-Ei, Amber!
Virei-me ao som dessa voz só para ter meus olhos ofuscados pelo brilho do flash de uma câmera digital.
Coloquei a mão sobre os olhos, tentando me livrar do desconforto daquela luz toda em meu rosto.
- Sorria, aniversariante! - exclamou Jeff, meu amigo, tirando várias instantâneas de mim.
- Pare com isso. - Reclamei, saindo da mira dele.
- Vem, Amber! Vamos cortar o bolo! - Uma outra voz, que eu discerni ser a da minha prima Nina, gritou de algum canto.
Minha mãe apareceu de repente, e segurou minha mão.
- Vem, filha - ela disse, enquanto me guiava em meio à pequena multidão de jovens e adolescentes que se aglomeravam na sala da minha casa.
Posicionei-me atrás da mesa no centro da sala, com a espátula segura bem firme na minha mão direita.
Olhei ao redor, sorrindo para meus amigos e parentes, que me olhavam de volta, ansiosos.
Entre eles, lá estava Jhony, sorrindo lindamente, diretamente para mim ( eu acho ) com as mãos nos bolsos da calça jeans de marca.
- Huumm... pelo jeito, já estou até vendo para quem será o primeiro pedaço desse bolo.- Cochichou Nina, com malícia na voz e no olhar, olhando na mesma direção que eu.
- Ele está um gato, prima. - Continuou ela. - Aliás, ele é um gato!
Suspirei.
- Eu sei, não sou cega, mas o primeiro pedaço obviamente vai ser para a minha mãe - eu disse, entre dentes.
- Mas o Jhony...
- Sai daqui. - Sussurrei para ela.
Ela saiu prontamente, saltitando.
Depois do típico apagar de luzes, finalmente cantaram o "Parabéns Pra Você" para mim ( confuso, não? ) e aí sim eu cortei o bolo.
Ofereci o primeiro pedaço para a minha mãe, o segundo para a Nina e o terceiro eu comi. Eu teria dado o segundo pedaço para o meu pai, mas infelizmente, e para minha tristeza, ele não se encontrava ali; e o terceiro para o Jhony, mas não estava a fim de enfrentar as piadinhas, principalmente as de minha prima e, por isso, preferi eu mesma comer.
Depois disso, todos comeram do bolo ( que estava delicioso por sinal ) e a festa prosseguiu.
Eu só queria era tirar aqueles saltos lindos enormes, aquele vestido maravilhoso de seda, que praticamente me impedia de respirar, jogar-me na minha cama e dormir um sono dos justos.
***
Eu andava por toda a casa, conversando com o pessoal, tentando dar atenção a uns e outros, tirando fotos e ocasionalmente mandava algumas para meu pai pelo w******p, lá em Nova York, onde ele agora morava com sua nova esposa, depois de ter estado quase quatro anos divorciado da minha mãe.
- Pela milésima vez, pai... como eu queria que você estivesse aqui. Isso aqui tá uma loucura! Tipo, eu tô cansada, por causa do salto e tal, e tô com a barriga cheia de doces e salgados, mas tô feliz. Afinal, é para eu estar, né? É meu aniversário! Meus colegas e alguns amigos estão aqui. E a mamãe também. Mas poxa, como você faz falta, pai. Muita mesmo. Te amo.
Enquanto dava tempo para o áudio ser enviado e para ele ouvir, eu fui até a cozinha e enchi um copo com água. Havia acabado de engolir vários pasteizinhos de carne e a sede veio com força. Refrigerante, já havia tomado demais.
De repente, começou a tocar Love Story, da Taylor Swift e eu estaquei, com copo de água, celular e tudo na mão. Era bem antiga, mas era uma música linda, que ainda fazia parte da minha playlist, e continuaria fazendo.
Nina também compartilhava do meu amor por aquela música. Onde estava aquela louca para vir dançar comigo??
- Oh, my God! Love Story, Amber! - Ela apareceu, berrando no meu ouvido.
