Dei graças aos céus por minha mãe ter ido trabalhar naquele sábado.
Caso contrário, ela iria querer saber sobre a suposta experiência de Física que eu tinha que fazer.Foi um sábado bem estranho. Não tinha aula nem curso de Inglês para mim, nem para Nina, e portanto ficamos as duas o dia inteiro dentro de casa, como duas estranhas.
Assim que acordamos, ainda no café da manhã, tentei conversar com ela e explicar tudo, mas minhas palavras foram em vão. Ela não quis nem saber.
Me chamou de traíra mais uma vez, e para evitar outra discussão eu preferi me calar.Aquilo me magoava muito. Eu não via razão alguma para ela estar tão chateada daquele jeito.Primeiro porque eu tinha certeza que no fundo, bem lá no fundo, ela sabia que eu estava falando a verdade.
Eu jamais sairi- Amber, posso falar com você?Acho que ouvi alguém me dizer isso na manhã de segunda feira na escola, em algum momento.Eu havia amanhecido meio aérea.Não tinha contado para ninguém em casa sobre os acontecimentos da noite de sábado. Porque eu mesma ainda estava meio desnorteada com tudo aquilo.- Amber??Levantei a cabeça da carteira. Era Luísa.- Oi? - falei, procurando dissipar alguns pensamentos.- Posso falar com você um instante?Estávamos na hora do intervalo e a maioria dos alunos estavam fora da sala.- Claro - eu disse.Ela se sentou na cadeira ao lado direito da minha, cruzando as pernas.- Vou te perguntar uma coisa e quero que seja sincera comigo.- Ok - falei, franzindo a testa.- Você gosta do Jhony?Confesso que fui pega de surpresa.Fiquei olha
O alcancei quando ele estava prestes a subir na moto.Ela estava estacionada do outro lado da rua, um pouco afastada da multidão de pessoas que curtiam o show, junto com outras motos e carros.- Ei! - chamei de novo, chegando mais perto.Ele se virou. Por um momento, fiquei sem saber o que falar.- Você é o cara que me ajudou aquela noite... - falei.Ele entortou um pouco a cabeça, arqueando a sobrancelha, como se tentasse me reconhecer.- Lembra de mim? Eu fiquei com a sua jaqueta - continuei falando.Eu já sabia que ele havia me reconhecido. Porque não era possível. Ele me olhou bem nos olhos quando passou por mim há apenas um minuto atrás.- Lembro - ele disse.- Eu preciso de
- Que palhaçada é essa, garota? Quem você pensa que é pra falar assim com a minha prima?? - disse Nina, ficando do meu lado, de frente para Luísa.- Dá licença, não estou falando com você - disse Luísa, sem perder a pose.- Pois eu estou falando com você, sua loira metida! - Nina praticamente gritou.Algumas pessoas que estavam mais perto olharam na nossa direção.- Chama a Amber de falsa de novo pra você ver se eu não quebro sua cara! - continuou a barraqueira.Muito irônico, já que ela mesma me chamara de " traíra " há alguns dias atrás.Por que essas coisas só acontecem comigo, meu Deus?- Ei, gata... calma aí - Jeff disse para Nina e passou o braço pelo meu ombro, num meio abraço-o que
A semana se passou sem grandes acontecimentos.Eu ia diariamente para a escola com minha prima e também para o Inglês.Luísa se recusava a falar comigo. Porém dessa vez eu não me preocupei em tentar me explicar. Estava cansada de ser mal compreendida e ser chamada de falsa, traíra ou coisa do tipo.Já com Jhony, eu fiz questão de falar e procurei explicar da melhor forma possível o que havia acontecido, sem magoá-lo.Ele, compreensivo como sempre, continuou me tratando da mesma forma gentil e calorosa, o que me enchia de alegria.***No final de semana seguinte, eu, minha mãe e Nina, estávamos dentro do carro às nove e meia da manhã, em pleno sábado, fazendo uma leve e divertida viagem para Osasco.Era o aniversário da minha avó e nós íamos para participar da pequena reunião que teria para comemorar.- Quantos anos a vovó está fazendo mesmo? - perguntou Nina, sentada comigo atrás.<
- Amber? Que jaqueta é essa?? - Minha mãe perguntou, me olhando com um misto de surpresa e aborrecimento no olhar.Minha avó também me olhava, franzindo a testa. Não consegui dizer nada. Estava assustada ainda com o que Diego havia falado.- Amber?? Quer abrir a boca para responder?!?Eu olhei para ela e saí da sala rapidamente. Não ia ficar ali sendo ainda mais constrangida na frente de todos.Fui para a pequena área que havia depois da cozinha e minha mãe logo me alcançou.- Amber, você me deve uma explicação.Respirei fundo, tentando acalmar a mim mesma.- Mãe...Ela se encostou numa máquina de lavar e cruzou os braços.- Vamos, desembucha. De quem é essa jaqueta? Porque eu não te dei ela, nunca v
Apesar de tudo, eu não tinha a mínima idéia de como faria para devolver a jaqueta para Steve.Não sabia onde encontrá-lo, nem onde ele morava. Na verdade, eu não sabia " quem " era ele. Apesar de tê-lo visto duas vezes ( por acaso ) ele, de certa forma, ainda era praticamente um desconhecido para mim.Sendo assim, ficava difícil satisfazer a vontade da minha mãe, que era a de que eu me livrasse o quanto antes da peça.***Avistei Luísa na segunda feira de manhã, sentada sozinha em uma mesa no galpão do refeitório, no nosso intervalo.Ela comia, concentrada, e eu me aproximei, pois precisava falar com ela.- Oi, Luísa - eu disse.Ela ergueu as vistas e logo demonstrou estar incomodada com a minha presença.- Oi - disse educada, por
- Aonde a senhorita vai toda arrumada? - Minha mãe perguntou, ao me ver descer as escadas.O fim de semana havia chegado e com ele o compromisso que eu havia assumido com Jhony: de sairmos juntos.Sorri para ela.- Que tal estou? - perguntei, dando uma singela rodadinha pela sala.Eu tinha colocado uma calça de couro preta, uma blusa de manga comprida, também preta, adicionei uma echarpe verde escuro por cima e finalizei calçando meus coturnos marrons.- Muito elegante - definiu minha mãe.- Se fosse eu teria colocado um vestido - opinou Nina, de onde estava, no sofá - e curto - acrescentou.Mas não era eu que ia sair de vestido para ir ao cinema, e ainda por cima curto, com um frio daqueles.Ok, não estava tão frio assim, mas vestido estava fora de cogitação.
Eu mal podia acreditar.Eu e Steve andávamos lado a lado, à beira do rio Pinheiros, um dos muitos rios existentes em São Paulo.A moto jazia por ali, encostada em um dos coqueiros. Eu ocasionalmente chutava um pouco da areia, sem nem me importar em estar sujando meus coturnos.- Eu nem agradeci você por ter me salvado daquele homem, aquele dia - falei.Ele deu de ombros.Steve era alto. Não tão alto a ponto de eu me sentir muito baixinha. Mas ele tinha uma boa altura. Um porte físico que faria garotas fúteis demais babarem ( ok, talvez eu fosse fútil demais pois estava quase babando ) e um andar elegante, felino, quase... sensual.- Se você não tivesse chegado a tempo, nem sei o que ele teria feito comigo - continuei - então muito obrigada mesmo.Como ele permanecia calado, resolvi mudar o rumo da conversa.- Então, a gente já se viu duas vezes mas, para mim,