" Ok, isso é um assalto. "
Quando finalmente consegui pensar com clareza, eu me mexi. Apesar da ordem explícita para que eu ficasse quieta, eu me virei.
A pouca iluminação da varanda me impedia de ver quem era o assaltante; apenas consegui vislumbrar um homem alto, com roupas escuras e uma touca preta na cabeça.
Levei um susto quando vi que junto com ele também haviam outros dois. E já esses dois estavam com os rostos completamente tapados, com uma máscara que lhes deixava de fora apenas os olhos. Todos os três tinham uma arma na mão.
E por falar nisso, a arma que eu havia sentido contra a minha nuca, agora estava apontada diretamente para mim, na minha testa. Fui soltando a respiração aos poucos, enquanto levantava as mãos ( numa das quais estava o meu celular ).
-Ok... - falei, e minha voz soou estranha, trêmula e abafada.
- Pode levar meu celular - falei, tentando aparentar calma, morrendo por dentro.
Estranhamente, nenhum deles tomou imediatamente meu celular, como eu esperava. O cara que apontava a arma para mim olhou ao redor, e um dos outros dois perguntou, instantes depois:
- Já podemos entrar?
Ele esperou alguns segundos e finalmente disse:
- Vão.
Os outros dois mascarados saíram, ou melhor, entraram.
" Na minha casa! " pensei, aflita.
Eu não estava entendendo.
- O que está acontecendo? - falei num fio de voz, com medo do que estava por vir.
Ele permaneceu com a arma apontada para mim e demorou algum tempo para responder:
- O assalto não é com você, mocinha. Fica quieta.
E foi então que começou a confusão.
***
Não demorou mais do que cinco segundos para começar a gritaria, depois que os caras anunciaram o assalto.Não conseguia ouvir direito o que diziam, mas haviam exclamações de medo, de susto e mais alguma coisa. Fiquei aflita ao pensar na minha mãe e na Nina, que também estava lá dentro e, portanto, também estavam sendo assaltadas.
- Eles não vão machucar ninguém, vão? - perguntei ao cara que estava diante de mim, ainda com a arma apontada.
Ele não respondeu em palavras, apenas balançou a cabeça, negativamente.
Eu já estava com os braços meio cansados em menos de cinco minutos, por estar com eles levantados daquela forma, e ainda por cima segurando o celular.
O que será que estavam roubando? Coisas da minha casa? Pertences dos convidados da minha festa?
- Fique aqui - o assaltante me disse.
Ele pôs-se a caminhar para dentro da casa, de frente para mim, e só me virou as costas para entrar.
Imediatamente, abaixei os braços, pois já não estava aguentando mais.
Eu não estava entendendo nada. Como aquele cara me deixava sozinha ali fora, com o meu celular, totalmente livre para fazer o que eu quisesse, como chamar a polícia, por exemplo?
E como assim o assalto " não era comigo ", sendo que estavam na minha casa?Que absurdo!
Fiquei me retorcendo de ansiedade e vontade de entrar lá, mas fiquei com medo.
A ordem tinha sido clara.
" Fique aqui. "
Estava trêmula, nervosa, não conseguia me concentrar em nada. Fiquei ouvindo os barulhos da confusão que se passava lá dentro, aflitíssima.
Queria muito ir lá dentro, ou sair e ir até a rua pedir ajuda, ou então até mesmo criar coragem e discar o número da polícia.
Mas fiquei congelada onde estava. A sensação daquela arma dura e fria contra a minha nuca não desaparecia e não me permitia dar um passo sequer.
Vai que, por meu descuido e teimosia, minha mãe ou meus amigos sofressem as consequências? Não, era melhor ficar quieta.
***
Quando eu já estava para não aguentar de ansiedade, eles voltaram.
Os outros dois saíram primeiro, carregando cada um um saco plástico preto fechado e o outro saiu depois, sem nada nas mãos, apenas a arma.
Tudo ficou quieto por um minuto dentro da minha casa e eu queria correr logo para lá, mas fiquei imóvel, parada, vendo os caras saírem.
Quando o cara que usava apenas a touca preta passou por mim, ele parou, me olhando. Não apontou a arma. Apenas chegou mais perto e disse:
- Muito bem.
E o arrepio veio novamente. Não sei o que aquele cara tinha na voz... Era estranho. Ele me fitou por alguns instantes e então se foi, juntamente com os outros.
***
- Amber? Amber? Filha?? - ouvi a voz preocupada da minha mãe, no meio de tanta gente que corria de um lado para o outro.
Avistei-a.
- Mãe! Eu tô aqui... - corri até ela e a abracei.
Ela me abraçou de volta, quase chorando.