- Eu sei sua louca, vem dançar comigo. - Puxei ela.
E lá estávamos nós, primas pelo sangue, amigas por opção, dançando ao som de Love Story pela sala, sem nos importarmos com quem estivesse olhando, e de quebra, cantando junto.
"We were both young when i First saw you"
(Nós éramos jovens quando te vi pela primeira vez)
"I close my eyes and the flashback starts"
(Fecho meus olhos e o flashback começa)
"I'm standing there"
(Eu estou ali de pé)
"On a balcony in summer air"
(Em uma varanda no ar de verão)
Ah, que música linda!
"See the lights, see the party, the ball gowns"
(Vejo as luzes, vejo a festa, os vestidos de gala)
"See you make your way through the crowd"
(Vejo você fazer seu caminho na multidão)
"And say hello"
(E dizer olá)
E a gente dançava...
E rodávamos!E cantávamos!Eu fechei meus olhos, enquanto rodopiava pela sala, para sentir melhor a música.
"I'll be waiting, all there's left to do is run"
(Eu estarei esperando, tudo o que nos resta fazer é fugir)
"You'll be the prince and i'll be the princess"
(Você será o príncipe e eu serei a princesa)
"It's a love story, baby, just say Yes"
(É uma história de amor, baby, apenas diga sim)
Senti meu celular vibrar na minha mão, mas deixaria para ouvir a mensagem do meu pai depois. Só depois que a música acabasse. E ela já estava agora quase no final.
"It's a love story, baby, just say Yes"
(É uma história de amor, baby, apenas diga sim)
"Cause we were both young when i first saw you"
(Porque nós éramos jovens quando te vi pela primeira vez)
Quando acabou, finalmente abri meus olhos e dei de cara com Jhony, encostado na soleira da porta, me olhando.
Como diria Nina: "oh, my God!"
Corei envergonhada, porque ao que parecia, ele me vira dançar pelo menos desde a metade da música.
Nina passou por mim e cochichou no meu ouvido:
- Momento perfeito para um beijo.
Piscou para mim e se foi, aquela amiga da onça. Me deixou ali sozinha, frente a frente com Jhony, aquele cara lindo e gentil, que eu não sabia exatamente se ele gostava de mim ou não. E vice versa.
- O- oi, Jhony...- falei, sem jeito, bebendo em seguida um gole da água do copo que estava comigo, para amenizar a vergonha.
- Oi, Amber. Tô vendo que tá realmente muito feliz com sua festa. - Comentou ele, risonho, mas gentil.
- É... com certeza! - Exclamei apenas, sem saber mais o que dizer.
- Parabéns. - Continuou ele, olhando ao redor. - Está tudo muito lindo.
- Obrigada - falei rindo, apertando a borda do copo. - Diz isso pra minha mãe, ela vai gostar de saber que tudo que ela programou deu certo.
Ele riu.
- Claro, vou dizer à ela.
Eu sorri, procurando beber mais água.
Estava calor! ( Desculpa fajuta )
- Você também está linda -Jhony falou, me encarando. - Demais mesmo.
- Valeu. - Agradeci sorrindo, porém ainda vermelha.
A vergonha era mais por ter sido pega dançando do que por qualquer outra coisa. Afinal, eu e Jhony nos conhecíamos desde sempre e éramos... amigos. Fazíamos parte do mesmo círculo social, não tinha porquê eu estar com vergonha dele. Mas ter sido pega dançando uma música romântica daquelas e me lembrar da indireta (bem direta) de Nina me deixou constrangida.
- Ok, eu vou... pegar algo pra beber - ele disse.
- Ah! Tá. Vai lá. - Acenei com a cabeça, enquanto ele passava por mim.
Ufa, que alívio!
***
Desbloqueei a tela do celular, para ouvir a mensagem do meu pai.
