

**********

— Dante, você e seu fratello são minha boca, olhos e ouvido enquanto eu estiver fora. Ao Assis, ficou a responsabilidade de proteger a Kiara. Conto com vocês. Ficarei três dias em Verona, Pietro também está voando para lá. Meu cunhado está precisando da nossa ajuda para acabar com alguns figli di puttana.

— Pode confiar, chefe, não desgrudarei os olhos da doutora — ele garante.

— Sei disso, você tem muito amor ao seu pau para me decepcionar. — Dante ri do fratello, e completo: — Isso também serve para você.

Saio do meu escritório do clube, ouvindo Assis debochando dele. Esses dois.

Ficar longe da Kiara por alguns dias será bom para mim. Preciso raciocinar direito e saber que merda que estou fazendo. Não posso passar meus dias como um maluco atrás de uma mulher.

VERONA

Do aeroporto, sigo direto para o clube, onde Enrico me aguarda para a reunião. Nós conversamos rapidamente ao telefone, mas sei que a situação é grave. Cruel não nos convoca se não for realmente preciso. Ao chegar no clube, a sala de reuniões está lotada, e Pietro já se encontra nela.

Cazzo, demorou.

— Isso tudo é saudade, Pietro? Nem tem um mês que nos vimos — digo zombeteiro. Abraço Enrico e comprimento os soldados. Volto minha atenção para Pietro, paro em sua frente com minha sobrancelha suspensa. Ele me puxa para um abraço, sei que ele estava preocupado com minha demora.

— Bom, agora que o gostosão chegou, vamos dar início à reunião.

— Pelo que que me consta, o gostosão já estava presente, é o que minha mulher diz. — Os homens riem, Enrico dá um sorriso pelo canto da boca, Pietro dá um tapa em suas costas, e eu finjo que vou lhe dar um soco; ele se esquiva.

Depois de aliviar a tensão, damos início à reunião. Enrico nos conta que algumas meninas que trabalham no clube desapareceram. No primeiro dia, foi uma; depois, mais duas. Agora são oito no total em apenas quinze dias. Se elas se demitissem, ou avisassem que iriam sair, não acharia estranho, ainda mais que nenhuma prostituta que trabalha para os Mancinni o faz por obrigação.

— Coloquei alguns homens observando o movimento do clube. Um dos meus homens achou estranho que, depois de sair do quarto, o cliente pagou e foi embora, logo em seguida a prostituta saiu atrás dele. Ele chamou outro soldado e a seguiu, ela entrou no carro do cliente e foi para um endereço fora da cidade. Nesse local funciona uma casa de prostituição — Enrico diz.

 — Quer dizer que os maledetto estão aliciando as mulheres que trabalham conosco?

— Pior que isso, Enzo. Coloquei um homem infiltrado. Ele agiu como cliente, fingiu ser um figurão e ofereceu uma vida boa à menina que foi para o quarto com ele. Ela se abriu, contou que elas são atraídas com uma boa proposta de trabalho, depois são escravizadas.

Cazzo! Se eu não tivesse visto Salvatore morrer, diria que tem dedo dele nisso — Pietro brada.

— Tem muitos como Salvatore espalhados por aí, Pietro.

— Bem, qual é o plano, Enrico?

Meu cunhado explica seu plano, e todos ficamos atentos. Aqui é território dele e ele o domina como ninguém. Planos traçados, seguimos para casa do meu cunhado. Quando entramos, meus pequenos estão dormindo e Nina recolhida em seu quarto.

Antes de o dia clarear, como combinado, vamos para o clube e de lá saímos em comboio para nosso alvo. Enrico preferiu atacar ao amanhecer para não ferir pessoas inocentes, queremos apenas os maledetto que têm afrontado a famiglia, principalmente seu líder.

O casarão antigo e caindo aos pedaços fica em um terreno enorme em um lugar a ermo, somente quem conhece a cidade consegue chegar nesse lugar com certa facilidade. Dividimo-nos, cada um de nós com um grupo de dez homens. Meus homens e eu rendemos os homens que guardam o casarão; Pietro vai ao redor do terreno e rende os homens que estão espalhados. Enrico adentra a casa e um tiro é disparado; em seguida, há vários tiros. Entro para dar cobertura. Tem alguns corpos espalhados pelo chão.

As mulheres correm em direção à rua, pegam o que podem e fogem, como Enrico ordenou; deixamos que todas elas saiam. Sou surpreendido com uma arma apontada em minha direção. Antes que ele puxe o gatilho, me jogo atrás do sofá. Seu disparo não me acerta; miro em suas pernas e atiro. Quando ele cai, faço outros disparos.

Enrico surge na sala com o chefe do prostíbulo em suas mãos. O maledetto estava sendo vigiado e nem se deu conta disso, mesmo com tantos seguranças. Enrico tem várias fotos dele entrando e saindo da casa; o sujeito consegue ser ainda mais feio do que nas fotos, seu rosto é cheio de espinhas e sua barriga parece de uma gestante.

— O que você acha, Enzo, será que tem um bebê aqui dentro?

Sorrio, porque sei o quão cruel Enrico pode ser. Não queria estar na pele desse figlio di puttana. Quando menos espero, uns dos homens do Cruel segura os braços do maledetto que parece entorpecido pelo álcool. Com uma faca em mãos, Enrico corta a barriga do homem, que grita, retornando do seu estupor.

Ao sair do velho casarão, Enrico ordena que chamem a equipe de limpeza e que recolham tudo de valor, exceto móveis e aparelhos eletrônicos. Meu cunhado freta um caminhão, que ficará à disposição dos responsáveis da ONG com que ele entra em contato para que eles peguem o que quiserem. Deu ordem para, quando eles forem embora, colocarem fogo no casarão.

Depois do que aconteceu com meu sobrinho, meu cunhado e minha irmã têm ajudado ONGs espalhadas pela cidade, para que crianças tenham a oportunidade que Rico e seus amigos não tiveram.

No dia seguinte pela manhã, Pietro retorna para Roma. Decido ficar mais um dia, preciso ficar distante da Kiara. Meu dia é dedicado aos meus pequenos, fico feliz de ver como Enrico e Nina conseguiram superar todos os problemas e construíram uma família linda. Não tem como não sentir o amor entre eles. Penso que um dia achei que isso aconteceria comigo, mas me enganei. Amor e casamento não são para mim.

No dia seguinte pela manhã, voo para casa. Ao entrar, me assusto com a presença do mio padre. Corro em sua direção, preocupado, imaginando que algo aconteceu. Ele me abraça e ri, diz que sentiu que seu ragazzo mais novo precisava dele. Suspiro aliviado e feliz, meu velho me conhece como ninguém.

Conto-o sobre a Kiara, como me sinto em relação a ela, como tenho agido. Minha preocupação e o efeito que ela tem sobre mim. Meu coroa escuta tudo sem dizer nada. Pela primeira vez consigo falar abertamente sobre ela.

— Por que em vez de ficar a observando escondido, você não a convida para jantar? Tenho certeza de que ela não vai recusar um pedido do homem que salvou a sua vida.

— Você sabe porque, padre.

Figlio, não estou dizendo para você a pedir em casamento. É apenas um jantar, um passo de cada vez.

Reflito um pouco e concluo que mio padre tem razão. Amanhã vou fazer uma visita para Kiara.

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