- Ah, graças a Deus, graças a Deus. - Ela repetia, me apertando. - Graças a Deus, você está bem.
- Sim, mãe, eu estou bem... - falei, com um nó na garganta.
Nina se juntou a nós, no abraço. Ela sim chorava pra valer.
- O que foi isso?? Oh, meu Deus, o que foi isso?? - Ela dizia, soluçando.
- O que foi isso? Fomos roubados! Foi isso! - Disse Jeff.
Eu nem tinha reparado nele ali. Em contraste com sua voz alterada, seu rosto revelava um certo ar relaxado. Jeff era bem estranho às vezes.
- Levaram os celulares de todo mundo? - perguntou o Jhony e as exclamações de todos ali foram positivas.
Ele passou a mão pela cabeça. Estava suando.
- Então não tem nem como ligar para a polícia agora! - ele disse.
Foi então que me dei conta de algo.
- Mas... não levaram o meu - falei, dando um passo à frente.
Todos me olharam.
- Não levaram?
- Não, eu... estava na varanda, quando eles entraram eu não consegui ver direito. Mas não fizeram nada, não pegaram meu telefone - falei.
- Não entendo porquê, mas isso é muito bom, Amber. Pode me emprestá-lo?
Eu já ia entregar ao Jhony meu celular, quando a Nina deu um grito:
- Espera! E se eles ainda estiverem por aí e nos virem ligar para a polícia e matar todo mundo??
- Será?? - Minha mãe disse, com o medo estampado em sua face.
- Dane-se! - exclamou o Jeff, e tomou o celular das minhas mãos. - Eu vou ligar!
***
Meia hora depois estávamos tomando água na cozinha; eu, minha mãe, a Nina e duas tias minhas.
Nós já havíamos falado com a polícia, feito o boletim de ocorrência, mas ela ainda estava lá, rondando.
A maioria do pessoal já tinha sido liberado, depois de também dizer o que tinha visto. Depois daquilo, eu tinha quase absoluta certeza de que a maioria deles jamais iria querer voltar na nossa casa outra vez.
- Estou chocada. - Uma de minhas tias pôs a mão sobre o peito.
Minha mãe respirava profundamente, tentando se acalmar.
Nina estava agarrada a mim, o rosto escondido em meu ombro, e eu olhava meu w******p, indecisa se contava ou não para o meu pai o ocorrido.
Jhony entrou correndo na cozinha.
- Tá tudo bem por aqui? - perguntou, com os olhos em mim.
Fiz que sim com a cabeça.
- Que bom, eu... já vou indo então.
- Obrigada, Jhony - minha mãe disse.
- A gente se vê amanhã na escola - ele disse e eu assenti.
Ele se demorou um pouco mais me olhando, e eu retribuí seu olhar. Só então, ele se foi.
▫▫▫
O dia seguinte já era segunda feira, para o meu total desânimo.Acordei com aquela costumeira vontade de voltar a dormir, uma vez que havia tido uma péssima noite de sono. Me sentia cansada. E não era para menos. Minha festa de aniversário exigira muito de mim. Ficar cerca de sete horas andando de um lado para o outro, com um salto de 13 centímetros, me deixou com os pés moídos." Nossa, Amber, então você jamais serviria para ser modelo, pois elas vivem quase que o tempo todo de salto alto ", era o que diria Nina.Amém! Eu não queria mesmo ser modelo. Longe de mim. Estava muito bem com a minha decisão de ser médica, obrigada.Mas, voltando ao assunto, e
Entrei em casa sentindo o cheiro divino de bife sendo feito, e minha barriga roncou em alto e bom som. Diferente da hora do intervalo na escola, agora, quase uma da tarde, eu já estava com fome. E muita.- Oi, oi - cumprimentei Cida, a doméstica morena e gorducha que cozinhava para nós, três vezes por semana.Além de cozinhar, ela também arrumava a casa. Isso nos ajudava bastante, pois com a minha mãe muito ocupada com seu trabalho, assim como eu e Nina ocupadas com a escola e os cursos, não nos sobrava tanto tempo para cuidar da casa.Claro que a roupa era por nossa conta, e a organização da casa em todos os dias da semana também.Mas que era uma benção ter a Cida, isso era.- Oi, pequena! - Ela exclamou me acenando rapidamente, ocupada com as panelas.- Isso tá cheirando lá do começo da rua, Cida! - falei.- Daqui a pouco tá tudo prontinho, por que não va