- Meu bem, que bom saber que você tá feliz aí na sua festa. É assim que o pai quer te ver sempre, ok? Feliz, meu amor. Sempre. Você sabe que eu queria estar aí com vocês, não sabe? Mas ano que vem eu tenho certeza que vamos estar juntos. E a gente vai comemorar do mesmo jeito. Continua curtindo sua festa aí, tá, minha linda? Papai te ama. A Fê tá mandando um abraço pra você. Beijo!
Suspirei, fechando os olhos, e beijei a tela do telefone.
- Também te amo, pai...
Dali da varanda, eu ouvia o barulho da festa, o pessoal conversando, a música rolando, e me permiti sentir-me em paz. Era o meu aniversário de 17 anos, era a minha festa. Não tinha motivo, nenhum sequer, para eu não estar feliz.
Escutei uma sutil movimentação perto de mim e, de repente, parecia que eu não estava mais sozinha ali.
Senti algo duro e frio contra a minha nuca, e logo em seguida, ouvi:
- Fica bem quietinha, não dá um pio, ou estouro os seus miolos aqui mesmo. Isso é um assalto.
A voz era máscula, calma e bastante clara e, por algum motivo, me causou arrepios.
Tudo o que consegui, pelo que me pareceu serem longos minutos, foi ficar imóvel, estática, sem nem mesmo ousar respirar; apenas com meu coração a mil por hora, martelando em meu peito.
▫▫▫
" Ok, isso é um assalto. "Quando finalmente consegui pensar com clareza, eu me mexi. Apesar da ordem explícita para que eu ficasse quieta, eu me virei.A pouca iluminação da varanda me impedia de ver quem era o assaltante; apenas consegui vislumbrar um homem alto, com roupas escuras e uma touca preta na cabeça.Levei um susto quando vi que junto com ele também haviam outros dois. E já esses dois estavam com os rostos completamente tapados, com uma máscara que lhes deixava de fora apenas os olhos. Todos os três tinham uma arma na mão.E por falar nisso, a arma que eu havia sentido contra a minha nuca, agora estava apontada diretamente para mim, na minha testa. Fui soltando a respiração aos poucos, enquanto levantava as m&
O dia seguinte já era segunda feira, para o meu total desânimo.Acordei com aquela costumeira vontade de voltar a dormir, uma vez que havia tido uma péssima noite de sono. Me sentia cansada. E não era para menos. Minha festa de aniversário exigira muito de mim. Ficar cerca de sete horas andando de um lado para o outro, com um salto de 13 centímetros, me deixou com os pés moídos." Nossa, Amber, então você jamais serviria para ser modelo, pois elas vivem quase que o tempo todo de salto alto ", era o que diria Nina.Amém! Eu não queria mesmo ser modelo. Longe de mim. Estava muito bem com a minha decisão de ser médica, obrigada.Mas, voltando ao assunto, e
Entrei em casa sentindo o cheiro divino de bife sendo feito, e minha barriga roncou em alto e bom som. Diferente da hora do intervalo na escola, agora, quase uma da tarde, eu já estava com fome. E muita.- Oi, oi - cumprimentei Cida, a doméstica morena e gorducha que cozinhava para nós, três vezes por semana.Além de cozinhar, ela também arrumava a casa. Isso nos ajudava bastante, pois com a minha mãe muito ocupada com seu trabalho, assim como eu e Nina ocupadas com a escola e os cursos, não nos sobrava tanto tempo para cuidar da casa.Claro que a roupa era por nossa conta, e a organização da casa em todos os dias da semana também.Mas que era uma benção ter a Cida, isso era.- Oi, pequena! - Ela exclamou me acenando rapidamente, ocupada com as panelas.- Isso tá cheirando lá do começo da rua, Cida! - falei.- Daqui a pouco tá tudo prontinho, por que não va
