02 O Que Está Acontecendo?

" Ok, isso é um assalto. "

Quando finalmente consegui pensar com clareza, eu me mexi. Apesar da ordem explícita para que eu ficasse quieta, eu me virei.

A pouca iluminação da varanda me impedia de ver quem era o assaltante; apenas consegui vislumbrar um homem alto, com roupas escuras e uma touca preta na cabeça.

Levei um susto quando vi que junto com ele também haviam outros dois. E já esses dois estavam com os rostos completamente tapados, com uma máscara que lhes deixava de fora apenas os olhos. Todos os três tinham uma arma na mão.

E por falar nisso, a arma que eu havia sentido contra a minha nuca, agora estava apontada diretamente para mim, na minha testa. Fui soltando a respiração aos poucos, enquanto levantava as mãos ( numa das quais estava o meu celular ).

 -Ok... - falei, e minha voz soou estranha, trêmula e abafada.

- Pode levar meu celular - falei, tentando aparentar calma, morrendo por dentro.

Estranhamente, nenhum deles tomou imediatamente meu celular, como eu esperava. O cara que apontava a arma para mim olhou ao redor, e um dos outros dois perguntou, instantes depois:

- Já podemos entrar?

Ele esperou alguns segundos e finalmente disse:

- Vão.

Os outros dois mascarados saíram, ou melhor, entraram.

" Na minha casa! " pensei, aflita.

Eu não estava entendendo.

- O que está acontecendo? - falei num fio de voz, com medo do que  estava por vir.

Ele permaneceu com a arma apontada para mim e demorou algum tempo para responder:

- O assalto não é com você, mocinha. Fica quieta.

E foi então que começou a confusão.

                            ***

Não demorou mais do que cinco segundos para começar a gritaria, depois que os caras anunciaram o assalto.

Não conseguia ouvir direito o que diziam, mas haviam exclamações de medo, de susto e mais alguma coisa. Fiquei aflita ao pensar na minha mãe e na Nina, que também estava lá dentro e, portanto, também estavam sendo assaltadas.

- Eles não vão machucar ninguém, vão? - perguntei ao cara que estava diante de mim, ainda com a arma apontada.

Ele não respondeu em palavras, apenas balançou a cabeça, negativamente.

Eu já estava com os braços meio cansados em menos de cinco minutos, por estar com eles levantados daquela forma, e ainda por cima segurando o celular.

O que será que estavam roubando? Coisas da minha casa? Pertences dos convidados da minha festa?

- Fique aqui - o assaltante me disse.

Ele pôs-se a caminhar para dentro da casa, de frente para mim, e só me virou as costas para entrar.

Imediatamente, abaixei os braços, pois já não estava aguentando mais.

Eu não estava entendendo nada. Como aquele cara me deixava sozinha ali fora, com o meu celular, totalmente livre para fazer o que eu quisesse, como chamar a polícia, por exemplo?

E como assim o assalto " não era comigo ", sendo que estavam na minha casa?

Que absurdo!

Fiquei me retorcendo de ansiedade e vontade de entrar lá, mas fiquei com medo.

A ordem tinha sido clara.

" Fique aqui. "

Estava trêmula, nervosa, não conseguia me concentrar em nada. Fiquei ouvindo os barulhos da confusão que se passava lá dentro, aflitíssima.

Queria muito ir lá dentro, ou sair e ir até a rua pedir ajuda, ou então até mesmo criar coragem e discar o número da polícia.

Mas fiquei congelada onde estava. A sensação daquela arma dura e fria contra a minha nuca não desaparecia e não me permitia dar um passo sequer.

Vai que, por meu descuido e teimosia, minha mãe ou meus amigos sofressem as consequências? Não, era melhor ficar quieta.

                             ***

Quando eu já estava para não aguentar de ansiedade, eles voltaram.

Os outros dois saíram primeiro, carregando cada um um saco plástico preto fechado e o outro saiu depois, sem nada nas mãos, apenas a arma.

Tudo ficou quieto por um minuto dentro da minha casa e eu queria correr logo para lá, mas fiquei imóvel, parada, vendo os caras saírem.

Quando o cara que usava apenas a touca preta passou por mim, ele parou, me olhando. Não apontou a arma. Apenas chegou mais perto e disse:

- Muito bem.

E o arrepio veio novamente. Não sei o que aquele cara tinha na voz... Era estranho. Ele me fitou por alguns instantes e então se foi, juntamente com os outros.

                           ***

- Amber? Amber? Filha?? - ouvi a voz preocupada da minha mãe, no meio de tanta gente que corria de um lado para o outro.

Avistei-a.

- Mãe! Eu tô aqui... - corri até ela e a abracei.

Ela me abraçou de volta, quase chorando.

- Ah, graças a Deus, graças a Deus. - Ela repetia, me apertando. - Graças a Deus, você está bem.

- Sim, mãe, eu estou bem... - falei, com um nó na garganta.

Nina se juntou a nós, no abraço. Ela sim chorava pra valer.

- O que foi isso?? Oh, meu Deus, o que foi isso?? - Ela dizia, soluçando.

- O que foi isso? Fomos roubados! Foi isso! - Disse Jeff.

Eu nem tinha reparado nele ali. Em contraste com sua voz alterada, seu rosto revelava um certo ar relaxado. Jeff era bem estranho às vezes.

- Levaram os celulares de todo mundo? - perguntou o Jhony e as exclamações de todos ali foram positivas.

Ele passou a mão pela cabeça. Estava suando.

- Então não tem nem como ligar para a polícia agora! - ele disse.

Foi então que me dei conta de algo.

- Mas... não levaram o meu - falei, dando um passo à frente.

Todos me olharam.

- Não levaram?

- Não, eu... estava na varanda, quando eles entraram eu não consegui ver direito. Mas não fizeram nada, não pegaram meu telefone - falei.

- Não entendo porquê, mas isso é muito bom, Amber. Pode me emprestá-lo?

Eu já ia entregar ao Jhony meu celular, quando a Nina deu um grito:

- Espera! E se eles ainda estiverem por aí e nos virem ligar para a polícia e matar todo mundo??

- Será?? - Minha mãe disse, com o medo estampado em sua face.

- Dane-se! - exclamou o Jeff, e tomou o celular das minhas mãos. - Eu vou ligar!

                           ***

Meia hora depois estávamos tomando água na cozinha; eu, minha mãe, a Nina e duas tias minhas.

Nós já havíamos falado com a polícia, feito o boletim de ocorrência, mas ela ainda estava lá, rondando.

A maioria do pessoal já tinha sido liberado, depois de também dizer o que tinha visto. Depois daquilo, eu tinha quase absoluta certeza de que a maioria deles jamais iria querer voltar na nossa casa outra vez.

- Estou chocada. - Uma de minhas tias pôs a mão sobre o peito.

Minha mãe respirava profundamente, tentando se acalmar.

Nina estava agarrada a mim, o rosto escondido em meu ombro, e eu olhava meu w******p, indecisa se contava ou não para o meu pai o ocorrido.

Jhony entrou correndo na cozinha.

- Tá tudo bem por aqui? - perguntou, com os olhos em mim.

Fiz que sim com a cabeça.

- Que bom, eu... já vou indo então.

- Obrigada, Jhony - minha mãe disse.

- A gente se vê amanhã na escola - ele disse e eu assenti.

Ele se demorou um pouco mais me olhando, e eu retribuí seu olhar. Só então, ele se foi.

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