Eu completei meus 17 anos no dia 21 de Março de 2015.Agora, uma semana havia se passado desde esse feliz e trágico dia.Minha mãe comprou seu novo telefone, o pai de Nina mandou dinheiro para que ela comprasse o dela, Jhony também deu seu jeito e apareceu com um; Luísa idem.Eu ficava sempre rondando o pessoal que estivera na minha festa, procurando saber se já tinham conseguido novos celulares. A maioria sim, já conseguira.Que adolescente nos dias de hoje consegue viver sem celular, não é mesmo?Eu conversava com eles para saber isso pois eu me sentia constrangida por todos terem sido roubados, menos eu. Todo mundo sabia que não haviam levado meu celular. Eu tinha medo do que poderiam pensar acerca disso.Eu sei, patético. Afinal de contas, eu não tinha culpa de nada. Não era como se eu fosse
- O trabalho sobre Química Orgânica é em dupla e é pra depois de amanhã - anunciou a professora de Química, na manhã do dia seguinte, depois de falar sobre o dito cujo trabalho.Luísa, que sentava do meu lado, me cutucou:- Ei, Amber... vamos fazer juntas?Eu confirmei, fazendo-lhe um sinal positivo com o polegar.- Na minha casa hoje, às duas - ela disse.Jeff veio para minha mesa, e debruçou-se sobre ela.- E aí... minha amiga preferida, vai fazer o trabalho comigo? - falou, me olhando com aquele ar cínico dele.- Perdeu, Jeff, sua irmã chegou primeiro.Jeff fuzilou a irmã com o olhar, e esta prontamente mostrou-lhe a língua.Luísa e Jeff estavam na mesma série porque, apesar de ser um ano mais nova que o
Nos afastamos tão rápido que eu até bati o pé no muro, ao dar um passo para trás.- Mãe??Ela vinha andando pela calçada, do lado oposto em que tínhamos vindo.- Olá - ela falou, olhando de um para o outro, séria.- Oi, dona Marisa - disse Jhony, vermelho como um tomate.- Mãe, o Jhony veio me acompanhar, depois que terminamos o trabalho - expliquei.Ela balançou a cabeça, solenemente.- Ah, que gentil. Não quer entrar um pouco, Jhony?- Não, não. Eu já estava voltando - ele falou, com a vermelhidão já sumindo de sua face.- Está bem. Amber vai entrar agora não é, filha? - Minha mãe me olhou.- Ahn... sim, claro - eu disse.- T&aac
No dia seguinte, fui para a escola com a minha prima, como de costume, e fiquei quase que o dia todo me segurando para não contar sobre a conversa com o meu pai, não só para ela, como também para a minha mãe e até os meus amigos.Foi difícil, confesso. Eu queria que eles soubessem, queria mesmo. Queria dividir aquela ansiedade com alguém.Afinal, estávamos em Abril e faltavam ainda oito longos meses para o fim do ano. Para a minha tão esperada formatura no Ensino Médio. E agora, consequentemente, oito longos meses para a minha ida à Nova York. Mas tive que segurar a língua, tive que me conter.***A sexta-feira foi até bem produtiva.Novamente, fomos para a escola.Apresentei o trabalho sobre Química Orgânica com Luísa, por mais que a minha parceira de trabalho estives
Dei graças aos céus por minha mãe ter ido trabalhar naquele sábado.Caso contrário, ela iria querer saber sobre a suposta experiência de Física que eu tinha que fazer.Foi um sábado bem estranho. Não tinha aula nem curso de Inglês para mim, nem para Nina, e portanto ficamos as duas o dia inteiro dentro de casa, como duas estranhas.Assim que acordamos, ainda no café da manhã, tentei conversar com ela e explicar tudo, mas minhas palavras foram em vão. Ela não quis nem saber.Me chamou de traíra mais uma vez, e para evitar outra discussão eu preferi me calar.Aquilo me magoava muito. Eu não via razão alguma para ela estar tão chateada daquele jeito.Primeiro porque eu tinha certeza que no fundo, bem lá no fundo, ela sabia que eu estava falando a verdade.Eu jamais sairi
- Amber, posso falar com você?Acho que ouvi alguém me dizer isso na manhã de segunda feira na escola, em algum momento.Eu havia amanhecido meio aérea.Não tinha contado para ninguém em casa sobre os acontecimentos da noite de sábado. Porque eu mesma ainda estava meio desnorteada com tudo aquilo.- Amber??Levantei a cabeça da carteira. Era Luísa.- Oi? - falei, procurando dissipar alguns pensamentos.- Posso falar com você um instante?Estávamos na hora do intervalo e a maioria dos alunos estavam fora da sala.- Claro - eu disse.Ela se sentou na cadeira ao lado direito da minha, cruzando as pernas.- Vou te perguntar uma coisa e quero que seja sincera comigo.- Ok - falei, franzindo a testa.- Você gosta do Jhony?Confesso que fui pega de surpresa.Fiquei olha