Eu completei meus 17 anos no dia 21 de Março de 2015.Agora, uma semana havia se passado desde esse feliz e trágico dia.Minha mãe comprou seu novo telefone, o pai de Nina mandou dinheiro para que ela comprasse o dela, Jhony também deu seu jeito e apareceu com um; Luísa idem.Eu ficava sempre rondando o pessoal que estivera na minha festa, procurando saber se já tinham conseguido novos celulares. A maioria sim, já conseguira.Que adolescente nos dias de hoje consegue viver sem celular, não é mesmo?Eu conversava com eles para saber isso pois eu me sentia constrangida por todos terem sido roubados, menos eu. Todo mundo sabia que não haviam levado meu celular. Eu tinha medo do que poderiam pensar acerca disso.Eu sei, patético. Afinal de contas, eu não tinha culpa de nada. Não era como se eu fosse
- O trabalho sobre Química Orgânica é em dupla e é pra depois de amanhã - anunciou a professora de Química, na manhã do dia seguinte, depois de falar sobre o dito cujo trabalho.Luísa, que sentava do meu lado, me cutucou:- Ei, Amber... vamos fazer juntas?Eu confirmei, fazendo-lhe um sinal positivo com o polegar.- Na minha casa hoje, às duas - ela disse.Jeff veio para minha mesa, e debruçou-se sobre ela.- E aí... minha amiga preferida, vai fazer o trabalho comigo? - falou, me olhando com aquele ar cínico dele.- Perdeu, Jeff, sua irmã chegou primeiro.Jeff fuzilou a irmã com o olhar, e esta prontamente mostrou-lhe a língua.Luísa e Jeff estavam na mesma série porque, apesar de ser um ano mais nova que o
Nos afastamos tão rápido que eu até bati o pé no muro, ao dar um passo para trás.- Mãe??Ela vinha andando pela calçada, do lado oposto em que tínhamos vindo.- Olá - ela falou, olhando de um para o outro, séria.- Oi, dona Marisa - disse Jhony, vermelho como um tomate.- Mãe, o Jhony veio me acompanhar, depois que terminamos o trabalho - expliquei.Ela balançou a cabeça, solenemente.- Ah, que gentil. Não quer entrar um pouco, Jhony?- Não, não. Eu já estava voltando - ele falou, com a vermelhidão já sumindo de sua face.- Está bem. Amber vai entrar agora não é, filha? - Minha mãe me olhou.- Ahn... sim, claro - eu disse.- T&aac
No dia seguinte, fui para a escola com a minha prima, como de costume, e fiquei quase que o dia todo me segurando para não contar sobre a conversa com o meu pai, não só para ela, como também para a minha mãe e até os meus amigos.Foi difícil, confesso. Eu queria que eles soubessem, queria mesmo. Queria dividir aquela ansiedade com alguém.Afinal, estávamos em Abril e faltavam ainda oito longos meses para o fim do ano. Para a minha tão esperada formatura no Ensino Médio. E agora, consequentemente, oito longos meses para a minha ida à Nova York. Mas tive que segurar a língua, tive que me conter.***A sexta-feira foi até bem produtiva.Novamente, fomos para a escola.Apresentei o trabalho sobre Química Orgânica com Luísa, por mais que a minha parceira de trabalho estives
Dei graças aos céus por minha mãe ter ido trabalhar naquele sábado.Caso contrário, ela iria querer saber sobre a suposta experiência de Física que eu tinha que fazer.Foi um sábado bem estranho. Não tinha aula nem curso de Inglês para mim, nem para Nina, e portanto ficamos as duas o dia inteiro dentro de casa, como duas estranhas.Assim que acordamos, ainda no café da manhã, tentei conversar com ela e explicar tudo, mas minhas palavras foram em vão. Ela não quis nem saber.Me chamou de traíra mais uma vez, e para evitar outra discussão eu preferi me calar.Aquilo me magoava muito. Eu não via razão alguma para ela estar tão chateada daquele jeito.Primeiro porque eu tinha certeza que no fundo, bem lá no fundo, ela sabia que eu estava falando a verdade.Eu jamais sairi