Apesar de tudo, eu não tinha a mínima idéia de como faria para devolver a jaqueta para Steve.
Não sabia onde encontrá-lo, nem onde ele morava. Na verdade, eu não sabia " quem " era ele. Apesar de tê-lo visto duas vezes ( por acaso ) ele, de certa forma, ainda era praticamente um desconhecido para mim.
Sendo assim, ficava difícil satisfazer a vontade da minha mãe, que era a de que eu me livrasse o quanto antes da peça.
***
Avistei Luísa na segunda feira de manhã, sentada sozinha em uma mesa no galpão do refeitório, no nosso intervalo.
Ela comia, concentrada, e eu me aproximei, pois precisava falar com ela.
- Oi, Luísa - eu disse.
Ela ergueu as vistas e logo demonstrou estar incomodada com a minha presença.
- Oi - disse educada, por
- Aonde a senhorita vai toda arrumada? - Minha mãe perguntou, ao me ver descer as escadas.O fim de semana havia chegado e com ele o compromisso que eu havia assumido com Jhony: de sairmos juntos.Sorri para ela.- Que tal estou? - perguntei, dando uma singela rodadinha pela sala.Eu tinha colocado uma calça de couro preta, uma blusa de manga comprida, também preta, adicionei uma echarpe verde escuro por cima e finalizei calçando meus coturnos marrons.- Muito elegante - definiu minha mãe.- Se fosse eu teria colocado um vestido - opinou Nina, de onde estava, no sofá - e curto - acrescentou.Mas não era eu que ia sair de vestido para ir ao cinema, e ainda por cima curto, com um frio daqueles.Ok, não estava tão frio assim, mas vestido estava fora de cogitação.
Eu mal podia acreditar.Eu e Steve andávamos lado a lado, à beira do rio Pinheiros, um dos muitos rios existentes em São Paulo.A moto jazia por ali, encostada em um dos coqueiros. Eu ocasionalmente chutava um pouco da areia, sem nem me importar em estar sujando meus coturnos.- Eu nem agradeci você por ter me salvado daquele homem, aquele dia - falei.Ele deu de ombros.Steve era alto. Não tão alto a ponto de eu me sentir muito baixinha. Mas ele tinha uma boa altura. Um porte físico que faria garotas fúteis demais babarem ( ok, talvez eu fosse fútil demais pois estava quase babando ) e um andar elegante, felino, quase... sensual.- Se você não tivesse chegado a tempo, nem sei o que ele teria feito comigo - continuei - então muito obrigada mesmo.Como ele permanecia calado, resolvi mudar o rumo da conversa.- Então, a gente já se viu duas vezes mas, para mim,
- Eu quero três líderes para organizarem 3 grupos de 10.Era terça feira de manhã, aula de português. Eu havia faltado na segunda, devido à um breve resfriado que tive.- Dentro de quinze dias vamos apresentar a Feira Literária no centro do bairro e eu quero tudo muito bem feito, como uma turma de alunos do terceiro ano deve saber fazer - dizia a professora.Eu olhei discretamente para Luísa, que sentava do meu lado. Ela olhava para a frente, batendo a caneta repetidamente na carteira, parecendo nervosa.- Eu vou sortear o tema para cada líder, vocês têm quinze minutos para organizarem os grupos.Virei-me para Luísa.- Ei e aí... vamos escolher o pessoal para o nosso grupo? - falei.Afinal, nós sempre fazíamos trabalho juntas.Ela me olhou
As duas semanas anteriores ao dia em que apresentaríamos o trabalho da Feira Literária corriam rapidamente.E, em um certo sábado, escolhido justamente porque eu não tinha curso de Inglês à tarde, eu reuni todos os dez integrantes do meu grupo na minha casa, para que déssemos andamento ao trabalho.Uns se ocupavam em escrever em cartolinas, outros ensaiavam falas, uns liam alguns dos livros clássicos que eu havia separado para que soubessem o que estavam apresentando... e por aí vai.Eu andava de um lado para outro ( pois haviam pequenos grupinhos de três e quatro espalhados pela casa ) tentando coordenar tudo, uma vez que era a líder.Minha mãe estava numa cidadezinha próxima, num projeto de redecoração na casa de uns clientes.- Cadê sua prima, Amber? - Jeff veio me perguntar, com
Minha mãe encostou o carro numa vaga na rua, entre os muitos carros estacionados por ali.Eu e Nina nos apressamos em descer, pois já eram nove em ponto de um dia com o tempo firme e ensolarado, perfeito para a Feira Literária.- Calma, meninas - minha mãe disse, pegando sua bolsa.- Calma nada, mãe. O pessoal já está quase todo aí - falei, catando minha mochila.- É, e aquela professora de português é uma mocréia chata que só! - disse Nina, fazendo o mesmo.- Achei que você só chamasse eu de mocréia - falei, enquanto andávamos apressadas em direção às barracas montadas para a apresentação da feira.Ela deu de ombros.- Chamo todo mundo que eu considero chato assim.- Ah é, né
- Oi, Amber - ele disse.Guardei o livro na bancada desajeitadamente, sem parar de olhá-lo.Era a primeira vez que o via durante o dia, e sob a luz do sol seus olhos verdes pareciam ainda mais impressionantes.- Oi... você por aqui? - falei, sem esconder a surpresa.- Estava passando - disse, dando de ombros.- Eu gostei da frase. Vamos, vó?Tinha me esquecido completamente por um minuto da menina e sua avó.- Vamos, sim. Mas que bom que pelo menos você gostou. Obrigada, meninas. - A velha senhora disse, puxando a neta pela mão.- Nós que agradecemos. - Foi Karina quem disse, porque eu só consegui acenar com a cabeça.Ainda estava atarantada com a aparição de Steve.- Aqui está a água que as madames pediram - Jeff cheg
O dia do tal jogo dos meninos tinha chegado e eu estava tendo que aturar Nina pra lá e pra cá, tentando decidir qual dos seus micro shorts usar.- Vai, Amber, me ajuda aí!- Vai com qualquer um - falei, fechando o zíper da minha calça jeans.Ao contrário dela, eu já havia me decidido fazia horas: a calça jeans e uma blusa branca legal que eu tinha, além do meu all star preto.- Qualquer um não. Tem noção do tanto de gatinho que vai estar lá naquele ginásio?Revirei os olhos, puxando todo o meu cabelo para um rabo de cavalo no alto da cabeça.- E por falar em gatinho... que GATO que aquele Steve é!!! - ela disse, empolgada.Me ocupei em passar um rímel no olho, fingindo desinteresse pelo assunto, mas com o coração acelerado po
Eu ouvia vozes. Vozes familiares, mas que eu não conseguia definir ainda de quem eram.Procurei abrir os olhos e, por um momento, tudo o que enxerguei foi uma névoa que, à medida que eu ia piscando, foi se desvanecendo.- Ela está acordando. - Ouvi alguém dizer.Me dei conta da dor de cabeça que sentia e, ao tentar me erguer, fiquei tonta.- Filha??A silhueta e logo depois a figura completa da minha mãe se fez visível diante de mim e eu procurei me situar.- Onde eu estou? - falei, e acredito que minha voz saiu débil e rouca.- Está no hospital.Hospital?Oh, céus! De repente me lembrei de tudo, e acho que isso fez minha cabeça doer ainda mais. Ou voltar a doer.Minha mãe se sentou cuidadosamente ao meu lad